O post de hoje veio através de um pedido que chegou por e-mail. Após ler algum post sobre a invenção de algum objeto (satélite, tv, celular, ou qualquer outro), o leitor ficou com uma dúvida: como surgiu a fotografia?
Se você acha que fotografia é coisa recente, leia o post até o final e surpreenda-se, pois é o que vamos ver hoje ;)
Os primórdios da fotografia
Aposto que quando disse que a fotografia era coisa antiga você pensou: "claro, ela deve ser do século XIX, lá pelos anos de 1850, no máximo...", certo? Pois se esse foi seu pensamento, você errou (e muito).
A fotografia como a conhecemos até pode ser coisa "recente", mas para pegarmos a sacada do princípio que a faz ser possível existir temos que voltar bem mais. O fenômento já é conhecido e estudado há muuuuito tempo, desde a antiga Grécia (século III a.c.), quando os filósofos/cientistas/inventores/astrônomos (entre tantas outras ocupações) passaram a investigar o fenômeno da passagem de luz através de pequenos orifícios.
O outro conceito usado para criar a fotografia é ainda mais antigo, pelo menos desde o século IV a.c., a câmara escura. O fenômeno consiste em um ambiente fechado - independente do tamanho e pode ser feito, inclusive, aí na sua casa - que terá apenas 1 buraquinho para que a luz externa entre em um dos cantos. A luz externa irá passar pelo buraquinho e então projetar sua imagem - de cabeça para baixo - no interior do ambiente fechado.
A câmara escura era usada, por exemplo, para a observação de eclipses e em diversos experimentos ciêntificos da antiguidade, como estudos que envolviam questões geométricas e quantitativas.
Assim, uma parte dos materiais necessários para a fotografia - a projeção da imagem - já havia sido dominada; faltava agora descobrir como armazenar essa imagem exposta de modo duradouro, criando os retratos que poderiam aguentar por tempo indeterminado.
A resposta, embora não direcionada ao uso na fotografia, veio também durante a antiguidade ao ser descobrir que compostos de sais de prata escureciam quando expostos à luz solar. Assim era só desenhar a imagem desejada com este material para que ela fosse toscamente gravada sobre as superfícies. Teoricamente estes retratos podem ser considerados os tatatatatatatatataravôs das atuais imagens digitais.
Ok, em tese já tínhamos tudo o que era preciso para uma fotografia: uma maneira de expor uma imagem à um local específico e como registrar uma imagem em um local determinado. Agora era preciso juntar os pontos.
Fotografia "moderna"
A solução para eternizar os momentos veio em 1817 quando o francês Joseph-Nicéphore Niépce conseguiu gravar uma imagem bastante débil em papel utilizando cloreto de prata para fazer as partes escuras do retrato e betume-da-judeia (uma mistura líquida usada para proteger a madeira de navios, por exemplo) para as partes claras, já que ele não reage à luz solar.
Após anos de pesquisa ele conseguir replicar o feito em uma placa metálica, assim Niépce tirou a 1ª foto da história, diretamente da janela de sua casa. O retrato, que data de 1826, mostra a visão do quintal que demorou 8 horas para ser gravada em sua câmera escura através do processo que ele batizou de heliografia, do grego, "gravura com luz solar".
Ele continuou seus estudos e em 1829 substituiu as placas revestidas de prata por estanho, escurecendo as sombras com vapor de iodo, o que se mostrou uma tática muito mais eficiente. Niépce morreria poucos anos depois (1833), porém, a continuidade de suas pesquisas estava garantida nas mãos de Louis Jacques Mandé Daguerre, seu sócio há alguns anos.
Em 1839 ele lançaria o Daguerreótipo, a evolução das pesquisas iniciadas com Niépce. O daguerreótipo consistia em uma placa de ouro e prata que era exposta aos vapores de iodo, formando uma camada de iodeto de prata sobre a mesma. Para fixar a imagem esta placa era colocada na câmera escura da invenção onde seria exposta à luz. Lá dentro era liberado vapor de mercúrio aquecido que iria aderir onde havia a incidência de luz, gravando a imagem na placa.
Parece ainda um processo bastante rudimentar, mas o daguerreótipo já havia conseguido diminuir consideravelmente aquelas 8 horas que eram necessárias para registrar uma única fotografia nos métodos conhecidos até então.Foi com um daguerreótipo que foi registrado o primeiro retrato de uma pessoa em fotografia. A captura data de 1838 e retrata a Boulevard du Temple, uma avenida de Paris, onde aparecem apenas 2 homens no canto inferior esquerdo.
Originalmente a ideia era gravar o intenso movimento da avenida, mas como o registro precisou de vários minutos para fixar a imagem na placa de estanho, somente os homens que engraxavam o sapato puderam ser capturados.
O próximo passo da história da fotografia foi o calótipo, que consistia em um papel impregnado de iodeto de prata. Ao ser exposto à luz na câmara escura a imagem era revelada com ácido gálico e então fixada com tiossulfato de sódio. O processo é o mesmo utilizado até hoje e foi o primeiro a permitir a cópia dos retratos.
A fotografia já estava criada há quase 50 anos quando aconteceu o próximo passo que terminaria por popularizá-la: uma câmera pessoal. Se antes as máquinas estavam restritas aos mais abastados que tinham que ir até um fotógrafo e esperar algumas dezenas de minutos para registrar um momento, foi com a invenção do americano George Eastman, de 1888: a câmera Kodak, vendida a US$ 25, aproximadamente 700 dólares em valores atuais. Com o lema "Você aperta o botão e nós fazemos o resto", a câmera introduziu o famoso rolo de filme, que perduraria por mais de 100 anos, até a chegada das câmeras digitais, que fazia você ter de pensar e repensar em quais seriam as poses fotografadas para não chegar na hora e desperdiçar o rolo. No entanto, as fotos só iriam ganhar uma corzinha 30 anos após o lançamento da Kodak, em 1908, quando os irmãos Lumière (os mesmos que inventaram o cinema) desenvolveram o primeiro processo capaz de reproduzir cor às chapas e fotografias registradas. A técnica foi chamada de Autochrome e consistia em 3 chapas transparentes (uma para cada cor primária) que no final resultava em uma composição colorida. O próximo momento responsável por um avanço no mundo da fotografia veio em 1947 quando Edwin Land inventou um filme que podia ser revelado instantaneamente. Tenho certeza que você sabe do que eu estou falando: a Polaroid, um ícone de uma época que segue como um objeto de desejo e sofisticação até hoje. Primeiro veio a Polaroid em preto e branco. A versão colorida só viria em 1963 e consolidaria a fama da Polaroid. Edwin Land ficou milionário com sua invenção. A grande revolução seguinte viria somente nos anos 90, quando a mesma Kodak desenvolveria um sensor eletrônico, peça chave para substituir o rolo de filme pelas fotos digitais. O sensor podia registrar mais de 1 milhão de pixel. Mas se você acha que isso deu certo pra Kodak, enganou-se redondamente.
A popularização e a evolução
Apesar de ter inventado a câmera digital, a marca, que era uma das mais valiosas do mundo no tempo do rolo de filme, deixou de investir como deveria na tecnologia que seria o futuro da foto e acabou perdendo o bonde da fotografia digital. Após ver a fotografia analógica despencar, a Kodak pediu falência em 2012 e levou com ela o período de ouro da fotografia, segundo alguns entusiastas, onde era preciso estudar a fotografia, cenário, composição, etc. e não apenas sair apertando o botão, afinal, é mais difícil encontrar alguém SEM um smartphone do que alguém com uma Polaroid. Até mesmo a Kodak está tentando correr atrás do prejuízo e do tempo perdido e se reerguer produzindo aparelhos celulares especiais para amantes da fotografia, focados em um excelente conjunto de câmeras.
Hoje tiramos milhares de fotos por mês e já nem lembramos que há pouco mais de 15 anos atrás ainda tínhamos de racionar o uso do filme. Ahh, e se na hora de revelar você descobrisse que a foto queimou era uma tristeza só. Pense bem: Em apenas uma festa de família hoje em dia você é mais clicado do que o seu avô foi durante toda a vida. Louco, não?
E aí. Você aposta na próxima guinada da fotografia? Deixe um comentário para nós abaixo.
Curiosidades da foto no Brasil
Dom Pedro II foi um dos homens mais modernos e antenados de sua época. Além de ser conhecido por ser uma das primeiras pessoas a testar o telefone inventado por Grahan Bell, ele foi um entusiasta da fotografia, sendo o primeiro brasileiro a ter um daguerreótipo, comprando-o quando tinha apenas 14 anos.
Clique aqui para ler a notícia que informou o "Brazil" da nova revolução (seção Miscellanea) e despertou a curiosidade do jovem imperador.
Por toda sua vida o monarca faria questão de registrar os momentos ele mesmo, além de ter muito bem documentada sua vida em imagens. Em 1889 quando foi banido do país por causa da república ele doou seu acervo com mais de 25 mil fotografias que servem como um registro temporal incrível do período imperial do Brasil.
Outro fato curioso da fotografia em terras brasileiras era a prática de tirar foto com entes queridos mortos, geralmente crianças em seus primeiros anos de vida devido à grande mortalidade infantil. O hábito era comum no século XIX onde buscava-se o fotógrafo da cidade para registrar um último (e único) momento daquele familiar que partia.
Como era necessário que a pessoa ficasse imóvel durante alguns minutos até que a fotografia ficasse pronta era preciso apoiar o morto em algum pedestal, colocá-lo sentado, no colo de alguém, deitado como se estivesse dormindo, etc. Em alguns casos os olhos eram mantidos abertos para que o fotografado parecesse estar vivo ou então tinham as pálpebras pintadas para que simulassem um olho após a imagem ter sido revelada.
Confira abaixo uma galeria com estas fotos post-mortem e tente adivinhar quais estão mortos e quais estão vivos.
Inventada no Brasil?
Sabe aquela velha guerra de que nós inventamos o avião? Pois bem, agora podemos reclamar também a invenção da foto, pelo menos em termos. Isso porque um francês chamado Antoine Hercule Florence estava vivendo por aqui enquanto conduzia seus experimentos sobre fotografia.
Seu método consistia em uma chapa de vidro que capturava a imagem e depois a passava ao papel. Entre os métodos de fixação testados por ele estão alguns um tanto quanto inconvencionais, como o uso da urina, por exemplo.
Quem fez essa descoberta foi o historiador Boris Kassoy da USP, que publicou a história no livro "Hercule Florence: A Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil". Se você quiser conferir mais sobre essa história, confira este link.
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