Os serviços de viagens por aplicativos como Uber e 99 já foram assunto de diversas reclamações durante este ano. O número excessivo de reclamações de cancelamento de corridas fez com que o Uber desativasse as contas de diversos motoristas do aplicativo. Entretanto, parece que isso não foi o suficiente, e esses serviços voltaram a chamar a atenção de órgãos de defesa do consumidor. Desta vez, o Procon-RJ enviou uma notificação para o Uber e 99 após receber diversas reclamações de usuários.
Uber e 99 são notificadas pelo Procon-RJ
A maior parte das reclamações que chegaram ao Procon-RJ estão ligadas ao número excessivo de cancelamentos de corridas por parte dos motoristas. Isso tem gerado insatisfação nos usuários dos serviços, já que o tempo de espera costuma se prolongar mais do que devia, além do constrangimento de ter que ficar solicitando um novo motorista a quase todo momento.
Até outubro deste ano, 773 reclamações foram registradas contra o Uber no órgão de defesa do consumidor— esse número já é maior do que todo o período do ano de 2020, quando houve 770 reclamações registradas. Em 2019, a Uber foi alvo de 593 reclamações. O 99 tem 225 reclamações até outubro de 2021, apenas uma reclamação em 2020 e 85 em 2019.
A notificação do Procon carioca exige que Uber e 99 justifiquem o cancelamento das corridas. O órgão fará uma avaliação das respostas enviadas e, se foram consideradas insuficientes, ambas empresas podem sofrer penalizações pela baixa qualidade do serviço, o que tem prejudicado de forma direta o consumidor.
Sobre isso, Igor Costa, presidente do Procon-RJ, explicou a importância da notificação para esclarecer o lado das empresas e como isso pode impactar na satisfação do público.
"O cancelamento excessivo torna ruim a qualidade dos serviços prestados para o consumidor. Queremos saber qual a razão dos cancelamentos."
O que os motoristas dizem?
Em entrevista ao Oficina da Net, Gabriel Siqueira, motorista do Uber e 99 a quase dois anos, explicou o que tem levado os motoristas a efetuar o cancelamento de corridas. Segundo ele, os lucros têm sido cada vez menores, já que os valores de combustível, manutenção e outros fatores tem só aumentado, quando em contrapartida, o repasse das empresas aos motoristas não acompanha o mesmo ritmo.
"A maioria das corridas são trajetos curtos, que nem sequer pagam o litro do combustível, devido a política de preço das empresas Uber e 99. O passageiro paga um valor justo nessas corridas, o problema está no repasse para o motorista."
Nessas condições, Gabriel relata que os motoristas têm cancelado corridas de trajeto curto e priorizando as mais longas.
"Hoje, os motoristas fazem um verdadeiro garimpo por corridas que passam mais tempo com o passageiro dentro do veículo. Aqueles que pedem um carro para andar pequenos trajetos no dia-a-dia, como para ir ao mercado e escola das crianças, acabam sofrendo."
Alguns motoristas têm reclamado sobre o valor de repasse, afirmando que as empresas fizeram reajustes para chamar a atenção do público durante a pandemia, mas que não beneficiam os motoristas, principais responsáveis pelos custos operacionais.
"Durante a pandemia, as empresas Uber e 99 criaram categorias promocionais para o passageiro, oferecendo viagens por um preço mais barato, porém descontando do valor de repasse para o motorista. Por outro lado, a taxa para o aplicativo continuava a mesma, variando de 25% a 50% do valor total da corrida."
Em meio a esse cenário, os motoristas evitam realizar viagens mais curtas, especialmente aquelas em que é necessário se locomover a grandes distâncias até chegar no passageiro. Em consequência disso, os usuários sofrem com o número excessivo de cancelamentos, o que aumenta o número de reclamações.