Persona 5 tem se tornado um dos títulos mais longevos do mercado de videogames nos últimos anos, pelo simples fato da Atlus, desenvolvedora do título, recusar-se a deixá-lo esquecido no passado.
Lançado em 2016, ainda na sétima geração de consoles, Persona 5 foi bem recebido pela crítica e por seus fãs - que são muitos, devo dizer -, desde então o jogo começou a aparecer com nomes diferentes, entregando mais conteúdo e expandindo a história de Joker e seus Phantom Thieves.
Tivemos Persona 5 Royal, que adicionou mais de 30 horas de conteúdo ao título, além do lançamento de Persona 5 Scramble. Como se já não fosse o suficiente - para os fãs realmente não era -, este ano a Atlus ofereceu aos jogadores o título Persona 5 Strikers. O mais novo jogo da franquia ignora os eventos de Royal e pode ser considerado uma sequência direta do original, uma vez que existe conteúdo o suficiente para que o jogo pudesse ter um próprio nome ou número.
Desenvolvido pela Omega Force e publicado pela Atlus, Persona 5 Strikers foge totalmente do padrão que acostumou os jogadores, apresentando combates em tempo real no bom e velho estilo Musou. No entanto, Strikers consegue ter suas próprias características em sua jogabilidade, o que faz com que algo de JRPG de ação seja bem nítido, ao mesmo tempo em que elementos da franquia são mantidos.
UMA JORNADA MAÇANTE
Ambientado seis meses após Persona 5, Strikers mostra Joker, o personagem principal, e os Phantom Thieves rumo a suas férias de verão. Caso o jogador não tenha nenhum conhecimento sobre Persona, o início do título sabe estabelecer que existe uma forte amizade entre os jovens, facilitando assim o entendimento da trama.
O grande problema é que as férias de verão são interrompidas quando o grupo precisa entrar no metaverso para lidar com novos vilões. A partir daí o jogo passa a seguir seu padrão. A história funciona quase sempre da mesma forma, mostrando o grupo percebendo que alguém está roubando os desejos e controlando a mente de pessoas para conseguir qualquer tipo de ambição própria, o que faz com que o grupo de heróis tenha de entrar no metaverso para chegar até a prisão criada pelo personagem vilanesco em questão. Em cada prisão existem diversos objetivos que devem ser realizados para que seja possível chegar ao chefão final.
Agora que a dinâmica já foi explicada devo dizer que a trama de Persona 5 Strikers é o seu maior problema. Para os grandes fãs da franquia, boa parte de Strikers será bem vinda e servirá para desenvolver melhor a relação entre os personagens, porém para aqueles que não gostam de perder tempo com conversas fúteis, o título deve decepcionar - e muito -. O jogo perde tempo demais com conversas desnecessárias e momentos que não levam a lugar nenhum, momentos estes que poderiam facilmente ser retirados do jogo para que o título ganhasse um ritmo melhor e mais dinâmico.
Porém as conversas desnecessárias e alguns diálogos vergonhosos não são o pior que a trama de Strikers pode entregar. Durante minha jornada no título, tive uma forte sensação de que o jogo tentava se prolongar ao máximo, agarrando-se a repetições e momentos arrastados, me fazendo sair e voltar das prisões em situações que claramente eram desnecessárias para o roteiro do jogo. Existem muitos "problemas" e soluções que nitidamente são criados apenas para aumentar o tempo de jogo, fazendo com que a trama torne-se ainda mais repetitiva, já que sua dinâmica também já entrega uma avalanche de repetições.
O título se prende em reviravoltas praticamente iguais para manter-se vivo. A sensação que se tem é que Persona 5 Strikers recusa-se desesperadamente a acabar, apresentando sempre um novo desafio em uma onda de eventos que parecem exatamente iguais, apenas com a imagem do vilão ganhando uma nova aparência e um novo nome... mas a essência é a mesma.
Strikers insiste em mostrar seus personagens buscando o bem dentro de cada cidadão e bate na mesma tecla ao explicar as motivações de seus vilões, o grande problema é que isto resulta em um show de horrores com o enredo entregando explicações rasas para maldades cometidas ou então apresentando grandes clichês que não funcionam no geral. Além disso o fato de personagens mudarem drasticamente após algum diálogo, que geralmente não é bem executado, incomoda e parece absurdamente superficial.
A trama de Persona 5 Strikers poderia ser muito superior caso as escolhas certas fossem feitas. Muito poderia ser cortado e novos elementos de roteiro poderiam ser acrescentados, porém, infelizmente, o que foi entregue faz com que o título seja uma jornada maçante e cansativa.
A JOGABILIDADE FUNCIONA
O maior acerto de Persona 5 Strikers está em sua jogabilidade. De maneira inicial, a mudança pode parecer um tanto estranha para os fãs mais antigos da franquia, já que o combate de RPG por turnos foi substituído pelo estilo Hack and Slash. É válido dizer que o combate em tempo real pode ser o incentivo certo para que novos jogadores conheçam a franquia, já que muitas vezes o combate por turnos acaba afastando alguma parte do público.
Com o anúncio do título, muitos fãs imaginaram que Strikers seria um Musou ao maior estilo da série Warriors, que também é entregue pela Koei, porém o resultado foi muito acima do esperado. Sim, Persona 5 Strikers tem muitos elementos de Musou e coloca diversos inimigos no caminho do jogador, porém o título foi muito eficiente em acrescentar suas próprias características ao estilo, entregando um sistema de combate que mantém elementos da franquia e até mesmo permite abordagens mais táticas, afastando a ideia de que seria necessário apenas esmagar os botões para avançar na trama.
Com 7 personagens disponíveis desde o início do jogo, além de um personagem suporte controlado pela CPU, o jogador pode formar uma equipe de 4 participantes para realizar seus objetivos no metaverso. Enquanto Joker, o protagonista, é membro fixo, os outros integrantes do time são escolhidos pelo jogador, o que faz com que seja possível escolher as melhores opções de acordo com sua preferência de jogo.
Aumentando a estratégia, cada personagem possui vantagens e fraquezas de acordo com o elemento do Persona, assim como os inimigos também apresentam estas características. Isto faz com que o jogador precise avaliar as fraquezas do oponente para realizar ataques com personagens que tenham um Persona com o elemento certo, já que isto faz total diferença na batalha. Não se preocupar com este detalhe certamente resultará em muitas mortes que poderiam ser evitadas e com certeza tornará o título muito mais complicado do que é. Com os personagens certos e utilizando os pontos fracos dos oponentes, o jogador consegue liberar os ataques chamados de "All Attack" e "Showtime", que além de bonitos dão uma sensação de satisfação pelo fato de tirar bastante vida dos oponentes.
Uma vez dominado, o sistema de combate não apresenta muito mistério. É preciso observar as fraquezas, utilizar os personagens e ataques certeiros, fazer combos com a equipe e ter paciência para acabar com a barra de vida dos chefões. Como um Musou, Persona 5 Strikers apresenta características próprias que se encaixam na franquia e tornam a batalha ainda mais interessante, com uma jogabilidade fluida e confrontos satisfatórios até certo ponto. O problema é que, combinado com a trama decepcionante e arrastada, o jog por vezes se torna cansativo também em seus combates, já que existe o fator repetição e nem sequer a história serve como motivação para seguir em frente.
Mudanças interessantes, mas ainda é Persona
Existem muitas mudanças com relação a características conhecidas da franquia, mudanças estas que ao meu ver foram feitas na tentativa de deixar o jogo mais dinâmico e encaixado no novo estilo de jogabilidade de forma geral. Em Persona 5 Strikers as infiltrações são muito mais tranquilas, sem exigir um grande gerenciamento de vida de saúde já que é realmente fácil e prático sair e entrar nas masmorras para recuperar SP e HP. Em Strikers também não há um relógio pressionando o jogador de forma constante, o que o torna automaticamente um jogo mais tranquilo.
Outro dos elementos a receber uma modificação considerável foi a interface de invocação do Velvet Room, passando a ser mais simplificada e de aprendizagem muito mais fácil para quem nunca teve contato com a franquia.
No entanto, apesar de muitas mudanças, bem vindas ao meu ver, Strikers ainda é Persona. O título consegue manter sua essência em cada elemento e característica entregue ao jogador, sendo assim isto também é o que faz com que Persona 5 Strikers possa ser ainda mais desinteressante para boa parte do público. Caso o sistema de combate não seja o suficiente para lhe prender, a história possivelmente vai se tornar ainda pior do que é, uma vez que os personagens de Persona, assim como o jogo em si, tem muitas peculiaridades que podem causar estranheza naqueles que não estão acostumados com a série de jogos.
Veredito
Persona 5 Strikers poderia ser um título muito melhor caso não tivesse a intenção de se prolongar sem preocupar-se com a qualidade de sua trama. Alguns personagens poderiam ser melhor aproveitados, como é o caso de Zenkichi - o melhor personagem do título na minha opinião -, assim como outros elementos da trama poderiam ser mais explorados, o que tiraria um pouco a sensação de repetição.
Ao tentar mostrar momentos de descontração e mais leves entre os personagens, o jogo perdeu a mão completamente entregando diversos diálogos que são, no mínimo, desnecessários e mal escritos.
Com seu ponto forte sendo engolido e ofuscado pela forte sensação de que a jornada é extremamente cansativa, Persona 5 Strikers até acerta em algumas mudanças, mas não é capaz de tornar-se interessante de forma geral.
- Combate satisfatório até certo ponto
- Mais acessível para novos jogadores
- Trama fraca
- Campanha maçante
- Muitos diálogos vazios e desnecessários
- Extrema repetição
Onde comprar?
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