Assim que o mercado de videogames pode finalmente criar uma certa firmeza e os consoles começaram a aparecer pelas vitrines de lojas de brinquedos, a compra e venda de jogos logo se tornou uma tradição entre fornecedores e jogadores, e essa relação tornava-se tão forte que, de acordo com o título que era lançado, pessoas se amontoavam em frente a estabelecimentos esperando o horário de atendimento para serem os primeiros a ter o seu novo jogo em mãos. Hoje isso é apenas um passado distante.
Quando o jogador pensava em comprar algum game novo, mas não tinha certeza se ele valia o seu dinheiro, ele geralmente procurava algum amigo que tinha o cartucho ou então buscava se informar se existia uma "Demo" do game, abreviação da palavra "demonstração", uma versão curta do game onde é possível jogar uma pequena parte do modo história, geralmente encontradas como um "extra" de outros jogos da mesma produtora ou em lojas de jogos. Com o surgimento da internet, tornou-se possível baixar as demos pela internet no site da Publisher ou então na network do console, no entanto, hoje nem ouvimos mais falar em Demos, mas sim em Betas.
Alpha? Beta? Demo?
Para que fique bem claro, é preciso que expliquemos mais cuidadosamente qual seriam os conceitos de Alpha, Beta e Demo: Uma alpha geralmente é liberada para jogos indie, principalmente para jogos baseados em multiplayer, tendo boa parte deles surgido com crowdfunding. O próprio nome "Alpha" já dá a entender que a versão disponibilizada é uma das primeiras a serem desenvolvidas; Betas são encontradas geralmente em games de produtoras maiores e mais bem estruturadas, elas são bastante parecidas com as Demos, mas ainda não estão em uma fase de desenvolvimento tão avançada quanto uma; As demos, que hoje praticamente não existem mais, são pequenos pedaços de um jogo quase em fase final de desenvolvimento, tentando ser o mais próximo possível do que será visto nas prateleiras.
Com o surgimento das lojas online, baixar um jogo lançado a um minuto atrás e tê-lo disponível para jogar em menos de uma hora é tão fácil quanto simplesmente ligar o videogame ou o computador, no entanto, o entusiasmo dos compradores era tanto que eles não podiam mais perder tempo fazendo o pagamento do jogo assim que lançado, portanto, era preciso pensar em uma maneira de vender o jogo antes mesmo dele ser lançado, criando, assim, o conceito de pré-venda no mercado de games.
O grande problema da pré-venda de jogos é que, pelo fato do jogo em questão não estar pronto, o jogador nunca tem a total certeza de que o mesmo vai valer o dinheiro investido, a não ser que ele de fato tenha conseguido o acesso a uma Open Beta, o que nos dias de hoje torna-se cada vez mais raro.
As Betas de Pré-venda
Como se não bastasse a possibilidade de fazer um mal investimento, uma prática ainda mais preocupante vem se tornando mais comum, as Betas de pré-venda, nas quais você só terá acesso a uma prévia do jogo se realizar a pré-venda do mesmo ou então se for um cara de sorte para conseguir uma key "de sobra" do pseudolimite de jogadores impostos pela desenvolvedora no período de demonstrações, assim como aconteceu com Tom Clancy’s: The Division no início de 2016.
Tudo bem, valorizar os jogadores que compraram antecipadamente um jogo acreditando que ele será bom é importante, realizar uma Beta aberta pode ser perigoso para um jogo baseado no multiplayer online, no entanto, por que não realizar temporadas de closed betas para todos os interessados ou a maiores deles? Seria possível retribuir os compradores da pré-venda e ainda dar oportunidades a outra grande porção de interessados em adquirir o game, que só teriam acesso mais tarde, e talvez até mesmo com menos recursos.
As alphas infinitas dos Indies
Se as Betas de pré-venda já podem ser um osso duro de roer, mas pior ainda são as Alphas infinitas de jogos Indie, comumente chamadas de "versão de acesso antecipado", que são fornecidas aos jogadores que compram o game logo depois de ele ter saído da Steam Greenlight. A promessa na história toda é que o jogador acompanhe o desenvolvimento do jogo recebendo atualizações seguidamente enquanto outras pessoas vão comprando a Alpha e financiando a continuação dos trabalhos dos desenvolvedores. Até aí tudo bem, o problema mesmo é quando os games ficam em fase Alpha por anos, recebendo raras atualizações de peso.
Um bom exemplo de Indie com Alpha infinita é The Forest, que foi aceito na Steam Greenlight em 2013, iniciou suas vendas e o acesso antecipado em 30 de maio de 2014, já arrecadou milhões mas, ainda assim, continua até hoje em fase de desenvolvimento. Com o dinheiro arrecadado com as pré-compras, não teria sido o suficiente para contratar uma equipe maior para terminar o game e, talvez, até mesmo pensar em um próximo título? As atualizações que o game recebe são praticamente semanais, no entanto, elas não passam de pequenas correções de bugs, adição de novas skins em inimigos, raramente alguns novos itens são incluídos, mas, corrigir os principais bugs e finalizar o game que é bom, nada...
A espera de um milagre
É muito bom poder vender o jogo antes do seu lançamento para quem quer que esteja entusiasmado com o mesmo e queira jogar nos primeiros minutos do seu lançamento, no entanto, é preciso ter mais consideração com quem pretende de fato comprar o game quando finalizado. Melhor ainda é darmos uma oportunidade a novos desenvolvedores que trabalham muito para conseguirem entrar para o Greenlight da Steam e arrecadarem fundos para finalizar o seu game, mas por que não o finalizar ao invés de viver trabalhando com o arrecadado e esquecer de terminar o que foi prometido por completo?
O que nos resta é pedir por mais demonstrações que todos tenham acesso e acessos antecipados que um dia tenham um fim, e este não é apenas o desejo de quem pagou ou quer pagar por um produto, mas sim quem gosta de ter certeza que vai jogar um bom jogo que faça valer a pena o investimento.
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