A Netflix é uma das empresas mais amadas tanto no Brasil como no mundo e o sucesso dos nossos especiais Netflix prova isso. Não poderia ser diferente, eles têm o melhor SAC, oferecem conteúdo de qualidade, está disponível para o cliente na hora em que desejar e tudo por um preço justo, afinal, a mensalidade mais cara custa menos do que 1 sessão de cinema e você nem precisa sair de casa.
Hoje o serviço está presente em quase todos os países do mundo. São mais de 190 e apenas em 3 deles não é possível acessar o conteúdo, como locais nos quais o governo dos EUA impõem restrições: Crimeia, Coreia do Norte, Síria e a China. Bem, este último ela não está disponível mais ou menos, na verdade (a questão é complicada, mas está explicada abaixo em detalhes).
Hoje, quem vê ela disponível em quase todos os cantos do planeta nem imagina que a Netflix não começou com streaming de conteúdo e também não é uma daquelas startups que explodiram em 1 ou 2 anos.
Se você ainda acredita naquela velha história de que a ideia surgiu quando Reed Hastings teve que pagar 40 dólares de multa por ter atrasado a entrega do filme Apolo 13 (link da Netflix aqui), então saiba que foi enganado. Essa é só a "versão oficial" para criar uma aura mitólogica sobre a marca. Continue lendo o texto e conheça a história verdadeira da Nerflix.
Países em vermelho onde a Netflix está presente
Diferentemente do que todo mundo pensa, a NetFlix (ela tinha o "F" maiúsculo até 2002) é mais velha do que muitos usuários. Ela foi fundada por Reed Hastings - matemático e cientista da computação - e Marc Randolph - marketeiro e empreendedor - em 1997 (sim, lá se vão 20 anos).Os 2 se conheceram na primeira empresa fundada por Hastings, a Atria Software, uma empresa que fazia o controle e identificação de bugs e controle de desenvolvimento para softwares mais complexos, onde Rudolph assumiu o cargo de diretor de marketing.
Em suas conversas eles viram que tinham algo em comum: ambos admiravam o modelo de negócios online que a Amazon tinha implementado e, assim como Elon Musk, os criadores do Google, e tantos outros empreendedores desta época, eles queriam descobrir algo que também pudessem vender pela internet.
O mercado escolhido foi o da locação de filmes, que girava 16 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos. Só havia um porém: As fitas VHS eram muito frágeis para serem despachadas via correio. Problema que foi resolvido quando eles ficaram sabendo dos tais DVD's, novidade no mercado que eram perfeitos para o envio: leves, pequenos, resistentes e cabiam em um envelope.
A lógica do negócio seria a seguinte: o usuário do serviço entraria no site (que seria a plataforma escolhida), selecionaria o título que desejava ver; o DVD era enviado pelos correios; o assinante ficava com o disco por quanto tempo quisesse; e depois o mesmo era retornado gratuitamente também pelos correios. Tudo por apenas 50 centavos de frete por cada DVD enviado (custo de envio extinto depois), sem multas por atraso, sem custo extra por determinado título e o principal: a possibilidade de um mesmo usuário receber vários DVD’s em casa ao mesmo tempo de acordo com o seu plano de assinatura (até o máximo de 8). O assinante ainda tinha ainda a opção de comprar o DVD caso quisesse.
Com a fórmula em mãos eles começaram a trabalhar, oficialmente, em 29 de agosto de 1997, na cidadezinha de Scotts Valley, de menos de 10 mil habitantes. O aporte inicial para comprar os 925 títulos disponíveis (o que era quase todos os filmes produzidos em DVD até o momento) e contratar os 30 funcionários iniciais veio de um financiamento de 2.5 milhões de dólares de Steve Kahn e também da fortuna recém adquirida de Hastings, que havia vendido a sua empresa de software por nada mais nada menos do que 700 milhões de dólares, a aquisição mais cara do Vale do Silício até então.
Marc Rudolph e Reed Hastings
O início oficial das operações ao público ocorreu em 1998, quando eles lançaram o site onde você fazia a solicitação de quais DVD's gostaria de receber na porta da sua casa através dos correios. Nesse primeiro momento os valores ainda eram cobrados por disco separado. Mas quem poderia reclamar? Se antes você tinha que ir até uma videolocadora, ou um cinema para assistir um filminho, a partir de então poderia fazer tudo isso através de um site. Foi verdadeiramente revolucionário.
A ideia deu bastante certo e já em 1999 a Netflix recebeu um aporte de investidores no valor de 30 milhões de dólares. Alguns meses depois veio também o formato da assinatura, que conhecemos até hoje. Com tudo dando certo, os fundadores achavam que a Netflix estava em seu potenceial máximo e era chegada a hora de fazer dinheiro com a criação. Assim eles fizeram uma oferta para a Blockbuster, maior rede de videolocadoras do mundo que em seu ápice chegou a ter cerca de 60 mil funcionários espalhados por mais de 9 mil lojas ao redor do mundo. A rede teve a chance de comprar a Netflix e assumir o negócio por apenas 50 milhões de dólares (hoje a Netflix é avaliada em 70 BILHÕES).
O irônico é que a marca não quis comprar a Netflix por desacreditar na premissa de locar um filme sem pegá-lo na mão, sem ver a caixinha, o encarte, etc. O resultado disso, como a gente já sabe, foi que a Netflix não fracassou como a Blockbuster previu e, para piorar, quem faliu foram eles!! 2010 foi o ano em que a tradicional rede de videolocadoras anunciou sua falência e começou a negociar seu desmanche para outras marcas ¯l_(ツ)_/¯
Proposta rejeitada, concorrência ainda mais acirrada após a Redbox surgir (que alugava DVD's a partir de quiosques automáticos) e vida que segue para a Netflix. O próximo passo foi abrir a empresa aos acionistas em 2001, em uma tentativa de equilibrar as contas, já que, mesmo com todo o sucesso e a avaliação milionária do mercado, o negócio ainda era deficitário e o balanço sempre fechava no vermelho. O valor da ação foi estipulado em 15 dólares (hoje está em 168 USD, após atingir um pico de 189 dólares por papel) e 5.5 milhões de ações foram emitidas: arrecadação de 82.5 milhões de dólares.
A marca teve um impulso inusitado em 2001, logo após os ataques terroristas de 11 de setembro, quando depois da tragédia viu seu número de assinantes dobrar, tudo graças ao medo dos americanos de deixar suas casa, optando por receber um filme sem sair do sofá. Mesmo assim eles continuaria "perdendo" dinheiro por causa de investimentos. marketing, aquisições de DVD's e tudo mais. Cenário complicado de entender, mas assim continuaria o forte crescimento e o contínuo prejuízo nas operações; até 2003, primeiro ano em que a Netflix terminaria com mais ganhos do que perdas. Não por coincidência, esse foi o ano em que a marca de 1 milhão de assinantes foi atingido.
Em 2004 uma reviravolta:,Marc Rudolph deixa a empresa em um cenário de mistério. Ninguém comenta muito sobre o assunto e até hoje os porquês da sua saída não foram totalmente explicados. Rudolph, muito humilde, somente disse que a melhor ideia de sua vida foi sair e deixar Hastings de CEO em seu lugar. Os resultados mostram que ele está coberto de razão.
o que pouca gente sabe é que, ainda em 2006, a Netflix daria um passo importante para se tornar o que ela é hoje. Foi quando eles esboçaram pela primeira vez a vontade em ser um distribuidor e criador de conteúdo original.
Foi através da criação do Red Envelope Entertainment (Envelope Vermelho Entretenimento - referência à sua característica embalagem em que são despachados os discos) que a empresa começou a distribuir conteúdo e até apostar na produção de conteúdo original com diretores como John Waters no time. Porém, ainda não vamos confundir com as produções originais como House of Cards e outras, essas só viriam bem depois.
A divisão Red Envelope não teve vida longa e foi encerrada em 2008 após distribuir e produzir mais de 100 títulos, entre eles os bastante conhecidos: 2 dias em Paris e Super High Me. O motivo do encerramento dessa divisão foi que em neste primeiro momento a Netflix queria evitar a disputa com os estúdios parceiros. A Netflix como um verdadeiro estúdio de cinema demoraria um pouquinho mais para se tornar realidade.
Até então o serviço avançava somente com DVDs físicos, chegando a mais de 35 mil títulos diferentes disponíveis e despachando mais de 1 milhão de cartinhas por dia em 2005 (eram 190 mil em 2002 e, em breve, em 2007, a marca de seria atingida). Porém, a competição se acirrava cada vez mais: a Blockbuster, ciente de ter feito a maior c!#&¨#@ da sua história teve de correr atrás do prejuízo e lançou o seu próprio serviço ilimitado de empréstimo de filmes, por U$ 19,99 ao mês; e para piorar, a Amazon, inspiração inicial para o modelo da Netflix resolveu entrar na briga também. Ironicamente, a entrada da Amazon foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para Hastings e a Netflix: eles "inventaram" o streaming.
Mas antes de falar do capítulo principal dessa história, um pequeno adendo sobre as cartinhas: Parte desse prejuízo que a empresa tomava vinha do fato de que o mesmo envelope em que você receberia o disco seria também o envelope que você devolveria o DVD, tudo de graça, sem gastar 1 centavo pela devolução. A Netflix queria garantir que tudo desse certo, assim, mais de 200 modelos de envelopes foram testados até achar aquele que melhor se adaptaria à função.
Com tudo pronto, agora estava garantido o retorno correto e em segurança dos discos, além de uma conta alta com os correios, é claro. Tá achando exagero? Pois saiba que a empresa chegou a gastar mais de 20 milhões de dólares somente em 2007 com as postagens dos seus discos.
Pois bem, a Amazon tem mesmo o dom de ser inovadora, e o streaming foi mais um deles. Vendo que a Netflix estava deslanchando no mercado de vídeo doméstico, que diversos concorrentes estavam surgindo e que a grana que iria girar nesse modelo de negócios era assustadora, eles resolveram entrar na briga. Sua contribuição foi introduzir o conceito de streaming, ou seja, acesso imediato ao conteúdo, sem ter que solicitar o DVD e esperar o correio entregá-lo para você.
Hastings adorou a ideia e decidiu que a sua empresa tinha que entrar nessa onda para não ficar para trás, afinal, este foi o erro da Blockbuster há alguns anos e ele não queria repeti-lo. Assim, pouco mais de 4 meses depois do surgimento da Amazon Video, a Netflix anuncia, em 15 de janeiro de 2007, que também ofereceria o seu conteúdo no formato acesso imediato. Viu só? Foram quase 10 anos de história para que o streaming aparecesse na Netflix, e você aí reclamando quando sua transmissão em 4K tranca. Shame on you.
E quem acha que com o início das atividades de streaming a Netflix aposentou o "obsoleto" DVD físico e o sistema de entrega via correio está redondamente enganado.
Em informações oficiais aos investidores, a Netflix anunciou que, embora venha perdendo assinantes mês após mês, no final do segundo quartel de atividades de 2017 (abril ~ junho), o formato de assinanatura do serviço de envio de DVD físico ainda conta com mais 3.7 milhões de assinantes mensais e cerca de 20 centros de distribuição (contra 103 milhões no sistema de streaming, porém os DVD's só estão disponíveis nos EUA enquanto o streaming em quase todos os países, como vimos no início do texto).
Embora os números mostrem que aqueles que preferem o sistema de aluguel de DVD físico já é irrisório frente o seu auge em 2010 (quando 20 milhões tinham a assinatura e cerca de 50 centros de distribuição, cada um com capacidade para enviar 50 mil encomendas por dia, na média, corriam para fazer os despachos), somente nos 6 primeiros meses de 2017 o sistema de envio de DVD já gerou uma receita de mais de 235 milhões de dólares para a Netflix. Descontados os quase 113 milhões de custos de operação (novos DVD's, correios, manutenção, armazenamento, etc.) o lucro líquido foi de mais de 122 milhões de dólares. Tá bom para uma mídia considerada ultrapassada, certo? A média de perda de assinantes neste formato é de 800 mil por ano, o que dá ainda mais uns 4 ou 5 anos de envio de DVD's caso a Netflix queira extinguir o serviço somente após o último assinante cancelar o contrato.
E um último dado: Embora o streaming seja mais volumoso e rentável por conta de uma base de assinantes bem maior, seu lucro líquido é de 23% sob a receita, enquanto que com os DVD's a margem é de 52%. Sim, contrariando o pensamento geral, o DVD é bem mais rentável do que o streaming, ao menos na proporção lucro x receita.
Ainda segundo os dados para os investidores (este de 2013), a Netflix possui, praticamente, pelo menos uma cópia de qualquer filme já feito. São quase 100 mil títulos em mídia física entre filmes, séries, programas de Tv, etc. Já pensou ter que se desfazer disso tudo de uma hora a para a outra??? Segundo Cliff Edwards, diretor de comunicações, isso não vai acontecer tão cedo: "Não há planos de desativar o serviço de uma vez [...] Será um declínio gradual. Ainda veremos o serviço funcionando por mais dez anos ou mais." O posicionamento foi feito em 2015.
A diferença entre o streaming e o envio de DVD é que no DVD não há as séries exclusivas Netflix, como Orange is the New Black que nunca foi lançado em mídia física. Já as vantagens do DVD é que um novo filme sai em mídia física (e chega no depósito da Netflix) meses antes do contrato com os estúdios permitir que ele seja distribuído pelo site e aplicativos on demand. Quanto ao tempo de entrega, a Netflix informa que em 92% dos casos o DVD chega em até 24 horas ao solicitante.
Mas voltando ao streaming, foi em 2007 que o jogo começaria a virar para a empresa. Porém, naquela época as coisas eram um pouco diferentes de como estamos acostumados hoje em dia. No lançamento cada assinante tinha direito a apenas 1 hora de vídeo por dólar da assinatura, em média. O plano de U$$ 16.99 permitia que o usuário assistisse 17 horas de vídeo no mês. Note que nesse momento não havia assinatura específica para streaming como acontece hoje nos EUA, onde você opta por assinar o serviço de entrega de DVD, o conteúdo on demand ou ambos.
Ao ver que as pessoas estavam gostando do novo formato de entrega do conteúdo, a Netflix começou a fazer testes no ano seguinte, quando liberou o streaming sem cláusulas de X horas assistidas por mês, pelo menos para aqueles que tinham uma assinatura mais robusta, pois quem tinha o plano de U$$4,99 - que dava direito a 2 DVD’s por mês - ainda ficaria com a condição de poder assistir somente 2 horas de streaming a cada 30 dias. A medida foi, sobretudo, impulsionada pela maior fonte motivação para as empresas: A concorrência. A Netflix alterou sua política e facilitou o acesso ao streaming após a estreia do Hulu e da venda de vídeos pela Apple.
A partir de então a empresa começou a fechar diversas parcerias para criar o gigantesco catálogo que dispõe hoje. Após a primeira parceria (Warner Brothers e Columbia) em 2001, em 2008 foi a vez de uma parceria com a Starz; em 2010 com a Paramount, Lions Gate e MGM por 5 anos ao custo de 1 bilhão de dólares; a Fox veio em 2012 com suas tantas séries de nome (contrato rescindido em 2017 para tristeza geral de todos); em 2013 foi a vez de comprar os direitos de tv da DreamWorks, dentre outras. Tais decisões fizeram com que Reed Hastings fosse eleito o CEO do ano pela revista Fortune.
A expansão internacional começaria em 2010 com o Canadá. Nós brasileiros seríamos o 3º país a receber o serviço, mas não vamos falar disso agora. Reservei um capítulo à parte para a conquista do mundo pela Netflix logo em seguida. Siga lendo.
Mas nem tudo pode ser considerado acertos na vida da Netflix, na verda houve erros feios na trajetória. O maior deles, sem dúvida, aconteceu em 2011 quando Hastings anunciou que tinha a intenção de desmembrar o serviço de streaming (que continuaria chamando-se Netflix) e o serviço de envio de DVD’s e também videogames (que se chamaria Qwickster, uma nova empresa). A ideia não foi bem recebida e as ações da companhia despencaram ao ponto do CEO cancelar essa ideia menos de 1 mês depois. As perdas incluíram cerca de 600 mil cancelamentos de assinaturas naquele quadrimestre e uma baixa de 11 dólares no valor das ações somente em 1 dia.
Claro que um ponto errado em meio a uma trajetória de acertos não desqualifica em nada o resultado final. E os números provam isso. em 2014 alcançou-se a marca de 50 milhões de assinantes espalhados pelos 41 países do mundo onde a empresa operava. Em 2015 ela teve uma grande valorização e foi avaliada em 32.9 bilhões de dólares, superando o valor de mercado da rede tradicionais de televisão como a americana CBS, avaliada em 30.6 bilhões. A título de comparação, a CBS é a responsável pela criação ou distribuição de clássicos como NCIS, Criminal Minds, The Big Bang Theory, M*A*S*H, Two and a Half Men, The Mentalist, Cold Case, Hawaii Five-O e muitas outras. Detalhe: a maioria disponível no serviço de streaming.
Bom, hoje, ninguém pode negar que a Netflix é sucesso absoluto. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela apareceu como responsável por 37% de todo o tráfego de internet no país na última pesquisa feita em 2015 (estima-se que o número esteja ainda maior). Isso é o suficiente para começar a pensar no peso e impacto que uma única empresa tem sobre o tráfego de dados. E olha só esse dado: No mundo inteiro são assistidas mais de 125 milhões de horas de conteúdo por dia!!
Todo esse sucesso é culpa do conteúdo oferecido. E você tem noção de quanto é esse conteúdo? Somente em streaming a Netflix possui mais de 3.5 petabytes de dados (cada petabyte corresponde a 1024 terabytes, que, por sua vez, cada terabyte é 1024 gigabytes. Assim, 1 petabyte é 1 milhão 48 mil e 576 gigas). Cada filme ou episódio está armazenado em mais de 50 formatos de dados diferentes, tudo para garantir que de alguma forma vai funcionar.
E o impacto da Netflix vai além do peso causado na internet. As transmissoras de conteúdo convencionais como canais de Tv e canal a cabo já sentem uma queda gigante na arrecadação, principalmente a Tv a cabo que vende 30 ou 50 canais pelo quádruplo do preço dos milhares de filmes da Netflix. Nos Estados Unidos o número de residências que além da Netflix pagava pela tv a cabo caiu de 88% para 80% (dados de 2010 e 2014, respectivamente), ou seja, as pessoas estão cancelando suas tv's a cabo e ficando apenas com o streaming.
O bom para nós é que eles terão de se mexer e se oferecer um conteúdo melhor caso queiram continuar na briga. Até os canais abertos estão colocando seu conteúdo completo na internet, coisa impensável até alguns anos atrás. O ruim é cada vez mais serviços exclusivos surgirão e você terá que assinar todos eles de maneira individual para ter acesso a conteúdo variado.
A HBO, por exemplo, possui o HBO GO que detém Game of Thrones, WestWorld, entre outros. A Fox retirou suas séries para criar seu próprio serviço. A Disney já anunciou que não renovará seus contratos no término por que tem a ideia de entrar no mercado de streaming.
A última grande "inovação" (entre aspas pois já existia na Amazon Prime Video há mais de ano) foi a possibilidade dos assinantes baixarem o conteúdo em seus dispositivos para que assistissem enquanto offline. O recurso era o mais aguardado de todos.
Segundo Neil Hunt, chefe de produtos da Netflix, o modelo que eles apresentam hoje é o modelo padrão para as emissoras de televisão em 2025, onde cada usuário terá a liberdade de escolher o que assistir e quando assistir. Torçamos =D
Problemas judiciais
Claro que não há a possibilidade de se tornar a maior empresa do mundo sem um probleminha aqui, outro ali, certo? Em 2010, mesmo ano em que começou a expansão internacional, ocorreu a primeira grande controvérsia da Netflix. Foi durante um concurso para que fosse desenvolvido um algoritmo de sugestões para os usuários melhor do que o utilizado na época (criado em 2006 também através de um concurso no qual o prêmio foi de 1 milhão de dólares). Para que as equipes pudessem começar a criar a ferramenta foi preciso que a Netflix disponibilizasse informações de usuários, como lista do que assiste, tempo que fica vendo, rotina, etc. Claro que todos os dados seriam passados de maneira anônima.
Pois é, mas não foi. Descobriu-se depois que os dados eram vulneráveis e podiam ser rastreados e decodificados para se chegar até seu dono. Isto causou uma grande discussão sobre direitos e sobre privacidade. A FSF - Free Software Foundation - promoveu uma campanha para que os usuários cancelassem a assinatura. Mais pontual do que uma campanha de internet foi o processo judicial movido pela KamberLaw, que foi encerrado após um acordo.
Outras ações também já foram movidas, como o grupo que representa os surdos nos Estados Unidos e afirmou que os lançamentos não tinham legenda, o que impossibilitava os deficientes auditivos de acompanhar o conteúdo. A ação foi movida em 2011 e já em 2012 a Netflix afirmou ter aumentado significativamente o conteúdo legendado. Depois disso a companhia passou a tomar medidas interessantes, como, por exemplo, a inserção de legendas feitas por um fansub, ou seja, um grupo de fãs. O caso ocorreu na Finlândia.
Expansão internacional
Como vimos, a Netflix começou com o serviço de streaming em 2007, mas o primeiro país a poder usufruir do serviço iria demorar mais alguns aninhos. Foi o Canadá, em 2010. Menos de 4 anos depois, 30% da população de língua inglesa do país já eram usuários de Netflix.
O sucesso da empreitada canadense foi excelente para nós, pois deu a ideia para que a Netflix continuasse conquistando mais e mais países. O alvo da vez foram 43 países da América Latina, entre eles países como Brasil (1º país do bloco a receber e o 3º do mundo), Argentina, Chile, Colômbia, México, e outros 38 países.
Hoje a Netflix é um sucesso por aqui, porém, no início a coisa foi temerosa, pois o Brasil, e todos os países em geral, possuíam uma conexão de internet média muito lenta. No Brasil, por exemplo, somente 20% de usuários tinham a velocidade acima de 500 KB/s quando 800 KB/s eram considerados o mínimo necessário para conectar no serviço.
Em 2012 foi a vez da Europa receber a Netflix. Os primeiros países foram Reino Unido e Irlanda em janeiro. Quase terminando o ano foi a vez da Escandinávia: Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega. A Holanda foi o próximo, em 2013, e este ano foi especial pelo seguinte motivo: 3 bilhões de dólares em assinatura nesse ano. A essa altura já eram 32 milhões de usuários nos EUA (30% da população) e 10 milhões espalhados pelo restante do mundo.
Grande sacada investir em expansão. Note que se antes a base de usuários crescia a uma taxa de 2.4 milhões de usuários ao ano, depois, em 2014 essa taxa passou a ser de 7 milhões por ano.
Oceania recebeu o serviço em março de 2015 com a estreia de Austrália e Nova Zelândia na lista de países disponíveis. A Ásia receberia alguns meses depois, sendo o Japão o pioneiro por lá.
O grande (gigante) passo foi dado na CES de 2016, quando em 6 de janeiro, Reed Hastings anunciou que mais de 130 novos países iam passar a assistir Narcos, House of Cards, etc. Agora a dominação total está cada vez mais próxima. Teve até vídeo de comemoração.
Isso porque a Netflix já está distribuindo seu conteúdo no país através de um licenciamento com o serviço local de streaming chamado iQiyi, que faz parte do império Baidu. O serviço, que tem cerca de 500 milhões de telespectadores mensais e mais de 5.5 bilhões de horas assistidas por mês, aceitou disponibilizar alguns conteúdos originais Netflix.
Após anos de negociações, com o governo local, as barreiras chinesas impediram que a Netflix estreasse por lá. O que denota a intenção clara da empresa de Hastings de se fazer presente no país pode ser notada no títulos originais com temas e ambientações na própria China, como o filme Sword of Destiny e a série (já cancelada) Marco Polo.
Para ver como é difícil entrar na China com qualquer tipo de conteúdo, clique no box ao lado.
Conteúdo original
Hoje a Netflix não é somente conhecida por ser uma distribuidora de conteúdo, ela é uma produtora de conteúdo original. Somente nos últimos anos foram anunciados investimentos de mais de 5 BILHÕES de dólares em conteúdo assinado com a marca Netflix. O valor é pouco mais do dobro do orçamento da poderosa HBO, produtora de, entre outros, do incrível Game of Thrones.
A primeira série própria a estrear foi House of Cards, em 2013, um drama político que até o momento já recebeu dezenas de prêmios e indicações a Emmy, Golden Globe Awards, People’s Choice Awards e muito mais.
House of Cards foi um marco também por dispensar a necessidade de um piloto para aprovar o início de uma produção e isso, por mais indiferente que possa parecer, é bastante significativo para a indústria cinematográfica. Kevin Spacey, o Frank Underwood da série, disse que no ano em que começou a produção do show, foram feitos 113 pilotos no circuito das emissoras estadunidenses, onde 35 foram escolhidos para serem produzidos e somente 13 ganharam uma 2ª temporada. O custo disso foi em torno de 300 a 400 milhões de dólares. Na decisão de produzir House of Cards sem uma avaliação prévia e deixar com que os assinantes decidissem se ela faria sucesso ou não a Netflix poupou milhões de dólares e provou que essa poderia ser a fórmula de sucesso.
Por causa disso depois vieram outras produções originais: Orange Is the Black, Sense 8, Narcos, a série brasileira 3%, BoJack Horseman, Making a Murderer, Unbreakable Kimmy Schmidt, o sucesso Stranger Things, que foi feito com base em um algoritmos que identificou os traços que os assinantes mais gostavam nas séries, entre muitas outras.
O mais legal de tudo é que a Netflix não é mais vista como uma coadjuvante. Prova disso é a parceria até então inédita com a Marvel que irá resultou em 5 títulos: Demolidor; Jessica Jones, Luke Cage; Punho de Ferro; Os Defensores e O Justiceiro, ainda em produção.
Além disso a Netflix se destaca por ser uma nova maneira de distribuir conteúdo. Séries completas produzidas por canais norte-americanos assinam um contrato de distribuição com a marca e ela leva a série para todos os países onde está presente, exceto os EUA. Esse é o caso de Better Call Saul, The 100, Shadowhunters e outros títulos tão famosos quantos.
E a marca também investe na produção de seus próprios filmes. O primeiro a ser lançado foi o drama Beasts of No Nation ganhador de diversos prêmios por sua qualidade técnica. O segundo lançamento foi a comédia Ridiculous 6 com um elenco de peso como Adam Sandler, Terry Crews, Jorge Garcia, Taylor Lautner, Rob Schneider, entre outros. Com menos de 1 mês o filme já era o mais assistido da história da plataforma.
Em 2015 a Netflix lançou, aproximadamente, 450 horas de conteúdo original e, em 2016 mais de 700 horas, segundo anúncio oficial. Os dados de 2016 são referentes a 30 novas séries, 8 filmes, 35 novas temporadas de séries infantis, 12 documentários e 9 shows de stand-up.
Após isso tudo, somente 1 notícia ruim: após um realinhamento de estratégia, o cancelamento de séries originais será bem mais frequente do que gostaríamos. A explicação é que assim sobra mais tempo e dinheiro para mirar em novos títulos e encontrar o próximo Stranger Things ou 13 Reason Why.
Já entraram na degola:
- Hemlock Grove - cancelada após 3 temporadas
- Lilyhammer - cancelada após 3 temporadas
- Marco Polo - cancelada após 2 temporadas
- Bloodline - cancelada após 3 temporadas
- Sense8 - cancelada após 2 temporadas
- The Get Down - cancelada após 1 temporada
- Girlboss - cancelada após 1 temporada
- Entre outras
Se você gosta muito de uma série, a saída parece ser fazer muuuuita propaganda dela para que seus amigos também assistam e assim a Netflix não queira cortar ela.
A boa notícia tanto para a Netflix quando para os fãs do conteúdo original da marca é que recentemente a Netflix firmou acordo com alguns cinemas de Los Angeles para que eles exibam suas produções originais. E se você acha que isso é só capricho da marca de streaming, errou feio, pois exibir o filme em um cinema da cidade é um pré-requisito para adivinhe o quê: PARTICIPAR DO OSCAR.
Sim, pode ser que estejamos bem próximos do momento em que um filme criado originalmente para uma plataforma online consiga sua primeira estatuera do Oscar. A Academia tenta barrar, é claro, mas isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde, é inevitável. Só resta saber quando será esse "mais tarde", já que o mais cedo tá difícil.
Beasts of No Nation, de 2015, por exemplo, o primeiro filme original da marca foi visto 3 milhões de vezes na época de seu lançamento, somente nos Estados Unidos. Isso é mais do que muito filme holywoodiano por aí. Além do número de espactadores a crítica (exceto os chatos do Oscar) ficaram impressionados com a qualidade técnica. Tanto que ele teve diversas indicações e vitórias no Globo de Ouro, BAFTA e Screen Actors Guild Awards.
Mas o que passou passou, bola para a frente e que venha o próximo candidato. E ele já tem nome e elenco: The Irishman estreará em 2018 e contará a história de Frank "O Irlandês" Sheeran, um ex-líder sindical acusado de envolvimento com o crime organizado. O longa será dirigido por Martin Scorsese e terá os clássicos mafiosos Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci no elenco.
Acho que o Oscar da Netflix está mais perto do que nunca.
Inovações
E não foi somente no campo da transmissão de conteúdo que a Netflix iniciou uma nova era. Eles foram mais longe e inventaram um meio de alterar a própria experiência do usuário. Em setembro de 2015 eles deixaram os usuários ansiosos ao anunciar que tinham criado um botão "mágico".
Segundo os criadores, ao toque do botão chamado "Switch", por exemplo, as luzes da sala baixariam, a tv liga, o Netflix faz login, o som é ajustado, o celular entra em modo silencioso, etc. O único porém é que a Netflix não tem a mínima previsão de comercializar o dispositivo. A criação foi feita e mostrada na Maker Faire de Nova Iorque, contudo, eles explicam passo a passo no site como você pode fazer seu próprio botão.
Abaixo um vídeo da Netflix mostrando as possibilidades do que pode ser feito com esse botão.
Mas não foi somente um botão místico que os caras criaram. A próxima invenção foram meias. Sim, meias. Dessas bem confortáveis que você usa para ficar atirado no sofá assistindo How To Get Away With Murder ou qualquer outra série.
Mas obviamente que não é uma meia convencional. Assim como o Switch que vimos há pouco, as meias possuem uma boa dose de tecnologia. Assim como a anterior ela também será feita por você e vem repleta de fios e placas de circuitos. Você veste a meia e começa a assistir suas séries. Caso você durma a meia percebe através dos sensores e seu batimento cardíaco. Quando isto acontece ela manda um comando para o arduíno que desliga a tv e a Netflix pra você não perder nada.
O projeto completo pode ser baixado no site também, e mais: Vem, inclusive, com 5 modelos de meia e o passo a passo para você BORDAR os logotipos das séries. Ficou interessado? Então veja como fazer:
Depois foi a vez do personal trainer da Netflix que só te deixa assistir os episódios enquanto estiver malhando. Pois é, parece que criatividade não falta para esse pessoal.
VPN
Como a maioria dos usuários já sabe, cada país tem seu próprio conteúdo. Sendo assim a Netflix possui 247 catálogos, sendo a grande parte diferentes um do outro, para atender seus mais de 190 países. O Brasil, por exemplo, tem pouco mais de 3.500 títulos, estando na frente de países como Canadá e qualquer país da Europa.
Alguns países possuem títulos que somente estão disponíveis em determinado catálogo. Por isso que a cobiça por catálogos estrangeiros é tão grande. O catálogo estadunidense é o maior do mundo, com quase 6 mil títulos e por isso o mais desejado.
O tamanho dos catálogos demonstrado pela intensidade da cor
Isso faz com que alguns usuários desenvolvessem ferramentas capazes de burlar o sistema e acessar qualquer Netflix do mundo. São os famosos VPN’s, ou, Virtual Private Network. Mas o que é e como funciona essa sigla?
Resumidamente funciona assim: Quando você acessa o Netflix pelas redes normais a sua conexão passa por protocolos de segurança que autenticam a conexão proporcionados pelo ISP (Internet Service provider). Esse servidor "seguro" tem a função de barrar os possíveis invasores, as tentativas de ataques, os sites ou conexões sem certificados válidos, etc. Sim, o VPN é um túnel entre sua conexão e o local onde você está indo. Como esse túnel é fictício a ferramenta consegue simular como se você estivesse em qualquer país. Você pode simular uma conexão da Rússia, França, Austrália, Filipinas, etc.
O problema é que quando você acessa direto pelo túnel não tem a garantia dessa proteção extra que uma rede e servidor seguro proporcionam. É como se a internet fosse um tiroteio e o servidor seguro fosse seu colete á prova de balas. Quando você entra numa VPN você entra no tiroteio sem colete. Os tiros vão estar lá, e ser atingido é questão de tempo. Esses tiros podem ser espiões, ladrões de senha, dados de cartão, etc. (espero que tenham entendido com essa explicação tosca).
Um dos mais famosos provedores VPN é a extensão Hola do Google Chrome que funciona e faz tudo de uma forma bem fácil. O problema é que a Netflix é contra qualquer mutreta para fraudar sua política de direitos e permissões e, anunciaram recentemente, 14 de janeiro de 2016, que quem for pego fazendo isso será banido automaticamente, inclusive, do seu país de origem.
Olha só o que está escrito na sua política de uso:
Netflix poderá encerrar ou restringir seu uso do serviço sem indenização ou aviso prévio se houver suspeita de
(i) infração de qualquer dos presentes Termos de uso ou
(ii) envolvimento com uso ilegal ou inadequado do serviço
Segundo a Netflix mais de 30 milhões de usuários utilizam VPN e proxy para burlar a proteção, sendo 20 milhões deles somente da China, onde a Netflix não está presente por restrições do governo local.
Acha que eles estão brincando? Poucos dias depois do anúncio já deu pra ver alguns usuários brasileiros falando nos grupos de Facebook que tiveram suas contas suspensas. Bom, o uso de VPN é fácil e está muito bem explicado pela internet afora. Então pense muito bem antes de usar.
Parece que a Netflix ainda vai mudar, em muito, o jeito como consumimos entretenimento televisivo. E você tem algum palpite para como serão as coisas daqui 10 ou 20 anos? Conta pra gente nos comentários.