Armazenamento e Banda de Internet


No meio do ano passado, um diretor da Samsung na Inglaterra declarou que em até 5 anos o Blu-Ray já deverá estar morto. Para quem já passou pelos filmes em Super8, as fitas de VHS e pelos discos de DVD, o anúncio prematuro do fim do Blu-Ray não representa nenhuma novidade. Se há uma regra implícita no mercado de bens eletrônicos é que mal uma tecnologia começa a se estabelecer entre os consumidores, as empresas já preparam a próxima tecnologia que a sucederá. Isso faz parte do ciclo de desenvolvimento de produtos, mas também serve para manter o mercado consumidor aquecido com novidades constantes.

Mas no caso do Blu-Ray, os motivos podem ser vários para a decretação de sua morte. Por exemplo, podemos supor que a Samsung já trabalha com um sucessor para o formato. Ou pode ser também que a Samsung ande decepcionada com as vendas, assim como o resto dos fabricantes do aparelho. Ou também pode ser o que muitos já vêem como óbvio: o futuro do entretenimento está na distribuição de arquivos digitais pela internet.

Mesmo com o avanço da distribuição digital no último ano, talvez ainda seja muito cedo para predizer que em cinco anos os conteúdos audivisuais não terão mais o suporte de um meio físico para a sua venda, troca ou aluguel. Mesmo se a gente não levasse em conta a crise mundial.

O mercado consumidor, que costuma puxar a adoção de novas tecnologias, não está tão maduro para a distribuição puramente digital de filmes e vídeos através da internet. E isso se deve a uma dezena de fatores técnicos e sociais que ainda levarão tempo para serem sanados.

Recentemente, eu transferi parte da minha coleção de discos para o formato FLAC, sem perda de qualidade. Apenas 4 discos do grupo Jamiroquai ocuparam quase 2GB do HD do computador. Toda a discoteca deverá ficar em torno de 20 ou 30GB. O que não é muito se considerarmos que tenho 250GB disponíveis no disco rígido. Porém, no caso de filmes, se eu fizesse o mesmo, a conta se tornaria astronômica. Porque para manter 1 DVD em formato MPEG-4/h.264 com qualidade Standard-Definition, necessitaria de 2 a 4GB por filme. Em alta-resolução, a partir de um disco Blu-Ray, o arquivo final teria 5 vezes o tamanho de um filme convertido a partir de DVD.

Essas contas mostram que a distribuição digital ainda enfrenta dois grandes desafios. O primeiro é o de armazenamento do conteúdo. E o segundo desafio é a limitação na velocidade das bandas domésticas de internet atuais, no Brasil e, por incrível que pareça, nos EUA também.

Eu me lembro ainda do tempo em que 300kbps eram um sonho de banda larga. Atualmente, podemos contar com serviços que oferecem de 1 a 30 megas por segundo. Ainda não são padrões comparáveis com o mercado asiático, nem mesmo em questão de preços. Porém a tendência é que a oferta de velocidades maiores cresça gradativamente, até que em poucos anos tenhamos à disposição bandas de internet com velocidade para baixar filmes inteiros em poucos minutos. Assim, conseguir conteúdos audiovisuais pela internet será algo tão comum quanto escrever um email, tão logo bandas com velocidades acima de 8 megas se popularizem, para que serviços de aluguel e vendas de filmes online aproveitem uma enxurada de novos consumidores.

Além disso, de alguns anos para cá, uma nova categoria de computadores começou a se inserir entre as necessidades dos lares mais informatizados. Servidores domésticos passaram a ser um ítem primordial para quem deseja digitalizar por completo os mais diversos aspectos de suas vidas, como fotos, vídeos pessoais e músicas. Com o vertiginoso aumento de conteúdos digitais, os computadores pessoais passaram a ficar sobrecarregados de dados, obrigando as pessoas a empilharem torres de DVD para arquivar as mais importantes informações. Chega um momento no qual as pilhas de DVDs de backup deixam de ser práticas e então encontrar uma foto específica no meio de milhares de arquivos e discos vira um completo inferno. A Microsoft, por exemplo, percebeu a necessidade dos consumidores domésticos de armazenarem seus conteúdos digitais e lançou uma versão caseira de servidor de dados. Por outro lado, temos o sistema Linux que apresenta várias soluções OpenSource para incrementar uma rede doméstica na área do entretenimento, como o Avahi, o Firefly e distribuições do sistema feitas para se montar Media Centers. A Apple, por sua vez, aproveita a vantagem de lidar tanto com o hardware, quanto com o software, e paulatinamente integra todos os seus equipamentos e programas em uma grande ecossistema harmonioso. Com esta crescente oferta de soluções, podemos contar que o problema de armazenamento estará resolvido conforme o ciclo de renovação de computadores se desenrole ao longo de três ou quatro anos.

Portanto, o menor dos problemas da distribuição digital atualmente é o armazenamento de vídeo e áudio. O mais provável é que a velocidade de transferência na internet seja um desafio um pouco maior. Ainda assim, podemos esperar que este problema diminua conforme a população em geral tenha acesso a serviços melhores e mais rápidos.

Fonte: Dicas-L