Lançado originalmente apenas no Japão, Like a Dragon: Ishin!, jogo da franquia conhecida ao redor do mundo como Yakuza, finalmente chega em outras regiões com um remake desenvolvido na Unreal Engine. Abandonando os tempos atuais, o título vai diretamente para o passado, em um Japão no qual os samurais ainda andavam pelas ruas e os conflitos eram resolvidos com espadas.
Durante sua jornada ambientada em 1860, você perceberá que o novo jogo da SEGA oferece um conteúdo extremamente robusto, com uma campanha principal consideravelmente grande e uma série de atividades secundárias que se mostram muito interessantes. Like a Dragon Ishin! chega para consolidar-se como um dos grandes lançamentos do ano.
Sakamoto Ryoma
Em Like a Dragon: Ishin! os jogadores acompanham uma trama repleta de rostos conhecidos, da franquia Yakuza, que aqui assumem outros papéis. No protagonismo temos Kazuma Kiryu, que agora é Sakamoto Ryoma, um samurai que embarca em uma jornada de vingança e justiça, enquanto também deseja mudar o destino do país com um sonho de igualdade.
Em um único capítulo, Ishin! apresenta o que servirá como o grande pilar de sua trama inteira. Ryoma é acusado de um assassinato que não cometeu, e assim precisa tornar-se um fugitivo para recuperar sua honra e vingar um ente querido. Neste cenário, você embarca em uma jornada que apresenta inúmeras reviravoltas do início ao fim, com o enredo do jogo se provando bastante elaborado e cativante. Like a Dragon: Ishin! consegue introduzir novos personagens na trama com certa facilidade, tornando-os úteis para o prosseguimento do enredo.
E por falar em personagens introduzidos, eles são muitos. Ishin! não poupa nomes e rostos, colocando o jogador frente a frente com aquilo que chamamos de personagens cinzas, ou pelo menos algo perto disso. Em Ishin!, é difícil entender rapidamente quem é seu aliado e quem é seu inimigo, assim como o jogo quebra suas expectativas e convicções repetidamente, apresentando reviravoltas e revelações que mudam o rumo das coisas e mudam também a forma como você vê certos personagens.
Ishin! é longo. Com foco na campanha principal você muito provavelmente ultrapassará as 20 horas de jogo, e um dos grandes trunfos do título é ser capaz de manter o enredo interessante a cada novo capítulo. Sempre há um elemento novo, sempre há um acontecimento que muda a estrutura da trama, e tudo se fecha de maneira satisfatória na medida em que você avança na jornada e consegue mais respostas.
Mas, o jogo também não consegue escapar de alguns problemas. Aqui, algo que pode ser complicado é a avalanche de organizações e nomes diferentes que surgem durante a trama. Se por um lado tudo é muito cativante e bem desenvolvido, também pode ser comum o jogador se confundir em alguns momentos, com informações em excesso. No Brasil, tal fato pode se tornar mais problemático já que o título não conta com legendas em PT-BR.
A habilidade do samurai
Se consegue elogios devido ao enredo e personagens, Like a Dragon: Ishin também deve ser valorizado por seu ótimo combate. Sakamoto Ryoma possui quatro estilos diferentes de luta, e cada um parece impactar diretamente no gameplay, ainda que você perceba que na verdade passará quase o jogo inteiro usando apenas duas opções.
Os estilos disponíveis para Ryoma são Brawler (apenas punhos, sem armas), Gunman (apenas armas de fogo), Swordsman (apenas espada) e Wild Dancer (espada e revólver). Você provavelmente usará Brawler apenas nos momentos em que o jogo exigir que armas letais não sejam utilizadas, assim como Gunman se mostra pouco útil com a existência de outro estilo onde armas de fogo e espadas se misturam.
No entanto, não pense que o sistema de estilos é dispensável. Embora duas opções sejam pouco proveitosas, elas ainda funcionam de maneira muito única, e o brilho se torna ainda maior quando comparamos Swordsman e Wild Dancer. Como o estilo Swordsman, você poderá bloquear ataques com a espada e realizar golpes muito mais poderosos, que dão um dano maior. No entanto, seus movimentos são mais lentos, o que inclui sua esquiva. Já com Wild Dancer, além de disparar tiros com o revólver, você realiza golpes muito mais rápidos e consegue desviar de ataques com mais facilidade.
É bem interessante, e divertido, perceber o quanto cada estilo de luta muda o combate. É satisfatório notar que para cada desafio você terá uma opção que seja mais útil, principalmente durante as lutas contra chefes. Desta maneira, Like a Dragon: Ishin! entrega um combate bastante funcional e divertido, que se mantém variado e interessante até o final da jornada, principalmente com a progressão de seu personagem, que faz com que você possa liberar novas habilidades e combos. Vale lembrar que mudar os estilos de luta durante os confrontos é muito fácil e prático.
Habilidades e chefes
Ainda falando sobre o combate do jogo, temos mais motivos que tornam Like a Dragon: Ishin um título bastante competente nos sentidos mais variados. Normalmente, algo que levo muito em consideração em um jogo é sua árvore de habilidades, e fico extremamente satisfeito quando vejo que o título entrega algo que realmente faz a diferença na evolução do meu personagem, oferecendo habilidades e golpes que não são dispensáveis. Felizmente, Ishin! sabe fazer isso muito bem.
Conforme você utiliza os estilos de combate, você ganha os pontos de habilidade que podem ser utilizados especificamente para cada um deles, além de ganhar também os "training orbes" que são pontos de habilidades que podem ser utilizados em qualquer um dos estilos. Ao longo do jogo, você percebe que utilizar os pontos gera um impacto real na jogabilidade, seja aumentando o poder de seus ataques ou desbloqueando novos combos e movimentos. Ryoma também conta com ataques especiais que podem ser realizados quando você carrega seu Heat, o que torna tudo mais variado e possibilita que golpes mais poderosos sejam utilizados nos inimigos.
Em um jogo no qual o combate é competente e a árvore de habilidades também, tudo ganha ainda mais peso quando enfrentamos os chefes, e por aqui são muitos. Entre chefes e mini-chefes, você encara diversos inimigos que possuem diferentes tipos de movimento e características. Conforme o jogo apresenta novos desafios, você deve se adaptar em cada combate e escolher o estilo de luta ideal para enfrentar cada oponente. As boss battles se mostram muito empolgantes em sua grande maioria, apresentando combates variados e bem desafiadores.
Assim como Ryoma possui estilos diferentes de luta, cada boss também apresenta movimentos próprios que fazem com o jogador tenha a sensação de que os confronto contra chefe são únicos e muito divertidos. A única sensação de repetição aparece com alguns chefes que você enfrenta mais de uma vez, percebendo que os combates são quase idênticos, mas isso não chega tirar o brilho das boss battles variadas.
Uma Kyo repleta de possibilidades
Enquanto explora Kyo, você perceberá que o jogo oferece conteúdo em abundância. Se a campanha principal já é o suficiente para alcançar horas e horas de jogo, com as atividades secundárias isso se expande ainda mais de maneira considerável.
Porém, o que pode causar descontentamento no jogador é o fato de em certos momentos as missões secundárias se apresentarem de maneira "intrusiva", com uma cena iniciando sem que o jogador tenha optado por isso. Assim um diálogo se inicia, às vezes até mesmo em momentos nos quais o jogador está andando pelas ruas de Kyo com pressa para chegar ao lugar onde avançará na campanha principal.
Tirando este fato, as missões secundárias devem ser valorizadas pela grande variedade. Crianças pedindo ajuda, estranhos querendo conversar, pessoas precisando de defesa... essas histórias podem entregar tanto algo mais sério quanto algo mais voltado para o humor, e são um prato cheio para quem deseja explorar Kyo com tranquilidade enquanto simula uma verdadeira vida no papel de um samurai.
Além disso, o jogo ainda oferece uma enorme lista de minigames, algo que já é característico da franquia Yakuza. Ryoma pode dançar, apostar, participar de corridas de galinhas e muito mais. São muitas atividades que tornam o título mais robusto e muito mais atrativo para quem deseja dividir o tempo entre a campanha principal e outras possibilidades mais descontraídas.
Alguns problemas e um pouco desbalanceado
Apesar dos muitos acertos, Like a Dragon: Ishin! também possui alguns problemas. Durante a jornada, percebi quedas de frames em algumas cenas, assim como foi extremamente comum ver NPCs sumindo ou aparecendo de maneira mágica em diversos momentos do jogo, principalmente na transição para cenas ou diálogos. Além disso, as texturas também se mostraram problemáticas em diferentes cutscenes, com o famoso pop-in.
Outro problema do título é o fato de que Ryoma é chamado para a briga por muitas pessoas nas ruas de Kyo, o que acaba se tornando cansativo. São muitos os grupos que iniciam um confronto automaticamente, e muitas vezes você não conseguirá escapar. Em determinado momento da jornada, o jogador pode se cansar desses combates que não significam nada e passam a estar ali apenas para tirar seu tempo.
O título também mostra um pouco de problema no balanceamento quando você percebe que a partir de certo ponto da aventura, após você ter upado bastante o personagem, a maioria dos inimigos comuns se torna presa fácil. Com os pontos de habilidades distribuídos e com armas mais poderosas, você passa a eliminar os oponentes mais simples com extrema facilidade, o que tira um pouco do desafio, principalmente na reta final da jornada.
O veredito
Like a Dragon: Ishin! é um jogo robusto e muito competente. O bom enredo, repleto de reviravoltas e personagens interessantes, mantém sempre vivo o interesse do jogador em prosseguir na trama. Com um ótimo combate, o título entrega muita variedade nos confrontos e consegue oferecer uma ótima sensação de recompensa após cada boss battle vencida.
Com muito conteúdo, o jogo publicado pela SEGA é um prato cheio para os fãs de Yakuza e uma ótima maneira de apresentar a franquia para novos jogadores.
- Enredo cativante
- Ótimo combate
- Boa árvore de habilidades
- Boss battles divertidas e variadas
- Muito conteúdo
- Texturas problemáticas
- Combates em excesso nas ruas de Kyo
- Quedas de frames
- Avalanche de nomes e informações pode confundir um pouco