Cabos para fones de ouvido é um assunto muito controverso e ao mesmo tempo mal explicado. Há aqueles que acreditam que não vale a pena investir em um cabo alegando que não há melhorias o suficiente para justificar o gasto, mas também existem aqueles que acreditam que a compra de um bom cabo possui um retorno interessante para as audições com o fone de ouvido. Pensando nisso, falarei neste artigo sobre o porquê é interessante um upgrade do cabo do seu fone de ouvido.
Um cabo não se resume a somente uma característica a ser analisada para julgar se vale a pena ou não a sua compra. É necessário entender que há outras características que influenciam no valor do cabo, visão que a maioria das pessoas não tem.
Melhor qualidade com cabos novos e bons
O que você precisa primeiramente buscar em um bom cabo não é se ele irá trazer uma sonoridade melhor para o seu fone de ouvido ou não, e sim a experiência de uso proporcionada como um todo devido a diversos fatores. Ao analisar um cabo, você deve observar fatores como, por exemplo, a qualidade dos conectores (exemplo: 2-pin, MMCX) [1] e terminações (exemplo: 3,5mm, 2,5mm, 4,4mm), a flexibilidade dos fios, a microfonia gerada pelo cabo, o peso do Y-split (divisor em "Y"), o material do cabo (fios, borracha que envolve os fios), a qualidade da solda utilizada e como ela foi feita, o peso dos cabos em si e o seu comprimento do cabo (de acordo com o uso que será feito pela pessoa).
Observando as características mencionadas acima, você poderá comparar os cabos de maneira mais clara ao ler os depoimentos de usuários e características de cada modelo. Pois o objetivo aqui é ter um cabo que seja durável, fácil de manusear (maleável), que não atrapalhe durante as audições (geração de microfonia ou com comprimento exagerado), que seja confortável (qualidade do material, maneira como é feita a construção do cabo e seu peso).
[1] Artigo "O que são conectores 2-Pin e MMCX? Onde eles são utilizados?"
Qualidade dos conectores e terminações de um cabo
É importante que os conectores (exemplo: 2-pin, MMCX) tenham uma certa qualidade, pois do contrário, podem quebrar ou entortar com certa facilidade. A maioria dos cabos stock (que vem com o fone) dos in-ears com cabo removível com conector 2-pin, possuem os pinos com uma espessura entre 0,73mm e 0,80mm. Pesquisas da fabricante de cabos premium Effect Audio mostraram que a espessura de 0,78mm é a mais adequada, pois garantem uma durabilidade maior (não quebram) e também oferecem uma melhor conectividade. Cabos com conectores 2-pin com espessura menor que 0,78mm tendem a ser menos duráveis, enquanto os com espessura maior que 0,78mm tem tendência a danificar os in-ears custom.
Quando um conector é bom, além de precisar de uma grande força para entortá-lo, é possível desentortá-lo com um alicate sem que ele quebre. Já me aconteceu de, por acidente, puxar o cabo e entortar o conector 2-pin do meu fone in-ear custom, mas como o material dele era de qualidade, consegui facilmente consertar sem maiores problemas. Confira abaixo um vídeo exemplificando a importância disto:
O mesmo ocorre com as terminações de um cabo (exemplo: 3,5mm, 2,5mm, 4,4mm), se não forem de um bom material, podem entortar e se quebrarem facilmente. Além disso, é importante analisar do que é composto a terminação do cabo, para que não haja má condutividade do sinal elétrico analógico.
Dica bônus: Quando estiver difícil de retirar o conector do cabo que se encaixa no fone de ouvido in-ear (MMCX ou 2-pin), uma coisa que pode facilitar é a utilização de luvas cirúrgicas, pois elas darão a aderência necessária para conseguir desencaixar com mais facilidade. No caso de conectores MMCX, ainda existe um acessório chamado "MMCX Assist" (desenvolvido pela Final Audio), que permite que o usuário retire o cabo do fone de ouvido com facilidade.
Flexibilidade dos fios do cabo
Este é um fator importante, pois a flexibilidade do cabo irá influenciar no conforto ao utilizá-lo, na facilidade para guardá-lo e nível de microfonia gerado (quanto mais rígido, maior a tendência de gerar microfonia). Além do mais, um cabo com alta rigidez, tende a embolar e se quebrar com mais facilmente, pois ele não permite um ângulo de torção pequeno.
Essa característica é sentida principalmente em cabos de fones in-ear que passam por cima da orelha e se apoiam nela. A maleabilidade de um cabo pode ser influenciada pelo material dos seus fios, pela borracha que envolve os filamentos, pelo tratamento feito nos fios e na borracha do cabo, pela grossura dos fios, entre outras características.
Procure um cabo com fios trançados, como na imagem acima. De preferência 4 fios (núcleos ou cores) antes do y-split (divisor em "Y"). Desta forma, o cabo será flexível e com boa qualidade.
Observação 1: Somente a configuração de 4 fios (núcleos) permite que um cabo seja balanceado.
Observação 2: O cabo de 4 fios, começa com 4 núcleos a partir do conector de 3,5mm (ou 2,5mm ou 4,4mm) e se divide em 2 fios para cada lado depois do Y-split (divisor em "Y").
Muitos núcleos (cores) em um cabo não são uma vantagem em termos de qualidade. Por vezes, o excesso de núcleos, acaba causando uma rigidez e perca de flexibilidade do cabo, atrapalhando durante o uso e ao guardar o fone de ouvido.
Portanto, ao escolher um cabo para fones do tipo intra-auricular, é interessante que ele possua boa maleabilidade para proporcionar uma boa experiência durante a utilização do produto.
O peso do cabo
É algo que faz total diferença para a utilização do fone de ouvido, pois pode influenciar durante as audições e quando for guardá-lo. Quando o cabo é pesado, ele pode causar dores nos ouvidos da pessoa (se forem fones portáteis dos tipos in-ear e earbuds), além de atrapalhar no manuseio na hora de guardar o fone de ouvido.
O peso de um cabo é influenciado pela grossura (medida em AWG) e comprimento dos fios e pelo peso do Y-split (divisor em "Y"), dos conectores e terminações. Estas características, se estiverem bem implementadas, com a utilização de materiais leves e pequenos, proporcionarão uma boa experiência durante a utilização do fone de ouvido.
Observe o material que foi utilizado para confeccionar o y-split (divisor em "Y"). Procure aqueles que são pequenos (os menores que você encontrar) e com materiais duráveis (metal ou madeira de qualidade) e leves (exemplo: metais de ligas diferentes ou combinado com outros tipos de materiais para dar um visual diferente como fibra de carbono e madeira).
A grossura de um cabo é medida em AWG, quanto menor o número, mais grosso é, quanto maior, mais fino é. Uma grossura ideal para cabos, para uma boa resistência e leveza é 26 AWG, mas também há alguns bons cabos com 28AWG.
Microfonia
A microfonia é o ruído que pode ser ouvido quando se está utilizando o fone de ouvido ao friccionar o cabo no seu corpo, ou ao balançar o cabo e bater em alguma superfície. Isso ocorre devido ao nível de maleabilidade e maciez do material que envolve os fios e maneira como é construído o Y-split (materiais e formato).
Dependendo da maneira como o fone é utilizado, a microfonia no cabo pode vir a ser extremamente irritante. Sendo desta forma uma característica importante a se analisar ao comprar um cabo.
Cabos oxidados
Este é um grande problema que assola a grande maioria dos cabos. A parte ruim é que dificilmente você conseguirá evitar por completo que a oxidação ocorra no metal dos fios.
O zinabre, crosta verde formada em metais que contêm cobre em sua composição, surge quando há o contato da liga metálica com o ar, por isso existem cabos com certificação OFC (oxygen-free copper ou cobre livre de oxigênio). Mas e se utilizar prata? Você estaria livre deste efeito?
Embora a prata consiga durar por mais tempo sem oxidar, uma hora ela irá oxidar também e apresentar uma coloração preta.
Para evitar a oxidação e aumentar a pureza do metal, é utilizada uma técnica chamada UPOCC (Ultra-Pure, Ohno Continuous Casting). Trata-se de um processo de refinação do cobre ou da prata patenteado pelo professor Ohno do Instituto de Tecnologia de Chiba, no Japão. Esta metodologia consegue ser superior à dos cabos OFC em termos de qualidade do metal dos fios. Os benefícios de cabos UPOCC são:
- Um filamento livre de qualquer impureza para evitar a corrosão
- Flexibilidade e resistência a torções sem prejudicar as características de condução
- Baixa resistência elétrica
- Transmissão rápida de sinal
- Resistencia a oxidação
Outra técnica que pode ajudar a evitar a oxidação do cabo devido a umidade e contato com o oxigênio, é a técnica de entrelaçamento dos filamentos dos fios de um cabo, a Litz. Este processo consiste em isolar magneticamente de forma individual os fios de um cabo (cada um deles é chamado de núcleo ou core), trançando-os de maneira uniforme, para reduzir as interferências eletromagnéticas. Existem vários tipos de Litz, onde cada fabricante de cabos desenvolve sua própria geometria de entrelaçamento de fios que podem ser da mesma espessura ou espessuras diferentes.
Apesar de todas estas técnicas, com o tempo e torções (dobrar o cabo) realizadas nos cabos, porém a cada proteção utilizada, maior será a durabilidade do cabo, obviamente. Mas para que o cabo dure mais ainda, é interessante colocar dentro da case do seu fone in-ear, earbud, circunaural ou on-ear, um saquinho de sílica, para que a umidade não colabore para a oxidação do metal.
Artigo recomendado para leitura: Tipos de cabos e conectores utilizados nos sistemas de fones
Um bom cabo pode trazer uma melhora no som?
Este é um tema gerador de muitas controvérsias, porém, há alguns pontos que não há como negar que trazem certa mudança. Guardado as devidas proporções, os cabos, quando comparados há modelos com construção pobre (a grande maioria dos fones mais baratos e até alguns mais caros possuem cabeamento não condizente com a qualidade do restante), podem trazer diferenças claras no som dos fones de ouvido. Porém, deve-se ter em mente que não será uma diferença da noite para o dia, irá somente talhar o som, onde trará, através de pequenas mudanças, uma audição mais prazerosa.
É importante lembrar que é muito difícil dizer o quão melhor o som irá ficar, pois dependendo do modelo do fone poderá ficar melhor ou até mesmo pior, além de haver a chance de melhorar em uma escala maior ou menor.
Mas tem que se ter em mente de que o som não será melhor ou pior por conta somente do material utilizado nos fios, e sim do projeto da geometria de entrelaçamento, dos conectores e terminação utilizados, de como foi feita a solda etc. A qualidade virá pelo conjunto do projeto e não pelo fato de um cabo ser de prata, cobre ou banhado a ouro e outros materiais nobres. Ou seja, não é o preço que irá definir um cabo e sim como foi realizado o seu projeto.
O desafio de fazer um bom cabo
Cabos de fato fazem diferença, mas não é preciso gastar "rios de dinheiro" para se obter uma boa qualidade. O desafio dos fabricantes de cabo é conseguir fazer um projeto bom o suficiente, valorizando somente o essencial para sua utilização, para assim obter um produto que possua um bom custo-benefício. Ou seja, o que precisamos para ter uma boa experiência com um cabo? É o conjunto de características citadas acima.
Agora, cabe ao fabricante saber o que ele valoriza e o que o seu público valoriza, para que ele consiga vender algo de qualidade e realmente útil para os seus clientes, que ofereça a melhor experiência possível por um valor justo.
Conclusão
Um cabo para ser bom, não precisa ser caro (custar mil ou dois mil dólares por exemplo), mas precisa ser bem construído. Tendo uma boa construção, com materiais de qualidade, certamente proporcionará uma boa experiência ao usuário. Ou seja, se você tem um cabo que não lhe agrada e não é bem construído, não dá para negar que a troca por um cabo melhor de fato fará a diferença na experiência final.
Esse artigo é feito em parceria com o Grupo Fones de Ouvido High-End:
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