Assim como falamos na Parte 1, os games sofreram um enorme preconceito desde que foram criados pela primeira vez, estas críticas se intensificaram assim que eles começaram a se tornar um negócio e não mais apenas uma diversão. Nolan Bushnell e seus sócios da Atari acabariam descobrindo isso em pouco tempo no mercado, no entanto, acabaram tendo de se preocupar com algo um pouco pior, um belo processo judicial por direitos autorais.
Para entendermos o motivo do processo, precisamos voltar um pouco no tempo em relação ao que contamos na última publicação da história dos videogames, vamos conhecer Ralph Baer Henry, um alemão-americano engenheiro e projetista de televisores.
Ralph Baer e o primeiro console de videogame
Desde que os computadores surgiram, na década de 50, Ralph percebeu que aquelas máquinas monótonas e gigantescas poderiam servir como uma forma de entretenimento, acompanhou o seu desenvolvimento e, assim que chegaram os transistores e os computadores pessoais, teve a genial ideia de fazer um pequeno computador que rodasse apenas jogos e fosse controlado por um pequeno controle com um único botão e até uma arma de luz para atirar nos jogos, uma tecnologia extremamente à frente do seu tempo. O engenheiro chamou o seu console de Brown Box, isto devido as fitas marrons com que envolvia o seu protótipo para simular um revestimento de madeira.
Dois dos primeiros jogos que Baer desenvolveu para o seu protótipo foi um jogo de pega-pega, Chase Game, onde dois pixels se perseguiam na tela da televisão e outro que reproduzia uma partida de ping-pong, Table Tennis, quase que exatamente como o Pong de Bushnell, no entanto, o jogo de Baer estava supostamente em desenvolvimento desde 1966, tendo a sua patente registrada antes mesmo da criação da Atari, em 15 de janeiro de 1968.
Assim que tinha jogos o suficiente para apresentar a uma fabricante de televisores, Ralph começou a sua jornada em busca de uma empresa que comprasse a sua ideia e a reproduzisse, fabricando o seu produto a nível de mercado. Depois de muito tempo procurando, o protótipo Brown Box de Baer foi aceito pela Magnavox (que mais tarde se tornaria a Philips), que resolveu mudar o nome e também o design do console, criando, em agosto de 1972, o Magnavox Odyssey, o primeiro console de videogame da história.
Brown Box de Ralph Baer
O processo judicial contra a Atari
O Odyssey em pouco tempo fez um enorme sucesso para um produto tão inovador, além do controle e da arma de luz já propostos por Baer, a Magnavox adicionou uma espécie de papel lâmina colorido que simulava os gráficos do jogo, que inicialmente eram apenas pixels.
Enquanto ainda trabalhava no vale do silício, Bushnell visitou uma feira de tecnologia onde o Odyssey estava exposto pela primeira vez, acabou conhecendo o viciante jogo de tênis de mesa de Baer e viu que poderia fazer algo melhor e ser tão bem aceito quanto foi o projetista alemão. A presença do dono da Atari no evento do Odyssey foi confirmada por um documento de saída de campo do vale do silício que listava o nome de Nolan, o que só dificultou a sua vida no processo judicial.
Se você está lembrado, na primeira parte de nossa matéria falamos de todo o sucesso que o Pong fez nos Estados Unidos, portanto, era claro que não demoraria muito para os boatos chegarem até a Magnavox, que incentivou Ralph a processar Bushnell e a Atari por violação de direitos autorais ao copiar o seu jogo Table Tennis.
Depois de quatro anos de negociações, Bushnell e Baer se encontraram pela primeira vez nos degraus da corte federal de Chicago, em 1976, onde seria decidido o desfecho do processo. Para evitar que a ação fosse a julgamento, a Atari resolveu pagar direitos autorais à Magnavox, reconhecendo a patente de Baer, um valor equivalente a US$ 400.000 dólares, o que já não era tão caro alto para uma empresa que arrecadava milhões com o Pong.
O começo da era dos consoles
Como a Atari viu que, mesmo depois de muito tempo no mercado, filas ainda se formavam para jogar o Pong nos bares onde eles eram implantados, era preciso expandir ainda mais as suas vendas. Se ela conseguia tanto dinheiro com máquinas para estabelecimentos, por que não conseguir uma maneira de vender jogos para qualquer pessoa assim como o Odyssey? Era, então, criado o Home Pong, uma versão doméstica do Pong na qual as pessoas podiam conectar um aparelho na televisão e jogar o famoso jogo dos fliperamas.
Allan Alcorn, o primeiro engenheiro contratado por Nolan, chegou à conclusão de que poderia criar um chip que dispensava todos os fios de que a máquina de Pong precisava, tornando possível a venda do console para qualquer pessoa por um custo baixíssimo. O único problema neste momento era encontrar uma loja que quisesse comprar os seus produtos para revendê-los.
As primeiras tentativas de vender o Home Pong foram em lojas de brinquedos, onde todas as propostas foram recusadas, então, um funcionário sugeriu que o console fosse oferecido para o departamento de esportes da Sears, uma rede de lojas de vários departamentos diferentes, que aceitou a oferta da Atari e pediu cento e cinquenta mil aparelhos para serem entregues antes do natal de 1975, um pedido grande demais para a empresa, que se viu obrigada a abrir mais uma fábrica para cumprir o prazo.
Como era esperado, não sobrou um único Home Pong nas prateleiras da Sears, que mostrou ao mundo o quão grande era o potencial da indústria dos videogames, servindo de inspiração para muitos fãs que, mais tarde, acabariam se tornando desenvolvedores tão famosos quanto os seus ídolos.
A segunda geração de consoles e a febre dos cartuchos
Os primeiros consoles de videogame a chegarem no mercado vinham com os seus jogos previamente instalados no hardware, o que acabava limitando a vida útil dos aparelhos de certa forma, por isso, era preciso aumentar esse tempo de mercado e oferecer a possibilidade de lançamento de novos títulos para o mesmo videogame.
Pensando em uma maneira de criar um videogame que pudesse se manter por um bom tempo no mercado e recebendo novos jogos periodicamente, a Fairchild Semiconductor criava o primeiro console com jogos por cartucho, o Fairchild Channel F, lançado em 1976. Para o azar da Fairchild, a Atari já estava desenvolvendo um novo console, o Atari 2600, que viria a cobrir boa parte do sucesso que o Channel F estava fazendo.
Foi exatamente no começo da segunda geração de consoles que o preconceito sobre os videogames começou a surgir. Os noticiários mostravam crianças que deixavam de ir para a escola para ficarem em fliperamas durante o dia todo gastando o dinheiro que seus pais haviam dado para o lanche e homens perdiam os seus empregos para tentar manter o seu recorde na máquina que jogavam todos os dias. Para ao menos diminuir as críticas, era preciso investir ainda mais nos consoles domésticos, onde seria possível jogar em momentos mais oportunos e não em horário comercial.
Em 11 de setembro de 1977 chegava ao mercado o Atari VCS, mais conhecido como Atari 2600, um console com gráficos melhorados, melhor processamento e ainda possuindo a novidade do momento: os cartuchos, que não apenas levavam os melhores games do momento, mas também podiam servir como peças de coleção.
No Atari 2600 era possível jogar todos os famosos jogos de fliperama com a ajuda dos manetes, controles da época muito usados para jogar jogos de carros, tanques e até o próprio Pong, que ainda era famoso. No entanto, a Atari precisava ficar de olho na concorrência internacional, estudar as tendências de mercado e pensar onde aplicar seus recursos, que ainda eram bastante destinados aos fliperamas.
Um jogo de fliperama que estava fazendo um sucesso tão absurdo no Japão que acabou causando uma escassez de moedas de 100 Ienes era Space Invaders, desenvolvido pela Taito Corporation. Logo que a Atari ficou sabendo da fama do jogo e, em 1980, comprou os direitos da Taito para poder fazer uma versão para o Atari 2600 de Space Invaders, esta foi a primeira adaptação de um árcade para o console na época, que por sinal foi um completo sucesso, afinal, só no natal milhões de cópias foram vendidas.
Vários jogos foram muito bem aceitos no Atari 2600, bons exemplos são Dig Dug, Space Invaders, Combat, Super Breakout e o famosíssimo Pitfall, jogos que ficaram eternizados na história dos games e que hoje são quase uma raridade, principalmente por terem popularizado a cultura de coleção de cartuchos dos consoles da primeira geração. A Atari estava indo muito bem como pioneira e líder absoluta no mercado de videogames, no entanto, uma única proposta foi o suficiente para acabar com todo esse sucesso.
A queda da Atari
Em 1976 a Warner Communications ofereceu 28 milhões de dólares para Bushnell, uma quantia extraordinária para a época, ainda mais sendo a respeito de uma empresa que havia começado com míseros 500 dólares de capital, o que fez com que Nolan a entregasse para o declínio total nas mãos de pessoas que não entendiam absolutamente nada da área, uma decisão que mais tarde ele se arrependeria.
Não demorou muito para os novos donos da Atari tentarem mudar todos os conceitos de liberdade de ideias e criações impostos por Bushnell, o que acabou causando muitos conflitos e o afastamento completo do ex-proprietário, que seria seguido por muitos funcionários insatisfeitos com as mudanças e dispostos a criarem a própria companhia de games, a Activision.
Como feito na primeira parte de nossa publicação de ontem, vamos separar esta matéria em mais uma para que ela não se torne uma leitura tão monótona, assim você pode voltar ao nosso site amanhã e continuar lendo a terceira sessão da história dos videogames.
Na parte três vamos conhecer o surgimento da Activision, a entrada da Nintendo no mercado de games e a chegada da terceira geração de consoles.
😕 Poxa, o que podemos melhorar?
😃 Boa, seu feedback foi enviado!
✋ Você já nos enviou um feedback para este texto.