Jurassic Park é uma das franquias no topo da minha lista. Como um menino apaixonado por dinossauros, colecionador de livros ilustrados, brinquedos e tudo que você possa imaginar, apreciei ainda muito cedo os três longas. Maravilhado, encantado e impressionado com os lagartões na minha tv, cresci com a trilogia marcando minha infância e me acompanhando até chegar na vida adulta. Com Jurassic World pude ver o que antes nunca tinha viston: Conferir os gigantes na telona do cinema (no lançamento de Jurassic Park 3, eu ainda não havia atingido nem sequer os três anos de idade).
Com o ressurgimento da franquia, obviamente também apareceu a expectativa de viver aquilo tudo novamente, com uma tecnologia que poderia oferecer ainda mais maravilhas. Devo dizer que, diferente de muitos dos antigos fãs, eu não descarto por completo as tentativas vistas em Jurassic World, mas também concordo que seus títulos jamais chegaram perto da grandiosidade alcançada em 1993, no filme de Spielberg.
Pois bem, Domínio segue este mesmo caminho. Assim como os dois longas que o antecedem, o filme entrega um bom entretenimento, mas não é capaz de colocar em tela a qualidade que só esteve presente na trilogia clássica, que segue contando com os três melhores lançamentos da franquia. Neste cenário, Domínio desliza bastante em seu roteiro, mas acerta ao honrar personagens queridos e apresentar novos caminhos na saga jurássica.
Um roteiro problemático
Em um mundo dividido por humanos e dinossauros, o filme opta por apresentar um rápido resumo, em forma de noticiário, para explicar as consequências dessa convivência forçada. Em um cenário que é facilmente considerado ameaçador para a espécie humana, o filme sente a urgência de apresentar rapidamente a solução para que as coisas voltem ao normal. O filme chega a aproveitar a ideia de humanos e dinos lado a lado, entregando sequências de ação e situações pouco convencionais na saga, mas também não evita abraçar com facilidade a explicação que consegue colocar os animais em um habitat apenas deles novamente, principalmente se tratando dos superpredadores - assim é muito mais fácil escapar das consequências irreversíveis que o roteiro teria de seguir caso os deixasse soltos por aí.
Com a ByoSin, uma gigante da tecnologia, surgindo como a empresa responsável por criar um novo santuário para os dinossauros, o enredo também começa rapidamente a expor sua fragilidade. Apesar de termos aqui uma boa paródia do que vemos no mundo real e uma boa crítica ácida para as gigantes corporativas, o filme desperdiça a visão ao entregar um roteiro extremamente simples e pouco trabalhado. Além disso, os estereótipos também parecem dar ainda menos credibilidade para a narrativa do longa, ainda que alguns funcionam melhor do que outros.
No caso de Maisie, a garota clone introduzida em Reino Ameaçado, vemos uma adolescente extremamente clichê que serve como o grande combustível para a trama. Além disso, não apenas a personalidade e comportamento da garota seguem clichês já batidos, mas também praticamente tudo que a envolve anda pelo mesmo caminho, incluindo o desenvolvimento de sua relação com Claire e Owen.
Soluções absurdas
A já citada tentativa de oferecer uma crítica ao corporativismo já nasce errada quando o filme apresenta o gatilho que desencadeia uma investigação mais aprofundada. Sem spoilers, me limitarei a dizer que o motivo para Ellie Sattler resolver investigar a ByoSin se assemelha muito com algo encontrado em títulos dignos da famosa Sessão da Tarde, e se mostra ainda mais terrível no fim do filme, quando também é utilizado de maneira totalmente porca, falando em termos de roteiro, para contribuir com o desfecho da produção. Inclusive, a necessidade da Ellie Sattler buscar provas para incriminar a ByoSin é extremamente rísivel, pois o envolvimento da empresa em algo terrível está mais do que escancarado desde os primeiros minutos do longa, mas os governos do mundo parecem ser comandados por pessoas incapazes de afirmar que 1+1 é 2.
Durante esse caminho, ainda percebemos a descrença do longa em seus personagens principais. Parece que o filme não os vê em condições reais de encontrar soluções para os seus problemas, o que resulta em uma série gigantesca de conveniências de roteiro que, por vezes, podem ofender o público. A narrativa é apoiada por tantas soluções insatisfatórias que em certo momento você apenas passa a aceitá-las, pois entende que é assim que o filme se desenrola. Entre tais soluções, um bom exemplo é a adição de uma nova personagem, com muito potencial inclusive, mas que não tem nenhuma motivação plausível para arriscar sua própria vida na jornada. Não faz sentido algum.
Um filme mais versátil
Felizmente, o longa também conta com seus acertos. Um dos principais é ser o filme mais versátil da franquia. Como citei antes, o filme consegue se aproveitar do fato de ter dinos soltos pelo mundo, o que o permite oferecer uma sequência de ação digna de franquias como Missão Impossível, além de permitir também que apresente algumas abordagens novas para a saga, como é o caso da presença de dinos em um submundo. Em Malta, o filme consegue apresentar o ritmo mais diferenciado da franquia até hoje, oferecendo até mesmo elementos de espionagem e pegando um pouco emprestado também de 007.
Já em outros momentos, também temos Alan Grant fora de seu "habitat natural" da saga. Não o vemos perdido no meio de dinossauros, mas sim, ao lado de Ellie, em uma missão de infiltração - com uma boa pegada de "jornalismo investigativo" - que também serve como uma abordagem mais variada.
Também sabendo entregar ótimas cenas de ação, o filme consegue compensar assim os inúmeros problemas de seu roteiro. Sem ter medo de colocar humanos e dinossauros frente a frente em situações totalmente novas, o longa até se permite ser levado por alguns exageros, como um personagem literalmente esfaqueando um superpredador na força do ódio. O importante é que, apesar de algumas situações que parecem forçadas, a ação consegue entreter e empolgar, com o ótimo cgi também sendo um dos grandes contribuintes para tal fato.
Foge da nostalgia forçada e honra personagens clássicos
Falando nos personagens da trilogia "World", Claire é certamente mais forte e importante que Owen, com suas ações tendo um peso maior em boa parte do filme. Apesar de ainda ser vendido como protagonista de certa forma, Owen não causou tanto impacto aqui. Pelo lado da nova trilogia, Claire é o coração do filme.
Já falando sobre a trilogia clássica, o que vemos é boa utilização de Ellie Sattler e Alan Grant, com Ian Malcolm ficando um pouco para trás, mas ainda contando com momentos que honram o personagem. Felizmente o filme foge da nostalgia pela nostalgia, algo que eu considerava um risco. Existem momentos de fan service, mas estes não são desenfreados, e quando aparecem são bem introduzidos ao contexto geral. Além disso, o desenvolvimento e "desfecho" da jornada de Ellie e Alan é bastante satisfatório e até mesmo repara algumas injustiças, ao meu ver, cometidas pelos filmes anteriores.
O veredito
Jurassic World: Domínio tropeça muito em seu roteiro, mas se sustenta quando pensamos em entretenimento. Para a saga jurássica, roteiros fracos não são uma novidade, e felizmente aqui temos elementos que conseguem compensar este problema. A boa utilização dos personagens clássicos também serve para consolar os fãs que esperavam por um enredo mais satisfatório.
Ver os dinos nunca se torna cansativo, ainda mais com o excelente cgi apresentado aqui. Versátil para entregar sequências de ação realmente empolgantes, o filme consegue divertir o público apesar de suas falhas severas.
Nota: 7/10