Há algum tempo, queria ter minha primeira experiência com um ThinkPad. É uma série de laptops que muitos consideram a antítese dos MacBooks, por mirar em designs sisudos, que privilegiam a robustez. Criados pela IBM na década de 90 e adquiridos pela Lenovo em 2005, esses PCs, ainda hoje, mantêm boa parte de seu prestígio e das características que os fizeram famosos. Focados primeiramente no meio corporativo, já contam com uma linha diversificada, que inclui modelos não tão caros - ao menos, lá fora. Um deles é o E490, lançado em 2019, que se apresenta como uma opção mais "acessível" e está à venda oficialmente no Brasil. No momento, os preços partem de algo em torno dos 4000 reais.
Design e construção
Os aspectos visuais característicos estão presentes: o pointer vermelho no meio do teclado, que serve como mouse, a estrutura do touchpad, o logo enviesado no descanso dos pulsos e a tampa preta totalmente lisa, também com a marca na ponta, além da luzinha vermelha no pingo "i". Diria que achar este computador bonito é uma questão prévia: é preciso já ser fã do design. Para um leigo, compará-lo ao padrão atual de notebooks o deixará distante das tendências clean de hoje, uma aparência meio over.
Até existem ThinkPads com traços mais modernos, mas este aqui foca na alma da linha, o que pode implicar "robustez" também em alguns números. A tela de 14", por exemplo, tem menos bordas do que painéis de alguns anos atrás, mas ainda não está entre as mais compactas. E o peso é apenas aceitável: 1.75 quilos. Mais uma vez, nem entre os mais pesados, nem entre os mais leves.
É uma máquina relativamente atualizada em termos de especificações: a unidade que testei veio com Core i5-8265U, 8GB de RAM, 256GB de armazenamento via SSD M2 e chip gráfico integrado da Intel. Na lateral, uma porta USB-C é a responsável pelo carregamento e, além da fonte original, aceita várias outras no padrão. Também há um leitor de impressões digitais, dispensando o uso de senha nos logins. Por baixo da carcaça, há possibilidade de expansão: um dos dois slots de RAM estava livre, assim como o compartimento SATA de 2.5" para SSDs ou HDs convencionais.
Ainda sobre este modelo, ele veio com uma display fosco, com tecnologia IPS e resolução Full HD. Os ângulos de visão são ótimos e as cores são decentes, embora a intensidade do brilho não se destaque. Usando-o em ambientes abertos, é obrigatório deixá-lo em 100% para visibilidade decente.
Já o teclado, igual em qualquer E490, é resistente a derramamento de líquidos e, de fato, muito bom. Trata-se de uma fama dos ThinkPad que eu queria pôr à prova, e não me decepcionei. Apesar de não serem das variantes clássicas de anos atrás, essas teclas têm grande precisão e feedback tátil muito agradável. Digitei grandes textos sem sinal de cansaço ou de entradas perdidas. É um dos pontos fortes mais relevantes.
Não consegui dar um uso pertinente ao famoso trackpoint, a bolinha vermelha ao centro do teclado que é um clássico nessas máquinas. Para mim, é como uma característica legacy mantida pela Lenovo por conta da tradição. Mas há quem advogue a favor de sua presença, seja pelo costume de longa data ou pela possibilidade de manejar a seta do mouse usando luvas. O touchpad, que não seria de grande ajuda nessa condição, funciona bem no cotidiano, com bom deslize e os drivers de precisão da Microsoft.
A parte sonora não decepciona nem empolga, e merece referência rápida: os auto-falantes são estéreo, localizam-se na parte inferior da carcaça e têm volume adequado para quem dispensa fones de ouvido.
Performance e autonomia
Como dei a entender, há uma variedade de especificações para este mesmo modelo, e ela é grande. É possível encontrá-lo com Core i3, i5 ou i7. Com chip gráfico Intel integrado ou AMD dedicado, com tela Full HD IPS ou apenas HD TN, com armazenamento SSD ou HDD. E a distribuição feita pela Lenovo no varejo online parece um tanto quanto heterogênea.
Em minhas pesquisas, achei alterações em partes como a tela ou o chip gráfico que não eram claramente sinalizadas, apesar de muito relevantes para a percepção final do produto. Aos 45 do segundo tempo, descobri que há até possibilidade de teclado retroiluminado. Por isso, é bom ter em mente que minha experiência foi particular, levando em conta a gama de configurações possíveis.
O E490 testado se saiu muito bem, com performance dentro da média para um i5 com SSD NVMe. Os programas abrem rápido, o Windows 10 Pro é manejado com facilidade e instabilidades provocadas pelos programas pré-carregados foram raras. Uma máquina estável, que não me deu dores de cabeça, seja quando usada "solo", seja quando plugada a um monitor externo via HDMI.
Além do uso tradicional de escritório, com Microsoft Office 365 e navegação com múltiplas abas no Chrome, fui um pouco além. Usei este ThinkPad em edições de vídeo que envolveram muitos arquivos gravados em 1080p60, além de algumas inserções em 4k60 para B-roll. No software Premiere Elements 2020, o notebook deu conta dessas fontes sem grandes problemas - algumas engasgadas na timeline ocorreram, sobretudo quando apliquei efeitos nas partes em 4k, mas nenhuma foi muito irritante.
A exportação de vídeos grandes, evidentemente, requereu mais tempo. Estamos lidando com um Core i5 da série U, que mira mais na economia de energia que no desempenho. Para além disso, foi perceptível que a Lenovo o configurou de modo que não atinja sua performance máxima, certamente por questões térmicas. Em outras palavras, este i5 fica sempre no meio do caminho para não ter problemas de aquecimento. Isso parece funcionar muito bem, com o extra de que o notebook se mantém silencioso na maior parte do tempo, com ventoinhas que não incomodam quando entram em ação.
Outro aspecto que fazia parte da "fama ThinkPad" e se confirmou em meus testes foi a boa autonomia de bateria. Num dia de uso em que o brilho variou entre 80 e 100%, com navegação em múltiplas abas no Chrome, streaming de áudio e vídeo, edição de texto e tarefas similares, consegui 7 horas e 40 minutos antes de precisar plugar o carregador. Nessa jornada, a tela apagou algumas vezes, mas o sistema estava configurado para nunca hibernar. Concluo que, com brilho moderado e menos streaming, ele consegue se aproximar das 10h sem problemas, embora não o veja atingindo as 13 previstas pelo fabricante. De todo modo, são resultados bem acima da média em notebooks com Windows nacionais.
Veredito
- Bateria dura bastante
- Ótimo teclado
- Desempenho não decepcionou na variante com SSD
- O brilho da tela poderia ser maior
- É caro
O período de mais de dois meses que passei com o E490 revelou um computador que faz o dever de casa com folga. Boa bateria, tela decente, ótimo teclado, seleção de portas satisfatória e construção que aparenta ser duradoura. Ainda assim, parece-me difícil convencer um usuário comum, que não conhece a "aura ThinkPad", de que ele vale o que se cobra. Em valores pré-pandemia, a unidade que testei já custava mais de 5 mil reais, quando modelos similares em configuração figuravam entre 3 e 4 mil.
De todo modo, minha experiência não contrariou a alta expectativa que tinha sobre a linha. E é preciso considerar que a publicidade da Lenovo mira em pequenas empresas, oferecendo planos abrangentes de suporte pós-venda - um ambiente de venda diferenciado. Também é fundamental lembrar das várias configurações disponíveis, já que um downgrade na tela ou no armazenamento SSD me faria, sem dúvidas, ter outra opinião sobre os resultados. Levando em conta o que tive em mãos, e pensando num público amplo, ainda é um pouco difícil cravar resposta simples para a pergunta: "Vale a pena?". Certamente não temos aqui um campeão do custo x benefício, mas, para os que se dispõem a investir num ThinkPad, esta é uma máquina segura.
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