Quem aqui nunca se enganou uma vezinha sequer na vida? Errar uma afirmação é tão humano quanto fazer suposições e levantar hipóteses. Assim, é natural que a ciência - que se alimenta de testes, suposições e hipóteses além de ser feita por humanos - tenha um passado repleto de erros.
Mas não tem nada de errado com isso. Errado seria se o método científico colocasse suas ideias como certezas imutáveis e rejeitasse qualquer possibilidade de pensar diferente e mudar o que já está estabelecido. Diferentemente disso, uma das coisas mais legais da ciência é que ela vai se autocorrigindo. Teses são revistas, estudos são refeitos, novas evidências são levantadas e, aos poucos, o conhecimento geral e a própria humanidade avança.
Muito bonito, é claro, mas não é só por isso que nós vamos deixar de rir de coisas ridiculamente absurdas que um dia já foram tidas como certeza absoluta por estudiosos e autoridades do assunto.
Confira a partir de agora 10 teorias científicas bizarras que todo mundo acreditou durante um bom tempo.
Teoria da Geração Espontânea
Essa daqui, certamente, você deve se lembrar, pois ela é estudada em detalhes nas aulas de Biologia do 6º ~ 8º ano.
Cunhada há algumas centenas de anos, quando os microscópios não tinham sido criados e as teorias de células e germes ainda não existiam, ela veio para explicar a necessidade do homem em explicar como os seres vivos surgiam. E por mais bizarro que possa parecer hoje, a ideia que perdurou durante milênios foi a da Geração Espontânea, ou seja, a teoria que pregava que a vida surgia da matéria inanimada. Por exemplo, as larvas surgiam espontaneamente de um pedaço de carne apodrecido e os ratos surgiam da sujeira e lixo acumulados num canto da casa.
Os defensores dessa ideia - todo mundo praticamente - usavam a Bíblia como uma fonte de evidência, alegando que, se Deus havia feito o homem a partir do pó, nada mais simples para ele do que brotar larvas aqui, insetos ali e moscas acolá. No entanto, a ideia de uma geração espontânea já existia beeeem antes do cristianismo, pois relatos da Grécia antiga dão conta de que Aristóteles dissera, sem muitos detalhes, que alguns animais podem surgir espontaneamente e não, necessariamente, a partir de outros animais de sua espécie.
E Aristóteles nem foi o cara que começou com essa história. Antes dele Anaximandro (que nasceu em 610 antes de Cristo e foi um dos filósofos pré-socráticos mais importantes que se conhece e que foi, entre outras coisas, professor de Pitágoras) acreditava que em algum momento da história os seres humanos nasceram espontaneamente de peixes na forma adulta (do contrário eles não conseguiriam sobreviver). Segundo Censorinus, um famoso registrador de eventos do Império Romano:
Anaximandro de Mileto considerou que da água aquecida e da terra emergiam peixes ou animais muito parecidos com peixes. Dentro desses animais, os homens se desenvolveram e os embriões eram mantidos prisioneiros até a puberdade; Só então, depois que esses animais se abrissem, homens e mulheres poderiam sair, agora capazes de se alimentarem sozinhos
E antes que você comece a rir dos gregos antigos e suas teorias de homens que brotam do solo e se criam dentro de peixes, note que até o século 19 a geração espontânea foi aceita como unanimidade pelos cientistas. E mais: alguns até chegaram a escrever livros de receitas sobre como fazer animais. A receita para fazer um escorpião, por exemplo, exigia colocar manjericão entre dois tijolos e deixar a "mistura" à luz do sol até que o animal brotasse.
A teoria foi sendo desmistificada aos poucos, experimento após experimento, sendo um dos mais memoráveis aquele realizado em 1668 pelo biólogo italiano Francesco Redi. Sem precisar de grandes aparatos ele realizou um procedimento bastante simples, mas que foi capaz de provar que a Geração Espontânea não se sustentava:
Francesco colocou pedaços de carne em diversos vidros, sendo que alguns deles estavam abertos, outros estavam totalmente lacrados e alguns parcialmente abertos e fechados (como se uma gaze fosse colocada por cima) e os largou ao relento. Após dias, como previsto, as moscas e larvas só surgiram na carne naqueles vidros completamente descobertos; sendo que os tapados com gaze tinham moscas sobre o tecido e nenhuma larva dentro e o pote vedado não tinha nada além de carne malcheirosa.
Mesmo assim as pessoas ainda teimavam em abandonar a teoria falida (até mesmo Redi relutou em desistir totalmente da versão oficial apoiada pela bíblia, admitindo que, sob circunstâncias específicas, seria possível sim que a geração espontânea acontecesse). A estocada final só veio em 1859 quando o famoso químico francês Louis Pasteur participou de um concurso da Academia Francesa de Ciências que iria premiar o melhor experimento capaz de acabar com a ideia da Geração Espontânea.
O experimento vencedor de Pasteur consistia em colocar caldo de carne e água em um frasco e fervê-lo para neutralizar quaisquer organismos que ali já estivessem presentes. Depois disso o gargalo do frasco era dobrado na forma de um S. A ideia era que assim o ar poderia entrar no frasco até tocar o líquido, mas nada aconteceria, pois os microrganismos iriam se acomodar na curva do S devido à gravidade e a água com caldo de carne continuaria pura.
Tudo saiu como o previsto e para provar seu ponto o último passo consistia em Pasteur remover o gargalo deixando o líquido exposto ao ar e seus microrganismos. Ao fazer isso a água com caldo rapidamente tornou-se turva mostrando sinais de vida. Com só um experimento Pasteur refutou a teoria da geração espontânea e ainda demonstrou de maneira convincente que os microrganismos estão em toda parte - até mesmo no ar.
Representação do teste de Pasteur
Teoria das Doenças Miasmáticas
Sabe aquela coisa generalista de que "pegar frio" abre as portas para diversos tipos de doença, mesmo as que não tem nada a ver com se resfriar? Pois a teoria dos Miasmas tem alguma semelhança com esse pensamento.
Esta teoria sustenta que doenças como a cólera, a clamídia ou a peste negra e os seus surtos foram causadas por um miasma (que vem da palavra "poluição" em grego antigo), e era o termo utilizado para algo conhecido popularmente como "ar ruim", um ar proveniente de matéria orgânica em decomposição. E, embora, o miasma esteja tipicamente associado à disseminação de doenças e epidemias (bastante comuns em tempos que não existiam vacinas, saneamento básico e serviços públicos de saúde), alguns acadêmicos do início do século XIX sugeriam que os seus efeitos se estendiam a outras condições como, por exemplo, tornar-se obeso ao inalar o ar ruim de alguma comida.
A teoria foi aceita desde a antiguidade na Europa e na China até o final do século XIX quando passou a ser abandonada por cientistas e médicos depois de 1880 e o surgimento da teoria germinal das doenças; ou seja, germes específicos causavam doenças específicas.
No entanto, a teoria falida dos miasmas nos deixou alguns hábitos e cuidados interessantes, como a crença cultural positiva acerca da eliminação dos odores adotada pelas cidades que fez com que a limpeza de resíduos se tornasse uma prioridade para (eliminando assim focos de descarte irregular de lixo e potenciais criadouros para ratos, parasitas e outros vetores de doença).
Teoria do Universo Geocêntrico
Para começar uma que todo mundo conhece e ouviu falar na escola, a teoria do Universo Geocêntrico, ou, popularmente conhecida como "a Terra no meio e os planetas e sol girando em volta".
Embora desde a Antiguidade alguns astrônomos já soubessem como a coisa realmente funcionava (como Filolau, nascido na Grécia em 470 antes de Cristo, que já pregava que a Terra, Lua e demais planetas giravam em torno de um "fogo central") a visão de que o nosso planeta estava parado e todo mundo orbitando em volta remonta à Grécia Antiga, onde os primeiros registros datam de 600 A.C.
A ideia errada dos gregos antigos é fácil de ser entendida, afinal se olharmos para o céu durante a noite vamos ver que os astros, seja o sol, as estrelas ou os planetas dão a clara impressão de estarem girando em torno da Terra enquanto que nós parecemos ficar parados. Assim, com a certeza de que estavam corretos eles faziam de tudo para adaptar os problemas que apareciam à sua teoria e fazer com que tivesse sentido. A órbita retrógrada de Marte é o melhor exemplo disso.
Órbita retrógrada é quando um planeta segue uma direção no céu noturno e do nada ele começa a ir para o outro lado, como se estivesse andando em marcha a ré. Para explicar isso eles criaram, por exemplo, os Epiciclos de Ptolomeu, que claro, hoje não fazem mais sentido algum. Esse é um dos casos mais clássicos de uma evidência científica que provava o contrário, mas que foi forçada a se encaixar e adaptar a uma ideia já pré-estabelecida. Mas ok. Há de se considerar que esta teoria é de uma época sem telescópios ou qualquer outra forma de estudo e investigação que não a pura e simples observação a olhos nu.
O que importa é que com ou sem essa gambiarra da órbita retrógrada o modelo geocêntrico foi aceito como verdade e acabou perdurando até o século XVI quando foi, finalmente, substituído pelo modelo Heliocêntrico graças à obra-prima de Copérnico: De revolutionibus orbium coelestium e trabalhos posteriores e complementares como Galileu e Kepler.
Teoria dos 4 Humores
Similar à teoria miasmática, a teoria dos 4 Humores (ou Teoria Humoral) também versava sobre o porquê das pessoas ficarem doentes em uma época que ninguém entendia direito como funcionavam as doenças e como se precaver e manter saudável.
A teoria foi criada por ninguém mais ninguém menos do que Hipócrates, o pai da medicina e nome por trás das bases mais profundas dessa profissão e que, inclusive, redigiu o juramento que todos os médicos do planeta Terra repetem ao se formar na Universidade. Isso há quase 2500 anos atrás.
Assim, desde a antiguidade clássica até os tempos modernos essa crença vem atrapalhando os diagnósticos ao pregar que o corpo humano continha quatro humores internamente: sangue, bile amarela, bile negra e fleuma e que uma vida saudável só era possível se a pessoa conseguisse equilibrar estes quatro "índices". E como você deve ter imaginado, se algum deles estivesse em excesso ou em falta: batata, você ficaria doente.
Foi por causa dessa crença que floresceram os tratamentos como sangria (através de cortes ou uso de sanguessugas) e eméticos (remédios que provocam o vômito). Mas se o seu caso não fosse tão grave, uma mistura de ervas daria conta de restabelecer o equilíbrio.
Essa coisa dos quatro humores era tão popular na cultura da época que também era aplicada até naquilo que as pessoas consumiam (o vinho correspondia à bílis amarela, por exemplo) e nas suas próprias personalidades:
- Bílis amarela - Ligada ao elemento fogo, pessoas deste humor eram tidas como estrategistas, racionais e ousadas;
- Sangue - Ligada ao elemento ar, as pessoas daqui eram otimistas, sentimentais e instáveis;
- Fleuma - Elemento água, pessoas sensatas, trabalhadoras e realistas;
- Bílis negra - Elemento terra e das pessoas intensas, profundas e analíticas.
O conceito de humores perdurou até 1858, quando Rudolf Virchow publicou as primeiras teorias de patologia celulares. Mas de certa forma esses conceitos ainda permanecem vivos no nosso dia a dia sem que nos demos conta. Quando nos referimos a alguns alimentos como "quentes" e outros como "secos", por exemplo, estamos usando termos que remetem aos 4 humores.
Teoria do Éter
Segundo este pensamento que existiu durante grande parte do século XIX existia uma "camada" de éter no universo através do qual a luz poderia se propagar. O conceito foi invocado para explicar a capacidade da luz - um tipo de onda - se propagar através do espaço vazio, algo que as ondas não deveriam ser capazes de fazer como se acreditava até então.
A suposição de um éter luminífero - ao invés de um vácuo espacial - era a muleta teórica que fazia com que fosse possível uma onda viajar pelo espaço. Mas a coisa não foi longe não. O conceito foi alvo de um considerável debate ao longo das décadas seguintes, pois exigia a existência de um material invisível, infinito e que não interagisse com objetos físicos e, para a tristeza de seus defensores, à medida em que a natureza da luz foi sendo explorada - especialmente no século XIX - as características do suposto éter tornaram-se cada vez mais contraditórias e impossíveis de existirem.
A ruptura foi tão rápida quanto a velocidade da luz (ba dum tss) e já no final do século XIX a existência do éter era questionada, mesmo que a revogação da teoria atual deixasse lacunas que nenhuma outra hipótese era capaz de preencher no momento.
O éter começou a ser abandonado após o resultado negativo do experimento de Michelson-Morley, em 1887 no qual os cientistas que deram nome ao experimento (Albert Michelson e Edward Morley) compararam a velocidade da luz em direções perpendiculares na tentativa de detectar qualquer sinal de um movimento relativo da matéria através do éter luminífero estacionário. O resultado, como a gente já sabe, foi negativo, pois a luz flui constante em qualquer direção, independente de estar se movendo através do presumido éter ou em ângulos retos.
O mais importante disto tudo é que esta pesquisa (juntamente dos estudos sobre o Corpo Negro e os estudos sobre o Efeito Fotoelétrico) desencadeou uma linha de pesquisa que eventualmente levaria à Teoria Quântica, que explica a natureza ondulatória da luz, e à Teoria da Relatividade Especial publicada por Einstein, em 1905, que descreve a física do movimento na ausência de campos gravitacionais. Por esse motivo o experimento de Michelson-Morley é considerado por muitos como "o ponto de partida para os aspectos teóricos da Segunda Revolução Científica"
Teoria do Stress e da Úlcera
No século XX os médicos notaram uma explosão nos casos de úlceras pépticas na população. E assim como acontece todas as vezes que uma doença se multiplica sem um motivo aparente, os pesquisadores logo correram para investigar a causa e assim buscarem uma solução.
Coincidentemente a explosão do número de úlceras se deu na mesma época em que surgia um novo problema que parecia servir como a causa de todos os males: o estresse. As pessoas estavam trabalhando cada vez mais, as cidades estavam mais e mais lotadas, havia mais carros nas ruas, mais engarrafamentos, e tantas outras coisas da vida moderna que faziam a vida ser cada vez mais complicada. Logo o termo seria o preferido dos médicos para explicar situações genéricas e sem explicação.
E assim foi com a úlcera. Por isso o tratamento médico para a doença durante a segunda metade do século XX foi, essencialmente, tomar antiácidos e modificar o estilo de vida adotando um dia a dia mais saudável e sem tantas preocupações.
O panorama só iria mudar na década de 1980 quando os pesquisadores clínicos Barry Marshal e Robin Warren descobriram que a bactéria Helicobacter pylori era a verdadeira responsável pela doença. A descoberta não só levou a uma revisão dos tratamentos como fez com que os autores da descoberta fossem laureados com o Prêmio Nobel de Medicina em 2005.
Teoria do comportamento maternal
Tão antiga ao ponto de não ser possível pontuar exatamente a sua data de início, esta lenda, também chamada de impressão materna, baseia-se na crença de que se uma poderosa influência mental ou física atuar sobre a mãe durante a gestação, uma impressão, geral ou definitiva, poderá ser atribuída à criança que ela está gerando. Pode-se dizer que a criança está "marcada" como resultado.
Durante muito tempo ela foi utilizada para explicar defeitos congênitos e de nascimento. Caso uma mãe tivesse um trauma com um elefante durante a gravidez ou um susto, por exemplo, este traço seria "impresso" no seu feto que poderia desenvolver elefantíase. Uma pessoa que sofresse de problemas mentais, como esquizofrenia e depressão, poderia ter seu quadro clínico explicado por uma gestação onde a mãe experimentou grande tristeza ou sofreu com as mesmas doenças.
A teoria só foi colocada de lado quando os estudos com genética avançaram no século XX desmistificando essa ideia e mostrando que herança genética é a chave para tudo.
Teoria da Minhoca que Come Dentes
Após vermos a ideia de homens que brotam de peixes uma simples teoria de que dores de dente, cáries e periodontite seriam causadas por um verme que mora dentro dos dentes das pessoas nem parece mais tão bizarra. Mas a bizarrice está aí. A teoria dizia que tais doenças eram causadas por pequenos vermes que habitavam o interior dos dentes das pessoas e iam comendo o que encontravam por lá, causando assim as dores e os problemas.
As origens da crença são muito antigas, já que a primeira menção a esse verme fictício foi encontrada em uma tábua cuneiforme babilônica intitulada "A Lenda do Verme" que conta como o verme do dente surgiu e passou a beber o sangue e comer as raízes dos dentes:
"Depois de Anu ter criado o céu,
O céu criou a terra
A terra criou os rios,
Os rios criaram os canais,
Os canais criaram o pântano,
O pântano criou o verme
O verme foi, chorando, diante de Shamash, suas lágrimas fluindo diante de Ea: "O que você vai dar para a minha comida? O que você vai me dar para minha sucção?"
"Eu te darei o figo maduro, o damasco."
"Para que servem eles para mim, o figo maduro e o damasco? Levanta-me e entre os dentes e as gengivas me faça habitar! O sangue do dente eu vou sugar e da goma vou roer suas raízes! "
E assim a lenda foi sendo repassada e compartilhada por diversas culturas até chegar à modernidade onde permaneceu, mesmo que sem nenhuma evidência que comprovasse o fato fosse encontrada. Mas isso não era problema para os dentistas, pois se não encontra evidências, forje-as, é claro!! Dessa forma, para aliviar os pacientes (e encorajarem a crença de tabela) alguns dentistas colocavam larvas disfarçadamente na boca dos pacientes durante algum procedimento para que ele então eles pudessem cuspi-las e ficassem mais tranquilos.
A ideia persistiu até o século XVIII, quando o pai da odontologia moderna, Pierre Fauchard (e seu microscópio), mostrou que quando removido intacto, um dente com uma polpa necrosada ou parcialmente necrosada podia mesmo ter a aparência semelhante a de um verme o que deve ter causado a confusão.
E apenas para fins de curiosidade: Um estudo de 2009 da Universidade de Maryland, Baltimore, publicou imagens microscópicas do interior de dentes onde foram reveladas estruturas semelhantes a vermes dentro de um molar dissecado, como pode ser visto na imagem à direita.
Eles não conseguiram concluir o que são essas estruturas ou o que as causou.
Teoria da Terra Jovem
A idade da Terra sempre foi um tópico frequente, antes mesmo da ciência existir. Desde tempos remotos religiosos investigavam a bíblia atrás de pistas que indicassem quantos anos o planeta tinha de fato; cada um fazendo a leitura que queria e tirando as conclusões que bem entedesse. As melhores suposições giravam em torno de alguns milhares de anos.
A idade do planeta baseada em teorias científicas só começariam a surgir no século XIX, sendo uma das mais famosas a do físico William Thomson, Lorde Kelvin, que, em 1862, publicou seus cálculos apontando a idade da Terra como algo entre 20 milhões e 400 milhões de anos. O que o fez chegar nesse valor tão elástico foi a variável "modo como a Terra se formou" que ele assumiu ter sido a partir de um objeto completamente fundido. Assim a idade da Terra foi definida pela quantidade de tempo necessária para a superfície do planeta esfriar até a temperatura atual.
Ele também deu um pitaco (bastante errado) para a suposta idade do Sol. Baseado em estimativas de sua produção térmica e uma teoria de que o Sol obtém sua energia a partir do colapso gravitacional ele estimou que a estrela teria cerca de 20 milhões de anos.
Pode parecer uma discussão sem muitos efeitos práticos, mas saber a idade exata da Terra era fundamental para Charles Darwin, por exemplo, que precisava de um planeta capaz de oferecer condições de vida por centenas de milhões de anos para comprovar sua teoria da Evolução das Espécies. O problema para Darwin era que na época da sua pesquisa, em meados do século XIX, a ciência era unânime em afirmar que era impossível a Terra ter tanta idade assim. Mas a conta não batia e os biólogos não iam aceitar isso facilmente.
Em uma palestra em 1869, o grande defensor de Darwin, Thomas Huxley, atacou os cálculos de Lorde Kelvin, sugerindo que eles pareciam precisos em si (o tempo de resfriamento), mas se baseavam em suposições errôneas (a Terra não surgiu a partir de um objeto fundido). Já do outro lado do ringue astrônomos engrossavam o caldo afirmando que a Terra tinha uma idade que ficava entre 22 e 18 milhões de anos, ou seja, diminuindo ainda mais o espaço temporal.
A última estimativa que William Thomson, Lorde Kelvin, deu foi em 1897, quando, após muitas sugestões e contribuições (incluindo a irônica participação do astrônomo George Darwin, filho de Charles Darwin que apostava em 56 milhões de anos como a idade correta) revisou suas contas e cravou o valor final: Mais de 20 e menos de 40 milhões de anos, e provavelmente muito mais perto de 20 do que 40.
Bom, Lorde Kelvin morreria em 1907 acreditando piamente que o seu cálculo para a idade do planeta tinha sido sua maior contribuição para a ciência, logo ele, um dos físicos mais importantes do século XIX. Caso você não esteja ligando o nome às ações, ele fez importantes contribuições na análise matemática da eletricidade e termodinâmica (foi ele que criou suas 1ª e 2ª leis, inclusive). Foi ele também que desenvolveu a escala Kelvin de temperatura (onde o zero absoluto é definido como 0 K). Na época em que ele morreu uma nova ciência estava crescendo a passos largos: a paleontologia. De uma hora para a outra dinossauros e mais dinossauros começaram a ser desenterrados e o pessoal pôde confirmar uma coisa: Realmente as contas não estavam batendo!!
Não demoraria muito para que surgisse o Carbono-14, os fósseis pudessem ser datados como centenas de milhões de anos em alguns casos e a geologia aparecesse para responder a real idade da Terra através do estudo das camadas de estratos e formações rochosas. Resposta final: a Terra tem cerca de 4,55 bilhões de anos, mais ou menos a mesma idade do sol.
Ahh, e só para confirmar os pensamentos de Darwin sobre o processo de variação hereditária aleatória e seleção cumulativa requererem grandes durações de tempo: De acordo com a biologia moderna, a história evolutiva que começou com a primeira bactéria e chegou até o dia de hoje percorreu de 3,5 a 3,8 bilhões de anos.
Teoria da Alquimia
Sobre alquimia todo mundo já ouviu, seja quem gosta de Idade Média e viu que esta era uma das maiores buscas dos cientistas da época, seja quem gosta de rock progressivo e escutou o álbum do Yngwie Malmsteen, quem gosta de RPG e só jogava com essa classe, quem gosta de quadrinhos e viu o vilão com esse nome no Flash, quem gosta de animes e acompanhou a aventura de Edward e Alphonse Elric, etc. A alquimia é uma das lendas mais famosas do mundo e mais impregnadas na cultura pop até hoje.
O motivo é o caráter mágico que a envolve. Alquimia pode ser chamada de "a 'ciência' de fazer mágica" e tinha como seu objetivo a busca pelos mais variados itens e feitiços, por exemplo: conjurar gênios, criar um elixir da vida eterna, criar a lendária panaceia (um remédio que poderia curar qualquer doença), criar o alkahest (um solvente universal capaz de dissolver qualquer coisa) e, o principal de todos, a pedra filosofal (também conhecida como crisopeia) que teria o poder de transformar materiais ordinários, como o chumbo, em um belo e reluzente pedaço de ouro puro.
A busca por essa fonte infinita de riqueza e de mistério teve início (no mundo ocidental) no Egito Antigo, onde se combinava com a primitiva metalurgia da época. Os alquimistas egípcios eram, inclusive, muito bons com metalurgia e similares e são os responsáveis pela descoberta das fórmulas da argamassa, do vidro e de alguns cosméticos. Do Egito, eventualmente, as lendas sobre a alquimia ganharam corpo e se espalharam para o resto do mundo antigo.
Embora nossa noção de mundo seja frequentemente limitada a coisas que aconteceram na europa, práticas similares de alquimia existiam também no Extremo Oriente, na Índia e no mundo muçulmano. Na Europa a corrente praticada tinha origens no Renascimento do século XII decorrente da tradução de obras islâmicas e de Aristóteles.
Mas ainda que os alquimistas nunca tenham encontrado nada daquilo que procuravam eles desempenharam um papel significativo no início da ciência moderna, particularmente na química e medicina. Alquimistas islâmicos e europeus desenvolveram técnicas básicas de laboratório, terminologias, teorias e método experimental onde algumas das quais estão em uso ainda hoje.
E mesmo que a alquimia ainda conte com alguns adeptos em 2018, ela praticamente desapareceu nos últimos 200 anos por conta de uma das maiores ironias já ocorridas na ciência. Ao mesmo tempo em que a alquimia contribuiu - e muito - para a ciência moderna, a verdadeira ciência que ela ajudou a criar acabou causando a morte da própria lenda milenar, que não pôde resistir aos rigorosos testes de sua pseudociência.
Teoria Bônus: Terra Plana
E por falar em teoria ridícula, não poderia faltar ela, a mãe de todas: a famosa Terra Plana. Mas não vou dar evidências de que ela está errada e tudo mais, pois já fiz isto neste link aqui.
Coloquei a Terra Plana aqui para provar um ponto. Embora exista uma crença popular de que ela é, de alguma forma, uma ideia "científica", nomes como Aristóteles e Tomás de Aquino já sabiam que a Terra era redonda há mais de 2 mil anos atrás. Em suma, a maioria dos estudos sugere que homens e mulheres instruídos, desde os primórdios da antiguidade, tinham a noção de que a Terra era redonda.
Então, a ciência não deve ser culpada, manchada ou nem passar vergonha por este probleminha chamado Terra Plana.
Faltou alguma coisa que você gostaria de ver neste post? Deixe nos comentários que, se o pessoal gostar do assunto, farei uma parte dois.