Sabe aquela história de que "quem não faz bem feito, faz duas vezes"? Ou então que "o barato sai caro"? Pois bem, a NASA sentiu na pele esses ditados. Foi só um descuido, uma falta de atenção, um olhar desatento e lá se foram quase 700 milhões de dólares pelo ralo.
Confira uma das #@%!! mais caras da história da exploração espacial. Spoiler: tudo por causa de um hífen!!
A boa e velha Guerra Fria
Assim como em diversos outros posts sobre avanços tecnológicos, em especial aqueles que tratam da intervenção humana no espaço, a Guerra Fria torna-se o cenário da nossa história.
O contexto você já lembra: Fim da 2ª Guerra Mundial, divisão do mundo entre comunistas e capitalistas; de um lado os Estados Unidos, do outro a União Soviética. Cada um tentando dominar a outra, seja em mísseis ou em tecnologia. E quanto à tecnologia, nada era mais importante naquele momento do que a exploração espacial.
Esta exploração começou, oficialmente, em 1957, quando os soviéticos levaram o Sputnik I para fora do planeta e tornaram ele a 1ª "coisa" criada pelo homem a deixar este planeta. E os EUA iam ficar para trás? Claro que não! Assim eles aprovaram a Lei Nacional de Aeronáutica e Espaço, logo no ano seguinte.
Na prática isso implicou na criação da NASA em 1958, no sobrevoo da Lua com o Pioneer 4 logo em 1959 e com o lançamento do primeiro satélite de monitoramento meteorológico em 1960, o TIROS I. E então será que a União Soviética ia ficar para trás? Claro que não também, afinal, esse era o espírito da Guerra Fria. E a resposta deles não poderia ser melhor: Em 1961, Yuri Gagarin torna-se o primeiro homem a deixar o planeta Terra!
A coisa havia ficado feia para os americanos que pareciam estar sendo deixados para trás. Assim o presidente Kennedy tomou uma medida drástica. Com um programa batizado de "Necessidades Nacionais Urgentes" ele elevou o orçamento da NASA e disse que conseguiriam pousar na Lua até o final da década. Essas mediadas foram anunciadas no mesmo ano que Gagarin saiu de órbita.
Pois então, chegamos no início dessa história: Dentro das medidas da NASA estava o programa Mariner. Ele reunia um conjunto de expedições interplanetárias sendo que a primeira delas, a Mariner I, tinha como destino o planeta Vênus. Ele deveria ir até lá, coletar dados para estudo e então consagrar-se-ia como a primeira nave criada pelo homem a ir até um outro planeta. Porém, havia um hífen no meio desse caminho glorioso.
Quanto custa um hífen?
O dia marcado para o lançamento foi o fatídico 22 de julho de 1962, dia escolhido a dedo para entrar para a história, porém, a nave não ficou mais do que exatos 293 segundos no ar até que foi destruída.
Investigações e relatórios começaram a ser feitos imediatamente. E aquele publicado pela NASA dizia o seguinte:
O foguete estava funcionando satisfatoriamente até que uma manobra inesperada foi detectada pelos comandos de segurança. Uma aplicação defeituosa nos comandos de orientação tornou impossível continuar conduzindo a nave.
Ainda assim todos queriam saber qual foi o erro que causou o prejuízo de 80 milhões de dólares (quase 650 milhões em valores atuais). A notícia de que um hífen faltante em um modelo matemático teria causado o problema foi publicado pelo jornal The New York Times alguns dias depois.
Não demorou muito para que a NASA desse a versão oficial do ocorrido. E, espantosamente, o jornal estava certo. Tudo foi causado por um hífen. Segundo o oficial que apresentou a explicação ao congresso americano, Richard Morrison
[O hífen] faz com que a nave ignore todos os dados enviados pelo computador até que o contato com o radar esteja restaurado. Quando aquele hífen foi deixado de fora, informações erradas [por conta dos problemas de transmissão] chegaram aos sistemas de controle da nave. Nesse caso, o computador ordenou que o foguete fosse para a extrema esquerda e apontasse o nariz para baixo; o foguete obedeceu e caiu.
Em termos práticos aconteceu o seguinte: A NASA já sabia que após o lançamento haveria alguns momentos em que o foguete perderia o contato com o comando na Terra, o que faria que informações erradas, conflituosas e quebradas chegariam até ela. Por isso o hífen deveria estar lá. O hífen tinha a nobre missão de fazer com que todas as informações fossem rejeitadas e a aeronave entrasse em um modo de piloto automático até que a conexão ficasse segura novamente. Mas como já vimos...
Em perigo iminente, 6 segundos após a detecção do bug veio a ordem para que o foguete fosse destruído. A rápida resposta era necessária para que o comando fosse disparado antes de ocorrer a separação do veículo e dos propulsores. Se ela não fosse dada a tempo o foguete rumaria ao contato com o solo, caindo no Atlântico Norte ou em alguma área desabitada.
A missão seria completada pelo Mariner 2, aeronave idêntica (apenas com 1 hífen a mais), que seria lançada 5 semanas após a tragédia do Mariner 1.
Infelizmente essa não seria a última vez que a NASA pecaria pela falta de atenção. Em 1999 explodiria a Mars Climate Orbiter após um erro muito bobo: enquanto os engenheiros utilizaram o sistema métrico de medida em seus cálculos, a empresa que criou o foguete estava usando o sistema imperial. O prejuízo foi de mais de 170 milhões.
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