A Epic Games instigou a Apple e o Google a banir Fortnite de suas respectivas lojas de aplicativos, rendendo em uma declaração aberta de "guerra", incluindo um evento de vídeo anti-Apple dentro do jogo e dois processos públicos. Agora, esse conflito é complexo e começa a dar as caras em 2016, para então eclodir em seu ápice no dia de ontem, 13 de agosto de 2020, quando as gigantescas empresas decidiram remover de uma vez por todas o popular game Fortnite de suas lojas após a Epic Games quebrar as normas das lojas de aplicativos para evitar pagar taxas sobre compra de usuários dentro do game para a Apple e a Google.
Fortnite banido da Google Play e App Store, vamos entender
Em junho de 2016, a Apple mudou ligeiramente as regras da App Store para reduzir sua parcela em aplicativos de assinatura de 30% para 15% após o primeiro ano. Foi um momento em que a Apple finalmente começou a abrandar, mesmo que apenas ligeiramente, as regras que lhe dão um corte de 30% em tudo que está na App Store.
Já em agosto de 2018, a Epic Games retirou o Fortnite da Google Play Store porque estava infeliz com a Google tendo a mesma comissão de 30%. A Epic foi capaz de fazer isso em primeiro lugar porque o Android, ao contrário do iOS, permite que as pessoas instalem aplicativos diretamente de qualquer fonte. Requer apenas clicar em "OK" em um monte de avisos de segurança relativamente intimidantes.
Somente em abril de 2020 foi quando o Fortnite retornou à Play Store da Google com muitas considerações públicas por parte do CEO da Epic, Tim Sweeney, sobre como ele estava infeliz com a resolução. No final das contas, os múltiplos avisos de segurança do Android sobre aplicativos instalados por fora da App Store e até mesmo a maior dificuldade de instalação e descoberta do game forçou a Epic Games a aceitar a pesada taxa de 30% nas compras.
É importante entender também que não é apenas a Epic Games que tem um problema com a Google e a Apple, existe toda uma discussão judicial na corte estadunidense sobre o monopólio de mercado dessas empresas e do Facebook a fim de criar leis antitruste para esse mercado online que é extremamente abrangente.
O 13 de agosto
Com todo o contexto passado dado, podemos entrar no que foi o 13 de agosto e na imensidão de eventos que se deram neste dia.
Primeiro, a Epic Games passa a oferecer um novo pagamento direto no Fortnite no iOS e Android para contornar as taxas das lojas de aplicativos. A Epic lançou uma atualização paralela do servidor para seu aplicativo que não foi revisado pela Apple ou Google. Isso não é uma "primeira vez", por sinal. Porém, oferecer pagamentos diretos sem dar uma parte a Apple ou a Google foi a gota d'água. A mudança dentro do game, na realidade, agradou os usuários que receberam descontos de 20% na loja.
A Apple reage
O resultado foi óbvio, a Epic Games e o Fortnite foram expulsos da App Store da Apple por quebra das normas e regras da loja. A Apple se manteve totalmente firme e não disposta a negociar.
A Epic Games decide então zombar do anúncio da Apple como uma espécie de retaliação pelo banimento da App Store do Fortnite. A Epic também passa a reunir os fãs de Fortnite em sua causa contra a Apple com um vídeo anti-Apple que está rodando em looping em lives em todas as redes sociais do Fortnite, agregando uma mensagem de como a "Epic Games desafiou o monopólio da Apple" e por isso foi cortada de um bilhão de dispositivos. "Junte-se a causa", apela a Epic Games fazendo alusão a famosa e distópica novela "1984" de George Orwell. Algo muito interessante, é como a Epic Games faz alusão em seu vídeo a um antigo vídeo da Apple se colocando contra a IBM sob os mesmos argumentos anti-monopolistas. Se levantou também a hashtag #FreeFortnite.
Em seguida, a Epic Games abriu processo contra a Apple e o deixou bem público. O processo agrega um texto até mesmo sentimentalista de como a Apple se afastou de suas origens e o fundamenta com argumentos antitruste, o que deve fomentar ainda mais essa discussão que já ocorre nas cortes americanas.
A Epic reúne jogadores contra a Apple com um aviso de que eles perderão a próxima temporada. A Apple e o Google baniram o Fortnite de suas lojas, mas eles ainda funcionam em todos os dispositivos em que já estão instalados. Portanto, um grupo de usuários pode simplesmente encolher os ombros diante disso, pois é uma luta que terminará antes de afetá-los. A Epic está fazendo até mesmo essas pessoas perceberem que isso é um problema para elas.
Google então também toma medidas
O Fortnite para Android também foi lançado na Google Play Store. O mesmo sistema para burlar as taxas feito na App Store, foi feito aqui. No final do dia, a Google agiu. A empresa também apontou que existem outras maneiras de instalar aplicativos no Android. Não apenas de instalações manuais e paralelas, mas por meio de outras lojas.
A Epic está processando também a Google pela remoção do Fortnite da Google Play Store. A Epic também tinha um processo pronto para a Google, aparentemente, o que também indica que esperava o banimento por parte da Google também, mas nenhuma paródia de vídeo foi elaborada de antemão. Claro, ele seguiu o mesmo roteiro do processo da Apple em seu texto e argumentação.
No final das contas, o desenrolar dessa história está em parte na justiça, mas principalmente na pressão popular em cima dessas empresas gigantes que detém o monopólio do mercado. Ao que tudo indica, nenhum desses eventos não foram previstos. Todas as jogadas do CEO da Epic, Tim Sweeney, aparentam ter sido muito bem calculadas e muito bem pensadas justamente para fomentar um levante popular virtual contra a Apple e a Google.