Demorou muito tempo para minha mãe, nascida em 1954, comprar um smartphone, "pra que eu preciso disso", dizia ela. Mas desde que comprou seu primeiro smartphone há uns anos atrás, ela não larga mais ele.
Jogos como paciência spider e outros semelhantes, fazem parte de sua vida. Mas além disso, o que mais consome seu tempo atualmente é o Whatsapp e seus inúmeros grupos de ex-professoras, amigas da escola, igreja e alguns outros.
Sem contar, agora, as chamadas de vídeo que ajudam a matar a saudade dos familiares que estão longe e que, por conta da pandemia da COIV-19, não se visitam com tanta frequência.
Meu pai, de 1944, segue pelo mesmo caminho, embora ele diga, "sua mãe não sai do celular", mal percebe que enquanto ela está lá utilizando o celular dela, ele escreve a mensagem acima e me envia pelo Watsapp.
Os conhecidos Millennials, uma geração muito mais nova do que a de meus pais, são supostamente os viciados em smartphones, não as pessoas da "melhor idade". Mas, à medida que mais e mais pessoas idosas compram e usam smartphones, elas estão se tornando tão dependentes de seus dispositivos digitais, quanto os jovens.
O IBGE fez uma pesquisa há algum tempo, mais precisamente em 2018, dizendo que o acesso à internet aumentou significativamente e, o crescimento se deu por conta da utilização dos smartphones e tablets.
E, ainda, que o fluxo de acesso à internet em sua maioria se dava através das trocas de mensagens, usando claro, aplicativos de mensagem individuais e em grupo.
Isso parece não ter mudado até hoje, aliás, mudou, os números subiram e os idosos são grande parte destes usuários principalmente agora, por estarem classificados como grupo de risco em meio a pandemia.
O aumento na adoção de smartphones é uma coisa, mas e o relacionamento que os idosos têm com seus dispositivos? É saudável?
De certa forma é, mesmo que saibamos que para nossos olhos nem tanto assim. Eu particuparmente depois de me gabar para muitos de meus amigos que nunca precisei de óculos, atualmente apesar de ainda não utilizá-los, estou começando a não enxergar como antes. Mas isso é normal.
Tão normal quanto a resposta de meu pai e minha mãe quando questionados sobre o uso do smartphone. Sempre dizem, "fico a par das notícias e posso compartilhar as mesmas, converso, jogo, leio, antes fazer isso era mais complicado".
Já existem especialistas em dependência da Internet, dependência de jogos e dependência de smartphones. Pois infelizmente existem pessoas que chegam a sofrer de crise de abstinência por não poderem utilizar seus smartphones, ou simplesmente jogar seu jogo predileto.
O "viciar" é ruim independente do que lhe é atribuído. Então nada mais natural do que ver profissionais da saúde se especializando neste segmento.
O que acaba acontecendo é que pessoas com tal vício, expressão seus sentimentos da mesma forma que um usuário de drogas. Primeiro negam, depois se fecham e sem ajuda, acabam sozinhos em um mundo só deles que na maioria das vezes tende a ser destrutivo.
Você já parou para pensar quantas vezes por dia você verifica as notificações em seu smartphone? Existem pessoas que fazem isso centenas de vezes por dia e, passam horas, fazendo isso sem se dar conta do tempo que se perde com isso.
Talvez alguns julguem o vício em smartphones como uma compulsão inofensiva, embora irritante. Mas talvez tenhamos que observar com mais cuidado, quando estamos em casa, na mesa de jantar, com 5 pessoas e cada uma traz ao lado de sua faca ou garfo, o smartphone que, a cada notificação acende ou vibra, tirando a atenção da pessoa até para se alimentar.
Existem ainda aqueles que teimam em utilizar seus smartphones enquanto dirigem, as desculpas são as mesmas, "estava parado no sinal", "essa rua aqui é calma" e por aí vai.
Embora saibamos que é mais provável que os jovens se envolvam em comportamentos de risco, como dirigir distraído, vemos também tal comportamento ocorrendo com idosos que, mesmo que não ao volante, possam colocar suas vidas em risco em uma cozinha por exemplo.
Um exemplo prático disso. Minha mãe nunca lembra aonde deixou o celular, mesmo que o dispositivo esteja bem diante dela. Junte isso ao ambiente doméstico. Já presenciei na casa de meus pais a seguinte situação. "Liga pro meu celular pois não sei onde coloquei ele" e, ao ligar, o mesmo estava tocando em cima de uma sanduicheira na qual ela acabara de fazer um sanduíche. Sim, você não leu errado, a sanduicheira estava quente!
Vale ter cuidado com nossos smartphones e muito mais cuidado com nossos parentes mais velhos. E, acima de tudo, nos cuidarmos e observarmos a todo momento se estamos também, como meu pai, apontando para minha mãe. Estamos usando nosso smartphone da maneira correta, pelo tempo certo, sem atrapalhar nossas vidas "off-line"?
Permita-se dar mais atenção às pessoas que te cercam presencialmente, deixe seu smartphone, tablet, computador, um pouco de lado. Talvez você não saiba, mas pessoas que não têm esse vício por smartphones, jogos ou internet, podem estar se sentindo sozinhas, com você bem do lado delas. E isso causa ainda mais frustração.
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