Na madrugada da última sexta-feira (04), a Rússia avançou ainda mais na ocupação militar do território da Ucrânia, e chegou até a cidade de Zaporizhzhya. Durante a invasão, as tropas da Rússia passaram a controlar a maior usina nuclear da Europa, a Usina de Zaporizhzhya.
No decorrer do bombardeio, uma parte do complexo pegou fogo. E se um novo acidente acontecer, é possível que o mundo veja as consequências da explosão do reator de Chernobyl, em 1968, ocorrerem novamente.
Atualmente, a situação da Usina Nuclear de Zaporizhzhya está sob controle. Em suma, o incêndio ocorreu em uma parte do complexo, onde são realizados treinamentos, o que não prejudicou os reatores. Após a invasão da Rússia, as chamas foram controladas, e a radiação do local estava conforme os parâmetros normais.
Rússia provoca incêndio na Usina de Zaporizhzhya
De forma a comunicar sobre o que acontecia na Ucrânia, bem como os riscos da situação, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, publicou em suas redes sociais imagens do ataque e do prédio em chamas. Além disso, ele também afirmou que "se houver uma explosão, será o fim de todos nós: o fim da Europa, a evacuação da Europa".
Enquanto isso, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que a usina de Zaporizhzhya estava operando normalmente. Inclusive, o Ministério acusa um grupo de sabotagem ucraniano, pelo ataque, o qual chama de "provocação monstruosa". Porém, ainda existe o risco potencial de novos conflitos no local. E isso, pode levar a um acidente nuclear em última instância.
Como está a área da usina?
De acordo com o comunicado da Inspetoria Estatal de Regulamentação Nuclear da Ucrânia, "Mudanças no estado de radiação não foram registradas". Além disso, a organização afirmou que as instalações nucleares seguem sendo resfriadas.
Apesar disso, a Inspetoria afirma que qualquer "perda da possibilidade de resfriar o combustível nuclear levará a liberações radioativas significativas no meio ambiente". E assim, elas podem "exceder todos os acidentes anteriores em usinas nucleares". Ou seja, a destruição da usina pode levar a consequências ainda piores que a explosão em Chernobyl.
A usina nuclear pode ser destruída?
Em suma, no cenário atual, um colapso em qualquer parte do núcleo do reator nuclear, pode ter consequências catastróficas. E elas podem ser ainda piores ao que aconteceu em Chernobyl, em 1986, ou em Fukushima, em 2011.
A grande "vantagem", é que as instalações da Usina de Zaporizhzhya são mais modernas e resistentes do que as de Chernobyl. Porém, o vaso de pressão, que é onde o urânio é inserido, "não foi projetado para resistir a munições explosivas, como projéteis de artilharia", explica Robin Grimes, professor de física de materiais do Imperial College London.
"Embora me pareça improvável que tal impacto [como o de projéteis] resulte em um evento nuclear semelhante ao de Chernobyl, uma ruptura do vaso de pressão seria seguida pela liberação de pressão [interna], espalhando detritos de combustível nuclear nas proximidades da usina e uma nuvem com algumas partículas arrastadas chegando mais longe", cita Grimes.
De acordo com o professor, existe o risco do conflito comprometer o sistema de resfriamento de água. Em Fukushima, por exemplo, a água do tsunami desativou os geradores de emergência, que fornecem energia ao sistema de refrigeração. E foi a partir disso, que os problemas começaram.
Enquanto isso, David Fletcher, da Universidade de Sydney pontua que:
"A verdadeira preocupação não é uma explosão catastrófica como aconteceu em Chernobyl, mas danos ao sistema de refrigeração que são necessários mesmo quando o reator é desligado. Foi esse tipo de dano que levou ao acidente de Fukushima".
Se o núcleo da usina de Zaporizhzhya entrar em colapso, pode acontecer um evento classificado no Nível Sete pela Agência Internacional de Energia Atômica. Até o momento, somente Fukishima e Chernobyl chegaram a esse pico.
Como o colapso da Usina pode afetar os seres vivos?
Para compreender a dimensão dos efeitos para a saúde global de um acidente nuclear, basta lembrar quais foram as consequências para os trabalhadores e a população local da usina de Chernobyl. No ano de 1986, as pessoas foram expostas a três principais radioisótopos:
- Iodo-131;
- Césio-134;
- Césio-137.
De acordo com a Comissão Canadense de Segurança Nuclear, o acidente levou a maior liberação radioativa não controlada já vista na história. A explosão inicial do reator matou diretamente dois funcionários. Porém, outros 134 sofreram síndrome de radiação aguda (SAR). E desses, 28 morreram nos primeiros 3 meses.
Além disso, as pessoas que moravam no entorno também foram afetadas. Para se ter ideia, entre os moradores da Bielorrússia, da Federação Russa e da Ucrânia, cerca de 20 mil crianças e adolescentes desenvolveram câncer de tireoide.
E desses 20 mil casos, em torno de 5 mil estão relacionados com o consumo de "leite fresco contendo iodo radioativo de vacas que comeram grama contaminada nas primeiras semanas após o acidente", esclarece a comissão. Ou seja, os efeitos podem ser sentidos por anos.
Por fim, as pessoas expostas à radiação de Chernobyl apresentam níveis elevados de ansiedade. Além disso, são mais propensas a ter sintomas físicos inexplicáveis e problemas de saúde.
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