Existe uma verdade, talvez cruel, sobre a franquia de futebol da EA Sports. Todo FIFA lançado nos próximos anos será alvo de críticas contundentes a partir do seu primeiro dia no mercado, da mesma forma que já vem ocorrendo. Não se engane! As criticas não virão daqueles que passam longe dos jogos de futebol pois não fazem seu estilo, mas, ironicamente, virão justamente dos fiéis jogadores que compram os títulos anuais sem falhar uma temporada sequer.
Se um dia FIFA já sentou-se no trono como o melhor simulador de futebol - o que aconteceu de fato -, esta era de ouro já se foi faz muito tempo, abrindo espaço para uma infinita onda de insatisfação, descontentamento e acusações. FIFA 21 foi lançado neste cenário, possivelmente com a triste certeza de que ser bom não seria o suficiente para evitar as críticas, afinal, com títulos que realmente deixaram a desejar, a EA Sports fez o que talvez acreditasse ser impossível... FIFA se desgastou, perdeu o controle e atingiu um nível de descontentamento muito acima do comum. Ou seja, a missão de FIFA 21 era dura e direta. O título deveria ser uma obra de arte para evitar ser massacrado por jogadores que, apesar de certos nas críticas dos últimos anos, parecem ter passado a abominar a derrota, uma vez que ao seu ver quase todos seus erros não são falhas humanas, mas sim falhas impostas pelo jogo. O jogador de FIFA não gosta de perder, talvez mais do que qualquer outro, e sendo assim as falhas da franquia ao longo dos anos permitiram que toda derrota fosse atribuída ao handcap ou a algum bug de jogabilidade, o que torna praticamente impossível a chance de um novo lançamento conseguir agradar maior parte do público.
Review FIFA 21: O melhor FIFA
- Inovações certeiras.
- Controle e disputa de bola satisfatórios.
- Um modo carreira robusto e repleto de novidades interessantes.
- A jogabilidade voltou a ser prazerosa.
- Ótima narração de Gustavo Villani.
- Dribles por vezes são "bugados", causando jogados surreais.
- Handcap ainda é um problema desnecessário e desanimador.
- Velocidade exagerada em muitos momentos.
- Modo Volta decepcionante.
Mas afinal, afastado deste cenário de má vontade dos jogadores, FIFA 21 seria capaz de colocar-se no mercado como um bom título do gênero? A EA tentou, e desta vez o que encontramos é algo que de certa forma se afasta do que foi visto nos últimos anos.
MEXER POUCO, MAS MEXER BEM
FIFA 21 não apresenta grandes mudanças em seu gameplay. A distância, o título pode parecer idêntico ao anterior, e alguém que não tenha o costume de entregar horas de seus dias ao jogo de futebol, certamente não perceberá as mudanças encontradas aqui. Porém, para aqueles mais acostumados com o que é oferecido anualmente pela franquia, existem mudanças que podem ser percebidas caso o jogador esteja disposto a enxergá-las. A relação dos fãs com o título parece algo como uma síndrome de Estocolmo, uma vez que os jogadores fazem questão de deixar evidente um profundo ódio pelos jogos, mas continuam adquirindo-os a cada lançamento. Desta forma, muitos iniciam a nova temporada já com reclamações e extrema má vontade, impossibilitando a si mesmos de ao menos dar uma chance ao novo conteúdo, e assim algumas mudanças que eram necessárias passam despercebidas.
Inteligência artificial
FIFA 21 equilibra o jogo e o torna mais real. A IA é claramente evoluída, com um posicionamento muito mais próximo do que é visto nos campos. A Personalidade de Posicionamento causa uma boa, e agradável, mudança em geral no gameplay para aqueles que estão acostumados com a franquia. É fácil perceber que os atacantes posicionam-se de maneira muito mais satisfatória agora, enquanto sua movimentação se assemelha com o que vemos em partidas reais. A defesa, por sua vez, também sofreu modificações graças a Personalidade de Posicionamento, comportando-se de uma forma mais inteligente e realizando ações como uma marcação dobrada, colocando jogadores mais próximos para cobrir seus companheiros. A IA deste FIFA é a melhor dos últimos anos, trazendo mais realidade ao jogo e ao seu ritmo, contribuindo também para que o espaço em campo seja mais realista e que as jogadas surjam de forma mais natural. Porém, existem falhas que deveriam ser corrigidas, como as diversas vezes em que, dependendo de sua tática e instruções, seus jogadores fogem do padrão de inteligência estabelecido pelo título e se colocam em posições de impedimento que são praticamente amadoras. Os zagueiros também apresentam problemas quando parecem desistir de algumas jogadas, dando espaço para que o adversário progrida com liberdade em direção ao gol. Para esta situação específica, é necessário estar sempre atento a todos os seus jogadores, sendo assim capaz de controlar aquele que apresentar uma falha em seu posicionamento defensivo.
A Condução Ágil e as modificações no sistema de colisões também causam mudanças sutis, que apresentam mais falhas do que a Personalidade de Posicionamento, mas ainda assim conseguem ser satisfatórias se avaliadas de forma geral. A nova condução trouxe uma série de dribles que desafiam a realidade e o aceitável, os famosos lances "apelões" permitem que muitas jogadas sejam quebradas, desestruturando a zaga de maneira quase que mágica. Porém, entre estes deslizes que apresentam jogadas irreais, o FIFA 21 também é capaz de exibir um controle de bola mais cadenciado e seguro, tornando o título mais prazeroso. O grande problema é que tal cadência pode facilmente ser mandada para o espaço por jogadores que abusem da velocidade, mandando o jogo novamente para o irrealismo e lhe afastando da simulação.
Já o sistema de colisões é realmente difícil de compreender. Não é simples amá-lo ou odiá-lo, pois tudo dependerá de cada lance. Os pênaltis podem ser o maior problema aqui, já que qualquer mínimo toque físico dentro da área possivelmente colocará a bola na marca da cal, algo extremamente insatisfatório. Mas existe também algo de muito real na disputa corpo a corpo, principalmente nas que são travadas fora da área. É possível sentir o contato, assim como também é possível controlar mais os seus jogadores nestes embates, permitindo que a bola passe a ser controlada por aquele que souber utilizar mais o espaço.
A Corrida Direcionada surgiu como uma grande inovação, permitindo que um atleta seja mandado para qualquer direção antes de receber um passe, porém a nova mecânica parece um tanto ignorada pelos jogadores, inclusive pelo fato de talvez não encaixar-se com o posicionamento encontrado nas partidas. A falta de inteligência neste momentos também pode ser decepcionante, com jogadores realizando corridas mesmo que elas já não pareçam a melhor opção, ou então demonstrando zero compromisso tático e deixando o time exposto com avanços não muito compreensíveis. Logicamente você é quem dá a ordem para que a nova corrida seja realizada, mas ao vê-la sendo realizada é possível perceber, muitas vezes, que o movimento não ocorreu como você desejava.
MODOS DE JOGO
Nesta edição da franquia anual da EA Sports, os jogadores encontraram modos já conhecidos como VOLTA, Ultimate Team e o Modo Carreira, sem a adição de algo realmente novo que seja interessante. Porém, de maneira parecida com o que aconteceu na jogabilidade, pequenas mudanças também fazem uma boa diferença. Enquanto o Ultimate Team é a máquina de fazer dinheiro da EA, o Modo Carreira por muitos anos se viu jogado às traças, com pouca dedicação da desenvolvedora, mas o FIFA 21 chegou para mudar isso.
Modo Carreira
O título traz inovações muito bem vindas pelos fãs do modo de jogo, oferecendo novas possibilidades e um controle maior sobre o time a respeito de táticas e gerenciamento. Agora, é possível acompanhar a simulação em tempo real das partidas, no maior estilo "jogo de botões" 2D dos antigos Football Manager. A inovação é, de fato, tardia e deveria estar presente em títulos anteriores da franquia, porém, com o perdão pela expressão batida, antes tarde do que nunca, não é mesmo? Com isto, é possível aprofundar-se mais na sensação de simulação, limitando-se a ser apenas o treinador enquanto sua equipe realiza os jogos e você observa se tudo está da forma que deseja, com diversas estatísticas que também ficam a sua disposição. Algo interessante é que o controle pode ser assumido a qualquer momento, caso você acredite que seja a hora de tentar resolver o jogo com sua própria habilidade.
Ainda na carreira, o gerenciamento da rotina dos jogadores ficou ainda mais interessante. É possível escolher os dias de treino, descanso e recuperação muscular de seus jogadores, permitindo uma interação maior no desenvolvimento dos atletas, causando diferenças diretas no condicionamento físico, moral e no ritmo de jogo.
Com outros recursos interessantes como a possibilidade de treinar seus atletas para que se aperfeiçoem em outras posições, além de uma evolução mais realista de cada jogador, o Modo Carreira do FIFA 21 é completo e satisfatório com relação ao realismo e ao nível de controle que você tem sobre sua equipe. A EA finalmente atendeu aos fãs e cuidou, com muita atenção, deste que é um de seus principais modos de jogo.
ULTIMATE TEAM
A galinha dos ovos de ouro da EA está de volta com novidades. Aqui também temos poucas mudanças que foram feitas corretamente.
As Cartas de Preparo Físico não existem mais nesta versão do jogo de futebol, o que já faz com que o FIFA 21 tenha uma grande vantagem sobre os anteriores com relação ao Ultimate Team. Agora, a barra de energia dos jogadores diminui apenas durante cada partida, sempre voltando ao máximo antes de cada jogo. Esta é uma novidade que, apesar de pequena, influencia muito no modo, dando aos jogadores um tempo importante que anteriormente era gasto utilizando cartas destinadas ao físico dos jogadores. A mudança ainda evita que moedas tenham de ser desperdiçadas com isto.
O Ultimate Team também recebeu uma mudança completa em sua interface. Devo dizer que por vezes tal mudança me incomodou, já que nos títulos anteriores tudo era extremamente semelhante. Aqui, pode ser um pouco estranho navegar pelos menus, conforme o jogador pode sentir-se um tanto perdido e nada familiarizado, porém com o tempo é possível perceber que agora tudo é mais prático e rápido, o que traz a sensação de que devemos considerar a novidade como outro acerto dos desenvolvedores.
VOLTA E PRO CLUBS
É impressionante perceber a força do Pro Clubs, uma vez que a EA Sports parece ignorá-lo por completo. Campeonatos, federações, times com jogadores contratados... o cenário competitivo do modo é imenso, repleto de elementos que são encontrados nos grandes eSports da atualidade, porém com a diferença de que no Pro Clubs tudo é feito pela própria comunidade, enquanto o modo não recebe nenhum apoio de sua desenvolvedora.
O FIFA 21 novamente deixa a desejar aos jogadores da modalidade, apresentando poucas diferenças que praticamente não surtem nenhum efeito. Este é mais um ano em que a EA ignorou o potencial deste modo, deixando escapar novamente a chance de torná-lo um dos grandes nomes do cenário competitivo da indústria.
O Volta por sua vez segue decepcionante. Se comparado ao antigo FIFA Street, a modalidade é muito inferior. Caso você ainda não tenha conferido a campanha do Volta, saiba que não há nada que você deva conferir urgentemente. A jornada é curta e mediana, sem grande apelo, tornando o conteúdo algo que pode muito bem passar despercebido sem que os jogadores tenham perdido algo de muito interessante.
A jogabilidade do modo segue deixando a desejar, com uma enorme diferença entre o Volta e o título que lhe inspirou. Quando a novidade foi anunciada, muitos jogadores - me incluo entre eles - viram com empolgação a possibilidade do modo ser um "sucessor espiritual" do FIFA Street, porém a verdade é que isto não chegou nem perto de tornar-se realidade.
A narração de Gustavo Villani
Tiago Leifert chegou no FIFA 13 com uma narração descontraída, diversas brincadeiras e um clima leve. A princípio, sua parceria com Caio Ribeiro agradou aos jogadores, dando um ritmo diferente e mais descompromissado para a narração. Porém, sempre senti que faltava seriedade e o "clima de decisão" que o futebol pede. Era realmente desanimador ouvir piadas e uma narração não muito empolgada em jogos extremamente importantes, fossem nos modos online ou em alguma carreira como treinador ou jogador.
A narração de Tiago Leifert ultrapassou seu prazo de validade, os fãs começaram a pedir mudanças e, depois de um bom tempo, uma mudança completa foi entregue. Gustavo Villani chega ao FIFA com o pé direito, colocando emoção em todos os jogos e ajudando a criar um clima competitivo. Leifert não é narrador, então não podemos culpá-lo pela diferença entre seu trabalho e o de Villani, porém a nova voz do FIFA trouxe, inegavelmente, muito mais emoção e profissionalismo à narração, o que é extremamente importante para a atmosfera das partidas.
Para seu primeiro ano no cargo, a narração de Gustavo Villani é impressionantemente completa, sem perder em nada para a anterior. Este também foi um ótimo acerto da EA. A empresa trouxe alguém que entende do assunto e que sabe o que é necessário para passar a emoção que o futebol pode causar.
COMO UM BOM TREINADOR, A EA MEXEU CORRETAMENTE
Como um treinador que percebe os erros de seu time, a EA percebeu que o jogo estava sendo perdido e sua liderança estava sendo ameaçada - ainda que a concorrência também não esteja lá essas coisas -. Como um técnico que sabe substituir, a desenvolvedora optou por mudanças certas e provou estar atenta ao "futebol moderno", recusando-se, finalmente, a permanecer no passado da mesma maneira que os velhos treinadores de táticas batidas e visões antiquadas.
Este é o aperfeiçoamento dos últimos títulos da franquia. Uma evolução natural e necessária que apresenta muitos problemas, mas tem um saldo positivo. FIFA 21 entrega algo satisfatório para quem se permite avaliar o jogo com boa vontade. Mais do que isto, o título serve como um aviso de que a EA Sports é capaz de entregar novamente aquilo que já ofereceu, mostrando que a empresa tem o que é necessário para recuperar a era dourada da franquia.
- Inovações certeiras.
- Controle e disputa de bola satisfatórios.
- Um modo carreira robusto e repleto de novidades interessantes.
- A jogabilidade voltou a ser prazerosa.
- Ótima narração de Gustavo Villani.
- Dribles por vezes são "bugados", causando jogados surreais.
- Handcap ainda é um problema desnecessário e desanimador.
- Velocidade exagerada em muitos momentos.
- Modo Volta decepcionante.
Ficha técnica do FIFA 21
- Estúdio: Eletronic Arts
- Gênero: Esportes
- Jogadores Multiplayer: Multiplayer online
- Desenvolvedora: Eletronic Arts
- Plataforma: PC, Playstation 5, Xbox One, Nintendo Switch e Playstation 4
- Série: FIFA
FIFA 21 - Veja aqui a ficha técnica completa
Requisitos mínimos para jogar FIFA 21 no computador:
- Sistema operacional: Windows 7 / 8.1 / 10 de 64 bits
- Processador (AMD): Athlon X4 880K @ 4 GHz ou equivalente
- Processador (Intel): Core i3-6100 @ 3,7 GHz ou equivalente
- Memória: 8 GB
- Placa de vídeo (AMD): Radeon HD 7850 ou equivalente
- Placa de vídeo (NVIDIA): GeForce GTX 660 ou equivalente
- Espaço no disco rígido: 50 GB
Requisitos recomendados para jogar FIFA 21 no computador:
- Sistema operacional: Windows 10 de 64 bits
- Processador (AMD): FX 8150 @ 3,6 GHz ou equivalente
- Processador (Intel): Core i5-3550 @ 3,40 GHz ou equivalente
- Memória: 8 GB
- Placa de vídeo (AMD): Radeon R9 270x ou equivalente
- Placa de vídeo (NVIDIA): GeForce GTX 670 ou equivalente
- Espaço no disco rígido: 50 GB
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