Tem se tornado cada vez mais comum - desde que o acesso às conexões de internet mais velozes se tornou mais barato e popular; e mesmo antes, quando poucos tinham o poder de banda para upar um vídeo para o youtube - o bloqueio de conteúdo no maior site de compartilhamento de vídeos da internet. Todos sabemos o trabalho que dá editar um vídeo, ainda mais se você não é um expert no assunto, ou selecionar algum conteúdo áudio visual de que você seja fã, ou simplesmente compartilhar um vídeo no Youtube, quando as restrições que a empresa impõe aos seus usuários são tão rígidas.
Você edita e compartilha um vídeo, e poucas horas depois recebe a notificação de que o seu vídeo foi bloqueado por infringir as regras de direitos autorais. E aí você se pergunta: como eles descobriram? De que maneira identificaram o meu vídeo no meio de tantos outros? É o que vamos tentar esclarecer neste artigo.
Como isso?
A primeira alternativa vai parecer óbvia para você que usa o Youtube diariamente; o seu conteúdo pode ter sido denunciado por um dos milhares de usuários que podem acessar o seu canal quando ele não é privado. A pessoa assiste ao vídeo, identifica algo que é de autoria de alguma outra pessoa ou artista, clica num botão e faz a denúncia. Em pouco tempo o seu vídeo é retirado do ar pelo Youtube e você vê horas de trabalho jogadas para o alto através dessa medida.
Está certo, todos nós sabemos que usar conteúdo criado por outras pessoas é ilegal quando feito sem permissão. Também sabemos o quanto é difícil obter essa permissão, já que isso normalmente envolve somas altas de dinheiro. Afinal, qual é o usuário que está disposto a pagar em barras de ouro para usar 3 segundos da música de um artista? E quem se importaria com esses três segundos mesmo?
Bom, a resposta é simples: os artistas que criaram o conteúdo se importam. E para você entender isso basta se colocar no lugar deles. Você cria algo que leva tempo, inspiração e muito trabalho, e faz disso a sua profissão e o seu modo de ganhar a vida; e então aparece uma pessoa e acha que tem a liberdade de usar a sua criação como bem entender, sem lhe pedir autorização e sem pagar nada por isso. Parece meio errado não é?
É este tipo de situação que o Youtube tenta ao máximo evitar. Uma batalha por direitos autorais. Para o site é muito mais fácil retirar o conteúdo que infringe as leis de direitos autorais, do que iniciar uma guerra sem motivos, afinal você e eu sabemos o poder que as gravadoras e produtoras de Hollywood têm sobre o material produzido por eles mesmos. Eles são donos do que produzem, assim como você é dono de algo que você inventou e patenteou.
Buscando um certo entendimento com a industria do entretenimento o Youtube tem fechado parcerias com estas empresas ao longo do tempo, principalmente depois da aquisição da empresa pela gigante de buscas Google. Dessa iniciativa têm surgido diversos acordos entre o Youtube e a indústria fonográfica. Com certeza você se lembra que alguns anos atrás, bastava algum vídeo clipe surgir no Youtube, para ser retirado algumas horas depois devido a reclamações destas empresas. Hoje em dia os vídeos de propriedade de grandes gravadoras são postados por elas mesmas num site de entretenimento chamado VEVO. Já ouviu falar, não é? A VEVO nada mais é do que um a Join Venture entre a Sony Music Entertainment, Universal Musica Group, Abu Dhabi Media, EMI, e Disney Music Group, além das redes de TV americanas como a CBS. O site fica hospedado diretamente dentro do Youtube, garantindo que todo o conteúdo disponibilizado ali seja licenciado e tenha seus Royalties revertidos para os artistas que criaram o conteúdo e para as gravadoras que tornaram possível a gravação e difusão de tal conteúdo.
O VEVO foi disponibilizado oficialmente em dezembro de 2009 nos Estados Unidos, e após essa data, todos os vídeos carregados, que possuem direitos autorais infringidos são bloqueados ou excluídos. No Brasil o serviço chegou em 14 de agosto de 2012, gerando bastante polêmica por parte dos usuários. Na verdade o serviço nada mais é do que uma medida preventiva do Google e das empresas de entretenimento, contra a pirataria.
Mas vamos à questão principal deste artigo. De que maneira o Youtube identifica e bloqueia o conteúdo postado pelo usuário? Para entender isso, nós vamos ter que entender uma certa tecnologia, que surgiu algum tempo atrás e hoje já está disponível até mesmo em aparelhos celulares: o software de reconhecimento de conteúdo.
Conhecendo o Software
Aparentemente esse tipo de programa pode parecer simples, afinal ele opera de uma maneira nada complexa. Basta um banco de dados gigante, com todo o conteúdo áudio visual disponível na internet, e um algoritmo capaz de efetuar uma comparação entre estes dados e os dados upados pelo usuário do Youtube. É realmente simples; a complexidade está em criar um programa capaz de fazer isso de maneira rápida e sem erros.
A primeira barreira enfrentada por esse tipo de software está na maneira com que o internauta codifica os seus arquivos, pois isso altera a freqüência e a linguagem de programação. Por isso estes programas têm de ir além da simples identificação. É necessária uma certa inteligência artificial por trás disso. Essa é a proposta de diversos programas que têm surgido pela rede: identificar um conteúdo complexo independente da qualidade com que ele foi postado. É aí que entra o banco gigante de dados montado por tais empresas. Primeiro a gravadora ou empresa de entretenimento disponibiliza todo o seu catalogo para ser analisado e etiquetado por este programa. O programa cria uma assinatura digital de cada conteúdo, em diversos tipos de qualidade, sempre visando o que o conteúdo tem de único, como freqüência de som, altos e baixos, graves e agudos. Isso ocorre com tal perfeição, que estes programas não encontram dificuldade nenhuma quando precisam fazer a comparação de um conteúdo upado para a internet com o seu banco de dados. A identificação se torna fácil, por isso basta analisar alguns segundo do conteúdo, para que o programa perceba o que é que esta sendo postado. Como toda música tem um padrão que pode ser identificado, e este padrão é imutável e diferente de todos os outros, qualquer similaridade é capaz de identificar tal conteúdo, apenas por comparações a analises de coincidências entre pontos altos e baixos de um som.
Com a imagem acontece algo semelhante, já que existem programas específicos para esta finalidade também. O Google não especifica muito bem como funciona esta tecnologia, mas especula-se que acontece de modo similar à identificação de sons. O programa cria as impressões digitais do vídeo, e compara pequenos blocos de informação dos vídeos postados com o banco de dados disponibilizados pelas empresas de entretenimento. O processo é mais complexo, mas é completamente entendível uma vez que se entenda como funciona o processo de comparações de coincidências.
O Google, como proprietário do Youtube, está sempre no fogo cruzado entre as gravadoras e os criadores de conteúdos digitais, por isso é o mais interessado em aperfeiçoar estas formas de identificação. A prova disso é a criação do Content ID, um serviço da gigante especializado neste tipo de funcionalidade. Como se não bastasse a tecnologia própria da empresa, há cerca de dois anos o Google adquiriu uma plataforma poderosíssima nesse tipo de ação: a RightsFlow. Além de possuir um mecanismo de identificação super preciso, a empresa ainda possui um acervo de 30 milhões de músicas registradas em seu acervo. A principal intenção do Google com isso é integrar o sistema e a tecnologia do RightsFlow, com a capacidade de análise e varredura do Youtube.
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