Nos últimos anos, os chineses mudaram a forma como o mercado de fones de ouvido funciona. Segundo a Market Research Future, empresa de pesquisa de mercado, a região Ásia-Pacífico acabou se tornando "um centro global de fabricação de dispositivos de áudio, com muitas marcas notáveis instalando fábricas de produção de alto volume". Esse nível de fabricação não é devido ao sucesso de algum produto em específico, mas sim de uma estratégia utilizada pelos chineses de lançar fone de ouvido atrás de fone de ouvido ao invés de melhorar o produto através do investimento de um programa de pesquisa e desenvolvimento bem-feito.
A criação de um fone de ouvido normalmente exige que se invista um dinheiro considerável em pesquisa e desenvolvimento. O motivo para isso é devido ao fato de que o processo necessita de tempo, pesquisa e testes para se definir materiais, formato das estruturas, tecnologias para se ter uma boa acústica e um bom driver (alto-falante), entre outros fatores para se chegar em um tuning ideal, boa construção e conforto aceitável. Entenda o que chineses estão fazendo com o mercado de fones de ouvido ao optar por uma estratégia diferente das empresas tradicionais na indústria como, por exemplo, Sennheiser, Audio Technica, Shure, Koss, AKG, Stax entre outras (confira a história destas companhias aqui).
Lançar fone atrás de fone ou melhorar o produto: O que os chineses estão fazendo
Se você acompanha o mercado de fones de ouvido, já deve ter notado que praticamente todo mês há lançamentos de modelos novos. Em meio a estreia de diferentes modelos, a maioria deles pertence a empresas de chineses e há um motivo para isso. Trata-se da estratégia de lançamento em massa de produtos com três objetivos: dinheiro, hype e melhorias.
Ao invés de optar por levar 2 ou 3 anos, pelo menos, para desenvolver um novo fone de ouvido, a maioria dos chineses donos de empresas que vendem diversos tipos de equipamentos de áudio preferem utilizar os clientes para testar os produtos. Assim, o custo de pesquisa e desenvolvimento despenca, além de gerar "hype" ("empolgação") com novos lançamentos avaliados por reviewers (analistas de produtos). Isso consequentemente gera mais lucro do que lançar um produto de determinada faixa de preço após anos, concorda?
Esse comportamento não seria tão grave se os desenvolvedores/fabricantes chineses de fones de ouvido, em geral, conseguissem entregar produtos com um alto nível de qualidade. Quando digo isso, me refiro a produtos que não costumam ter problemas generalizados entre os consumidores como, por exemplo, drivers (alto-falantes) queimando ou soando mais baixo, quebra da house (corpo do fone), alta inconsistência no som entre lotes fabricados, tuning malfeito, entre outros. Entretanto, ao que parece, as empresas estão deixando de lado o controle de qualidade e o investimento em um sólido programa de pesquisa e desenvolvimento.
O usuário "Caio Gonçalves" no grupo "Fones de Ouvido Low-End" no Facebook, relata sobre a faceplate ("tampa" da lateral do fone in-ear) do TRN V90 ter descolado.
Aqui, eu comprei um TRN V90, mas tô tendo uma experiência bem ruim com a marca. O lado direito soltou a faceplate. Apesar de, teoricamente, ser um problema fácil de resolver com uma cola, um fone com uma semana de uso não era para apresentar tal problema. Com o problema resolvido, surgiu outro: o meu cabo é com o microfone e o botão tá apresentando algum tipo de mal contato fazendo com que o volume aumente e abaixe aleatoriamente, coisa que não deveria nem ser controlada por esse botão, e as músicas ficam pulando também. Alguém mais passou por esses problemas com a marca?
No mesmo grupo, o usuário "Jhonatan Skodowski" conta sobre lado esquerdo de seu Moondrop Chu estar soando mais baixo que o direito.
Boa noite piazada, seguinte a 15 dias tô usando o fone moondrop Chu e hj o lado esquerdo está mais baixo que o direito, tem alguma solução ou já eras o fone?
Não é incomum ver empresas chineses lançando diversas variantes de um mesmo modelo de fone de ouvido que fez muito sucesso entre a comunidade (Exemplo: Tin HiFi P1, Tin HiFi P1 Plus, Tin Hifi P1 Max), além de se beneficiar de conceitos errôneos que surgem na comunidade audiófila. Durante o "boom" de lançamentos de fones chineses, popularmente conhecidos como "chi-fi", houve um período em que se criou o mito de que quanto mais drivers (alto-falantes) por lado, melhor seria a qualidade de som obtida, então houve uma enxurrada modelos com, por exemplo, 10 BAs (balanced armatures ou armaduras balanceadas) ou mais por lado [1]. Em seguida, tivemos a moda dos single-driver (único driver ou alto-falante) junto com a tecnologia de alto-falantes planar magnéticos [1], que é a atual.
[1] Artigo "Quais os tipos de tecnologias existentes em fones de ouvido"
[2] Artigo "O que são fones de ouvido in-ear híbridos? Eles são sempre a melhor escolha?"
Note que, quando há um lançamento de um novo modelo de fone de ouvido chinês (chi-fi), os reviewers (analistas de produtos) costumam dizer que há somente uma pequena diferença ali, outra aqui, com melhorias que geralmente não são tão significativas. Isso é o resultado de um período muito curto de pesquisa e desenvolvimento de um produto, onde se observa que as empresas costumam observar a reação do cliente a aquela determinada atualização para que se faça os ajustes e se tenha algo mais interessante para o mercado. Temos então um comportamento semelhante, em minha opinião, às atualizações do Windows, disponibilizadas mensalmente pela Microsoft, ou mesmo a updates de drivers para realizar correções de bugs (erros).
O que os chineses estão fazendo com o mercado de fones de ouvido tem benefícios?
Como você percebeu, há diversas razões para o estado atual do mercado de fones de ouvido estar como está agora. Entretanto, não há como negar que essa estratégia acabou por gerar alguns benefícios. O primeiro e mais óbvio, é a acessibilidade a fones de ouvido com qualidade surpreendente pelo preço, dando a oportunidade àquelas pessoas com um orçamento "limitado" de adquirir algo consideravelmente superior ao que se encontra normalmente no mercado brasileiro.
O preço baixo e a qualidade de som superior à muitos modelos de fones de ouvido vendidos no mercado, fez com que as grandes empresas de áudio perdessem uma quantidade significativa de vendas ano a ano. Isso forçou as fabricantes tradicionais de fones de ouvido a repensar a estratégia utilizada, levando ao lançamento de produtos mais interessantes, onde se tentou trazer mais inovação e/ou qualidade.
Por conta deste movimento no mercado de fones de ouvido devido aos fabricantes/desenvolvedores chineses, hoje é possível achar, ao pesquisar com cuidado, boas opções de produtos, que entregam pelo menos um bom tuning (ajuste do som). Claro que ainda há problemas de controle de qualidade e construção, mas a qualidade de som foi algo que subiu consideravelmente na última década justamente por conta da China.
O que você acha sobre esse comportamento dos chineses no mercado de fones de ouvido? Comente abaixo e compartilhe conosco a sua opinião!
😕 Poxa, o que podemos melhorar?
😃 Boa, seu feedback foi enviado!
✋ Você já nos enviou um feedback para este texto.