The Flash sofre de um problema que já atacou outras obras de diferentes mídias, e por tal motivo talvez deixe um gosto amargo na boca de boa parte do público após cada sessão nos cinemas. Bem dirigido por Andy Muschietti, o longa do velocista escarlate está muito distante do que podemos chamar de filme ruim, mas também não se aproxima da qualidade que muitos prometeram em reações antecipadas.

Não, The Flash não figura na lista de filmes mais memoráveis da DC como O Cavaleiro das Trevas e The Batman, e não, o filme não surge como um 'salvador revolucionário" para o gênero de heróis. As muitas promessas, em grande maioria feitas por quem assistiu antecipadamente, acabaram gerando grande expectativa que não é correspondida. The Flash tropeça no próprio hype de maneira que pode ser totalmente prejudicial.

Chegando aos cinemas como um dos últimos filmes do DCEU, The Flash é sim um dos melhores deste universo, porém é importante lembrar que a tarefa não é assim tão complicada quando avaliamos o histórico dos filmes oferecidos pela DC nos últimos anos. Se havia dúvidas sobre a possibilidade do longa abrir portas para o novo universo da DC, comandado por James Gunn, após o filme você fica com a certeza de que Andy Muschietti definitivamente não tentou fazer isso.

Imagem: Warner Bros
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Não se prende ao passado e não encaminha o futuro

The Flash abraça elementos do DCEU, muitos originados por Zack Snyder, para desenvolver sua história, mas ainda assim tenta ser um filme único, sem se conectar muito com o passado e sem tentar começar qualquer caminho para o futuro. O longa do ligeirinho é fechado em si mesmo, e desta maneira consegue dar alguns passos na caminhada para oferecer diversão aos espectadores.

Fica a dúvida se o futuro da DC aproveitará algo que vemos aqui, seja falando sobre personagens ou sobre astros. O filme não indica nada do que podemos esperar nos próximos anos. Honestamente, fico com a esperança de ver o retorno de algumas coisas que vi aqui, como o estilo artístico do longa e a excelente Supergirl de Sasha Calle.

Nossos erros e traumas definem quem somos

The Flash é um filme sobre erros e sobre o desejo incontrolável de corrigi-los, mesmo que no fundo nem sejamos os verdadeiros culpados. É também um filme sobre traumas e sobre infância perdida. É um filme sobre dor e perda. Porém, Andy Muschietti escolheu levar o longa por um caminho interessante no meio de tantas dores e traumas, conseguindo desta maneira manter em suas mãos a possibilidade de oferecer uma jornada descompromissada e divertida.

Imagem: Warner Bros
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The Flash se apoia em temas pesados ao mesmo tempo em que consegue ser leve. Seja por seus muitos momentos de humor, pelas cores extremamente vivas de boa parte do filme ou até mesmo pela atuação exagerada de Ezra Miller. O novo filme da DC por vezes parece zombar de si mesmo, como se escolhesse a maneira menos dolorida de contar uma história que é mergulhada na dor.

Barry Allen é um jovem problemático devido aos traumas do passado. Toda a personalidade do protagonista é explicada por sua infância perdida. Barry não soube crescer sem o que perdeu, e isso o definiu como pessoa. Mas até que ponto devemos mudar quem somos? The Flash também evidencia que nossos traumas e até mesmo nossos erros nos tornam quem somos, e ficar preso em uma tentativa de mudar este fato pode ser ainda mais prejudicial do que apenas seguir em frente.

A decepção pelo hype

Voltando ao tropeço do filme no próprio hype, The Flash nunca deixa de ser apenas um filme divertido, o que em muitas situações certamente seria o suficiente. No entanto, com o hype exagerado o longa chega aos cinemas com uma promessa que nunca será cumprida. Críticos o apontaram como uma revolução no gênero, fãs o consideraram uma das grandes obras da DC e até mesmo Tom Cruise afirmou que esse é o filme que o cinema precisa agora... como não esperar uma nova maravilha do mundo?

Em uma época na qual todas as mídias são movidas por hype e a internet alimenta a fera de maneira constante, The Flash chamou para si uma responsabilidade que muito provavelmente não deveria existir. Assim como outros filmes, séries e jogos já falharam na tentativa de corresponder um hype fora do comum, o filme da DC tem em seu caminho a mesma pedra.

The Flash tem três atos bons, o que é louvável. Porém, três atos bons não são o suficiente para entregar um filme excelente. E um filme excelente era exatamente o que todos esperávamos devido ao hype. O segundo ato de The Flash, leve, divertido e direto, funciona bem para o longa na medida em que desenvolve a trama e entrega um humor eficiente, porém, é o segundo ato de um filme que não parece buscar a magnitude que muitos esperam encontrar.

O segundo ato de The Flash é um bom exemplo para diferenciar o que o filme é do que o hype fez com que os fãs esperassem. Não é memorável, não é grandioso. É bom... bom e simples. O problema está no simples.

Era só isso?

Outro problema do longa é também um dos pontos que arrastará muitos fãs para as salas de cinema. Michael Keaton está de volta como Batman, e é inegável que tal falto será o responsável por grande parte da bilheteria do longa. Felizmente, Batkeaton está de volta em grande estilo, habilidoso, inteligente, carismático e muito nostálgico. Porém, o ritmo acelerado do filme acaba deixando um gostinho um tanto amargo de quero mais.

Imagem: Warner Bros
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Apesar de aparecer muito bem nos seus momentos em tela, e apesar de ter participação importante na trama, o Batman de Michael Keaton parece entrar e sair de cena de maneira menos impactante do que o esperado. O mesmo ocorre com a Supergirl de Sasha Calle, em uma escala ainda maior, já que a personagem parece ter sido jogada no roteiro sem um caminho muito definido e planejado.

Assim como o Batman, a Supergirl de Sasha Calle é ótima, e até mesmo merece um retorno no futuro, porém o ritmo descompromissado e direto de The Flash, que funciona em muitos momentos, acaba sendo prejudicial no que diz respeito ao envolvimento de outros heróis na trama. Deixa a sensação de "era só isso"?.

Veredito

The Flash tropeça no próprio hype, mas não se torna um filme ruim por causa disso. Abordando temas sérios, o filme consegue ser leve e bastante descompromissado, oferecendo diversão ao andar com os próprios pés no meio de um universo prestes a desabar.

A dica é entender que o hype prometeu algo maior do que encontramos de fato. Tenha isso em mente e sua experiência provavelmente será mais satisfatória.