Fundada em 2009, com a proposta inicial de oferecer um táxi de luxo, a empresa multinacional americana Uber vem ganhando cada vez mais adeptos no Brasil, sendo que já são sete cidades brasileiras que contam com o serviço. São elas: Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. No mundo, já são 376 municípios. O Uber também é motivo de muita discórdia, sendo que tornou-se comum ver nos noticiários conflitos entre taxistas e motoristas do serviço.
O motivo para tanta discórdia, é o fato do Uber oferecer corridas com preços mais acessíveis aos passageiros e um serviço com mais qualidade. Além disso, o passageiro do Uber consegue ver o itinerário antes mesmo da corrida. Praticidade também na hora do pagamento, que é feito de forma eletrônica, direto no cartão de crédito do consumidor, que fica armazenado no aplicativo, o mesmo que é utilizado para solicitar um carro do Uber. Para isso é só utilizar um aplicativo E-hailing, através de um dispositivo eletrônico, geralmente celular ou smartphone.
Os motoristas do Uber não cobram diretamente por carona, mas recebem uma remuneração da empresa, que observa na formação de seus preços a relação de oferta de motoristas.
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A locação inteligente é a base de lucros da empresa. Olhando desta forma, o Uber parece ter tudo para se tornar cada vez maior. Mas, será que o serviço realmente tem um custo tão baixo? Se fosse assim, outras empresas com a proposta de oferecer um transporte privado, de baixo custo e alta qualidade, também teriam dado certo. Um exemplo disso é a empresa finlandesa Kutsuplus, que se viu obrigada a fechar no último ano.
A proposta do Kutsuplus era ser o Uber do transporte público, operando uma firma de micro-ônibus, que iriam pegar e deixar passageiros em qualquer lugar de Hesinki. Assim como o conhecido Uber, previa o uso de smartphones, algoritmos e sistemas em nuvem, desenvolvidos para aumentar a eficiência, cortar custos e prover um engenhoso serviço público. Em outras palavras, o serviço que misturava táxi e ônibus, permitia que os passageiros selecionassem o endereço de partida, destino e horário de forma online. Conforme chegavam os pedidos, o sistema calculava as diferentes rotas em tempo real e agrupava os passageiros que estavam partindo ou indo para locais próximos.
Mas, ao contrário do Uber, o Kutsuplus foi gerado a partir de um projeto de uma Universidade local que operava com um orçamento limitado, sem ricos investidores capitalistas por trás dele. Já o Uber tem em seus investidores nomes de peso, com a Google, Goldman Sachs e Amazon de Jeff Bezos.
O que pode ter contribuído para o fim do Kutsuplus é justamente a falta de grandes investidores. A autoridade de transporte local o achou muito caro, mesmo que ele tenha tido um crescimento anual de 60%.
Por outro lado, "caro" é o que o Uber não é. Mas isto não se atribui a sua engenhosidade e escala global, mas sim por ele estar sentando em toneladas de dinheiro de seus investidores. Desta forma ele pode se dispor a queimar bilhões, visando nocautear a concorrência, sejam empresas de táxis ou startups como o Kutsuplus.
Um artigo publicado recentemente pelo "The Information", site de notícias de tecnologia, sugere que durante os três primeiros trimestres de 2015 o Uber perdeu USD 1,7 bilhões enquanto ganhava USD 1,2 bilhões em receitas. Contudo, como a empresa possui muito dinheiro, ela ainda assim consegue oferecer corridas com preços muito competitivos. Em pelo menos algumas locações norte-americanas, vem oferecendo corridas a taxas tão baixas que eles não poderiam nem mesmo cobrir o custo combinado do combustível e a depreciação do veículo.
Mas, por que queimar dinheiro?
Você deve estar se perguntando, o porquê da empresa gastar dinheiro desta forma. É simples. Seu objetivo é fazer com que as taxas fiquem tão baixas de modo a aumentar a demanda (atraindo clientes que de outra forma teriam usado o seu próprio carro ou transporte público). Enquanto isso, rapidamente se expande em indústrias adjacentes, de comida à entrega de pacotes.
Outra questão a ser observada é o porquê do Uber ter tanto dinheiro. A resposta também é simples. Porque os governos não têm. O Uber é um exemplo de uma empresa cuja a expansão global foi facilitada pela inabilidade de governos em taxar os lucros feitos pelas gigantescas Instituições Financeiras e Empresas de alta tecnologia. Desta forma, o dinheiro está situado em contas no exterior do Vale do Silício e Empresas de Wall Street. Companhias como a Apple e a Google concordaram em pagar alíquotas de impostos bem menores do que deveriam.
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Uma comparação a ser feita entre os serviços mantidos pelo governo e os de companhias privadas é com o mau estado das coisas na qual a maioria dos governos e administradores de cidades se encontra hoje. Buscando aumentar a receita de impostos, eles fazem as coisas ficarem piores ao encolherem orçamentos dedicados à infraestrutura, inovação ou criando alternativas para o voraz "capitalismo de plataformas", de Silicon Velley.
Observando estas condições, não é de se surpreender que serviços promissores como o Kutsuplus tiveram que fechar. Se o Uber não tivesse o dinheiro da Google e Goldman Sachs, também já teria ido à falência.
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O futuro
No entanto, será que Wall Street e o Vale do Silício irão subsidiar o transporte para sempre? Por quanto tempo mais o Uber conseguirá se manter com as mesmas condições à motoristas e passageiros? Enquanto a perspectiva de usar publicidade para reduzir os custos de uma viagem ainda é pouca, a única maneira dessas empresas refazerem seus investimentos é espremendo ainda mais dinheiro e a produtividade dos motoristas do Uber. Ou ainda, uma vez que todos os seus competidores estejam fora do mercado, aumentar os custos da viagem.
Ambas as opções não somam como promissoras. Pois a única escolha imposta aqui está em oferecer mais precaridade para motoristas, que já estão pagando mais caras as tarifas para as empresas (este número subiu recentemente de 20 para 30%), ou para passageiros, que terão que aceitar taxas mais altas.
O que pode-se perceber até aqui é que a política de tecnologia de um país está diretamente ligada a sua política econômica. Uma não consegue florescer sem o apoio ativo da outra. Dada uma época em que faltaram recursos públicos disponíveis para experimentar diferentes modelos de serviços de transporte, empresas capitalistas e enxugadoras de impostos foram as únicas fontes viáveis de apoio para tais projetos.
Como podemos perceber, manter um serviço como o Uber não é barato e há muito investimento por trás da multinacional. No entanto, ele é uma boa alternativa para quem quer se deslocar com conforto e segurança. Por isso, há quem acredite que a taxação seja uma maneira de avaçar, com todos os impostos sendo pagos devidamente. Girando a econômia do país, de forma que seja possível manter um serviço como o Uber.
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