Desenvolvido pela Pulsatrix Studios, Fobia - St. Dinfna Hotel será lançado amanhã (28) como o jogo brasileiro mais badalado da atualidade. Chamando a atenção dos fãs de survival horror, o título conseguiu destaque o suficiente para ser considerado um grande lançamento de 2022. Com muitas inspirações em obras do horror, de diferentes mídias, pegando muito de títulos como Resident e Silent Hill, Fobia não é uma grande inovação no gênero, mas utiliza bem muitos elementos já conhecidos e estabelecidos.

Os tropeços são existentes, e alguns acabam pesando de maneira considerável para um lado mais negativo da balança, porém ao entregar bastante qualidade em certos aspectos o jogo sabe se apoiar em seus pontos positivos para oferecer uma jornada interessante.

O hotel esconde muitos horrores (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)
O hotel esconde muitos horrores (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)

Os segredos do hotel

O jogo de terror psicológico, com muito foco em exploração de ambientes e solução de puzzles, coloca os jogadores no papel de Roberto Leite Lopes, um jornalista que resolve descobrir as respostas para os mistérios que envolvem o hotel Hotel Santa Dinfna, em Treze Ilhas, Santa Catarina.

Com uma trama que entrega diversos elementos como inimigos monstruosos, aparições sobrenaturais, artefatos poderosos e uma seita bizarra, Fobia se apoia na carreira de seu protagonista para revelar mais de si mesmo aos jogadores. Se Roberto é um jornalista, ele deve explorar as habilidades de sua profissão para descobrir mais. Sem enrolar para oferecer o sobrenatural ao jogador, Fobia já inicia seus acontecimentos aterrorizantes logo no início da jornada, após Roberto perceber que em uma semana no hotel não havia conseguido nenhuma resposta para suas perguntas.

A partir deste momento se inicia uma jornada para deixar o maldito lugar, enquanto segredos do passado vão sendo revelados ao jogador. É aí também que Fobia sabe brilhar. Enquanto boa parte da trama é revelada com o avanço na história, há muito para descobrir em documentos e papéis espalhados pelo hotel. Aqui temos um dos pontos mais interessantes do jogo, já que a exploração se torna muito mais cativante e interessante enquanto o jogador se sente recompensado em cada vez que descobre um pouco mais sobre St. Dinfna e sua história bizarra.

Não há uma obrigação de descobrir tudo para entender minimamente a trama, mas explorar em busca desses documentos certamente torna a trama de Fobia muito mais interessante e robusta, além de dar ao jogo muito mais qualidade de exploração. Boa parte da graça de se aventurar pelo hotel está justamente nesse elemento... encontrar mais, ler mais, descobrir mais.

Boa trama e excelente ambientação

Ainda sobre a trama, devo dizer que Fobia conta com um enredo realmente interessante, aparecendo entre os meus favoritos no gênero de survival horror. Descobrir mais, seja pelo avanço na história ou com os documentos, é sempre prazeroso pois aos poucos a história se explica de maneira muito fluida. História essa que sabe surpreender em muitos momentos. Os horrores do hotel aos poucos se tornam mais claros, com os segredos daqueles corredores desaparecendo na medida em que respostas bem escritas se apresentam ao jogador de maneira natural.

Além do impulso da busca pelas respostas, me senti ainda mais interessado na exploração dos ambientes com a excelente ambientação que Fobia oferece. Quartos variados, cenários repletos de detalhes, o medo e a tensão espreitando em cada instante... todo survival horror de respeito deve saber vender o horror só com o visual e ambientação de seus ambientes, e é exatamente isso que o jogo da Pulsatrix faz.

A excelente ambientação torna a exploração ainda melhor (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)
A excelente ambientação torna a exploração ainda melhor (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)

Embalado pela trama e ambientação, Fobia entrega ao jogador muito de Resident Evil. Você voltará aos mesmos cenários diversas vezes, vai correr para a sala de save para salvar seu progresso, vai procurar itens necessários para realizar tarefas e então ser capaz de avançar... a exploração mostra ter o suficiente para prender e envolver o jogador, fugindo de tornar-se repetitiva ou cansativa durante quase todo jogo.

A exploração se torna ainda mais interessante com puzzles variados e realmente desafiadores sendo oferecidos ao jogador. Fobia sabe quebrar a sensação de repetição, apesar de exigir alguns objetivos semelhantes, enquanto consegue entregar puzzles complexos e divertidos. Inclusive muitos desses puzzles podem tirar um bom tempo do jogador, já que muitas soluções não são óbvias. O importante é que o desafio se torna cativante e natural, exigindo raciocínio e dedução de maneira satisfatória.

A câmera é uma mecânica bastante interessante

A câmera de Roberto é certamente um dos pontos mais positivos do jogo, já que aqui temos uma mecânica interessante e muito bem utilizada. O item serve para revelar um outro mundo, ou melhor, ligar os dois mundos.

Usar a câmera é interessante (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)
Usar a câmera é interessante (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)

Com a câmera, Roberto consegue ver diferenças nos ambientes, incluindo senhas, cofres e até mesmo passagens secretas de extrema importância. Além das mudanças visuais que muitos cenários exibem quando o jogador os observa com a camera, é interessante ver que a mecanica realmente foi bem aproveitada quando falamos em gameplay e avanço na trama. Assim o jogo também consegue dar ainda mais variedade para a exploração de ambientes, além do item ser um elemento importante para Fobia tornar ainda mais constante a sensação do envolvimento com o sobrenatural.

É importante lembrar que a câmera tem muito para revelar, incluindo detalhes que podem passar despercebidos e são úteis, então o elemento se torna muito utilizado pelo jogador. Faz total diferença no gameplay.

Chefes e inimigos deixam a desejar

Apesar dos acertos, infelizmente Fobia também apresenta erros que não consegui ignorar durante minha jornada pelo hotel. O primeiro que percebi tem relação com os inimigos enfrentados no jogo. Enquanto a jogabilidade com armas não apresenta problemas, e é inclusive satisfatória, os combates se tornam pouco interessantes com a falta de variedade de monstros e com a fraca inteligência artificial que temos aqui.

Você passará o jogo inteiro dando de cara com as mesmas criaturas, que são extremamente lentas e pouco inteligentes. Não senti desafio nesses momentos. Os monstros são capazes de realizar investidas rápidas que causam bastante dano, porém as utilizam com pouca frequência. Além disso, sua lentidão faz com que esses ataques sejam bastante raros, já que o jogador normalmente se livra dos inimigos sem maiores problemas. Em alguns momentos, também vi os monstros andando na minha frente, de lado para mim, levando um tempo considerável para enfim se virar em minha direção. Assim como em outros momentos, percebi inimigos que ficavam parados, me encarando por alguns segundos enquanto praticamente esperavam por minhas balas. Esses oponentes também não possuem ataques diferentes, o que os torna ainda menos ameaçadores.

Os chefes são decepcionantes (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)
Os chefes são decepcionantes (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)

Ainda no combate, chegamos em outro problema que são as lutas contra chefes. Pouco interessantes, esses momentos também praticamente não exigem nada do jogador e se mostram esquecíveis. Os chefes também parecem aguardar por suas balas, enquanto pouco fazem para ferir o jogador, o que os deixa muito longe de proporcionar algum desafio verdadeiro. Seus movimentos e ataques também são pouco interessantes, como se houvesse faltado mais inspiração. Em alguns confrontos vi até mesmo chefes se teletransportando ou sumindo da tela de maneira repentina.

Além disso, senti que o jogo oferece também muita munição para o jogador, o que torna cada confronto ainda menos desafiador já que balas não faltam.

Muito de Resident Evil

Fobia bebe da fonte de muitas obras de terror, mas particularmente vi muito mais de Resident Evil aqui, o que não é um problema. Os elementos consagrados em RE presentes no jogo brasileiro, felizmente, são bem utilizados.

Exploração de ambiente, liberar mais espaços no inventário com pochetes, a busca por chaves e senhas para avançar, a forma como os itens são utilizados, a organização do inventário, efeitos visuais e sonoros, além de muitos outros elementos certamente farão com que os fãs da franquia da Capcom lembrem-se de seus momentos da saga de survival horror. O importante é que Fobia está longe de parecer uma cópia, pois sabe utilizar o que o gênero oferece de maneira própria.

Muitos momentos lembram Resident Evil (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)
Muitos momentos lembram Resident Evil (Imagem: Oficina da Net/ Gregory Felipe)

Dublagem em PT-BR poderia ser melhor

Antes de finalizarmos, acho interessante citar um ponto que me incomodou um pouco durante a jornada. Enquanto conta com excelentes dubladores para alguns de seus personagens, Fobia não é capaz de entregar a mesma qualidade a todo tempo. Em muitos momentos o nível de dublagem cai bastante e a atuação acaba atrapalhando a imersão do jogador.

A dublagem do protagonista também deixa a desejar, por estar abaixo de outros personagens menos importantes da trama. Enquanto em boa parte do jogo temos um nível muito profissional, outros diálogos são afetados de maneira negativa.

O veredito

Fobia - St. Dinfna Hotel tem como destaque a boa trama e a exploração de ambientes, mantendo o jogador sempre interessado na busca para descobrir mais. Pegando um pouco de franquias consagradas, o título se mantém interessante até o fim da jornada, apesar do combate ser bastante problemático. Os inimigos são esquecíveis, porém os puzzles oferecem a verdadeira qualidade do jogo. Uma jornada interessante de horror.

Fobia - St. Dinfna Hotel
7.5
Prós
  • Ótima ambientação
  • Trama muito interessante e envolvente
  • Boa exploração de ambientes
  • Bons puzzles
Contras
  • Combate pouco interessante
  • Poucos inimigos
  • Inimigos pouco interessantes
  • Chefes esqueciveis
  • Dublagem poderia ser melhor