Martha is Dead tornou-se um título polêmico antes mesmo de seu lançamento. Com o público sendo informado a respeito de uma censura por parte da Sony, muita discussão foi iniciada na internet, o que automaticamente aumenta a popularidade do jogo entre o público.
Como um título de terror que não se encaixa no padrão triple A, a verdade é que Martha is Dead chamou a atenção dos fãs mais atentos do gênero, prometendo entregar uma jornada com muita tensão, violência e momentos atormentadores. Uma jornada atormentadora foi entregue de fato, porém deslizes comprometem uma experiência marcada pela evidente tentativa de chocar, sem preocupar-se em perder a mão e cometer exageros dispensáveis ao meu ver.
Devo dizer aqui que os avisos antes do começo do jogo não são exagero. Martha is Dead é um título que aborda assuntos polêmicos de uma maneira muito agressiva. Para pessoas mais sensíveis, principalmente quem esteja passando por problemas (principalmente psicológicos), o jogo pode impactar de maneira negativa, não sendo recomendado.
Também é importante dizer que o jogo não foi completamente censurado no PlayStation. Isso significa que há sim censura, mas ela é opcional. Inclusive optei por jogar com tudo o que o título tem para mostrar e a cena polêmica - que causou a censura - foi exibida por completo.
Antes de continuarmos, gostaria de dizer aqui que sou apaixonado por horror, sendo um dos meus gêneros favoritos. Cenas de violência pura, horror psicológico e outros elementos são comuns para mim, porém eu os aceito quando bem explicados e bem utilizados. Devo dizer também que estava empolgado para Martha is Dead, inclusive considerando-o um dos títulos de terror mais promissores de 2022.
Trama atormentadora
A trama de Martha is Dead é atormentadora. Em momentos variados, mesmo sendo grande fã de horror, senti grande desconforto ao jogar o título. O grande ponto é que aqui esse desconforto é causado pela abordagem de assuntos muito sensíveis, com cenas completamente violentas.
Aqui o medo não é causado, na maior parte do tempo, por ser perseguido por um vilão como em Resident Evil, por exemplo, muito menos por qualquer outro elemento que seja mais característico em jogos de terror. Aqui a sensação de desconforto é transmitida por uma trama muito pessoal, repleta de reviravoltas e situações que não são o que de fato parecem ser, com o título apresentando um enredo de carga dramática muito forte.
Em variados momentos o jogo expõe onde um ser humano pode chegar e o que nossa mente é capaz de fazer, como quais armadilhas e pesadelos pode criar. Porém, ao tentar chocar, a trama do jogo também se perde em entregar momentos que eu considero de extremo mal gosto, ainda mais quando não percebemos que seja oferecido tempo suficiente para digerir certas etapas. Na busca de passar mensagens importantes, o título parece exagerar muito mais do que devia nas cenas e acontecimentos absurdamente bizarros, também parecendo se vangloriar de temas e situações de maneira um tanto sádica.
O jogo também se aproveita de cenas extremamente violentas, que podem ser consideradas de mau gosto, sem parecer dar explicação plausível para muitas delas. O gore e a violência em muitos momentos parecem apenas jogados na tela, sem muita preparação ou razão, com o único sentido de impactar. Isso pesa negativamente.
O horror é monótono
Devo dizer também que o horror de Martha is Dead é extremamente parado. Com o jogo podendo muito bem ser considerado um walking simulator, pelo menos em vários momentos, boa parte do jogo se resume a caminhar por um pequeno mapa e realizar objetivos que não exigem muito de você.
Com alguns desses objetivos sendo secundários, o título tenta oferecer certa liberdade para realizar mais atividades, porém senti que tais objetivos são completamente dispensáveis e contribuem muito pouco para o jogo. Nessa pegada de walking simulator, em sua primeira parte, podemos dizer, Martha is Dead é competente ao entregar um terror apavorante, que coloca o jogador para explorar áreas capazes de despertar o medo. Porém, não muito depois, o título me pareceu deixar totalmente tal proposta de lado.
A partir de determinado momento, a exploração assustadora e os momentos intimidadores dão espaço apenas para situações em que o desconforto é causado pela trama, com dúvidas da protagonista e os já citados exageros. Ou seja, se você espera um título de terror empolgante, com sequências para fugir de inimigos, encarar perigos ou qualquer elemento parecido, Martha is Dead não é uma opção. A proposta geral se torna outra.
A burocracia do gameplay foi longe demais
Com um gameplay bastante parado, Martha is Dead leva a "burocracia" para um nível muito insatisfatório. Não estou exagerando ao afirmar que, em determinado momento do jogo, é necessário se comunicar por código morse através de um telégrafo. Agora, entenda que o jogo até tenta ensinar o jogador sobre como fazer isso, porém de maneira muito rasa, o que torna a tarefa um tanto complicada. Confesso que tive de recorrer ao google para ser capaz de avançar, o que me pareceu ser completamente desnecessário e absurdamente desanimador.
Além disso, existem também outros momentos de muita "burocracia", como partes em que você precisa revelar fotos, por exemplo. Na minha opinião, os desenvolvedores também perderam a mão nesse sentido, oferecendo uma jornada com muitos momentos e mecânicas que desencorajam o jogador, tornando o ritmo extremamente lento e maçante.
Dualsense é acerto
Entre tantos problemas, o uso do dualsense é um acerto em Martha is Dead. Devo dizer que fiquei realmente impressionado com a forma como o controle foi aproveitado pelos desenvolvedores, pois está até mesmo acima do uso do Dualsense em diversos jogos maiores, incluindo grandes exclusivos de PlayStation.
Seja nas sensações ou nos sons, o controle é extremamente importante para transmitir uma boa imersão no título. Em suas mãos, você sente diferentes movimentos de maneiras variadas, que acabam acrescentando bastante ao gameplay, o que ajuda a tornar mais interessante algo que não possui muitos elementos para agradar.
Atmosfera tranquilamente bizarra
Outro acerto do jogo é a atmosfera tranquilamente bizarra. Uma vez que o título oferece uma jornada em que os maiores tormentos são apresentados realmente pela trama, a tentativa de oferecer certa tranquilidade ao jogador funciona.
Seja pela ausência de muitos sons, pela sensação muito grande de solidão em diferentes momentos e até mesmo por muitos objetivos que são como atividades do dia a dia, o título consegue entregar uma jornada bizarramente tranquila, transmitindo sempre a sensação de que algo há algo de sinistro ali, ainda que de certa maneira tudo pareça estranhamente calmo.
Martha is Dead: O veredito
Martha is Dead é parado e desnecessariamente burocrático. Por muitos momentos se arrasta mais do que deveria e diversas vezes acaba causando a sensação de cansaço no jogador.
Existe também uma necessidade muito grande de chocar, o que leva o enredo a abordar temas sensíveis de maneira um tanto estranha, como se quisesse os vangloriar. No mínimo fica a sensação de que o jogo não soube a maneira certa para abordar certos elementos da trama, os entregando de uma maneira muito crua e pouco aceitável.
Extremamente desconfortante e bastante atormentador, o título é uma jornada impactante, mas infelizmente isso pesa mais para o lado negativo. O jogo é certamente polêmico e pode ser considerado desnecessário por muitos jogadores. A verdade é que Martha is Dead parece ser um jogo de muito mau gosto.
Uma cópia digital do jogo foi cedida gentilmente pela Wired Productions. Análise feita no PlayStation 5*
- Tranquilidade sinistra é intimidadora
- O começo tem uma boa atmosfera apavorante
- Dualsense muito bem utilizado
- Extremamente parado
- Muita burocracia na jogabilidade
- Se arrasta mais do que deveria em diversos momentos
- Mecânicas cansativas
- Erra ao querer chocar demais e não fazer de maneira interessante
- Violência e gore jogados na tela, sem necessidade, apenas para impactar