O Banco Central divulgou uma análise alarmante: beneficiários do Bolsa Família, um programa que deveria combater a pobreza, estão injetando bilhões em plataformas de apostas online. Segundo o relatório, apenas no mês de agosto, R$ 3 bilhões do total desembolsado pelo governo federal foram direcionados para casas de apostas, o que representa 21% dos R$ 14,1 bilhões pagos pelo programa de auxílio social.

Perfil dos apostadores

O dado mais chocante é que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família participaram dessas apostas online. Entre eles, 67% são chefes de família que, em vez de utilizar o benefício para suprir necessidades básicas, optaram por buscar a sorte nas bets, alimentando um mercado que cresce sem controle e praticamente sem regulamentação.

Valores subestimados

Ao se analisar mais a fundo, o cenário se agrava. O senador Omar Aziz alertou que os números podem estar subestimados, já que o relatório considerou apenas as transações feitas via Pix, ignorando outros métodos como cartões de crédito e débito. Ou seja, o valor real gasto em apostas pode ser ainda maior.

Famílias de baixa renda, as mesmas que deveriam ser protegidas por políticas públicas, são as mais afetadas. O BC concluiu que essas famílias estão mais propensas a cair nas armadilhas das apostas por conta do apelo de enriquecimento rápido, um sonho que, na maioria das vezes, acaba se transformando em um pesadelo de endividamento e desestruturação familiar.

Sites de apostas crescem no Brasil

Enquanto isso, as apostas online continuam a crescer de forma desenfreada no país. Para se ter uma ideia do impacto, mais brasileiros participam de jogos de azar do que investem na bolsa de valores. Dados da Anbima mostram que, em 2023, 22 milhões de brasileiros fizeram ao menos uma aposta, enquanto apenas 2% da população investiu na bolsa.

Não é atoa que campeonatos e times de futebol estampam casas de apostas como patrocinadoras oficiais, vide o tamanho que esse "negócio" virou.

Regulamentar é o caminho?

E o que o governo faz? Bem, até agora, muito pouco. Apesar das promessas de regulamentação, a fiscalização sobre essas plataformas ainda é insuficiente. Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha classificado o vício em apostas como uma "pandemia" e defendido o bloqueio do uso de cartões de crédito nesses sites, essas medidas ainda são tímidas diante da urgência da situação.

O resultado é claro: milhões de reais, que deveriam estar sendo usados para melhorar a qualidade de vida das famílias mais carentes, estão sendo drenados para as bets. E quem paga a conta? O próprio governo, que financia, via Bolsa Família, o ciclo de miséria e vício que se retroalimenta nas apostas online.

No fim das contas, o auxílio que deveria proteger, acaba aprisionando ainda mais essas famílias na vulnerabilidade financeira. Enquanto isso, o mercado das bets cresce, lucrando bilhões com o sonho do "dinheiro fácil" — um sonho que, para muitos, tem se mostrado mais como um pesadelo.

Fontes: Ache Concursos; Agência Brasil