O desempenho do setor das TVs por assinatura no Brasil, após apresentar um crescimento impressionante desde o ano de 2009, alimentado pelo consumo na classe C, estagnou em 2015 e a perspectiva não é muito animadora às operadoras. Economistas preveem tempos difíceis para as TVs pagas daqui para frente.
No último ano, o setor apresentou a maior retração (em números relativos ou absolutos), desde 1994, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Entre novos contratos e cancelamentos, a base da TV por assinatura no país encolheu em 500 mil clientes.
A TV paga chegou a aproximadamente 20 milhões de brasileiros e ao que tudo indica demorará para passar a marca. O presidente da Associação Brasileira de Televisão por assinatura (ABTA), disse à Época NEGÓCIOS que: "o ano passado foi ruim". E o pior, a situação não tem data para melhorar.
Devido ao alto crescimento da Netflix no Brasil, que mesmo com a crise, não para de alcançar resultados positivos, chegando a aproximadamente 4 milhões de assinantes no país, é normal associar o declínio nas televisões por assinatura ao serviço de streaming. É certo que entre estes 4 milhões de pessoas, muitos devem ter deixado de lado sua assinatura em canais de TV, para continuar pagando apenas a plataforma. Como mostra uma pesquisa recente, muitos que ainda não mudaram, pretendem fazer a troca.
Mas a Netflix não é o principal carrasco das TVs por assinatura. Um estudo feito pela Época NEGÓCIOS apresenta em números o principal culpado por afundar o setor: a TV por satélite. Sua base diminuiu em 830 mil clientes no ano passado, arrastanto o setor para baixo.
Foto: Época Negócios
Como?
No Brasil, o sistema DTH (sigla de the direct home) ou TV por satélite, é muito usado em áreas de menor densidade, quando é difícil ou não vale a pena instalar uma rede cabeada, sendo que é mais barato que o sinal venha de um satélite.
Outra característica do país, é que estas áreas de menor densidade, são também as mais pobres, o que significa dizer que a TV por satélite é mais popular entre a população de baixa renda. E é justamente nesta população que os efeitos da crise chegam primeiro.
Os planos com valores mais baixos e pré-pagos fez com que o DTH se espalhasse pelo Brasil. No entanto, o crescimento espetacular parou nos últimos dois anos e começou a desacelerar. Em 2015 despencou tão rápido quanto cresceu.
A operadora que mais apresentou queda foi a Claro TV, fechando 2015 com 650 mil assinantes a menos. Seus resultados negativos acabaram puxando os resultados da América Móvil no setor. A Net ganhou 365 mil clientes no ano, mas a situação da Claro TV abafou o bom desempenho.
A tendência é de que em 2016 a situação continue assim, a Claro perdendo clientes DTH e a Net ganhando no cabo. A Sky aparece logo atrás, com 199 mil assinantes a menos. Em terceiro ficou a Oi TV, com a perda de 134 mil clientes.
A queda da Oi é resultado de uma estratégia azarada da operadora, que em 2014 havia voltado ao setor, lançando a Oi TV. Com preços agressivos, a empresa conseguiu fechar aquele ano como líder em adição de clientes. Mas no ano seguinte ela mudou a sua estratégia, encarecendo os preços e apostando na venda de combos, ou seja, a TV paga atrelada a conexões banda larga e linhas telefônicas. Este aumento nos valores, aliado a crise econômica culminou com a perda dos clientes mais pobres.
É justamente este público que representa um perigo maior que a Netflix, pelo menos a curto prazo, às operadoras. Pois quando a situação econômica aperta, a TV paga é um dos primeiros cortes a serem feitos.
Conexões físicas tiveram crescimento
2015 não foi um ano tão ruim para as conexões físicas. Se no DTH houve uma queda abrupta, o sistema à cabo ganhou 296 mil assinantes e a fibra óptica 75 mil novos clientes, muito disso se deve a serviços como o Vivo Fibra.
Mas em números absolutos foi a Net que apresentou melhor resultado em relação a novos clientes, somando 365 mil a mais. A Vivo contou com 129 mil novos assinantes e diferente da Net, que teve os resultados da Claro puxando para baixo os números da América Móvil, dona das duas operadoras, não teve outro serviço que a puxasse, o que mostra um desempenho melhor.
O que ajudou a alavancar a TV por assinatura destas empresas é a disponibilização de serviços banda larga. Um negócio acaba estimulando o outro. A venda de combos (internet, telefone e TV) tem muitas vantagens, pois a margem de lucro das operadoras é maior e a probabilidade do cliente cancelar o plano devido a crise econômica é menor.
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Porém, a TV paga é muito sensível a crise. Em 2002, quando o Brasil também passou por um momento delicado referente a economia, muitos brasileiros cancelaram a TV por assinatura. O mesmo movimento parece estar se repetindo em 2015. Contudo, a retração no setor já iniciou lá em 2013, quando o crescimento na quantidade de conexões de TV por assinatura, que vinha estável nos quatro anos anteriores, passou a diminuir, sendo que em 2015 esta variação se tornou negativa.
Este momento delicado deve continuar em 2016, segundo a ABTA, que prevê que mais brasileiros deverão cancelar suas contas de TV paga, neste ano.
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