Há alguns anos a Asus não passava de uma marca distante dos brasileiros, conhecida apenas pelos gamers mais hardcore. Foi aí que ela resolveu que ia entrar de vez no mercado nacional. Com smartphones de qualidade, eles inverteram a lógica que estávamos acostumados de "pra ser bom tem que ser caro" e, hoje, seus lançamentos são tão aguardados quanto qualquer um da Apple ou Samsung.
E a cada lançamento da família Zenfone a gente sempre fica se perguntando: "Como que eles conseguem preços tão baixos em relação aos seus concorrentes diretos em especificações de hardware?"
Pois é, essa é uma dúvida para a qual eu não tenho resposta, mas eu tenho aqui um artigo completo sobre a história da gigante taiwanesa. Continue a leitura e entenda como que, em menos de 30 anos, a marca conseguiu se tornar referência em hardware, sendo uma das maiores vendedoras de PC do mundo, a número 1 quando se trata de vendedores de placas-mãe e dispositivos gamers e 3ª maior quando se fala em notebooks.
O início da ASUS
A Asus é uma empresa nova; na verdade bastante nova. Das seis maiores vendedoras de pcs do mundo - lista citada acima na qual ela ocupa a 5ª posição - nenhuma é mais bebê do que a taiwanesa. A marca foi fundada em Taipei, capital do território autônomo chinês, em 2 de abril de 1989 por quatro ex-engenheiros da Acer, outra fabricante local.
Em um mundo tão diferente, sem internet e globalização, o mercado mais rígido e Taiwan não era um polo tecnológico como hoje em dia. Para termos noção de como as coisas funcionavam nos distantes anos 80, a Intel (maior fabricante de chips da época) fornecia seus novos processadores às empresas de nome - como a IBM - para que elas pudessem estudar e preparar suas futuras placas-mãe de acordo com a nova geração de processadores que estava por vir. Enquanto isso, as empresas menores teriam de esperar cerca de seis meses para receber os mesmos protótipos que a IBM já havia recebido tempos atrás, condenadas a uma obsolescência programada.
E como você deve ter imaginado, a ASUS era uma dessas que eram tratadas como segundo escalão pela Intel. É nesse cenário que surge a lenda da fundação da ASUS.
Segundo a lenda, a empresa resolveu criar um protótipo para uma placa-mãe que acomodasse um processor Intel 486, porém, sem qualquer tipo de acesso a um processador real; foi tudo na raça e nas especificações escritas no manual mesmo. Claro que não foi fácil, mas eles conseguiram criar sua placa-mãe.
Quando a ASUS revelou a história e foi até a Intel pedir um processador para que pudessem testar se o trabalho tinha dado certo, a própria Intel descobriu que havia algo que não estava funcionando direito com o seu chip. Daí lá foi a ASUS identificar e resolver o problema dos outros. Após identificar e resolver a treta a startup tornou-se uma das preferidas da Intel e, desde então, recebe os protótipos de novos processadores antes dos concorrentes. Isso aconteceu no segundo ano da empresa.
Além deste que foi o primeiro grande "negócio" da empresa, o próprio nome da ASUS também tem uma origem interessante: Vem de Pegasus, o cavalo alado da mitologia grega, ou melhor, das 2 últimas sílabas. Acontece que as três letras iniciais foram tiradas do nome sem dó ne piedade por um motivo específico: Para que a companhia ficasse na frente das outras quando fosse colocada em lista ordenada alfabeticamenta, como a lista telefônica.
Mas voltando ao lance da Intel, um feito promissor para um startup, claro, mas mesmo assim as coisas não iam tão bem para a ASUS, conforme contou o presidente Jonney Shih. Em 1992 a empresa estava sofrendo de problemas de qualidade, além de uma perda constante de engenheiros e a "falta de espírito de startup". Ele lembra de uma ocasião em que se deparou com o laboratório vazio da ASUS por volta das 17:30, um sinal alarmante para uma jovem e ambiciosa companhia. Além disso havia problemas de consenso sobre questões relativas a negócios e tecnologia entre os fundadores.
E aqui vale um parêntese sobre Jonney Shih e sua relação com os demais fundadores. Shih também era um funcionário da Acer quando o grupo teve a ideia de criar a sua própria empresa de hardware. Porém ele não "pôde" ir imediatamente para a ASUS com os amigos. Shih tinha um cargo mais elevado na Acer e uma certa gratidão com a marca. Quando disse que pretendia sair da atual companhia para embarcar nessa nova empreitada com os amigos, o então presidente da Acer, Stan Shih (mesmo sobrenome, mas sem parentesco), pediu para que ele ficasse um pouco mais. A Acer enfrentava problemas por conta do mercado americano que esfriara no fim dos anos 80 e ele seria uma peça vital para que a empresa pudesse superar a crise. Assim, Shih agiu como mentor dos quatro engenheiros nos primeiros anos da ASUS, quando então as coisas melhoraram para a Acer e ele pôde assumir como presidente da nova empresa.
E Shih era o cara certo para a ASUS. Sua primeira medida foi, rapidamente, começar a trabalhar no reabastecimento de talentos da companhia, o que não era fácil para uma empresa de pequeno porte (trabalhar em uma startup não parecia tão descolado e promissor no início dos anos 90 quanto hoje em dia e até mesmo os recém-formados desconfiavam em ir para uma empresa desconhecida).
A saída que ele encontrou foi pegar o telefone, uma lista de graduados que conseguiu com a universidade em que se formou - a Universidade Nacional de Taiwan - e ligar para eles; um a um. A missão era convencê-los de que se eles optassem por trabalhar com ASUS iriam aprender muito por lá e crescer junto com a própria companhia. Para a sorte do presidente o plano deu certo, e a maioria dos candidatos acabaram se juntando a ele após o telefonema.
Com o time renovado a ASUS começou a consolidar sua carreira como OEM, Original Equipment Manufacturer (que é um termo usado para designar empresas que produzem componentes para o produto final de uma outra empresa) e como fabricante de placas-mãe.
E foram justamente as placas-mãe que financiaram os primeiros anos e deu tranquilidade para que ela se tornasse o que é hoje. Foi com o sucesso delas nos anos 90 que a marca conseguiu se estruturar, crescer e se ramificar, resultando, por exemplo, no braço gamer da ASUS.
Uma das maiores empresas gamers do mundo
Tem quem não sabe, mas a ASUS tem sua própria marca de peças e acessórios gamers, exemplo, a Republic of Gamers, ou ROG, surgido em 2006, quando a ideia de desempenho nos games começava a amadurecer, crescendo junto ao próprio mercado de computadores, em expansão. No guarda-chuva de produtos está uma variedade de itens de hardware, computadores pessoais, periféricos e acessórios.
Mas a sacada não foi veio a partir de uma elaborada análise de mercado ou algo do tipo: Percebendo que muitos dos seus engenheiros faziam parte daquele grupo de entusiastas que estudavam as melhores maneiras de fazer overclock nas suas máquinas para extrair máximo desempenho, os gestores da ASUS foram rápidos em reconhecer que poderia haver ali a oportunidade para um novo mundo de gadgets.
O primeiro projeto do Projeto G (que depois viraria o Republic of Gamers) foi a placa-mãe de codinome Pluto. E se você é um gamer raiz, então deve conhecer a placa; provável que não pelo nome de projeto, mas sim por seu nome comercial: Crosshair. Ela foi a responsável por redefinir as expectativas de uma placa-mãe e permitir que os overclockers mais experientes pudessem testar os verdadeiros limites dos modernos processadores de 90 nanômetros da AMD da época.
A empreitada deu certo e de lá para cá a ROG refinou os processos, vieram os meios de resfriamento abaixo de zero; as placas que fazem overclock automaticamente (e se recuperam magicamente de uma possível tentativa que deu errada), a escolha de diferentes BIOS na inicialização da placa, entre outros recursos e produtos, é claro; como monitores, placas de vídeo, notebooks, headsetes, periféricos e, mais recentemente, smartphones!
Anunciado recentemente - na Computex 2018, em Taiwan - o seu primeiro smartphone voltado àqueles que desejam o melhor desempenho também nos jogos mobile está a caminho. O telefone da ROG foi criado para competir diretamente com o Red Magic da ZTE, o Black Shark da Xiaomi e o Razer Phone. Ele terá uma versão especial do CPU Snapdragon 845 que poderá receber overclock, além de contar com resfriamento a vapor e um ventilador externo que é ligado através do USB-C.
Em testes com o Antutu ele recebeu um escore de mais de 304 mil pontos; em comparação, o iPhone X ficou com 245 mil, Galaxy Note 9 com 275 mil e o Black Shark com 287 mil. E para evitar mais comparações é fácil falar que o ROG Phone tem um dos scores mais altos já registrados pelo aplicativo de benchmark, ficando atrás apenas do Mate 20 da Huawei, que marcou incríveis 356 mil pontos.
Mas esse, nem de longe, é o fone mais famoso da marca taiwanesa, afinal, aposto que você conhece um dono de Zenfone (caso você mesmo não seja dono de um).
O maior sucesso de todos: Zenfone
Não é estranho encontrar alguém que tenha ouvido falar da ASUS pela primeira vez por causa da famosa linha de smartphones, mas você sabe como ela surgiu? Antes de começarmos, só um adendo: O Zenfone não foi a primeira tentativa da marca no mercado dos mobiles.
Além de um aparelho em conjunto com a Microsoft, chamado Origami e que não deu muito certo (assim como todos os smartphones que a Microsoft resolveu colocar o dedinho podre), teve a linha Padfone, que foi lançada em 2012 e atraiu uma certa atenção. O aparelho trata-se de um telefone "três em 1", já que ele possuía um dock onde podia ser acoplado e transformado em um tablet e um teclado que podia ser encaixado e transformado em um notebook (assim como os iPads ligados a um teclado ou o Samsung S9 ligado a um Dex).
Mas não adianta, nem de perto ele pode ser comparado com o sucesso dos Zenfones.
A primeira geração surgiu em 2014 com o Zenfone 4, Zenfone 5 e Zenfone 6, nomes de acordo com o número de polegadas da sua tela e nada a ver com o número sequencial de modelos. A questão dos nomes, aliás, acabaria se tornando um problemão mais para a frente, pois a segunda geração precisou "reiniciar" a contagem com o Zenfone 2 e assim tornar-se sequencial.
A fama dos aparelhos se justifica pela inovação. O Zenfone 2, de 215, por exemplo, foi o primeiro aparelho do mundo a ter 4 GB de memória RAM; em 2016 veio o Zenfone 3 (que teve a versão Max que podia "emprestar" bateria para outros aparelhos); em 2017 o Zenfone 4; e, atualmente estamos no Zenfone 5 (de novo).
E uma coisa que é importante pontuar: cada geração conta com suas diversas variantes e modelos específicos para alguma necessidade, como o Zenfone Selfie e o Zenfone Zoom (para quem gosta de fotos, logicamente), Zenfone Laser, Zenfone Lite e Zenfone Go (uma versão mais econômica e modesta para quem não quer gastar muito), Zenfone Max (versão com muito mais bateria), Zenfone Ultra (uma versão para quem consome bastante áudio e vídeo pelo smartphone e precisa não só de mais bateria, mas também de mais qualidade), Zenfone Plus (tela maior), Zenfone Pro e Zenfone Deluxe (para quem quer o máximo de desempenho).
Com preços que desafiam a lógica do mercado brasileiro por serem mais baratos do que seus concorrentes diretos em similaridade de hardware (o Zenfone 5Z custa ~3 mil reais contra os cerca de 5 mil do iPhone X e Galaxy Note 9, por exemplo) a família Zenfone conquista adeptos a cada nova geração não só no Brasil, mas em outros mercados emergentes, com destaque para a Índia, onde os aparelhos são líderes de venda.
A ASUS hoje
Mas para falarmos um pouco da Asus de hoje, é preciso voltar um pouquinho no tempo, lá em 2008, quando a marca passou por uma reestruturação, dividindo-se em três:
- Pegatron, que ficou responsável por continuar com o trabalho de OEM e ainda hoje produz componentes para a Sony (Playstation), Apple (iPod, MacBook, iPhone), Alienware, HP e outras;
- Unihan Corporation, focada em produção de não-PCs;
- e a própria ASUS, que segue responsável pelos produtos que levam o nome da marca, como os próprios Zenfones.
E o Zenfone não é a única coisa que vem dando certo para a marca nos últimos anos: Em 2015 eles comemoraram a marca de 500 milhões de placas-mãe comercializadas, além de serem eleitos como a melhor marca de placas por 6 anos consecutivos. Além de fazer sucesso entre os consumidores a marca também faz bonito frente à própria indústria: em 2017 a ASUS foi escolhida pela 5ª vez seguida como a marca taiwanesa mais valiosa. Motivo de orgulho para seus 17 mil funcionários.
Entre os produtos de vanguarda que já passaram pela sua linha de produção e que serão sucesso nos anos seguintes estão os seus ultrabooks chamados de Zenbooks, a parceria com o Google para rendeu o Nexus 7 e até um robô chamado Zenbo, um assistente pessoal que pode servir desde um secretário pessoal até um acompanhante para idosos.
As inovações saem todas do famoso (e mais ou menos secreto) do Da Vinci Lab. Foi de lá que vieram, por exemplo, o laptop perfumado da ASUS, seu primeiro tablet e a tecnologia PixelMaster embarcada nas câmeras que aumenta a sensibilidade à luz fraca.
Segundo o presidente, Big data e robótica irão ser os responsáveis pela terceira geração da revolução industrial e a sua companhia não irá ficar de fora. Por isso que a ASUS aproveitou a mesma Computex onde foi apresentado o seu smartphone gamer, para já mostrar o que está planejando para um ecossistema de casa inteligente. Os planos incluem alarmes de portas e janelas, periféricos e cêmras smart; tudo da maneira mais conectada e inteligente possível.
Você já conhecia o passado da marca? Conhecia os planos para o futuro? Possuiu ou já possuiu algum device produzido por ela? Tem planos de adiquirir um? Conte aí nos comentários.