A conexão do tipo P2, popularmente conhecida como "plug para fones de ouvido", tem vida longa em dispositivos eletrônicos. Até que, influenciadas pela Apple e seu iPhone 7, fabricantes de smartphones começaram a dispensá-la, desagradando a quase totalidade do público. A ideia principal era a de que estávamos migrando para um mundo sem fios, mas também houve a crença de que poderíamos adotar outros padrões de conexão, como o USB-C.

Esse formato, que visa à praticidade e à universalidade, já está presente em grande parte dos smartphones modernos e começa a surgir com força em notebooks e outros dispositivos. Seria uma forte alternativa para substituir o P2, servindo como um hub unificado em nossos telefones, que podem recarregar, transferir dados ou tocar músicas através dele. Do ponto de vista leigo, parece até simples: um plug universal como o USB-C seria ótimo para uma migração dessa magnitude. Na prática, entretanto, não funciona bem assim. Existe uma série de entraves técnicos na adoção desse padrão que tornaram as coisas mais difíceis.

Razer Hammerhead ANC
Falando de forma genérica, o USB-C não aproveita as capacidades de áudio embarcadas num smartphone como o bom e velho P2 o faz - temos um artigo aqui no Oficina da Net que trata dessa diferença técnica, leitura recomendada. Além disso, os cabos do tipo C podem conter especificações internas diferenciadas, que os fazem operar certas funções em alguns smartphones, mas não em outros. A diferença de parâmetros é algo impactante para o mundo da informática como um todo, em que a variação de capacidades em um mesmo plug causa confusão em usuários e empresas. Essas questões, entre algumas outras, criaram um cenário pitoresco em que diferentes fones USB-C não são universais, funcionando apenas em dispositivos específicos. Quão estranho é usar um acessório como esses em seu celular, mas não poder plugá-lo normalmente no notebook?

Todo esse contexto se reflete em uma espécie de esvaziamento recente de produtos nessa categoria. Não existem muitas opções e, sobretudo, inexiste um fone que sirva de chamariz para o nicho, não por ser o melhor em qualidade sonora, mas por popularidade e preço razoável. Em outras palavras, não existem os "Walkmans" do USB-C, ou os "AirPods" do USB-C para puxar a indústria. É curioso notar que nem o Google, que removeu o P2 de seus últimos smartphones Pixel, foi capaz de introduzir um modelo apropriado para as massas. O reflexo desse marasmo foi notado este ano na Consumer Eletronics Show, a famosa feira CES: não houve nem rastro de fones USB-C em exposição.

OnePlus Type-C Bullets
Em paralelo a isso, inicou-se uma tendência para a qual não há volta. Fones bluetooth totalmente sem fios ("True Wireless" ou TWS) começaram a se popularizar. Os já citados AirPods da Apple são um grande símbolo desse tipo de produto, com qualidade boa o suficiente e praticidade para uso diário. Contudo, é um item mais bem aplicado a quem tem iPhones, e não dá conta de um público mais abrangente. O que ocorria é que opções similares de outras empresas eram escassas há algum tempo, além de não apresentarem boa performance. Mas isso mudou dos últimos 2 anos pra cá, quando se observou uma explosão de fones TWS feitos por empresas grandes ou pequenas, muitos deles com preços acessíveis e desempenho apropriado. Ainda não existe uma facilidade de encontrá-los tão grande quanto os onipresentes fones P2, mas a projeção é de que o crescimento seja constante. No Brasil, todas as marcas mais famosas já lançaram ao menos um modelo TWS, e opções importadas da China também ajudam no desenvolvimento da cena - oi, QCY e BlitzWolf.

FYE7, fones TWS da chinesa BlitzWolf
A impressão que fica, atualmente, é a de que fones de ouvido USB-C são um mercado incipiente que nunca ganhará consistência, uma novidade que já surge sem fôlego. De forma análoga, eu os comparo ao surgimento dos discos Blu-Ray, introduzidos pela Sony como grande sucessores do DVD. Você lembra? O padrão foi estabelecido numa época em que a curva de popularidade dos leitores de disco já era descendente, dada a ascensão dos serviços de streaming para áudio e vídeo. O Blu-Ray acabou virando um padrão para discos, porém, desconhecido e de uso restrito, dado o novo rumo adotado pela indústria na distribuição de mídia.

Para os curiosos, ainda é possível listar algumas alternativas razoáveis de fones USB-C. Sem o intuito de abranger todas as possibilidades, vão aqui alguns modelos que podem interessar aos que, por algum motivo, queiram investir nessa conexão:

  • OnePlus Type-C Bullets: da chinesa OnePlus, vem este modelo que seria algo próximo do que se imaginam como fones universais, aptos a conquistar um grande público. Os Type-C Bullets têm preço ajustado, em torno de 25 dólares, oferecem compatibilidade bastante extensa e trazem bom design, com cabo "flat" e ergonomia elogiada.
  • Razer Hammerhead ANC: também feitos por uma empresa famosa, os Hammerhead ANC têm como trunfo o cancelamento ativo de ruído, avaliado como competente para a categoria. Também apresentam a assinatura Razer em sua construção, com logotipo brilhante e construção robusta.
  • AIAIAI TMA-2 MFG4: opção on-ear com bonito design minimalista, oferecem boa qualidade sonora e fixação adequada. Além disso, têm componentes substituíveis, o que dá maior longevidade ao investimento.

AIAIAI TMA-2 MFG4
Os três itens mencionados, obviamente, não encerram a gama de disponibilidade em USB-C. São produtos com algum potencial para atingir público amplo, embora isso nunca deva se concretizar numa época em que só se fala dos TWS. Além deles, é claro, uma grande e natural possibilidade é a de se utilizarem adaptadores USB-C para P2 e se continuar usando a imensidão de modelos tradicionais que já estão disponíveis há tempos, e que certamente não nos darão adeus a médio prazo. É estranho dizer isso, mas, neste caso, longa vida aos adaptadores.