A Qobuz, plataforma de streaming de música lossless (sem perdas), está há quase 5 meses no Brasil. Desde então, o aplicativo para Android e Windows tem sido testado por nós comparando com Spotify e, principalmente, o Tidal, seu principal concorrente. Em julho de 2022, foi escrita no Oficina da Net uma análise sobre a Qobuz, passando nossas impressões após um mês e agora será relatado qual a nossa visão do serviço de streaming no Brasil após mais de 3 meses (ou um trimestre) de uso.
Embora tenha sido dito em nossa primeira avaliação da Qobuz que voltamos para o Tidal, a plataforma de streaming continuou a ser utilizada e testada diariamente. Confira a seguir qual é a visão atual que nós temos do serviço da Qobuz no Brasil após 3 meses de uso.
Qobuz: Como o serviço de streaming está se saindo no Brasil após 3 meses
Se você está à procura de opiniões sobre a mais nova plataforma de streaming de música lossless (sem perdas) do Brasil, a Qobuz, chegou ao lugar certo. Desde o lançamento do serviço, estamos acompanhando como os aplicativos da empresa francesa tem se saído no país ao oferecer, por exemplo, músicas nacionais, ou uma interface mais fluida, com mais recursos e com menos bugs (erros). Veja abaixo qual é a nossa visão após três meses de uso.
Qobuz: Indicação de artistas, músicas e álbuns
A primeira coisa que se percebe na tela inicial da Qobuz de diferente comparado a outros serviços de streaming são as seções de curadoria de música "Minha semana Buz", onde uma pessoa seleciona faixas com base no seu uso do aplicativo, e "Playlists Qobuz", seleção de músicas humana (sem uso de algoritmos) para todos os assinantes da plataforma. Tenho gostado das descobertas de álbuns, artistas e músicas que fiz através das playlists, algo que não costuma me agradar muito no Tidal e Spotify.
Junto com as indicações de artistas, músicas e álbuns, temos também uma resenha (descrição) em diversos álbuns da biblioteca de faixas da Qobuz (há alguns que não tem). Entretanto, parte das resenhas possui textos em inglês feitos pela TiVo, empresa norte-americana focada no desenvolvimento de aparelhos de transmissão de áudio e vídeo, além da produção de conteúdo para os programas de canais de televisão. O mesmo conteúdo dessa companhia é compartilhado em textos sobre os álbuns de música no Tidal.
Mesmo com a semelhança na produção de descrições para os álbuns, a Qobuz se diferenciou ao contratar a empresa brasileira Bananas, uma "agência de music branding e curadoria musical". Essa companhia é responsável não só pela resenha de álbuns, mas também de artigos publicados na seção "Panoramas" da página inicial do aplicativo. Lá encontramos textos interessantes para se aprofundar sobre uma banda ou artista musical escritos por autores nacionais (funcionários da Bananas Music Branding) e internacionais, como Marc Zisman, diretor de música da Qobuz.
Interface e funcionamento do aplicativo Qobuz
A velocidade ao abrir o aplicativo e a rapidez para acessar as telas melhorou desde o lançamento da Qobuz no Brasil. Entretanto, de vez em quando, se sofre com interrupções na reprodução das músicas sem motivo aparente, pois no ambiente de testes a conexão com a internet é estável e o nível de sinal Wi-Fi é bom. Além disso, infelizmente, ainda há bugs (erros) que não foram resolvidos pela equipe de desenvolvedores como, por exemplo, o erro de descrição dos álbuns que possuem versão com conteúdo "explícito" (explicit) que pode ser encontrado na discografia de Kendrick Lamar.
Uma mudança que gostei na interface do aplicativo da Qobuz para desktop foi a detecção automática do dispositivo de áudio utilizado para a reprodução das músicas. Se você não conectar nada ao notebook, o app irá utilizar a placa de som onboard (soldada na placa mãe), mas ao conectar um DAC externo via USB, o menu de saída de áudio irá alterar automaticamente para este dispositivo. Anteriormente, era necessário fazer essa mudança manualmente toda vez que o Qobuz fosse aberto no computador.
Em termos de opções de drivers de áudio para se utilizar no Windows, o aplicativo para computador da Qobuz dá mais liberdade comparado ao Tidal, que utiliza somente o WASAPI no modo exclusivo. A Qobuz oferece em seu app para desktop suporte aos drivers WASAPI, WASAPI (exclusive mode) e ASIO, permitindo que haja menos interferências do sistema operacional na reprodução das músicas. Para entender mais a fundo sobre o assunto, leia nosso artigo sobre as diferenças entre os drivers de áudio ASIO, WASAPI, WDM e MME.
A Qobuz Brasil chegou a compartilhar algumas playlists em suas redes sociais e em alguns momentos, a seleção de músicas compartilhada não era de autoria da empresa no Brasil. Ao que parece, a empresa não analisa os conteúdos compartilhados no Instagram ou Facebook, deixando passar playlists que contêm músicas que não estão disponíveis para reprodução no país, como é o caso da "Hi-Res Masters: Metal Essentials", criada pela Qobuz USA. Entretanto, se o usuário realizar uma busca no app pela música bloqueada devido a direitos autorais no álbum onde ela está presente, é possível reproduzi-la normalmente (exemplo: música Tomorrow’s Dreams (2021 Remaster) do álbum Vol. 4 (2021 Remaster) da banda Black Sabbath).
Biblioteca de músicas da Qobuz
Embora isso possa variar muito de acordo com o gosto musical de quem utiliza, ainda tenho dificuldades em encontrar álbuns e artistas na biblioteca de músicas da Qobuz. Mas o ideal, caso queira saber se a plataforma de streaming possui pelo menos a maior parte das bandas, álbuns e artistas que você curte, é utilizar plataformas de transferência de conteúdo entre serviços de streaming, saiba como através deste tutorial.
Qualidade de som no aplicativo Qobuz
Na grande maioria dos sistemas de áudio, onde não há a utilização de um bom fone de ouvido, um DAC (digital to analog converter conversor digital analógico) de qualidade e um amplificador com boa potência de saída, o usuário tenderá a achar que o serviço de streaming da Qobuz entrega uma qualidade de áudio superior à do Tidal, seu principal concorrente. Entretanto, na verdade, é o inverso que ocorre de acordo com a análise realizada por nós. Para chegar a essa conclusão, foi utilizado álbuns recentes e conhecidos que possuem uma boa gravação para comparar utilizando os seguintes aplicativos para reprodução:
- MusicBee
- Tidal para desktop
- Qobuz para desktop
O player MusicBee foi utilizado para reproduzir as faixas ripadas em FLAC de CDs físicos. As mídias tiveram as faixas extraídas por nós através de um computador de mesa (desktop) com gravador/leitor de DVD/CD da Pioneer. Note que este programa é compatível tanto com o driver de áudio ASIO quanto com o driver WASAPI.
Os aplicativos foram executados em um notebook Asus Zenbook com processador Intel Core i-5 de 10ª geração e ligados ao seguinte hardware via cabo USB-A para cabo USB-B:
- DAC Topping D70S (compatível com MQA)
- Amplificador Woo Audio WA3
- Headphone Sennheiser HD600
- Headphone ATH-ESW9
- Headphone Grado RS2e
O primeiro álbum que utilizei para realizar o comparativo foi o "Death Stranding Original Score", lançado em 2020. Ao ouvir com um fone de ouvido mais neutro como, por exemplo, o Sennheiser HD600, percebi no aplicativo Qobuz para desktop, comparado à música ripada do CD, médios agudos mais elevados, dando mais "ar" e "brilho" à música, enquanto os médios graves se apresentavam de forma mais recuada, retirando o preenchimento e impacto dos graves presente na faixa. Descobri isso ao fazer um A/B com a mesma faixa sendo reproduzida no app MusicBee, onde neste caso o arquivo foi "ripado" para FLAC por mim através da mídia física que comprei. Ao reproduzir o mesmo álbum no Tidal, notei uma semelhança maior no som do arquivo tocado no player MusicBee, que executou as faixas em FLAC ripadas do CD físico.
Em seguida, repeti a experiência com o álbum Elis & Tom, lançado em 1974 no Brasil. Utilizando o mesmo headphone, o Sennheiser HD600, nota-se no app Qobuz para desktop um recuo maior na transição dos graves para os médios, comparado a música extraída do CD físico, principalmente entre 10 e 15 segundos da música "Águas de março", durante o dedilhar nas cordas. Também se percebe uma atividade maior nos médios agudos, dando uma sensação de definição maior nas vozes e nas notas do piano, mas que por vezes pode se tornar fatigante após certo tempo. Entretanto, como trata-se de um álbum onde quase não há a presença de graves, tendo uma predominância maior de médios e agudos, a experiência não ficou tão prejudicada como no caso das músicas de Ludvig Forsell, que foram criadas para o jogo do estúdio Kojima Productions.
Ao utilizar fones de ouvido que possuíam uma ênfase maior nos graves e agudos sem muito brilho e extensão, ouvir as músicas no aplicativo da Qobuz por horas se tornou uma experiência menos fatigante. Isso ocorreu quando utilizei o fone de ouvido Bluetooth Sennheiser Momentum 3 (review aqui) conectado ao meu celular Android (OnePlus 5T).
Esse comportamento foi notado e não mudou mesmo após três meses utilizando os aplicativos Qobuz e Tidal para celulares Android e desktop com Windows. Ou seja, parece realmente ser uma característica dos serviços de streaming citados.
Conclusão
Em termos de curadoria, a Qobuz está entre os melhores serviços do mercado de streaming de música. Além disso, ainda há uma bela produção de conteúdo sobre artistas musicais e bandas na seção "Panoramas". Entretanto, quando paramos para analisar a interface do aplicativo e seus bugs (erros) e sua variedade de músicas, é possível perceber claramente que os desenvolvedores têm um longo caminho pela frente.
Com relação a qualidade de música, percebe-se que esse fator irá depender de qual é o sistema de áudio utilizado pelo usuário para ouvir suas músicas. Entretanto, para aqueles que contam com um fone de ouvido ou caixa de som com um bom equilíbrio tonal, tendendo para o neutro, irão perceber provavelmente o que falei acima, notando que não há fidelidade na reprodução das faixas.