Adão Negro finalmente está aqui. Após 15 anos brigando pelo filme, Dwayne Johnson entrega ao público o longa de sua vida. Em um momento no qual a DC já atravessa uma fase de recuperação nos cinemas, após ofecerer alguns títulos satisfatórios em sequência, como The Batman e O Esquadrão Suicida, Adão Negro chega com uma tentativa um pouco mais ousada: Reestabelecer o universo cinematográfico como um tudo. Se a DC já voltou a acertar em títulos de maneira isolada, agora o objetivo é reestruturar seu universo compartilhado e preparar terreno para o que teremos nos próximos anos.

Porém, é interessante perceber que Adão Negro, ainda que carregue essa missão, parece também compreender que parte de seu brilho está justamente em ser um filme único. Na medida em que tenta dar base para o novo caminho deste deste universo, o longa não abre mão de ser um dos famosos "filmes The Rock", apostando muito no carisma do ator para funcionar sozinho como uma jornada empolgante e divertida.

Mais interessante ainda é perceber o quanto o filme pula de um estilo do gênero para outro, parecendo emular diversos elementos que se tornaram marcantes em longas completamente distintos. Em algumas sequências aqui você lembrará das - polêmicas - cenas em câmera lenta de Zack Snyder, assim como também terá momentos em que você se sentirá diante de um filme com o espírito de O Esquadrão Suicida. Adão Negro não parece ter um único estilo próprio, e se apresenta como um longa com muitas faces sem se aprofundar de fato na grande maioria.

The Rock é o coração do longa

A Sociedade da Justiça é excelente

A Sociedade da Justiça aparece aqui como um dos principais pontos positivos, em uma trama que apresenta a personalidade e motivações de seus personagens sempre com foco na ação, com apenas alguns momentos de descanso em que diálogos dominam a tela. Nesse ritmo, o filme é sempre impulsionado por confrontos épicos e pancadaria pura, na medida em que os membros da Sociedade demonstram uma dinâmica muito interessante e cativante.

Aldis Hodge é um ótimo Adão Negro, assim como Pierce Brosnan chega com tudo no gênero de heróis interpretando, de maneira sublime, um excelente Senhor Destino. Com Viola Davis novamente no papel de Amanda Waller, o filme não enrola nem um pouco para introduzir o grupo de heróis, assim como nunca parece ter dificuldade de colocá-los no meio da ação desenfreada e nas situações importantes da trama.

Se Gavião e Destino aparecem muito bem, Esmaga-Átomo (Noah Centineo) e Cyclone (Quintessa Swindell) também funcionam, servindo para balancear a equipe entre experientes e novatos. É assim também que o filme encontra seu alívio cômico, com Esmaga-Átomo sendo o responsável por tentar arrancar risadas do público em boa parte do filme, algo que, apesar de não funcionar muitas vezes, acaba dando ao personagem um carisma interessante e oferecendo ao longa algumas cenas leves que podem agradar. Neste ponto, existem piadas fora de hora, mas também é possível perceber que as perguntas e frases engraçadas do jovem herói tem parte importante na construção da relação entre membros da equipe, ajudando a montar as diferenças impostas por um time formado por heróis em momentos tão diferentes da vida e da carreira no heroísmo.

Já na ação a Sociedade funciona em conjunto, por mais que Gavião e Destino ganhem destaque. A dinâmica apresentada pela equipe também está presente nesses momentos, enquanto, dentro do possível, o filme parece aproveitar ao máximo as possibilidades que cada membro oferece. Fica a sensação que a Sociedade da Justiça é o que os fãs esperaram por muitos anos. Um grupo de heróis da DC que funciona de verdade em tela, algo que não aconteceu nem mesmo com a maior equipe da história da editora.

O Gavião Negro rouba a cena

Temas importantes em um enredo pouco trabalhado

A dúvida entre ser herói ou vilão é bastante utilizad para ditar o ritmo da trama, enquanto o filme se arrisca a abordar até mesmo temas mais profundos como intervenções políticas. Há aqui uma crítica evidente, que até mesmo surpreende, na tentativa de dar mais peso ao enredo. Talvez ao não se aprofundar de fato nestes temas, Adão Negro seja criticado por levantar bandeiras e ideias que não sabe sustentar, porém ao meu ver a situação é outra. Em um filme no qual o foco é nitidamente a ação desenfreada, o roteiro parece ter sido inteligente, e corajoso, para ganhar peso utilizando temas importantes enquanto nunca abandona a sua essência. Se o foco era a ação, o enredo em si obviamente não teria um desenvolvimento muito elaborado, e desta maneira surge a necessidade de cativar - ou pelo menos tentar - com pouco.

Adão Negro também tenta recorrer a cenas emocionantes na busca pelo tão sonhado peso em sua trama, mas parece deslizar em quase todas tentativas. Com a exceção de um momento, que destoa bastante no que diz respeito a emoção, o longa entrega muitas cenas que tentam carregar com si um peso dramático, mas não são capazes de atingir o coração de quem assiste. Também vemos deslizes quando percebemos o quanto o vilão do filme é esquecível e carece de um cuidado maior. Além disso, por vezes o longa entrega cenas bregas de dar vergonha alheia. Outro problema é a sensação de que personagens repetem muitas vezes os mesmos embates, na área dos diálogos, e o filme perde algum tempo com discussões que não apresentam algo de novo para a trama, apenas reafirmações do que já havia sido mostrado minutos antes.

A ação é absurda

Dwayne Johnson é o Adão Negro. Simples assim. O que vemos aqui é o papel da vida do astro, que entrega muito provavelmente a melhor atuação de sua carreira. Sabendo que o longa se sustenta em seu carisma, e se vende como um "filme The Rock", o astro tem o que é suficiente para carregar o filme. Com a imponência necessária, The Rock dá vida a um personagem que se mostra cativante de sua própria maneira.

Apoiado em seu excelente protagonista, Adão Negro foca justamente na força do mesmo para manter o público atento a cada instante. Sem a ambição de ser algo muito diferente disso, o novo lançamento da DC é um filme totalmente pipoca, no melhor sentido possível da afirmação. As piadas - boas e ruins -, a interação entre personagens, o foco nos confrontos épicos e outros elementos deixam bem evidente que o filme quer ser uma aventura leve e divertida, enquanto se preocupa em recuperar a empolgação dos fãs com os filmes da DC.

Levando isso em consideração, devo afirmar que apesar de seus tropeços, o filme acerta justamente no ponto mais importante. Com excelente fotografia, muitas cores e plasticidade, e nenhum medo de exagerar, Adão Negro é muito provavelmente o filme com as melhores cenas de ação que já vi no gênero de heróis. Com momentos que atingem o ápice do que o gênero pode oferecer na ação, o filme não tem receio algum de ser absurdo, oferecendo confrontos colossais e muito bem executados.

O veredito

Adão Negro é extremamente satisfatório. É muito interessante ver um grupo da DC funcionando em tela, assim como é bom perceber que o personagem título foi bem aproveitado aqui. É um "filme The Rock" com todos os trunfos que isso pode trazer. Quando se perde, consegue conquistar novamente os fãs com sua ação desenfreada que é soberana em boa parte do tempo. É um filme grandiosamente básico, sem se preocupar em ser muito mais do que isso.

O carisma de Dwayne Johnson dá um toque especial ao longa, que sabe se aproveitar de tal elemento. Divertido e empolgante, Adão Negro funciona sozinho ao mesmo tempo em que também consegue começar um novo caminho para o universo da DC. O futuro é promissor.

Nota: 8/10