Em um documento emitido ao Tribunal Federal Distrital dos Estados Unidos no norte da Califórnia, em San José, os advogados da Google Inc. assumem que os usuários do Gmail "não podem ter uma expectativa razoável" de que os e-mails sejam confidenciais.
"Assim como o remetente de uma carta a um colega de trabalho não pode se surpreender se o assistente do destinatário abrir a carta, as pessoas que usam e-mail baseado na web, hoje, não podem ser surpreendidos se os seus e-mails forem processados pelo [provedor do] destinatário no curso da entrega", justifica o Google.
"O Google finalmente admitiu que não respeita a privacidade", disse John Simpson, diretor do grupo de defesa dos direitos do consumidor Consumer Watchdog. Ele classificou tal documento como "uma admissão assombrosa" e disse ainda que "as pessoas deveriam tomar como verdade o que eles dizem. Se você respeita a privacidade de seus correspondentes, não use o Gmail".
Juntamente com o documento, a gigante das buscas entrou com uma petição solicitando o arquivamento do processo que está sendo movido por grupos de defesa ao consumidor. De acordo com os reclamantes, o Google "abre, lê e adquire ilegalmente o conteúdo das mensagens privadas de e-mail das pessoas". "Sem o conhecimento de milhões de pessoas, diariamente e durante anos, o Google tem, sistemática e intencionalmente, atravessado a 'linha assustadora' para ler mensagens privadas que você não quer que ninguém conheça, e adquirir, coletar ou garimpar informações valiosas daquele correio".
Os advogados do Google dizem que os reclamantes estão "fazendo uma tentativa de criminalizar práticas de negócios corriqueiras" e que ainda todos os usuários do e-mail devem, necessariamente, esperar que seus e-mails sejam submetidos a processamento automático. Simpson, por sua vez, disse que "enviar um e-mail equivale a entregar uma carta à agência do Correio. Eu tenho a expectativa de que o Correio envie a carta ao endereço do destinatário que está escrito no envelope, e não que o Correio abra e leia a carta".
Em uma entrevista em 2009, Eric Schmidt, presidente-executivo do Google que "se você tem algo que você não quer que ninguém saiba, talvez não deveria estar fazendo isso. Mas se você realmente precisa desse tipo de privacidade, a realidade é que os motores de busca, incluindo o Google, retêm informações por algum tempo".
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