Game of Thrones tornou-se o maior fenômeno da história da televisão, sendo "a série que o mundo viu". Após seu final, terrível e polêmico, os fãs de fantasia foram tomados por uma triste certeza: Nada seria capaz de ocupar aquele lugar. Nenhuma obra poderia atingir tamanha magnitude, pois os acertos ali eram em níveis absurdos nos mais diferentes aspectos imagináveis. Nunca antes uma produção para tv havia acertado tanto, o que alimentava a certeza de que o mesmo não aconteceria depois.
Entre os diálogos dignos de aplausos que eram apresentados a cada domingo, enquanto as tramas políticas se desenrolavam de maneira magistral diante dos olhos dos telespectadores, Game of Thrones nunca decepcionou em ser fantasia. Magia, dragões e mortos andando... não faltavam elementos fantásticos, que apoiados por um enredo extremamente competente ganhavam ainda mais peso a cada novo episódio.
Não é loucura afirmar que a HBO inventou a roda na televisão. Nada foi como Game of Thrones. Estabeleceu um padrão. Elevou o nível. Uma produção absurda em cada ponto que você possa citar. Agora, nos voos de dragões e na fúria impetuosa Targaryen, a magia parece estar de volta. O impossível talvez aconteça. A HBO pode reinventar a roda.
Game of Thrones está de volta
A missão não é fácil. A Casa do Dragão chega para substituir o fenômeno que o mundo assistiu. Tarefa que parece não afetar de maneira negativa a nova produção, que desde seu primeiro minuto faz questão de afirmar que Game of Thrones está de volta. Não há tentativa nenhuma - e nem poderia - de esconder o legado que carrega. Embalado por uma trilha sonora que tem muito da série que encantou o mundo, o primeiro episódio já prova em sua cena inicial que Westeros está de volta, trazendo consigo a intenção de recuperar antigas memórias. Memórias essas que foram apagadas das mentes de alguns devido o final insatisfatório de algo que se manteve no topo por seis temporadas.
O fato é que A Casa do Dragão não perde tempo em entregar o que tem para oferecer. Em vender sua ideia. Não tem rodeios para mostrar ao mundo que vai se apoiar totalmente no apelo emocional que Game of Thrones pode oferecer. Trilha sonora, uma profecia e alguns outros tipos de fanservice são extremamente bem-vindos e pegam forte no coração do fã. São bem utilizados, não perdem o sentido e provam que a HBO sabe vender seu produto.
Ainda vemos o retorno de Game of Thrones diante de nossos olhos quando percebemos a politicagem livre e solta. A Casa do Dragão tem o mesmo padrão: Não demora para se desenvolver. Enquanto apresenta ao público um número considerável de personagens, todos com sua importância, o primeiro episódio já se certifica de introduzir toda a política marcante de Westeros, com diálogos repletos de interesses pessoais e palavras que nunca se confirmam como verdades absolutas. Quem é quem? Quais são os reais objetivos de cada um? O que motiva cada ato?
A fúria dos dragões
Já como característica mais única, A Casa do Dragão terá a vantagem de entregar ao público um desfile de dragões imponentes, exuberantes e impressionantes. Se em Game of Thrones as feras demoraram para aparecer, e demoraram ainda mais para chegar em um nível de esplendor, a nova produção não teme em utilizar o seu trunfo.
Rhaenyra é introduzida em um esplêndido voo nos primeiros minutos de episódio. Um recado para os fãs: Os dragões serão peça importante aqui. Maiores, as feras permitirão que A Casa do Dragão mergulhe ainda mais no fantástico, abraçando de vez elementos mais exagerados da obra de George R. R. Martin. São também os dragões que deixam evidente o quanto a HBO ainda sabe jogar seu próprio jogo. Em uma época em que o CGI deixa a desejar em muito do que consumimos, aqui o cenário é justamente o contrário. Daemon realmente acariciou Caraxes. Não há dúvidas disso. Está ali, você pode "ver e tocar". A HBO nos entrega o mais alto nível técnico da televisão, e parece fazer isso com naturalidade. Nada está acima disso.
Porém, se as feras aladas já são um excelente motivo para embarcar na jornada e voltar para Westeros, a verdadeira fúria dos dragões não está voando pelos céus ou cuspindo fogo. Se Caraxes parece impetuoso e imponente, seu montador é ainda mais visceral e marcante. Se Syrax parece exuberante e implacável, Rhaenyra parece pronta para entregar ainda mais. Em uma série que será marcada pela disputa do trono e a guerra pelo poder, não serão os dragões que mostrarão a maior fúria em cena, mas sim seus donos.
Soberanos, os Targaryen não se tornaram a casa mais marcante de Westeros por mero acaso. Profundos, complexos e grandiosos, cada personagem da casa parece ter nascido para a grandeza. Rhaenyra, Viserys e Daemon seriam ótimos protagonistas em qualquer obra imaginável, mas aqui não há espaço para isso. Assim como Game of Thrones, A Casa do Dragão, como uma criança egoísta, quer para si uma lista incontável de excelentes personagens. Enquanto algumas produções encontram dificuldades para entregar um nome que as sustente, a nova série da HBO já os oferece aos montes em seu primeiro episódio. O protagonismo novamente não existe. Ninguém é protagonista. Todos são protagonistas... e você não sabe o que esperar.
A HBO reiventará a roda?
Ainda é cedo para afirmar que a HBO reinventará a roda? Sim. Um excelente primeiro episódio não é a certeza absoluta de qualidade para os nove restantes. Igualar-se a Game of Thrones é de fato uma tarefa extremamente ingrata. Porém, o que nos foi mostrado é o suficiente para acreditar que o impossível se tornará realidade.
Com conteúdo de sobra para entregar um enredo tão bom quanto o que o mundo já viu, A Casa do Dragão chega mostrando que a HBO não perdeu a mão nos aspectos técnicos. Figurino, trilha sonora, efeitos especiais, ambientação... quem fez uma vez parece estar fazendo novamente, ditando o ritmo da indústria outra vez.
A Casa do Dragão ainda poderá ter o trunfo de entregar um final satisfatório, talvez assim superando o fenômeno que a antecedeu na tv. Aqui a obra está finalizada, e caso ninguém resolva inventar o que não precisa, não há risco para uma nova deturpação. O fato é que Westeros está de volta, com tudo de bom que pode oferecer. Sim, a HBO pode reinventar a roda.