Os jogos de plataforma 2D dominaram o mercado por um bom tempo. Fazendo extremo sucesso com títulos como Donkey Kong Country, o gênero tornou-se um dos destaques da indústria. Com o passar dos anos, o espaço conquistado no topo foi perdido enquanto outros gêneros ganhavam espaço. Porém, em 2021, chegando sem muito barulho, um simpático título surgiu para despontar entre os grandes nomes do ano. Brasileiro, Kaze and the Wild Masks é o retorno do que todos nós amamos. Podendo ser apontado como um "pequeno" entre gigantes, o jogo da PixelHive, publicado pela Soedesco, é um na verdade um colosso que traz de volta a diversão e a qualidade de grandes clássicos.
Kaze and the Wild Masks tem um grande significado para a indústria. Não perderei tempo... já afirmo aqui que o título é o segundo melhor do ano até agora. A aventura protagonizada por Kaze prova que a verdadeira qualidade não está apenas nos AAA de grande marketing e apelo. A PixelHive mostrou que paixão e cuidado são o necessário para entregar um resultado que beira a perfeição.
Enquanto a indústria parece enfrentar uma grande crise, com desenvolvedoras deixando exposto algo que podemos chamar de "bloqueio criativo", me sinto extremamente feliz em perceber que um jogo brasileiro, gaúcho aqui de Porto Alegre - minha querida cidade -, surgiu como um sopro de qualidade em meio a tantos remakes, títulos sem inovação e lançamentos que ficam abaixo do esperado. Enquanto esperamos ansiosamente por jogos "revolucionários" - sim, você sabe do que estou falando -, são títulos como Kaze and the Wild Masks que podem nos lembrar do motivo pelo qual amamos videogames.
Não há outra maneira de definir o título. Kaze and The Wild Masks é uma obra de arte. Talvez não o jogo que merecemos, mas sim o que precisamos - Com o perdão do clichê -. Enquanto sonhamos com promessas falsas e recebemos conteúdos decepcionantes, Kaze não nos prometeu o mundo... não nos prometeu uma revolução, mas entregou algo muito maior. Precisamos voltar nossos olhos para aqueles que realmente merecem nossa atenção. Sim, permitimos que grandes empresas nos iludam com falsas promessas, ignorando assim títulos que realmente deveriam ser valorizados. Talvez por isto não mereçamos a grandiosidade de Kaze and the Wild Masks, mas seus desenvolvedores ainda assim nos presentearam com este jogo fantástico.
A beleza de Kaze and the Wild Masks
O jogo da PixelHive é dono de uma beleza inigualável. Não me refiro apenas ao seu visual, mas ao título de forma geral. Sem vozes e sem legenda, Kaze and the Wild Masks apresenta seus personagens e sua trama com cenas rápidas, mas que dizem muito e explicam bem o que o jogador precisa saber para entender a motivação da personagem principal e outros elementos do enredo simples.
As cenas cinematográficas apresentam belas ilustrações e rapidamente inserem o jogador nos acontecimentos do título. É válido citar a facilidade que o jogo tem em apresentar personagens e situações, sem que algo precise ser dito.
A beleza de Kaze and the Wild Masks também pode ser vista em seus mapas. Mapas estes muito bem criados, esbanjando qualidade e beleza artística. Cada fase apresenta um visual variado, com cenários completamente diferentes surgindo no caminho da personagem principal. Seja em uma ilha repleta de gelo e neve ou então em meio a um cenário mais esverdeado, o título encanta até mesmo nos mínimos detalhes. A arte pixelada do jogo deve ser valorizada, já que a mesma é uma das mais incríveis que já foram entregues ao público durante todos estes anos.
A beleza de Kaze and the Wild Masks também está em sua trilha sonora. Importantes para a construção do mundo e ambientação de forma geral, as músicas são capazes de guiar o jogador durante a aventura. Contagiantes, simples e marcantes, as músicas do título fazem parte deste conjunto artístico que torna o jogo tão memorável.
Divertido e desafiador
Uma das características mais bonitas do jogo, é justamente a forma como Kaze and the Wild Masks deixa evidente o seu desejo em homenagear grandes clássicos. Ao mesmo tempo em que é único e tem suas próprias qualidades, o título tem o desejo de levar os jogadores de volta ao passado, fazendo com que se lembrem dos bons momentos em jogos que fizeram parte de suas vidas. Enquanto joguei Kaze, foi impossível não lembrar de jogos como Donkey Kong Country, Sonic e Super Mario World.
Ambientado nas ilhas de Carrotland, o mundo desta aventura, o jogo mostra Kaze, uma coelha antropomórfica, em sua jornada para salvar seu amigo Hogo. Em seu caminho, a heroína tem como inimigos diversos vegetais que ganharam vida com uma poderosa maldição. Existe uma grande variação de inimigos, com cada ilha apresentando oponentes e desafios que se encaixam com o cenário e fazem total sentido no contexto apresentado pelo jogo.
Com mecânicas simples, o jogo permite que os jogadores controlem Kaze com o analógico, enquanto a personagem é capaz de bater e pular. Além disso, no ar o botão de ataque também serve para fazer a coelhinha planar, o que é muito útil e se mostra muito necessário durante a aventura. Ainda que suas mecânicas sejam fáceis de aprender, o jogo se mostra também complexo em sua jogabilidade. Kaze and the Wild Masks é um título onde a observação é a chave para o sucesso. Em muitas fases, você precisará realizar movimentos precisos entre pulos e voos para conseguir avançar, conforme uma boa dose de dificuldade fica evidente.
Seu visual carismático pode passar a sensação de que o caminho será fácil, porém em sua simplicidade o jogo é capaz de entregar um grande desafio. A PixelHive mostrou que com pouco se pode fazer muito. A morte é inevitável e muitas vezes será necessária para que os movimentos certos possam ser compreendidos. A evolução natural em entender o necessário para avançar em cada fase se mostra dinâmica, proporcionando a sensação de satisfação em cada etapa concluída.
Enquanto cada inimigo precisa ser encarado de uma maneira, com Kaze até mesmo sendo incapaz de derrotar alguns, e fases exigindo diferentes habilidades dos jogadores, os momentos em que a personagem utiliza as máscaras servem para dar ainda mais variedade ao gameplay. Explicando o nome do jogo, Kaze é capaz de utilizar máscaras de poderes animais, que aparecem em pontos específicos do jogo, ganhando habilidades diferentes que se encaixam com a proposta da fase em que são encontradas. A possibilidade de Kaze nadar ao usar a máscara de tubarão é apenas um exemplo da variação que as máscaras oferecem ao jogo.
Chefões interessantes, porém problemáticos
Ao final de cada uma das ilhas do jogo, Kaze deve enfrentar um poderoso chefão. Aqui, o jogo apresenta alguns problemas, mas nada que comprometa a grande experiência.
Os chefes têm três estágios, exigindo que os jogadores decorem seus movimentos de ataque para desviar dos mesmos. Caso você consiga escapar da ofensiva dos chefões com êxito, surge uma oportunidade para atacá-los. Isto deve ser feito por três vezes até que enfim o inimigo seja derrotado
Enquanto o primeiro chefe se mostra simples e divertido, o segundo já me pareceu um pouco "fora da curva". Ao mesmo tempo em que o jogo apresenta uma interessante evolução própria, conforme o jogador estuda a situação e percebe o que deve ser feito, o segundo chefão parece fugir um pouco do padrão natural do título. Além disso, o último boss do jogo é certamente problemático. Além de seus três estágios, este também apresenta ainda outras etapas em que o jogador deve ter total cautela para não voltar ao início do confronto. O grande problema é que este chefe me pareceu ter sido criado desta maneira apenas para prolongar o jogo, tornando o final mais difícil não por uma jogabilidade desafiadora, mas sim por ser algo que beira o injusto.
Outro problema dos chefões é a falta de uma recompensa maior. Enquanto derrotá-los só serve para avançar para a próxima ilha, senti que algo a mais poderia ser oferecido pelas vitórias.
Ainda assim, devo dizer que os chefões também apresentam qualidade e proprocionam momentos memoráveis.
Objetivos secundários
Para quem deseja fazer 100%, Kaze and the Wild Masks se torna ainda mais desafiador e interessante. Em seus mapas, o jogo apresenta objetivos secundários que podem ser conferidos pelos jogadores, com alguns destes estando expostos e outros permanecendo escondidos, fazendo com que seja necessário um pouco mais de atenção para descobri-los.
Em cada fase você pode pegar cristais, coletar as letras que formam o nome de Kaze e encarar duas fases bônus. Por vezes, as fases bônus estão escondidas e o jogador poderá passar despercebido pelas mesmas. Tais fases são capazes de oferecer mais diversão e aumentar o tempo de jogo, porém algumas também se mostram problemáticas e apresentam uma dificuldade pouco natural com relação ao jogo de forma geral.
Mas assim como os chefões, as fases bônus superam bem seus problemas e certamente pesam positivamente para o título.
O veredito.
Como falei no começo da análise, Kaze and the Wild Masks é uma obra de arte. Com poucos problemas, o título entrega um saldo infinitamente positivo.
Encantador, o jogo homenageia os clássicos e também mostra seu próprio coração. Um jogo que utiliza muito bem suas mecânicas e prova que da simplicidade é possível surgir algo grandioso.
O segundo melhor jogo do ano até agora, Kaze and the Wild Masks é memorável.
Nota: 9/10
Prós:
- Excelente desafio
- Visual encantador
- Ótima trilha sonora
- Jogabilidade muito prazerosa e divertida
Contras:
- Alguns problemas com chefes
- Fases que fogem do desafio natural do jogo
Jogo analisado com o código fornecido pela Soedesco.
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