A pandemia do novo coronavírus completou um ano no mês de março, e infelizmente ainda precisaremos continuar nos cuidando com o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social para evitar o contágio. Mas para além do vírus inicial, temos atualmente algumas variantes que estão se mostrando mais agressivas e contagiosas. Confira nesse artigo o que se sabe das variantes da COVID-19.
O que é uma variante da COVID-19?
Primeiramente, é importante entender o que é uma variante e como surge. Os vírus mudam constantemente através da mutação como uma parte natural da evolução, e variantes são esperadas ao longo do tempo. Quando o vírus infecta nossas células, ele se replica, e as vezes acontecem pequenas alterações nessas cópias, causando as mutações.
Para saber se uma pessoa está infectada com o vírus original ou com uma variante, é necessário testes em laboratórios especializados, não podendo ser diagnosticada pelo próprio paciente ou pelo médico.
Quantas variantes SARS-CoV-2 foram encontradas?
Há literalmente milhares de variantes do vírus. A maioria delas é insignificante. Até 8 de março de 2021, havia pelo menos 5.935 variantes do coronavírus encontradas, com base no banco de dados de ciência on-line Gisaid. A maioria não é considerada "variantes preocupantes".
Por que as variantes estão surgindo?
A razão pela qual tantas variantes estão surgindo ao redor do mundo é porque houveram muitos casos. Ao se replicar, por vezes o vírus aprende um novo truque, como penetrar mais facilmente nas células humanas (o que aumenta o seu poder de contágio) ou ser mais agressivo ao corpo.
As vacinas funcionam contra essas variantes?
A maioria das vacinas, especialmente as de RNA mensageiro, estão se mostrando eficazes contra novas variantes da COVID-19. Em suma, os testes pré-clínicos mostraram que a maioria das vacinas, como a de Oxford/AstraZeneca e a CoronaVac, são capazes de neutralizar as variantes que surgiram nos últimos meses no Brasil (P.1), Reino Unido (B.1.1.7), África do Sul (B.1.351) e Califórnia (B.1.427/B.1.429).
A vacina permite que nosso corpo construa células imunes de "memória" ou "adaptativas" específicas para o coronavírus. Ao ser vacinado, seu sistema imunológico a começar a trabalhar, e evitar a necessidade de anticorpos recombinantes - porque as vacinas ajudam a "treinar" seu corpo a combater o vírus.
Após tomar as duas doses da vacina, o corpo demora cerca de 14 dias para construir um repertório de "memória — ou células imunes adaptativas específicas para o vírus. E mesmo que sua resposta imunológica seja um pouco "incompatível" com uma nova variante, seu sistema imunológico é dinâmico. Isso significa que ele pode se atualizar rapidamente para combater mais eficazmente as variantes.
Quais são as principais variantes da COVID-19?
Variantes P1 e P2 (Brasil)
A chamada variante brasileira, a variante P1 é também conhecida como variante de Manaus. Ela foi identificada pela primeira vez em Tókio, no Japão, em quatro viajantes que vieram do Brasil e passaram pelo Amazonas.
De acordo com um estudo feito pela Fiocruz, a variante P1 pode aumentar em quase 10 vezes a carga viral, e apresentara 1,4 a 2,2 vezes mais transmissibilidade. Ela também é mais letal em pessoas mais jovens e capaz de reinfectar mais facilmente.
A variante P1 tem 17 alterações de aminoácidos, dez das quais estão em sua proteína de pico, incluindo estas três designadas como de particular preocupação: N501Y, E484K e K417T.
Já a variante P2, Detectada inicialmente no Rio de Janeiro, tem menos mutações preocupantes, mas também se espalhou muito no Brasil.
Uma das três mutações mencionadas na P1 também ocorre nesta variante. Essa mutação poderia potencialmente tornar a variante mais contagiosa e levar à redução da imunidade após infecção anterior com outras variantes ou após a vacinação.
Variante N9 (Brasil)
Outra variante brasileira foi encontrada pela Fiocruz em março, e diagnosticada em vários estados brasileiros. A N.9 carrega a mutação E484k. Essa mutação é associada a uma maior facilidade de reinfecção. É a mesma mutação ocorre na variante P1.
Variante B.1.1.7 (Reino Unido)
Diagnosticada pela primeira vez no Reino Unido em setembro de 2020, a variante B.1.1.7 já foi vista em 120 países, incluindo o Brasil. De acordo com o estudo publicado em março pela revista científica BMJ, essa cepa pode ser até 64% mais mortal. Outro estudo, publicado pela revista Science, mostra que a variante B.1.1.7 pode ser até 90% mais transmissível.
Variante B.1.351 (África do Sul)
A variante B.1.351 (ou 501.V2) também é conhecida como a variante sul-africana, e apresenta múltiplas mutações na Proteína S. Isso faz com que ela tenha uma maior carga viral e possivelmente maior transmissão.
Variantes B.1.427 e B.1.429 (Califórnia)
As variantes B.1.427 e B.1.429 podem ser as cepas mais transmissíveis e letais da COVID-19 até o momento. Identificada pela primeira vez em Los Angeles em julho de 2020, e depois no sul da Califórnia em outubro de 2020, essas variantes, também chamadas de CAL.20C, tem cinco mutações simultâneas.
Variante B.1.617 (Índia)
Identificada pela primeira vez em dezembro de 2020 na Índia, a variante B.1.617 chama a atenção por sua dupla mutação na proteína spike do coronavírus (E484Q e a L452R). É pela proteína spike que o coronavírus entra nas células humanas.
É possível que essa dupla mutação deixe essa variante mais transmissível, pois ela duplica a proteína de superfície do vírus. Essas mutações também possivelmente tem maior capacidade de neutralizar anticorpos.
A mutação E484Q da variante indiana é semelhante à mutação E484K, que está nas variantes do Reino Unido (B.1.1.7), Africa do Sul (B.1.351) e Brasil (P1). Já a mutação L452R foi detectada na variante da Califórnia (B.1.429).
Variante B.1.1.38 (Suiça)
A variante suíça derivada da linhagem B.1.1.33, preliminarmente designado como linhagem PANGO N.10, abriga 14 mutações de linhagem. Ela apresenta como as mudanças genéticas mais notáveis as mutações V445A e E484K na proteína "S" RBD, várias mutações nas mutações P9L, I210V e L212I, e três exclusões (∆141-144, ∆211 e ∆256-258) na proteína "S" NTD, incluindo uma proteína NS7b truncada devido a uma exclusão de mudança de quadro.
Outras cinco mutações que definem a linhagem foram encontradas entre NSP3, NSP5, NSP6 e N. Esta variante provavelmente surgiu no final de dezembro de 2020, e compreende uma fração significativa dos casos positivos SARS-CoV-2 detectados no estado do Maranhão, entre janeiro e fevereiro de 2021.
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