Chegando em um mês repleto de grandes lançamentos como Dying Light 2, Horizon Forbidden West e Elden Ring, que são títulos que dispensam apresentações e são acompanhados por muita badalação, Sifu é como um pequeno entre gigantes. Porém, ainda que sua chegada seja tão perto dos grandes títulos do ano, o jogo da Sloclap conseguiu alcançar o público e tornar-se um lançamento esperado por muitos jogadores.

Talvez o fato da Sloclap ter desenvolvido Absolver explique essa espera por Sifu, porém o grande diferencial fica mesmo por conta do marketing bem feito em torno do jogo. Além, é claro, do fato do jogo ser um exclusivo de PlayStation nos consoles, o que fez com que a Sony lhe oferecesse certo destaque.

Entre gigantes, Sifu chega como promessa. A proposta de um combate desafiador agrada parte do público, que certamente espera um uma jornada repleta de dificuldade e bons confrontos. Porém, com ideias interessantes mal executadas, Sifu não alcança uma posição digna do destaque que recebeu antes de seu lançamento.

Dá até vontade de chorar! (Oficina da Net/Gregory Felipe)
Dá até vontade de chorar! (Oficina da Net/Gregory Felipe)

A morte não é o fim, o que não a torna menos decepcionante

A mecânica de envelhecimento é um dos pontos que mais despertam a curiosidade do público com relação ao título. No jogo, tal mecânica também se mostra interessante logo de início, apresentando-se como uma proposta interessante para fazer com que cada morte seja a oportunidade de aprender/evoluir um pouco mais.

Conforme você morre seu personagem envelhece alguns anos, o que é uma ideia bem absurda, e talvez até mesmo por isso se mostre tão interessante. Nessas mortes, antes de levantar-se de novo, mais velho, você tem a oportunidade de utilizar seu XP adquirido nos combates para liberar novas habilidades, que na teoria deveriam tornar o combate mais variado e deveriam permitir que cada morte significasse uma chance de encontrar uma evolução para os próximos confrontos.

A idade vai aparecendo e o tédio também (Oficina da Net/Gregory Felipe)
A idade vai aparecendo e o tédio também (Oficina da Net/Gregory Felipe)

O grande problema é que ao apresentar uma árvore de habilidades que está extremamente longe de poder ser considerada interessante, o jogo também demonstra que sua mecânica de envelhecimento é muito mal aproveitada. Uma vez que você ultrapassa os 70 anos, a morte será a última e você terá que escolher um ponto de recomeço, que pode ser em qualquer uma das fases do jogo. Caso você tenha iniciado a terceira etapa, por exemplo, com 35 anos, você poderá voltar para lá com a mesma idade e continuar sua jornada. Caso prefira, você pode voltar para o começo com seus 20 anos de idade, o que significa que você poderá morrer mais vezes.

Então surge outro problema, já que em cada recomeço suas habilidades são todas zeradas. É possível consegui-las de maneira permanente, mas para isso você precisa comprá-las permanentemente por 5 vezes para que então fiquem garantidas, o que se mostra uma tarefa muito ingrata pois será necessário muito tempo para conseguir completar a árvore. Dessa forma, a morte definitiva, ou o recomeço, se mostra extremamente maçante na medida em que sem as habilidades adquiridas, o combate, que em sua forma básica e inicial não é nada interessante, se mostra completamente cansativo.

É cansativo, é maçante

Estamos falando de um jogo que tem foco total no combate, um título que não conta com literalmente nenhum outro elemento que possa torná-lo interessante. A situação se mostra trágica quando percebemos que justamente em seu combate Sifu é decepcionante. O desafio prometido realmente está presente, afinal esse definitivamente não é um jogo fácil, porém quando percebemos que a sensação de querer desafiar a si mesmo é praticamente a única coisa que o mantém no jogo, percebemos também que tem algo de muito errado.

O combate é um grande decepção (Oficina da Net/Gregory Felipe)
O combate é um grande decepção (Oficina da Net/Gregory Felipe)

Em um jogo com foco no combate, faltou muito mais cuidado para oferecer um gameplay que pareça realmente responsivo e preciso. Em outras palavras faltou refinamento. Piorando a situação temos a falta de golpes mais elaborados e movimentos que de fato mantenham cada confronto interessante. Os combos básicos são pouco interessantes, assim como os ataques simples, o que pode resultar em diversos momentos que você os ignora e apenas aperta os botões aleatoriamente pois não há uma real sensação de diversão ou qualquer tipo de incentivo para tentar realizar movimentos mais diferenciados.

Voltando a falar da árvore de habilidades, os golpes e movimentos liberados com ela também se mostram pouco interessantes, com alguns completamente dispensáveis. Fica bem evidente que aqui poderia haver um ótimo aproveitamento de mecânica, com a árvore de habilidades "dando gás" para o combate não tornar-se cansativo, porém novamente os desenvolvedores nos mostram que a ideia geral foi muito mal executada.

Repetir os cenários é um tédio

Sifu é um jogo que fará você repetir os cenários mais de uma vez, o que é extremamente tedioso. Eu entendo o que foi tentado aqui, e inclusive meu jogo favorito da geração até é um título em que há extrema repetição de objetivos com um loop temporal (Deathloop), mas o grande problema é que, assim como tudo em Sifu, a repetição aqui é mal executada.

É possível encontrar chaves, cartões de acesso ou outras pistas que farão com que você tenha novas entradas e saídas em cada mapa, com esses itens permanecendo com você mesmo após a "morte definitiva". Dessa maneira, ao explorar um mesmo cenário novamente, você poderá chegar mais rápido ao seu final se tiver as pistas certas. O grande problema é que assim você deixará para trás vários oponentes que darão XP, e sem esse XP você não conseguirá desbloquear muitas habilidades. Levando em consideração que você ainda não tenha conseguido garantir muitas permanentemente, dessa maneira você terá que enfrentar grandes chefões sem movimentos que ajudaram durante o combate.

A repetição de cenários então se mostra extremamente cansativa já que o "combate base" apresenta problemas como os já citados. Além disso, também foi prometido que cada ambiente ofereceria opções para que o jogador os utilizasse a seu favor, mas isso basicamente se resume a juntar alguns objetos do chão, como garrafas e bastões, ou pular sobre mesas e outros móveis, com isso também adicionando pouca diferença real no gameplay.

O veredito

Sifu é uma tortura. Com repetição tediosa e um combate extremamente decepcionante, o jogo tem um proposta que poderia funcionar, mas se perde ao executá-la de uma maneira totalmente incompetente. Sua dificuldade talvez possa ser considerada seu ponto mais positivo, já que é por causa dela que existe um certo desejo de continuar desafiando a si mesmo no título, porém se pararmos para pensar que boa parte dessa dificuldade também pode não ser natural, mas sim imposta por um combate pouco responsivo e mal refinado, até mesmo esse brilho pode desaparecer.

Terminar Sifu requer paciência. Para não dizer que não tenho elogios, a trama tem seus momentos interessantes e pelo menos a arte do jogo também pode chamar atenção em certas ocasiões.

SIFU
5.0
Prós
  • A arte é interessante
  • Trama direta e com seus momentos interessantes
  • Dificuldade pode ser considerada ponto positivo
Contras
  • Ideia geral muito mal executada
  • Combate extremamente decepcionante
  • Repetição tediosa
  • Péssima árvore de habilidades