Se alguém fala em "Corrida Espacial" na hora lembramos daquele episódio acontecido há mais de 50 anos atrás, quando os soviéticos e os americanos resolveram que iriam disputar o controle não só do nosso planeta como do espaço.
Tempo passou, os soviéticos venceram, os americanos tornaram a NASA o órgão mais importante em relação ao espaço, diversos países se juntaram para criar a Estação Espacial Internacional e as coisas andaram. Mas e se alguém te perguntasse sobre a corrida espacial que está acontecendo AGORA, em 2018? Você saberia o que responder ou o que pensar?
Pois é. Parece estranho, mas estamos vivendo uma nova era de buscas pelo espaço. Mas dessa vez quem compete não são países ou órgãos oficiais, mas sim empresas privadas e bilionários com uma paixão por aventura.
E se você acha que estou falando apenas de Elon Musk e a sua SpaceX, engana-se. Continue a leitura e veja que uma corrida espacial nunca foi tão disputada e nunca teve tantos concorrentes capazes de alcançar a vitória. Depois não esqueça de deixar um comentário e dizer quem você acha que será o vencedor dessa vez.
SpaceX
Começando o post por quem lidera o setor, afinal, como você verá no decorrer do texto, todas as demais companhias lutam para não serem sugadas pela predominância da SpaceX. Caso você tenha lido este post talvez já saiba de alguns dos feitos da companhia, mas caso tenha caído aqui de paraquedas, vou dar algumas informações importantes para entender o tudo que vem a seguir.
SpaceX é a empresa mais bem-sucedida dessa leva de companhias privadas de exploração espacial. Fundada em 2002, ela detém alguns recordes importantes, como, por exemplo, o de primeiro foguete de combustível líquido com financiamento privado a entrar em órbita; de primeira empresa privada a enviar uma espaçonave para a Estação Espacial Internacional; o primeiro pouso controlado de um primeiro estágio de foguete orbital em terra; entre vários outros.
Hoje (outubro de 2018) o veículo lançador da vez é o Falcon 9, que pode carregar até 22.8 toneladas da carga útil a um custo de 50 milhões de dólares por lançamento, o que é incrivelmente barato (a questão preço caro x preço barato de coisas enviadas ao espaço se mede através do valor pago por libra enviada).
Mais recentemente - em fevereiro de 2018 - a SpaceX lançou o Falcon Heavy que, grosseiramente, podemos dizer que se trata de três Falcons 9 acoplados para aumentar o montante de carga que pode ser transportada. O FH tem capacidade de mais de 63 toneladas de carga útil pelo preço de apenas 90 milhões. Adendo: Certamente você ficou sabendo do lançamento do Heavy em fevereiro, aquele famoso voo onde um carro foi enviado ao espaço, lembra?
Voos comerciais já estão agendados para esse monstro da exploração espacial: Janeiro de 2019 ele levará um satélite da Arábia Saudita. Será sua primeira missão oficial. E se apenas o Falcon Heavy já deu uma dor de cabeça inimaginável para a concorrência, que agora corre atrás do prejuízo, então imagina você se ele já estivesse, praticamente, ultrapassado por mais um veículo da SpaceX.
Sim, o próximo e colossal foguete da SpaceX, o BFR (Big Falcon Rocket ou Big Fucking Rocket), ainda está em fase inicial de desenvolvimento (ele foi anunciado por Elon Musk em setembro de 2017), mas quando estiver pronto vai fazer o Falcon Heavy parecer um brinquedo.
Se as quase 64 toneladas de carga útil para a órbita terrestre do Heavy parecem bastante, no BFR o número mais do que dobra: 150 toneladas!!!! Desenvolvido para dar vida aos planos de Musk de chegar a Marte, ele poderá levar de uma única vez até 50 toneladas para o Planeta Vermelho. Nem preciso dizer que quando estiver pronto ele será o maior foguete já construído pelo homem, em qualquer quesito de comparação.
Outro quesito que está deixando a concorrência desesperada é o seu preço de lançamento. Embora seja gigantesco e mais caro para ser produzido, o foguete será incrivelmente barato a cada vez que for colocado em órbita: apenas 7 milhões de dólares por relançamento, ou seja, quase 9 vezes menos do que o Falcon 9, um foguete que tem capacidade de carga 6 vezes menor.
Assim, se tudo der certo, e até hoje tudo sempre deu certo para Elon, o BFR será o novo divisor de águas na indústria aeroespacial e na nossa presença no universo. Seu lançamento está planejado para 2022; Tendo isso em mente, continue a leitura levando em consideração que as próximas empresas listadas aqui tem que competir com esses parâmetros colocados lá em cima pela SpaceX. MAS SEM PRESSÃO PRA CIMA DELAS POR FAVOR.
ULA - United Launch Alliance
O próximo competidor nesta briga não se trata apenas de uma empresa que tem a coragem dos mais novos como trunfo, mas sim a união, firmada em 2005, de grandes nomes que tem a tradição como aposta para o sucesso. A ULA é uma joint venture de 50/50% entre as gigantes Lockheed Martin e Boeing; mais um nome a entrar na briga por uma fatia do mercado espacial.
A ULA é a criadora do famosíssimo Delta IV Heavy, o foguete mais poderoso em atividade até fevereiro de 2018, quando a SpaceX colocou o Falcon Heavy em órbita a um custo bem inferior aos seus 350 milhões cobrados. Mas se não é possível vencê-los, junte-se a eles, é claro. Por este motivo a ULA já informou que o Delta IV está com seus dias contados enquanto desenvolve seu novo foguete: O Vulcan Centaur.
Com capacidade para erguer 40 toneladas, estima-se que o Vulcan irá fazer o seu voo de estreia em 2020 a um custo de menos de 100 milhões de dólares. O que é bom, é claro, porém, ainda assim mais caro e com menos capacidade do que o Falcon Heavy.
Então por que a ULA ainda está insiste nos seus foguetes? Segundo o CEO Tory Bruno, "Às vezes é mais do que apenas 'Hey, olhem como o meu foguete é grande'", disse ele se referindo ao FH da SpaceX. "Às vezes você precisa que um foguete faça coisas específicas depois que ele entra em órbita."
Entre os pontos que Bruno cita como vantajosos sobre o principal concorrente está no sistema de boosters do primeiro estágio do Vulcan que pode se separar e voltar para a Terra sozinho e em segurança. Nas espaçonaves da SpaceX isso não é possível, e, como algumas cargas são tão pesadas ao ponto de cada gota de combustível ser necessária para colocar o objeto em órbita, nem sempre os boosters de Elon Musk têm como serem recuperados. Bruno disse que os boosters da sua empresa poderão retornar a uma taxa de 2 terços.
Outro trunfo é um novo sistema, chamado ACES, que permite que os estágios iniciais fiquem orbitando nosso planeta por meses ou anos até que sejam reabastecidos lá mesmo no espaço e possam voltar à ativa, ao invés de serem descartados. Agora imagine um primeiro estágio fazer a queima inicial para sair da órbita terrestre (sabemos que esse esforço corresponde à maior parte do combustível consumido) e, ao chegar lá em cima, acoplar a um primeiro estágio cheinho de combustível novamente. Este truque poderia fazer com que fôssemos a locais antes nunca imaginados. O sistema deve estrear em 2023 ou 2024.
A SpaceX também está desenvolvendo seu ACES, como dito por Elon.
Arianespace
Subsidiária e braço espacial da Arianegroup (outra joint venture, dessa vez entre a Airbus e a Safran - multinacional francesa de motores e componentes para indústria aeronáutica, espacial e de defesa), a Arianespace tem história pra contar: Eles são a primeira companhia de lançamento do mundo, fundada em 1980, quando somente os Estados Unidos, a União Soviética e mais alguns poucos tinham conseguido tal feito e ninguém imaginava que grupos privados pudessem ter sucesso neste tipo de empreitada.
A Ariane já colocou em órbita mais de 550 satélites desde então, sendo este o seu principal ramo de atuação. A coisa começou a ficar preocupante quando a SpaceX surgiu com seus Falcons e começou a "roubar" cada vez mais e mais lançamentos de satélites europeus. Neste momento a Arianespace passou a investir também em pesquisa e novas tecnologias.
Em 2020 deve chegar o fruto dessas pesquisas: o Ariane 6, que virá de acordo com a tendência de espaçonaves do momento: Boosters e estágios totalmente reutilizáveis. De acordo com as previsões iniciais, o preço por libra enviada ao espaço seria inferior àquele praticado pela Spacex, o problema para a Ariane foi que eles não contavam com um novo veículo lançador da empresa de Musk para avacalhar com as expectativas.
Assim, o custo será equiparado aos valores do Falcon Heavy, porém, com uma carga útil de cerca de 2.5 vezes menor (os cálculos iniciais haviam sido feitos em relação ao Falcon 9).
Orbital ATK
Além de trabalhar nos motores que irão fazer parte do SLS da NASA, a Orbital ATK é, também, uma das empresas que cultivam as próprias ambições de dominar a exploração do espaço profundo. O nome do seu sistema: Next Generation Launch, ou NGL.
O NGL é projetado para competir por cargas úteis pesada diretamente com o Falcon Heavy e o Vulcan Centaur. Seu primeiro lançamento está programado para 2024, e poderá colocar cerca de 50% a mais de carga útil do que o veículo da SpaceX (o que é legal, mas nem tanto, já que a esta altura o Big Fucking Rocket já estará totalmente operacional).
O NGL não é bem uma novidade, mas sim um "reaproveitamento" do Ares I, um lançador que a estava sendo construído para a NASA, mas que foi abandonado após o programa perder seu financiamento. Assim, NGL mantém muitas das características que estariam no Ares I, como, por exemplo, os foguetes de propulsão sólidos semelhantes aos do ônibus espacial. Ahh, e seguindo a tendência de mercado, estes propulsores poderão ser reutilizados.
A parte ruim do projeto é que, segundo a empresa para o Business Insider, nem todas as partes e peças estão sendo pensadas para serem reutilizáveis. "Como uma empresa que praticou a reutilização durante 30 anos com o ônibus espacial, sabemos o que funciona", disse um representante da empresa. "As taxas de voo para o ônibus espacial nunca o tornaram econômico".
De maneira geral, a empresa pretende manter o preço do lançador baixo e a confiabilidade alta fazendo ela mesmo as peças da aviônica e os computadores, bem como os materiais de corpo de foguete, tão intercambiáveis quanto possível entre seus diversos foguetes.
A empresa se recusou a estimar seu preço de lançamento "devido à natureza sensível da concorrência".
Blue Origin
Famosa por ser a empresa de exploração espacial do bilionário Jeff Bezos, fundador da Amazon, a Blue Origin fez fama por ser a pioneira no ramo do turismo espacial. Fundada no ano 2000, a empresa é detentora da New Shepard dona do recorde de ser a primeira espaçonave a pousar com sucesso após um voo suborbital, em novembro de 2015 (não confundir com o Falcon 9, da SpaceX, primeira espaçonave a pousar após um voo orbital, cerca de 25 dias após o pouso da New Shepard, como falamos lá em cima).
Mas a Blue Origin decidiu que o mercado de voos suborbitais seria pequeno para a ambição de Jeff Bezos. Assim, eles anunciaram que estão entrando no mercado da exploração do espaço além da órbita terrestre. Seus planos foram anunciados em setembro de 2016 quando foi mostrado ao público os projetos para o enorme e reutilizável New Glenn. Com quase 100 metros de altura, três estágios e motores reutilizáveis, chamados de BE-4 o foguete possivelmente fará viagens para a lua ou entrará no roteiro de Marte.
Bezos está planejando lançar o primeiro foguete New Glenn em 2020. Não se sabe ao certo quanto custará o lançamento da espaçonave, mas como segue os preceitos da SpaceX de reutilização para voos futuros estima-se que venha na onda de lançamentos econômicos, provavelmente rivalizando com os preços da companhia de Elon Musk.
Virgin Orbit
A Virgin é mais uma das que começaram mirando no turismo espacial e agora se preparam para começar a operar voos comerciais de lançamento. A empresa é mais uma das que estão sob o guarda-chuva da Virgin Group, o grupo fundado pelo bilionário e excêntrico Richard Brenson, que começou seu império com uma gravadora e hoje atua em dezenas de ramos, dos mais variados possíveis: de academias à indústria aeroespacial; do hyperloop a cruzeiros marítimos, etc.
Diferentemente da maioria dos nomes dessa lista, a Virgin Orbit não mira os grandes contratos e os grandes satélites, mas sim os de pequeno porte já que sua capacidade é de, no máximo, 500 kg de carga útil. Como você pode ver abaixo sua maneira de operar é diferente dos demais já que o veículo lançador é um simples Boeing 747, destes mesmos que são usados pelas companhias aéreas.
A diferença com o Cosmic Girl (nome do avião ❤) é que ele carrega um foguete embaixo da sua asa que fará o lançamento horizontal da carga útil (como se fosse um míssil de um avião militar) e não vertical, como estamos acostumados a ver nos lançamentos de foguetes.
Por operar voos menores seu custo é beem menor também: Com algo entre 10 e 12 milhões de dólares você já consegue contratar uma missão da Virgin Orbit.
P.S. A Virgin Orbit é dedicada exclusivamente ao negócio de "colocar coisas em órbita", sendo a Virgin Galactic a empresa da Virgin que é dedicada ao turismo espacial e foi citada no início deste subcapítulo.
Stratolaunch
E para concorrer com a Virgin Orbit no mercado de lançamento de pequenos satélites surge a Stratolaunch, criada por Paul Allen, cofundador da Microsoft.
Assim como a anterior seus lançamentos são operados a partir de um avião, mas não um simples avião: O maior avião do mundo em envergadura da asa. Isso porque são dois aviões 747-400 "grudados" pelas asas com um foguete no centro (este foguete pode pesar até 250 toneladas, sendo, no máximo, 6.1 toneladas de carga útil).
Assim como no caso da companhia de Richard Brenson, ele também utilizará decolagem na horizontal e, por ser um avião, é totalmente reutilizável. Por ainda estar em desenvolvimento - a primeira apresentação ao público deverá ser feita em 2019 - é impossível dizer quanto custará um lançamento.
China
Mas não são somente as empresas privadas que estão nessa de conquistar o espaço. A China, por exemplo, mantém um programa espacial avançadíssimo e, embora não possam igualar os preços de lançamento de foguetes reutilizáveis da SpaceX (AINDA), quando conseguirem, pode ficar complicado para a concorrência.
Como já é sabido a nação está trabalhando na construção de um avião espacial hipersônico e reutilizável. O plano é lançá-lo pela primeira vez em 2025 e, mais tarde, lançar um modelo abastecido por energia nuclear, igualmente reutilizável.
As ambições chinesas incluem turismo, mineração de asteroides e missões para Marte e Lua.
Mas claro que o provável sucesso da China no espaço não está agradando a todos. O bilionário Robert Bigelow (que por acaso é americano), e fundou a Bigelow Aerospace, focada em construir estações espaciais infláveis, está preocupado com as conquistas dos Chineses no espaço. "Eles estão oferecendo condições muito atrativas e dão indícios de que as empresas privadas terão dificuldades em competir".
Não desmerecendo nada nem ninguém, mas Bigelow é famoso por declarar publicamente que os alienígenas vivem entre nós.
Startups
Ninguém discorda que as startups são o futuro do empreendedorismo, afinal elas estão em TODOS os ramos, incluindo na exploração espacial. Confira um pouco das mais badaladas do ramo:
Planetary Resources: Com apoio financeiro de Larry Page e Eric Schmidt, fundadores do Google, de James Cameron, diretor de "Avatar", e outros bilionários famosos, a Planetary Resources está procurando revolucionar o mundo da tecnologia minerando asteroides próximos em busca de metais que são extremamente raros na Terra, mas encontrados em abundância espaço.
Kymeta: Como outras empresas que contam com o apoio de Bill Gates (que além de fornecer o dinheiro inicial também contribuiu para uma rodada de investimentos de US$ 50 milhões) a Kymeta é uma empresa que procura causar um impacto social positivo. Eles planejam usar satélites em órbita e receptores de baixo custo para fornecer Internet para veículos e também para áreas isoladas no mundo em desenvolvimento.
Deep Space Industries: Como a Planetary Resources, a Deep Space Industries espera extrair diretamente dos asteroides os mais variados materiais que valem muita grana por aqui devido sua raridade na Terra. A empresa planeja iniciar a mineração na próxima década.
Planet Labs: Usando 28 satélites em miniatura conhecidos como "CubeSats", o Planet Labs tem como objetivo fornecer imagens mais detalhadas e atualizadas com mais frequência do nosso planeta do que aquelas que dispomos até aqui. Essas fotos permitirão que mapas de tráfego e dados ambientais sejam mais precisos do que nunca.
SkyBox Imaging: Com o apoio de importantes aceleradoras, a SkyBox está lançando uma frota de satélites em miniatura, muito parecidos com o que planeja fazer a Planet Labs. A diferença é que aqui a empresa irá usá-los para uma gama muito maior de atividades, incluindo a seleção de locais para extração de petróleo e gás natural, relatórios de desastres naturais, planejamento urbano e agricultura.
Masten Space Systems: Baseado no sul da Califórnia, o Masten se dedica a fazer foguetes reutilizáveis e avançados que podem decolar e aterrissar verticalmente muitas vezes, na mesma linha do que vem fazendo a SpaceX.
Para saber mais: Business Insider, The Space Review, ULA, Business Insider, Wired, Insider
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