Embora ainda sofram muito com o preconceito de gerações passadas, os videogames são indiscutivelmente uma das indústrias mais rentáveis que existem, afirmação essa que pode ser confirmada ao vermos que até Hollywood já foi superada por ela, em 2014, quando faturou mais do que o dobro do que a indústria do cinema arrecadou em 2013, US$ 81,5 bilhões.
Pensar em discutir valores de indústria em nosso país é um tanto quanto difícil, afinal, somos o 11° país no mundo que mais arrecada com games, pouco mais de 1,3 bilhões em 2014, um número que certamente seria muito maior se não tivéssemos nossos produtos taxados como artigos de luxo e nossas desenvolvedoras recebessem o merecido incentivo do governo.
Bom, já que o assunto é a história dos games e não a indústria, podemos começar dizendo que, se você acredita que tudo começa com o Atari ou o Odyssey, você está muito enganado, afinal, o primeiro programa de computador que pode ser considerado um game, surgiu muito antes dos anos 70.
O entretenimento sem objetivo financeiro
A interação entre humano e computador era muito difícil no começo da era da computação, afinal, ter de realizar todos os comandos complexos de forma manual e em linguagem de máquina não era algo que um leigo conseguiria aprender em um mês ou dois de estudos, por isso, era necessário desenvolver algo que chamasse a atenção de quem não entendia nada sobre as novas tecnologias para que essas pessoas vissem o potencial das gigantescas máquinas sem precisar saber o que as fazia funcionar.
O primeiro game criado na história, que de praxe necessitou da criação do primeiro árcade, foi Bertie the Brain, pelo engenheiro Dr. Josef Kates, uma máquina de quatro metros de altura que desafiava os visitantes da Exposição Nacional do Canadá de 1950 a jogarem uma partida de jogo da velha contra um computador, afim de testarem a sua inteligência. O árcade processava os comandos gerados por um teclado que reproduzia um tabuleiro, os jogadores desenvolviam suas jogadas, o computador que calculava estas jogadas de acordo com o nível de dificuldade escolhido e o monitor, onde tudo era reproduzido.
Depois do Bertie the Brain, outros poucos árcades de propostas parecidas surgiram, no entanto, nenhum foi mais bem aceito do que Tennis for Two, de 1958, criado pelo físico William Higinbotham, com o intuito de entreter os convidados do dia da visita anual ao Laboratório Nacional de Brookhaven. William teve a brilhante ideia de criar algo que quebrasse toda a chatice que era a visita ao laboratório oferecendo um game criado por ele em suas horas vagas.
Tennis for Two simulava uma partida de tênis em um osciloscópio por um ponto de vista lateral à uma quadra real, onde dois jogadores poderiam disputar uma partida utilizando um controle com dois botões: um para gerar a trajetória da bola e outro para bater. Com a novidade, pessoas começaram a visitar o laboratório só para jogar o game de William, o que gerou descaso com seus superiores, que acabaram dando um fim na máquina que o rodava.
Como vimos até agora, a década de 50 ainda não era muito promissora para os games, que desde o princípio foram vistos com maus olhos por tomarem tempo de quem os jogava, produzi-los ainda não passava de uma forma de criar um entretenimento estacionário, que não poderia ser movido sem a ajuda de um caminhão de cargas devido ao seu tamanho e peso, no entanto, isso passaria a se tornar um problema menor com a chegada dos transistores.
O potencial econômico finalmente é descoberto
Com a novidade de diminuir o tamanho dos computadores de uma sala para somente 1/4 dela, os transistores foram uma das maiores invenções tecnológicas que já existiram, tornava-se muito mais fácil distribuir energia para os componentes de uma máquina, de forma que ela fosse tão eficiente quanto suas antecessoras gigantescas.
Um dos primeiros computadores a utilizar transistores foi o TX-0, criado em 1960, uma máquina muito estudada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que procurava desenvolver ferramentas de programação e testá-las criando jogos como Mouse in the Maze, que simulava a fuga de um rato de um labirinto e Tic-Tac-Toe, um jogo da velha eletrônico.
Não demorou muito para o TX-0 ser substituído pelo PDP-1 já em 1961, um minicomputador que possuía um monitor com resolução nunca antes vista, 512x512 pixels, e que ainda tinha a capacidade de plotar qualquer ponto da tela. Com tantos recursos gráficos disponíveis para os estudantes do Instituto, era mais do que necessário criar um game para testá-los, trabalho este desenvolvido por Steve Russell com a ajuda de seus colegas. Surgia, então, Spacewar!
Spacewar! foi um sucesso tão grande entre o pessoal do MIT que eles resolveram oferecer o seu software à Digital Equipment Corporation, fabricante do PDP-1, que não só aceitou, como também passou a distribuir o game em todas as suas máquinas, tornando Spacewar! o primeiro jogo nativo de um computador e principal fonte de inspiração para programadores criarem os seus próprios. Esta foi a maior prova de que os jogos eletrônicos tinham potencial econômico suficiente para levantar uma indústria, no entanto, era necessário diminuir o preço dos computadores, que na época custavam centenas de milhares de dólares.
Com a diminuição do hardware, a oportunidade de mercado
Com a chegada dos microprocessadores e os computadores pessoais em 1970, tornava-se possível a cada pessoa ter o seu próprio computador por um preço não tão absurdo quanto eram as gerações anteriores, sendo assim, os jogos que antes eram apenas softwares para quem tinha a chance de utilizar os enormes computadores dos anos 60, agora estariam acessíveis a qualquer um que pudesse comprar um desktop.
Nolan Bushnell, um engenheiro do vale silício, tinha um ideal em comum com muitos outros colegas, desenvolver jogos para os computadores. O único problema enfrentado por Bushnell e seus colegas era que não havia muito incentivo para a criação de games em seu trabalho, por isso, deixaram os seus cargos e resolveram criar uma empresa que desenvolveria softwares de games sob a administração do engenheiro, que na época tinha apenas 28 anos, surgia assim, em 27 de junho de 1972, a Atari.
Bushnell escolheu o nome da Atari a partir de uma paixão que tinha sobre um jogo japonês que havia testado, neste jogo, sempre que o personagem atacava um inimigo ele anunciava o ataque dizendo: "Atari", sendo assim, o engenheiro sentiu que a palavra poderia ser um nome bom para a companhia por ter relação com jogos e também por ser agressivo.
Assim que conseguiu juntar dinheiro o suficiente para contratar o primeiro engenheiro da Atari (além dele mesmo), Nolan entrou em contato com Al Alcorn, que aceitou a proposta de criar uma plataforma que pudesse ser ligada a uma televisão comum, como se fosse um verdadeiro computador, no entanto, com exclusividade para jogos. Alcorn, Bushnell e seu sócio fundador Ted Dabney alugaram uma garagem onde passaram a trabalhar em seu primeiro projeto, o Pong.
Tão logo concluíram o seu projeto, Nolan e seus companheiros precisavam descobrir se o retorno financeiro do game seria bom, então fizeram uma máquina onde só seria possível jogar o jogo se uma moeda passasse por um dispositivo instalado em sua lateral e a colocaram em um bar próximo à garagem onde trabalhavam. Ambos os desenvolvedores resolveram checar de perto qual seria a reação das pessoas que jogassem Pong, - e você pode imaginar - o resultado foi incrível.
A descoberta do potencial de mercado
No segundo dia de funcionamento de sua máquina no bar próximo de sua garagem, Bushnell recebeu uma ligação do dono do estabelecimento dizendo que sua máquina havia estragado. Ao chegar no local para consertá-la, o engenheiro acabou descobrindo que o problema era o simples fato de que não cabia mais uma única moeda no recipiente que haviam instalado para guardá-las e, claro, a solução para tal problema era simples e gratificante.
Assim que os sócios da Atari perceberam que poderiam ter uma mina de ouro nas mãos, resolveram alugar um galpão que servia como um antigo ringue de patinação para instalar a sua própria fábrica de fliperamas, tendo como principal meta conseguir fabricar 100 maquinas de Pong por dia e distribuí-las por todo o país, assim iniciava-se a história financeira de sucesso da Atari e dos videogames.
Como a demanda de máquinas era grande, Nolan precisou contratar qualquer operário ou vagabundo que pudesse encontrar na rua, por isso, se viu obrigado a contratar até mesmo bandidos para trabalharem na fabricação de seus fliperamas. Em menos de um ano, mais de dez mil Pongs já estavam espalhados por todo o território dos Estados Unidos.
Bom, como ainda temos muito para contar sobre a história dos videogames, vamos dividir nossa matéria em partes para que não fique tão exaustivo ler um texto tão grande, dessa maneira, disponibilizaremos o link da segunda parte aqui em breve.
Na parte dois da história dos videogames, vamos descobrir por que a Atari foi processada logo depois que tornou-se um sucesso e também conheceremos o seu próprio console, o Atari 2600.
Fontes: Wikipedia, Museum of Play, Infoplease
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