Palworld já é um sucesso, e isso não pode ser contestado. Após surgir como um meme por ser o "Pokémon com armas" e viralizar ainda mais no Brasil devido ao espirito de quinta série despertado pelo nome cômico das criaturas, o jogo na verdade provou ser muito mais do que uma piada e agora já é uma realidade, para o bem ou para o mal. Palworld é o caso de um sucesso inesperado, ainda que a popularidade atingida antes de seu lançamento apontasse para um caminho como este.
No meio deste sucesso surpreendente, números impressionantes e uma base de jogadores cada vez maior, o game desenvolvido pela Pocket Pair também é o grande protagonista de polêmicas que geram muita discussões entre os jogadores, com a internet dividida entre aqueles que defendem os acertos do projeto e aqueles que não perdoam o suposto plágio e uso indevido de IA.
Neste cenário, outra afirmação que podemos fazer é que Palworld chegou para expor toda a hipocrisia que existe na indústria dos videogames, seja por parte de grandes estúdios, equipes menores ou até mesmo dos jogadores. Sim, há muita hipocrisia e as situações costumam ser interpretadas com pesos diferentes de acordo com gostos pessoais e outras questões que vão ainda mais longe.
As acusações de plágio
De um lado tempos a hipocrisia das acusações, com Palworld sendo o alvo de críticas pesadas por supostamente ter copiado Pokémon, uma das franquias mais famosas da Nintendo. De fato, e isso é completamente inegável, existe uma grande sensação de que que Palworld no mínimo se inspirou de maneira profunda na famosa franquia dos monstrinhos, para não dizer outra coisa.
No entanto, quando vemos tantas acusações fervorosas em diferentes redes sociais e plataformas, não é possível deixar de pensar no quanto a indústria dos videogames repete situações com posições alternadas, e tal fato as vezes passa despercebido. Pokémon por sua vez, há muito tempo, já teve forte inspiração em Dragon Quest, o que todos os fãs antigos já sabem muito bem.
A grande questão é que Pokémon em sua época teve Dragon Quest como inspiração, assim como veio a servir como franquia inspiradora para diversos outros projetos como Nexomom, Bagdex e tantos outros. A hipocrisia aqui colocamos na conta das acusações contundentes feitas contra Palworld, já que, parece dificil afirmar o que a indústria costuma classificar como plágio ou inspiração. Tudo parece depender do humor dos fãs e do quanto cada projeto conquistará a simpatia ou antipatia do público.
Neste cenário onde, desta vez, a inspiração (ou plágio) não passou despercebida e ninguém resolveu fechar os olhos, até mesmo a Pokémon Company foi obrigada a se pronunciar, como se recebesse um chamado dos fãs, talvez até mesmo sabendo que precisaria jogar para a torcida. Até mesmo a Big N pode saber que não dará em nada. E o passado de Pokémon já colocou a marca no lado oposto da situação, em um momento que talvez a balança tenha caído para um lado positivo por pura sorte.
O uso indevido de inteligência artificial
A situação de Palworld fica muito mais complicada quando entramos nas outras acusações, que elevam o plágio para um nível que realmente atingiria o inaceitável. Nas últimas semanas, a Pocket Pair foi acusada de utilizar inteligência artificial indevidamente, com ferramentas que faziam uma "fusão" entre tipos diferentes de Pokémon para criar Pals.
Tudo se torna ainda mais grave com a acusação de que um dos títulos anteriores da Pocket Pair, chamado de AI: Art Imposter, criava supostas novas artes usando obras já existentes. Assim, chegamos na hipocrisia da Pocket Pair que, ao mesmo tempo que precisa defender a ideia de que criou algo original, também tem uma postura questionável com relação ao uso indevido de IA.
No X, o perfil de Takuro Mizobe, CEO da Pocket Pair, exibe textos que mostram Mizobe defendendo de maneira direta a inteligência artificial, garantindo que atualmente não é fácil diferenciar Pokémon oficiais de criaturas geradas com IA. No X, Takuro Mizobe ainda argumentou que muitas vezes a imagem "não é de uma coisa específica" e afirmou que o "problema dos direitos autorais" pode ser resolvido, dizendo acreditar que nos próximos 30 anos o público poderá ser a favor de criações com inteligência artificial após grandes mudanças nos direitos autorais.
É como se houvesse uma tentativa, talvez não intencional, de criar uma explicação para uma prática que obviamente não está dentro do aceitável. O uso da IA derrubaria por completo qualquer narrativa de que Palworld apenas se inspirou em Pokémon, jogando a questão para um território muito mais complexo e complicado.
AIが進化し過ぎてて、どっちがポケモンかもう分からない。。。
— Takuro Mizobe | Craftopia, Palworld (@urokuta_ja) December 15, 2021
←左 AIが生成したポケモン風モンスター
→右 本物のポケモン(イルミーゼ、ミノマダム、ハリーセン、カリキリ) pic.twitter.com/PL6ikWhlFU
O público não se importa
O público, por sua vez, também tem sua parte em toda essa hipocrisia. O avanço da inteligência artificial é criticado por muitos hoje em dia, com razão, e as campanhas contra o uso indevido se tornam cada vez mais comuns, em áreas e funções variadas.
No entanto, mesmo com a polêmica, Palworld segue apresentando números cada vez mais impressionantes, o que deixa uma mensagem direta: o público não liga. No fim do dia, não importa se estamos diante de um caso de plágio, diante do uso indevido de IA ou diante de qualquer situação polêmica, o que importa é o quanto o resultado final vai agradar, seja pelo humor, seja pela qualidade ou seja por qualquer motivo.
E não me entenda mal, o público está no seu direito. Ninguém deixará de comprar Palworld, afinal, que diferença você vai fazer se o jogo já é um sucesso? E assim, os números crescem. Os jogadores são livres para decidir quais projetos apoiam, e julgar qualquer pessoa por adquirir algum título não é a função de ninguém, no entanto, também precisamos entender que a indústria muda de maneira repentina. Situações que parecem inaceitáveis e antiéticas são esquecidas com facilidade.
Quem está certo?
É a pergunta de ouro. A situação é interpretada de maneira pessoal por cada indivíduo, e cada um decide o que está dentro do aceitável para si mesmo.
A grande questão é que nesta indústria, assim como em muitas outras, nem sempre as mesmas bandeiras são defendidas. Cada situação parece ter suas próprias regras e pesos. A régua não é a mesma.
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