Um telescópio da Estação Espacial Internacional captou sinais de um buraco negro engolindo uma estrela. As imagens foram detectadas em março do ano passado, foram analisadas por astrônomos e as conclusões foram divulgadas nesta semana.

O buraco negro, nomeado de MAXIJ1820+070 está localizado a 10 mil anos-luz da Terra. Os cientistas acabaram se deparando com um grande jato de luz de raios-x. Após analisar o material, os pesquisadores concluíram que se tratava de um buraco negro em meio a uma explosão.

"Muitos milhões de buracos negros existem em nossa galáxia. Nós só os vemos quando estão em um sistema binário com outra estrela, uma estrela normal como o nosso sol. Os buracos negros podem puxar material da superfície da estrela, acumulando material, pouco a pouco, na forma de um disco - chamado disco de acreção - ao redor dele", explica à BBC News Brasil a astrônoma Erin Kara, pesquisadora da Universidade de Maryland e principal autora da descoberta.

"Às vezes, ocorre uma instabilidade, e uma avalanche desse material estelar cai no buraco negro, criando uma enorme energia e radiação, na forma de um jato de emissão de raios-x da região muito perto do buraco negro, chamado de coroa. Temos agora novos resultados sobre a extensão espacial e a evolução da coroa e do disco durante uma explosão."

A partir disso, os astrônomos passaram a seguir a pista, detectando os "ecos" dessa explosão.

Conforme as evidências, o buraco negro consome quantidades de material estelar, e ocorre em sua coroa. No caso em que foi observado, caiu de uma extensão de cerca de 100 quilômetros e a somente 10 quilômetros em pouco mais de um mês. "É a primeira vez que observamos esse tipo de evidência, de que a coroa está diminuindo durante essa fase da explosão", comenta o astrônomo Jack Steiner, do Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do MIT.

"A coroa ainda segue sendo algo bastante misteriosa. Ainda temos uma compreensão pequena do que ela é. Mas agora temos evidências de que a evolução do sistema é baseada na estrutura da própria coroa."

Imagem ilustrativa.

"Durante nossa observação, o buraco negro passou de totalmente inobservável para uma das fontes mais brilhantes do céu. Isto apenas em alguns dias", conta Kara.

Os pesquisadores passaram a coletar medições precisas de energia e ainda da frequência de emissões de raios-x durante a explosão.

"Agimos de modo semelhante aos morcegos, que usam a ecolocalização para mapear uma caverna escura", compara a astrônoma. "Utilizamos, no caso, os ecos de luz para medir a região próxima ao buraco negro que não pudemos resolver espacialmente com nossos telescópios."

Conforme Steiner, este foi o primeiro caso inequívoco de que uma coroa estava encolhendo enquanto o disco permanecia estável.

"Até então, só havíamos observado esse tipo de 'eco' de luz em buracos negros supermassivos, de milhões ou bilhões de massas solares", completa Kara. "Buracos negros estelares como o J1820 têm massas muito menores e evoluem muito mais rápido. Podemos observar as mudanças em uma escala de tempo humana."

Fonte: G1