Nos últimos anos, a Lenovo tem ido bem no segmento de notebooks intermediários, aquele que mira em consumidores não tão exigentes ou mais sensíveis a preço. Neste contexto, o diferencial pode ser uma especificação técnica que chame atenção ou design simpático, que lembre máquinas mais caras. É o que a fabricante aparenta ter conseguido com o IdeaPad S145, um computador onipresente no varejo online brasileiro.
São muitas variantes disponíveis. Com processador Intel, é possível achá-lo com Celeron, Core i3, Core i5 e Core i7. Do lado da AMD, há Ryzen 3, Ryzen 5 e Ryzen 7. Algumas vêm com Windows, outras com Linux, muitas têm tela apenas HD, algumas Full HD, e também há opção de armazenamento SSD, embora a maioria saia de fábrica com o "bom" e velho HD mecânico.
Recentemente, as versões Intel receberam uma requentada com novos processadores de décima geração, mantendo todo o resto intacto. A unidade que testei tem chip de oitava geração, mas ainda está entre as mais poderosas, com processador Core i7-8565U, 8GB de RAM, 1TB de HD, chip gráfico GeForce MX110 e tela Full HD com 15.6 polegadas.
Design e construção
A carcaça parece ter sido feita para entregar o visual mais agradável possível com o menor custo de produção. É tudo de plástico, mas com textura de metal escovado que engana bem, tanto na base do teclado quanto na tampa, que ficam com marcas de dedo facilmente.
É uma máquina não tão leve (1.85kg), mas relativamente fina, que tem poucas bordas ao redor da tela, o que lhe confere algum ar de sofisticação. As cores, em tons de cinza, são aprazíveis, finalizando um conjunto que, a meia distância, engana como mais sofisticado do que realmente é.
Mas o manejo do S145 deixa clara a simplicidade de sua construção. O plástico fosco em sua base, por exemplo, é um acabamento mais barato. E a dobradiça da tela foi o que mais chamou minha atenção, por não ser das mais rígidas e permitir que o display se mexa consideravelmente com pouco balanço. Fiquei com a impressão de que o notebook é um tanto quanto frágil, principalmente por esse aspecto.
O teclado é um ponto positivo, já que tem ótima precisão e um feedback tátil agradável. Sem dúvidas, é um dos melhores, se não o melhor teclado em notebooks "não premium" que já testei. Um grande trunfo para quem busca uma máquina para escrita. O touchpad, esse fica devendo um pouco: tem clique estranho e precisão abaixo da média.
Em conectividade, ele vai mais ou menos bem, com portas USB convencionais e HDMI de um lado, entradas para cartão SD e de áudio do outro. Faz falta de uma porta de rede, e é notável a ausência de USB-C, um padrão já adotado pela concorrência e até pela própria Lenovo nesse tipo de computador.
O áudio é decente. Não tem graves tão marcantes, mas o volume é adequado e a definição também. Já a tela, apesar de ser Full HD na unidade testada, é um painel fosco do tipo TN, que distorce a imagem quando visto de forma angulada. Entre telas TN, esta é até decente, por não alterar tanto o que se vê pelas laterais, como acontece verticalmente. Ainda assim, profissionais que tenham necessidade de editar fotos ou algo similar devem ficar alerta - apesar de a resolução ser boa, a qualidade da imagem é só regular.
Performance e autonomia
Como disse antes, a configuração que testei veio com armazenamento de 1TB, sendo ele um HD convencional. Isso fez com que, apesar do processador Core i7, esse PC tivesse uma clara limitação de desempenho - é isso que HDs mecânicos são hoje em dia, afinal. É possível que até mesmo usuários leigos, saindo de notebooks lançados há 3-4 anos, possam ter alguma decepção ao perceber que o S145 demora um pouco para abrir o Office ou dá algumas engasgadas quando volta da hibernação com vários programas abertos.
Felizmente, o notebook vem com uma porta para SSDs do tipo M.2 embaixo de sua carcaça. Ela é, inclusive, sinalizada pela Lenovo nas peças de publicidade exibidas em lojas online. Acho válido. Desparafusei o fundo e espetei um SSD M.2 NVMe de 256GB, instalando nele o Windows 10 e mantendo o HD de 1TB para armazenar arquivos. Os resultados são absurdos. Se até mesmo máquinas mais antigas se beneficiam um bocado de SSDs, o S145 exibe performance pra lá de digna com seu Core i7 e 8GB de RAM - expansíveis para 12 ou 20GB ao se trocar o pente inicial de 4GB, já que os outros 4 são soldados na placa.
Eu o utilizei para uma série de atividades: navegação na Web com múltiplas abas no Chrome, edição de vídeos em Full HD com alguns arquivos 4K, vários programas abertos ao mesmo tempo, e nem sinal de cansaço. Em edição de vídeo, os tempos de exportação foram perceptivelmente maiores que os obtidos em um Dell G3 com Core i5-9300H, mas isso é algo esperado, devido à diferença de categoria entre os processadores - a série H, do Dell mencionado, foca em desempenho, enquanto a série U, deste Lenovo, visa ao menor consumo de energia.
Também é válido destacar que ele não esquentou muito e teve funcionamento estável, sem bugs ou travamentos surpresa. O nível de ruído é nulo ou baixo no chamado "uso de escritório", mantendo-se bastante aceitável nas atividades mais pesadas.
O ponto que me deixou desejando algo a mais foi o chip gráfico. A GeForce MX110, que equipa apenas alguns S145, é destacada como um diferencial sobre o vídeo integrado da Intel. Há, web afora, várias publicações com usuários mostrando bons resultados dessa GeForce em games variados, o que criou alguma expectativa em mim. Na prática, entretanto, minha experiência foi diferente.
Instalei as últimas atualizações da nVidia e parti para um game que tenho jogado muito: Age of Empires II Definitive Edition, uma remasterização do RTS clássico, lançada há pouco. Está longe de ser um título pesado e, por isso, esperava que o S145 pudesse rodá-lo com gráficos no nível mais alto, em boa fluidez. Não foi o que obtive. Precisei baixar uma série de configurações para ter o desempenho com que estava habituado.
É sempre possível efetuar modificações no software que otimizem a performance gráfica, e suponho que muitos dos usuários mais avançados o fizeram para postar resultados na internet. Entretanto, para o utilizador comum, é bom ter em mente que o "vídeo dedicado" por aqui não faz desta uma boa máquina para games. Não me parece boa ideia considerar este ponto um diferencial ao avaliar a aquisição do S145.
Em termos de autonomia, a bateria faz o esperado. No meu perfil de uso convencional, com brilho acima da metade, rodando alguns streamings de áudio e vídeo, navegação na web com várias abas do Chrome e Google Docs sempre ativo, consegui cerca de 4 horas e 45 minutos antes de precisar levá-lo à tomada.
Veredito
- É bonito
- Ótimo teclado
- Ares de fragilidade
- Merecia USB-C
Não é difícil entender porque o Lenovo S145 chama atenção de um público amplo. Com várias configurações disponíveis, ele abrange diferentes faixas de preço. E, claro, seu visual limpo também é bom chamariz, embora não signifique boa qualidade de construção em todos os aspectos. Esse conjunto, num mercado que não tem lá muitas opções como o nosso, indicam como ele pode cair no gosto do público.
O fator preço merece uma consideração especial. No período pré-pandemia, era possível comprá-lo com Core i7 por algo em torno de 3000 reais. Atualmente, este é um valor mais frequente para a versão Core i3. Apesar de a subida de preços ser uma tendência para todas as marcas e modelos, é difícil ainda considerá-lo uma máquina "custo x benefício" enquanto os valores não se readequarem de algum modo. Em promoções eventuais, a variante com Ryzen 5, por exemplo, ainda tem surgido em patamar comprável, mas isso muda todo o tempo e deve ser observado.
Considerando apenas o hardware, me incomoda a ausência de porta USB-C e de tecnologia IPS na tela, para melhores ângulos de visão. De todo modo, essas são mudanças que podem não importar tanto, ou não serem percebidas, pelo consumidor em que a Lenovo mira com o modelo. Por isso, temos um pacote final simpático e sem grandes pecados aos olhos do público.
Onde comprar
😕 Poxa, o que podemos melhorar?
😃 Boa, seu feedback foi enviado!
✋ Você já nos enviou um feedback para este texto.