Há não muito tempo atrás o Facebook era a rede social preferida do mundo inteiro e Mark Zuckerberg era a personificação do rapaz genial e bom moço do Vale do Silício. Porém, de uma hora para a outra, surgiram campanhas para que pessoas apagassem suas contas, famosos aderiram, Elon Musk apagou as páginas das suas empresas e Zuckerberg virou um dos caras mais perigosos e traiçoeiros do mundo. Mas como foi que isso aconteceu de um dia para o outro?
Se você também está perdido em meio a tudo isso, não se preocupe. Este post condensa tudo o que é importante e que você precisa saber para estar preparado para a discussão com os amigos no final de semana.
Quem é a Cambridge Analytica?
O pivô dessa história toda, a Cambridge Analytica, é uma firma de consultoria política britânica que combina mineração, análise e tratamento de dados para fins de decisões estratégicas a serem tomadas no processo eleitoral. Na ativa desde 2013 a empresa pertence em parte à família de Robert Mercer, um investidor americano conhecido por apoiar causas politicamente conservadoras.
O CEO Alexander Nix disse que a CA vem atuando em campanhas americanas desde 2014 - onde ela trabalhou em 44 disputas políticas somente naquele ano - sendo o seu maior case a campanha presidencial de Donald Trump, em 2016. Além disso chama a atenção a sua importância no processo que culminou com a saída do Reino Unido da União Europeia.
O problema é que o papel da CA nessas campanhas é controverso e objeto de investigações criminais em diversos países por conta dos métodos empregados para atingir e influenciar os eleitores.
Qual a sua relação com o Facebook e como surgiu a história de vazamento?
Em março de 2018, vários meios de comunicação divulgaram notícias sobre as práticas comerciais um tanto quanto suspeitas da Cambridge Analytica. O The New York Times e o The Guardian foram os primeiros a informar sobre a violação de dados do Facebook onde a empresa utilizava informações pessoais adquiridas sobre usuários da rede de Zuckerberg para fins políticos. Para que ninguém desconfiasse, até então a CA usava um pesquisador "laranja" para coletar os dados sob o pretexto de fins acadêmicos.
E a coisa podia ficar pior, beeem pior. Poucos tempo depois, um canal de tv britânico exibiu vídeos investigativos que mostravam Nix se gabando de usar prostitutas, suborno e até armadilhas e armações para desacreditar políticos sobre os quais conduziu pesquisas de oposição, e mais: Nix disse que a empresa "comandava toda a campanha digital de Donald Trump".
A partir daí Zuckerberg proibiu a empresa de anunciar no Facebook, mas já era um pouco tarde demais.
No total estão envolvidos no escândalo os dados de 87 milhões de pessoas no Facebook que foram adquiridos a partir de 270 mil usuários que compartilharam seus dados (e de seus amigos) com o aplicativo "thisisyourdigitallife" desde 2015.
O que a justiça está fazendo?
Não precisamos ir muito longe pra ver que o Facebook e a CA violaram dezenas de leis comerciais e até penais que protegem os dados e a privacidade de seus usuários, tanto nos EUA como na União Europeia. Apenas para exemplificar, vale lembrar aqui da mensagem enviada ao Facebook pela FTC (Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos) lá em 2011, quando surgiu a primeira brecha de segurança da rede:
"O Facebook está impedido de realizar mau uso das informações pessoais de consumidores acerca de privacidade ou segurança, ficando obrigado a obter o consentimento expresso dos consumidores antes de aplicar mudanças que se sobreponham às suas preferências de privacidade." Naquela ocasião o Facebook foi pego comercializando dados de seus usuários para fins publicitários ao mesmo tempo em que dizia não liberar informações para este fim.
Com o novo caso a FTC rapidamente se manifestou. Segundo eles o Facebook pode ser multado em até US$ 41.484 por usuário que teve seus dados violados, o que resultaria em um valor total de até 7.5 TRILHÕES DE DÓLARES de acordo com a conta feita pelo Washington Post.
O valor é mais de 100 vezes a fortuna de Mark Zuckerberg, superior a 64 bilhões de dólares. Se a multa fosse o PIB de um país esse país seria o terceiro mais rico do planeta, perdendo apenas para os Estados Unidos e China.
P.S. Essa valor não compreende outras eventuais multas que dizem respeito à coleta de dados de telefone e endereço de e-mail na busca de encontrar usuários, por exemplo. O ex-presidente da FTC William Kovacic ironizou dizendo que o valor somado das possíveis multas ao Facebook pode resultar em "mais dinheiro do que há no mundo".
Há algumas ressalvas, é claro: A FTC ainda não encontrou novas violações e a investigação sobre o caso Cambridge Analytica está apenas começando. Enquanto isso o Facebook afirmou repetidamente que não violou o decreto de consentimento o que, em tese, repassa o pepino para a CA.
Além disso, os funcionários da própria FTC tiveram contato direto com as práticas acerca da coleta de dados do Facebook desde o incidente ocorrido em 2011, quando fora decidido que ela poderia monitorar as práticas de privacidade de dados para evitar novos casos como o ocorrido daquela vez.
O que o Facebook se propôs a fazer e como saber se fui vítima?
Como a justiça é veloz por lá, cerca de 1 mês após a denúncia do escândalo, aconteceu a primeira audiência de Mark Zuckerberg ao congresso americano onde ele tenta explicar o ocorrido. A audiência aconteceu no dia anterior ao que escrevo esse texto - está continuando hoje - e já deixou algumas coisas definidas:
Primeiramente o Facebook ficou responsável por alertar através de uma notificação aqueles usuários que tiveram seus dados revelados de forma ilegal. Juntamente com a notificação virá um outra alerta para que o usuário reveja suas configurações de privacidade.
Ficou ansioso por saber se foi vítima da CA e não quer esperar a notificação? Basta acessar este link do Help Center do Facebook e verificar a mensagem que será exibida para você. No meu caso, que não tive dados compartilhados, foi exibida a seguinte mensagem:
Outra medida adotada por eles para tentar restaurar a sua imagem com os usuários foi lançar um programa que fornece recompensa em dinheiro para quem denunciar qualquer tipo de abuso em relação à coleta de dados.
Conforme descrito, o programa em questão irá funcionar de modo parecido com o programa de recompensas para quem encontrar bugs no sistema. Assim, caso alguém encontre algum indício e provas de que um aplicativo ou empresa esteja violando as políticas do Facebook e coletando/usando dados de modo indevido será possível relatar no programa e ser pago por isso.
O programa foi nomeado de Data Abuse Bounty e já está em vigor. desde ontem A empresa não revelou quais os valores que serão repassados para quem encontrar falhas, mas as recompensas por bugs encontrados já chegaram a mais de US$ 40 mil. A ideia é que o programa recompense os usuários de acordo com o impacto da denúncia.
Para denunciar um abuso em relação à privacidade, acesse este link.
Meus dados foram vazados o que eu faço?
Agora, se você teve os dados compartilhados não há muito o que ser feito, uma vez que as informações já foram coletadas. O que resta é confiar em Mark que se comprometeu a ir atrás dos responsáveis pelos vazamentos e se propôs a remover os dados de qualquer empresa que os tenha adquirido ilegalmente.
E aí? Você foi pego nesse escândalo? Está confiante de que Markinho irá resolver tudo ou já aderiu à campanha #DeleteFacebook? Conte pra gente aí nos comentários.
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