Escrevo esta análise como alguém que esperou ansiosamente por Kena: Bridge of Spirits, até mesmo depositando mais esperanças neste título do que em outros lançamentos com maior badalação em 2021.
Com um visual encantador e uma protagonista carismática, o jogo da Ember Lab conseguiu, de fato, conquistar diversos jogadores desde suas primeiras aparições, chamando a atenção de boa parte do público em cada novo trailer revelado.
Sendo exclusivo de PlayStation nos consoles, e saindo também para PC, Kena: Bridge of Spirits é o primeiro jogo de um estúdio que começou originalmente com foco em animações, o que explica muito sobre a aventura lançada neste mês de setembro.
O fato é que Kena é lindo como as grandes animações da Dreamworks ou Pixar, assim como também entrega personagens extremamente agradáveis e uma trama bem desenvolvida. Kena: Bridge of Spirits, caso fosse uma animação, certamente concorreria ao Oscar nesta categoria, porém ao ser um jogo o título apresenta falhas que beiram o amadorismo, além de em certos momentos ser um desastre total, com a experiência sendo completamente afetada.
Kena tem carisma
Kena, a Guia Espiritual que obviamente protagoniza o jogo, já esbanja simpatia e é capaz de conquistar logo nos primeiros minutos, sendo uma personagem extremamente carismática. Aqui devemos dar crédito a Ember Lab por ter sido muito eficiente na construção da personagem como um todo.
A garota de sorriso leve e expressões delicadas já passa algo agradável em seu visual, o que indica muito sobre a pureza e o bom coração da personagem. Com uma boa dublagem e expressões faciais dignas de aplauso durante as cenas do jogo, Kena é a personagem ideal para um título que tem o carisma como um de seus trunfos.
Kena: Bridge of Spirits não se limita apenas ao carisma de sua personagem principal, mas apresenta este importante elemento de forma geral. Acompanhando o que é estabelecido pela protagonista, os personagens secundários do jogo também são capazes de agradar, enquanto a história segue em um rumo que apresenta fofura e momentos emocionantes.
Com seu visual o título também se torna agradável, enquanto o jogador praticamente está explorando uma bela animação oferecida por estúdios famosos como Pixar. Resumidamente, Kena: Bridge of Spirits sabe entregar seu mundo e sua trama, convidando o jogador a desfrutar desta jornada na medida em que se sente encantado com os personagens e ambientes ao seu redor.
Os Rot roubam a cena
Durante sua jornada, Kena pode coletar criaturinhas chamadas Rot, que mais do que bichinhos bonitinhos e fofos, são muito importantes também para a jogabilidade do título.
Servindo também como um elemento que já vimos em diversas animações, como os Minions por exemplo, os Rot já teriam destaque mesmo que os desenvolvedores não optassem por lhes dar importância durante o gameplay. Meigos e amaveis, estas criaturinhas encantam com seus olhos expressivos e sua personalidade doce.
Porém, os pequeninos ganham ainda mais destaque por serem utéis para Kena, servindo em diversos momentos do jogo para solucionar puzzles, carregar itens, recuperar a vida da personagem, oferecer mais habilidades e a ainda mais. Coletar estes amiguinhos enquanto explora o mundo do jogo é realmente importante, pois desta maneira Kena pode subir de nível e ganhar mais habilidades.
Este é também um bom acerto da Ember Lab, que soube oferecer as pequenas criaturas como mais do que pets fofinhos e amigáveis, os utilizando de maneira satisfatória em elementos de gameplay, tanto na exploração quanto no combate.
Problemas lamentáveis atrapalham a jornada
Agora que já citei os pontos positivos de Kena, chegou o momento de falarmos sobre os problemas que atrapalham a jornada, infelizmente muito acima de um nível que poderia ser considerado aceitável.
Sim, Kena: Bridge of Spirits entrega um mundo carismático que de certa forma é convidativo, despertando interesse na exploração. Porém, um dos grandes problemas do título é o fato de que suas falhas podem fazer com que esta exploração seja deixada de lado pelo jogador, quando o mesmo já está começando a sentir-se incomodado e descontente com a jornada.
Explorando o mundo de Kena em busca de relíquias necessárias para enfrentar o chefão final, o jogador não conta com o mapa inteiro disponível desde o começo do jogo, com novas áreas sendo liberadas na medida em que você avança na história e consegue novas habilidades como um arco e flecha, que serve também para locomoção.
Infelizmente, em muitos momentos do jogo, principalmente após algumas horas de gameplay, não é motivo de surpresa caso o jogador chegue em novas áreas sem qualquer empolgação, com um grandes descontentamento causado por batalhas desbalanceadas contra chefes, problemas na movimentação, seu combate simples e outros problemas que aparecem durante a jornada.
Combate simples e problemático
Se em elementos como construção de mundo e desenvolvimento de personagens o jogo apresenta motivos para grandes elogios, em seu combate o título deixa a desejar de maneira realmente decepcionante.
Kena tem poucas ações durante o combate, sendo capaz de realizar ataques comuns, ataques fortes, esquivar e defender-se como um escudo de energia. A falta de mais ações poderia não ser um problema caso as existentes fossem bem utilizadas, o que não são.
Primeiramente, devo dizer que os inimigos mais simples do jogo se mostram extremamente vulneráveis, não sendo capazes de revidar aos seus ataques. É verdade que em certos momentos podem tirar vida de Kena com poucos golpes, sendo um tanto perigosos, mas basta apertar o botão de ataque em sua direção que os oponentes são incapazes de esbanjar reação. Tal "facilidade" vai totalmente contra o que vemos em confrontos de chefões, algo que falaremos mais para frente.
Ainda falando sobre o combate simples, a esquiva de Kena se mostra extremamente problemática. Em diferentes momentos durante meu gameplay, a personagem não realizou a ação em situações que tentei dar o comando, assim como em outros momentos Kena levou o dano em situações que a esquiva deveria ter evitado.
Além disso, opções como realizar um contra-ataque após o bloqueio são praticamente inúteis, pois quase nunca funcionam. Kena ainda apresentou outros problemas, como atraso na hora utilizar seu escudo, muitas vezes em situações que a ação é atrapalhada pela animação de movimentos anteriores realizados pela personagem.
Chefes e "Chefões" são vergonhosos
Entre muitos problemas, o confronto contra chefes de Kena podem ser considerados o maior deles. Enquanto a jornada se esforça para ser carismática e leve, sendo claramente uma aventura focada para um lado mais infanto-juvenil, a dificuldade encontrada nos chefões não se encaixa de maneira alguma com esta proposta. Vale dizer que estou me referindo aos chefes (que podem ser considerados sub-chefes) e os principais chefões do jogo.
Além disso, se a dificuldade vista nestes combates fosse ao menos natural, tal elemento poderia ser aceito ainda que não fizesse sentido de acordo com o que é apresentado pelo jogo. Porém, os chefões são extremamente desbalanceados se comparados a combates menores e até mesmo se comparados com as habilidades de Kena.
Muitos dos confrontos são extremamente injustos e deixam evidente a inexperiência da Ember Lab em desenvolver jogos. Certos oponentes apresentam pontos fracos que pouco tiram de vida, enquanto o resto da barra de HP deve ser reduzido com os golpes de Kena, que certamente não foram levados em consideração na hora em que estes inimigos foram criados.
Além disso, muitos dos chefes também contam com movimentos absurdamente desbalanceados, que pouco recompensam a habilidade do jogador, sendo muitas vezes impossíveis de evitar. Para tornar tudo ainda pior, a movimentação problemática de Kena também atrapalha em diversos momentos destes combates, causando momentos em que um erro na esquiva ou no escudo fazem com que a personagem perca muito de sua vida. Aqui, a animação dos movimentos também volta a ser um grande problema.
Entre as três dificuldades disponíveis na primeira run, encarar o jogo na maior delas é praticamente impossível, com o "praticamente" podendo muito bem ser deixado de lado. No normal, os problemas ainda continuam e os chefões ainda estragam a experiência.
Em tempos que apresentam com frequência a polêmica discussão sobre jogar no modo fácil, Kena é muito provavelmente um jogo que deve ser jogado dessa maneira por aqueles que não desejam se estressar com a jornada. Seus problemas de combate e chefes dilaceram uma experiência que tinha tudo para ser linda e satisfatória.
O veredito
- Kena é maravilhosa
- Ótimos personagens
- Trama linda e emocionante
- Os Rot
- Movimentação problemática
- Ações como pulo deixam a desejar
- Combate extremamente simples e repleto de falhas
- Chefões muito desbalanceados que beiram o amadorismo
- Como um jogo, a jornada é decepcionante
Ao apresentar uma excelente protagonista, ótimos personagens e uma trama realmente bem desenvolvida, emocionante e linda, Kena: Bridge of Spirits também entrega um excelente visual com regiões repletas de cores vivas e cenários atrativos, enquanto a jornada é acompanhada por uma trilha sonora que acompanha este alto nível.
O grande problema é que Kena funciona como uma bela animação, mas peca terrivelmente como um jogo. Apesar de seus puzzles serem interessantes e por vezes a exploração de regiões se mostrar divertida, o título deixa a desejar de maneira extremamente decepcionante.
A movimentação de Kena, mesmo fora de combate, também é problemática e novamente as animações de movimentos surgem como um problema. Ações como o pulo muitas vezes não funcionam devido a este problema, com este sendo apenas um dos defeitos que aparecem no gameplay.
O combate fraquíssimo e as batalhas contra chefes são o suficiente para desanimar o jogador e tornar cansativa uma jornada que poderia ser bela. Kena: Bridge of Spirits é uma grande animação, mas definitivamente não é um bom jogo.
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