Anunciado em 2014 pela Ebb Software, Scorn chegou ao mercado em um mês bastante movimentado, acompanhado por gigantes que podem ofuscar sua existência. Para um jogo que contou com a ajuda de financiamento coletivo, é bastante complicado ser lançado no mesmo mês em que títulos como Overwatch 2, A Plague Tale: Requiem e Call of Duty: Modern Warfare 2 também são oferecidos ao público.
O fato é que, assim como outros pequenos entre gigantes, Scorn conseguiu visibilidade para buscar seu espaço no último trimestre de 2022. Sendo um título day one do Game Pass, o jogo também atraiu a atenção de muitos assinantes do serviço. Com a promessa de aterrorizar, Scorn se vendeu como terror, mas não sustenta a si mesmo. Se conseguiu badalação antes do lançamento, por outro lado o jogo corre seriamente o risco de ser esquecido rapidamente em meio a avalanche de títulos que temos em outubro. Como um grande fã de terror, com este sendo o meu gênero favorito, devo afirmar que o jogo da Ebb Software nem sequer faz o mínimo para assustar ou encaixar-se, de fato, na proposta do horror. Scorn é apenas incômodo, de diversas maneiras, o que o torna inesquecível.
Puzzles interessantes, mas não o suficiente
Scorn certamente vê nos puzzles sua melhor característica, uma vez que toda sua estrutura parece combinar com os quebra-cabeças elaboradoras e desafiadores que o jogo apresenta durante a jornada. É preciso entender que Scorn nunca pega a mão do jogador, e pelo bem ou pelo mal, é um jogo que não se preocupa em ensinar elemento algum para quem se aventura nesta tentativa frustrada de ser horror.
Deixar o jogador por conta própria desde o começo do jogo, de fato, é uma ideia interessante que parece combinar com a ideia de entregar ao público um título que foca na solução de puzzles complexos. Porém, parte do brilho deste elemento se perde quando, entre puzzles excelentes, muitos desafios também se mostram pouco cativantes. Além disso, é interessante a maneira como o jogo utiliza os ambientes para tentar indicar ao jogador o que deve ser feito, mas é comum sentir que em certos momentos a falta de ajuda se torna um fardo, já que a diversão não parece estar presente nestas etapas e não há nada que realmente motive o jogador a quebrar a cabeça para encontrar as soluções necessárias.
Dentro da ideia de deixar o jogador por conta própria, o jogo também segue por este mesmo caminho quando falamos sobre a trama apresentada aqui. Os ambientes e cenários são partes de um grande quebra-cabeças, e é desta maneira que o jogador compreende - ou não - aos poucos o que está acontecendo. Porém, devo dizer, aqui também voltamos ao problema da falta de motivação para seguir empolgado na busca por mais. Como Scorn parece se esforçar muito pouco para cativar, descobrir mais sobre este mundo e seus horrores se torna muito menos interessante do que poderia ser, e assim a jornada se mostra arrastada e cansativa. Ansiei pelo momento em que finalmente subiriam os créditos, pois nada aqui me parecia convidativo.
Péssimo combate
Scorn se mostra ainda mais cansativo quando percebemos o quanto seu combate é desnecessário e ruim. A sensação que fica é que a jornada se beneficiaria muito mais caso abandonasse a ideia, propondo apenas a solução de puzzles aos jogadores, buscando ser mais contemplativa e esquecendo de focar na ação, que aqui não funciona de maneira alguma.
Ficar sem vida é algo que acontece com frequência, assim como o mesmo serve para a munição. O que em muitos jogos poderia ser considerado um elemento interessante para o desafio, em Scorn se mostra uma escolha terrível quando combinada com todo o resto. Um sistema de progressão era muito necessário aqui, mas ele não existe. Agora, junte estes problemas ao fato do combate também não oferecer diversão alguma, enquanto sua vida é consideravelmente pequena e suas armas se mostram muito menos úteis do que deveriam ser.
Completando o show de horrores que acompanha o combate do jogo, os pontos de save do título por vezes são muito distantes. Neste cenário, em diversas mortes - que são muitas - você retorna para um ponto do qual já havia passado 10 minutos antes ou mais. É cansativo. E quando falamos de inimigos todos são completamente esquecíveis, o que inclui o único chefão que você enfrenta na jornada. Não há nada que justifique a existência do combate, pois o mesmo não consegue se destacar de nenhuma maneira... pelo contrário, apenas atrapalha - e muito -.
Visual e o desconforto constante
Ao menos Scorn acerta na ambientação em muitos momentos. Contando com um bom visual, o título consegue passar ao jogador a sensação de desconforto de forma constante. A arquitetura biopunk serve sempre como um aviso de que aquele lugar é inóspito, e que você não deveria estar ali. Se em muito o jogo peca, na direção de arte temos um acerto interessante, que oferece ao título um visual que tenta sustentar a jornada por conta própria.
Na medida em que o jogador percebe que Scorn peca na tentativa de ser um horror, pois não é capaz de assustar, também fica sempre evidente que há algo incômodo a cada momento do jogo, e tal sensação é proporcionada pelos cenários e ambientes sombrios e imponentes, repletos de bizarrices de uma arquitetura totalmente cruel.
E assim como os cenários foram feitos para criar desconforto, o título aposta nisso em muitos momentos na tentativa de se provar como horror. Scorn usa e abusa de gore, com muitos momentos absurdamente nojentos e terríveis, na esperança que tal característica o faça se encaixar em um gênero que nunca de fato chega a pertencer. Gore e nojeiras não assustam quando apenas aparecem na tela sem qualquer elemento que seja capaz de sustentar ou dar peso para tais momentos. Ser desconfortante nem sempre é um ponto positivo, se não houver nada de proveitoso que possa ser tirado disso. Scorn tenta chocar pelo caminho da bizarrice, mas perde a mão e parece não entender como ser um terror de verdade.
O veredito
Scorn prometeu ser terror, mas não foi capaz de cumprir. É bonito e a princípio entrega uma proposta interessante, sem nunca pegar na mão do jogador, mas se mostra cansativo e arrastado com diversos tropeços.
Não há acertos que superem os erros aqui. A jornada é decepcionante.
Nota: 6.5/10
Prós
- Boa ambientação
- Puzzles interessantes
Contras
- Péssimo combate
- Extremamente cansativo
- Não cativa de nenhuma maneira
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