Como vimos no post anterior, John McAfee é um ser humano brilhante. Formado com louvor, sempre conseguiu ótimos empregos e deixou sua marca por onde passou, seja ela positiva, como o criador do primeiro antivírus e uma companhia bilionária, seja negativa, como vender drogas aso funcionários e ser pego alucinado de LSD em horário de trabalho. Bom, a primeira parte da história terminou com a fuga de John para Belize por causa de uma morte mal explicada, vamos ver agora a continuação desta história.
Continuando então: Para fugir da lei e de uma possível indenização milionária que ele não teria como arcar, McAfee refugiou-se no país da América Central em 2009, onde poderia esquivar-se das leis americanas. Sua estada lá foi polêmica desde o início, a começar que para adquirir uma residência fixa e gozar dos direitos de um cidadão belizense ele precisaria de no mínimo 1 ano de residência no país. "Este é um país de terceiro mundo, então eu tive de subornar um bando de caipiras" ele contaria em entrevista. Pronto agora ele tinha já tinha os direitos belizenhos e estava amparado legalmente.
Em Belize, mais uma vez o lado empreendedor falou mais alto e ele e alguns de seus seguidores que o acompanharam diversificaram o ramo de atividades. Em pouco tempo John já tinha aberto uma fábrica de cigarros, uma empresa de táxi marítimo, uma companhia de tour aéreo, uma de rikshas, um complexo de esportes aquáticos e ainda uma companhia de distribuição de café. A grande guinada foi, no entanto, quando em uma de suas explorações pela ilha ele conheceu a microbiologista Allison Adonizio, pesquisadora renomada de Harward que trabalhava com antibióticos e que acreditava que as plantas das florestas tropicais que existiam ali poderiam conter a chave para criar antibióticos imbatíveis. Após este encontro, John estava seguro de que se tinha conseguido sucesso na eliminação de vírus virtuais poderia também lidar com os vírus reais. Para isso ele convenceu Allison a largar o emprego, mudar-se para Belize e trabalhar no moderníssimo laboratório que ele construiria para a ela, bem como uma unidade de processamento. "Tenho 65 anos de idade, está na hora de começar a pensar em que tipo de legado eu vou deixar para trás". Mais do que salvar a humanidade das doenças, ele achava que com todo o processo de produção dos fármacos conseguiria tirar o povo de Belize da pobreza em que viviam.
John e Allison
Com o novo empreendimento farmacêutico, John bradou para o mundo todo que a salvação estava a caminho, mas enquanto ela não vinha ele gostava de passar seu tempo escalando antigas construções maias, construindo mais bangalôs em sua propriedade ou deambulando por Belize interagindo e fotografando os habitantes. "Prostitutas, ladrões, os deficientes ...Por alguma razão, eu sempre fui fascinado por essas subculturas.", ele diria. Em uma dessas andanças ele foi até o Lover’s, um prostibulo barato frequentado por cortadores de cana, pescadores, ambulantes, etc. onde foi apresentado a Amy Emshwiller, uma garota de 16 anos abusada desde cedo e alugada pela mãe a vários homens em troca de dinheiro.
Em um primeiro momento John não se interessou por ela, mas depois que soube de sua história houve uma empatia automática. Ele se identificou com o passado difícil dela, queria ficar perto da menina que carregava uma arma e dizia que não sentia amor. Em menos de 1 mês eles estavam dormindo juntos e ele construindo um bangalô para ela em sua propriedade.
A versão de Amy não é assim tão poética. Em entrevista mais tarde, ela diria: "Eu não me apaixono [...] eu sei como controlar um homem, eu contei a ele minha história porque queria que ele sentisse pena de mim, deu certo [...] Um milionário na droga de Belize, onde as pessoas trabalham um dia inteiro para ganhar apenas 10 centavos? [...] Por que eu não ia querer roubá-lo?"
Amy Emshwiller
Na época em que começou a se relacionar com Amy, McAfee ainda namorava, um relacionamento que já se estendia há mais de 12 anos, porém, que não conseguiu superar o episódio de Emshwiller. Sua até então namorada deixou Belize e voltou para os EUA. Pior do que isso foi o desfecho que o relacionamento problemático tomou: após meros 30 dias a garota levantou no meio da noite, pegou uma das armas de seu companheiro, mirou contra John, e puxou o gatilho. Por fechar os olhos instantes antes do tiro, a bala não acertou o alvo, passou rasgando pelo travesseiro. Ele conseguiu levantar rapidamente e desarmar a garota enquanto ela fugia e se trancava no banheiro por medo de tomar um tiro como resposta. No entanto, qual foi a ação de John? Ele disse que a deixaria sem telefone e Tv por 1 mês.
Após o episódio traumático McAfee decidiu que seria melhor que ela tivesse seu próprio lugar para morar e por isso construiu uma casa para ela no bairro de sua infância. No entanto, comovido com a violência deste, e de todos os bairros da cidade, John McAfee decidiu - mais uma vez - que tinha de fazer algo: Comprou uma casa no bairro, reformou, colocou barras nas janelas e criou uma prisão. Equipou os guardas com armas novas, cassetetes, spray de pimenta, tasers, etc. Esta polícia, no entanto, virou mais do que uma simples polícia, virou o exército particular de McAfee que convivia no Carmelita (o nome do bairro) e trazia informações para ele.
Nem mesmo isso ajudou a população local, e após um arrombamento à casa de Amy, John foi em pessoa até a casa do assaltante conversar e tentar acabar com a violência. Com uma arma na cintura propôs uma televisão LCD para que ele largasse o tráfico e o crime.
Nesse momento ele já estava paranoico com a espionagem industrial que poderia estar sofrendo - ou vir a sofrer - das gigantes do mundo farmacêutico. Nas visitas que fazia ao bairro pobre nunca comentava sobre a pesquisa com as plantas, quando ele via pessoas em ternos brancos suspeitava de espiões, quando via alguém pescando ele ficava atento, e, com um binóculo, espreitava cada movimento. Todo esse cenário, misturado a sacos de lixo repletos de dinheiro, muitos remédios - incluindo Viagra - na residência, o exército particular, etc. fizeram com que Adonizio abandonasse a pesquisa e saísse do país. "Ele se tornou em uma pessoa muito assustadora", ela diria.
Bom, abalado por tantos problemas, 2012 seria um ano e tanto para ele. Cansado de negociar com os traficantes ele resolveu mudar os rumos da vida, novamente: Sua nova aposta foi armar seus homens com rifles e ele mesmo, em pessoa, ir trabalhar no laboratório que montou há alguns anos atrás. McAfee afirmava trabalhar com a pesquisa de antibióticos, mas fortes suspeitas indicam que ele estivesse produzindo metanfetamina. Tudo era muito obscuro. A própria desculpa dada por ele a um jornalista sobre o fato de ter sua própria segurança fortemente armada foi de que Belize era um país pobre indo de mal a pior, e com isso os roubos estavam aumentando muito. E mais, em menos de 1 ano, ele sofreu 11 tentativas de sequestro ou assassinato. E o melhor de tudo: alguns dos supostos assassinos foram contratados por ele, "todos que querem me roubar, me matar, trabalham para mim agora", disse. Problema resolvido.
Por causa destes fatos, a polícia resolveu investigar suas ações, o que resultou em uma invasão para acabar com um suspeito laboratório de metanfetamina. No entanto, o grupo de elite da polícia belizenha - treinado pelo FBI - encontrou "apenas" munições pesadas, pistolas, submetralhadoras, escopetas calibre 12, 20 mil dólares, além de garrafas contendo substâncias químicas desconhecidas. Nada de drogas, porém havia uma arma sem registro, o que o levou para a cadeia por uma noite. Depois desse episódio, John McAfee convenceu-se de que agora era alvo certo do governo (o que de alguma forma estava correto, pois as investigações não parariam tão cedo).
No entanto ele dizia que não podia deixar o país, pois se fizesse isso, em menos de 3 dias os traficantes do Carmelita, e todo tipo de criminosos iam voltar ao bairro e trazer terror à população que ele protegia. Nesta época ele morava com 5 mulheres em sua propriedade, cada uma variando entre 17 e 20 anos de idade, cada qual com seu bangalô, que ele ficava alternando em visitas durante o dia. Como se autodefinia, ele era tudo o que ficava entre a Carmelita e a criminalidade galopante. O próprio fato da polícia ter invadido sua casa foi porque ele tinha executado os traficantes locais fora da cidade e esses traficantes, que tinham conexões políticas, fizeram lobby para que a polícia atacasse-o. Se ele desistisse agora, ele estaria enviando uma mensagem de que o governo corrupto de Belize podia controlar qualquer um, até mesmo um americano rico.
2 de suas esposas
Mas se você acha que os problemas de John se concentravam "apenas" contra o governo de um país e um grupo de traficantes locais, está muito enganado, as rusgas se estendiam também ao seu vizinho. Ele e John mantinham uma relação difícil havia anos e complicaria ainda mais após Allison, a microbiologista, desistir do projeto infrutífero e sair do país. Foi nessa época também que McAfee começou - supostamente - a se envolver com traficantes russos e tentar purificar uma droga - legalizada em Belize - chamada Bluelight para criar um poderoso estimulante sexual que era injetado pelo ânus.
John costumava postar o progresso de suas pesquisas com a Bluelight periodicamente em fóruns da internet e sempre relatava que a droga dava uma paranoia que nem mesmo ele, que já havia usado vários tipos de substâncias, tanto naturais, como sintéticas, havia sentido. Nos relatos online ele contava que depois de fazer uso da sua invenção ele ficava por dias com uma grande ansiedade, vendo vultos no canto do olho, tendo alucinações, etc. No mesmo fórum sobre drogas ele afirmou ter feito mais de 22 quilos da droga e os ter distribuído em mais de 3 mil doses, no entanto, nem sua namorada, nem Adonizio afirmam tê-lo visto fazer qualquer coisa do tipo. Mais tarde ele diria que tudo não passava de um trote.
Não se perca, ainda estamos 2012, e o ano estava longe de acabar. Meses depois de voltar para casa, em novembro, a polícia passou a investigá-lo como principal suspeito pelo assassinato de seu vizinho, sim, aquele mesmo que dissemos que ele tinha uma relação problemática. O assassinato teria acontecido como resultado de uma longa discussão por causa dos cachorros de McAfee que seriam muito barulhentos e incomodariam o vizinho. Segundo John, Gregory havia envenenado seus animais, que estavam vomitando sangue e sofrendo muito. Um dos animais foi sacrificado pelo próprio John McAfee com um tiro, para que ele parasse de sofrer.
Quando a polícia chegou ao local do crime às 8 horas da manhã no dia 11 de novembro de 2012, encontrou Gregory Viant Faull caído em uma enorme poça de sangue. Ele havia levado um tiro de pistola calibre 9 na parte superior traseira da cabeça. No dia do assassinato, quando John estava em casa e viu que a polícia estava vindo - para mais incomodações bobas - conforme ele havia pensado, uma tática inusitada foi utilizada: Ele cavou um buraco na areia e se enterrou, colocando uma caixa sobre sua cabeça. Ele ficou nesse estado por horas. Quando saiu, seu jardineiro disse que a polícia havia levado suas armas e alguns capangas para esclarecimentos. Sem pensar 2 vezes ele concluiu que a polícia estava ali para incriminá-lo e por fim, matá-lo. O alvo original deveria ter sido ele, o vizinho tivera sido morto por engano em seu lugar.
Para se livrar dessa perseguição John McAfee resolveu fugir do país e pedir asilo na Guatemala. No entanto, o pedido de asilo não foi aceito, e ele teve de ficar escondido. O pior veio quando ele decidiu conceder uma entrevista a um blog, que através de uma burrada postou a matéria, esquecendo de desativar a geolocalização. Com isso a polícia chegou exatamente até John, ele foi preso em dezembro e deportado para os EUA no início do ano seguinte. E aqui, há mais uma grande jogada dele. No momento de sua prisão, John fingiu estar tendo um ataque do coração, dessa forma foi enviado diretamente para os Estados Unidos da América e não a Belize, como seria o correto, mas onde ele temia ser morto. Aqui, você pode ver ele afirmando que tudo não passou de um truque.
A tal perseguição que McAfee estava sofrendo em Belize era fruto de várias coisas, entre elas, que sua passagem pelo país tinha servido também para espionagem. Em seu site pessoal ele conta em um post que enquanto estava por lá, comprou 75 laptops baratos, instalou Keyloggers, recursos para ativar o microfone e câmera remota e discretamente, funções para receber logs completos, etc. e então os distribuiu a pessoas chave como funcionários públicos, oficiais da polícia, namorados(as) de pessoas poderosas(os), assessores de políticos, etc. Tudo foi registrado e analisado por sua equipe de 23 mulheres e 6 homens. 8 das mulheres moravam com ele, e uma, inclusive, quase foi morta por ser uma agente dupla.
McAfee disse ter grampeado telefones também através de aproximação com agentes em 2 das companhias de celular do país e no final, tinha descoberto tudo sobre os investigados. As conversas incluíam relatos sobre subornos, oferta de mulheres por favores, drogas, prostituição e mais: Segundo John, em seus registros, ele captou comunicações de uma célula do Hezbollah que tratava diretamente com terroristas e tinham planos de fazer um veneno mortal a partir de uma planta que era cultivada em seu campo de treinamento na Nicarágua. Aah, ele também tem registros de uma ordem de execução que partira do primeiro ministro belizenho. Essa história toda - é incrível - pode ser lida aqui, com direito a prints e áudios.
Já nos EUA as autoridades policiais e judiciárias afirmam tem conversas de John em que ele oferece drogas para amigos, o que ele nega veementemente. A polícia assegura que ele havia se tornado um dos chefes de um cartel de drogas na América Central.
Após 1 ano de calmaria, em janeiro de 2014 a polícia de Belize desistiu de continuar as acusações contra ele, retirando as queixas de tráfico e todas as outras que por ventura existiam. No entanto, seus bens no país foram apreendidos e leiloados, enquanto que sua casa no país, misteriosamente pegou fogo.
O antes e o "durante" o incêndio misterioso
Hoje, John McAffe virou uma lenda da internet, mora em Portland e atualiza constantemente seu site pessoal, tanto com vídeos engraçados no seu canal do YouTube, como este, logo mais abaixo, onde ensina a ser tão durão quanto ele, ou ele treinando tiro com alguma de suas tantas armas de fogo, como coisas de teor sério, como a história da espionagem, que relatamos e linkamos acima, espionagem que ele está sofrendo, etc.
Em seu site ele também comenta sobre assuntos relacionados à segurança digital e dá suas opiniões sobre casos polêmicos, como o recente ataque à Sony e a desistência de exibir o filme "A Entrevista". Bom, e se você chegou até o final deste artigo, leu as 2 partes inteiras e está certo de que alguma droga tirou McAfee do rumo certo, que ele ficou louco, veja abaixo um de seus últimos vídeos, onde ele hackeia ao vivo um smartphone do apresentador da Fox em questão de minutos para explicar como ocorreram os recentes ataques à Sony.
Se você entende de inglês (ou não, afinal o YT tem as legendas automáticas), o serviço de vídeo do Google está repleto de entrevistas com ele falando sobre segurança e outros assuntos. Interessantíssimo.
E uma última informação: lembram que no início da primeira parte falamos que a vida de John Macfee daria um bom roteiro de Holywood? Então se você gostou do que leu aqui vai ficar feliz, pois os direitos para uma dramatização de sua vida já foram vendidos. Agora é só aguardar para ver a louca história dele na telona. Agira, conte para a gente o que você achou desta história. Ele é ou não é o maior BADASS do mundo da tecnologia?
Fontes: Gizmodo, Wired, John McAfee, Mashable
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