O termo Internet das Coisas, embora cunhado no final dos anos 90, vem ganhando destaque nos últimos anos. Se você ainda não ouviu falar sobre o tema, aqui vai uma breve explicação: A Internet das Coisas tem como proposta fundamental conectar todos os itens que são usados no dia a dia à rede mundial de computadores.
Um exemplo disto são os utensílios domésticos que se conectam a smartphones ou tablets, por meio da internet, e assim recebem ou enviam comandos que facilitam a rotina das pessoas. Por exemplo, o refrigerador da Samsung, Family Hub, que possui câmeras de vídeo instaladas em seu interior. Desta forma o dono do eletrodoméstico consegue enxergar o que tem e o que falta na geladeira de casa do próprio supermercado, facilitando na hora da compra. Ela ainda realiza outras funcionalidades, como tocar músicas, exibir programas de TV, servir como porta recados digital...
Refrigerador da Samsung Family Hub foi lançado na CES 2016
Mas este é apenas um exemplo entre tantos outros que poderia citar aqui. Contudo este não é o foco do presente artigo, já que outros textos estão sendo feitos aqui no Oficina da Net, falando sobre as aplicações da Internet das Coisas. Em breve eles também estarão no ar. Tivemos ainda a gravação de um ONCast dedicado ao assunto. Não deixe de conferir.
Neste texto traremos um outro olhar sobre o tema. Como o próprio título já diz: será que estamos preparados para a era da Internet das Coisas? Logo de cara temos que levar em consideração um fator importante. Para este conceito funcionar é necessário que se tenha? Internet, claro. Não que dispositivos inteligentes não possam operar de modo offline, limitados ao seu espaço.
Mas não há como negar que é preciso uma rede robusta e confiável, afinal, serão vários dispositivos conectados a uma mesma rede, por onde passarão muitos dados, inclusive informações de nossas vidas, como horários de chegada e saída, trajetos percorridos, quanto tempo se fica em algum lugar. Então, com tantos dispositivos conectados a uma mesma internet, é de extrema importância que ela tenha capacidade de suportar este imenso tráfego de dados e que seja segura. Entretanto, será que temos uma internet capacitada para isto aqui no Brasil? Ela está ao alcance de todos? Vamos a alguns fatos:
Estamos nos encaminhando para a limitação de dados na internet banda larga fixa e os atuais planos ofertados pelas operadoras com franquias limitadas não oferecem uma grande quantidade de dados, por um preço que seja bom para boa parte dos bolsos dos brasileiros. Há por exemplo a oferta de planos de 10 e 30 GB, que seriam os de valores mais baixos, o que se esgota facilmente.
O Brasil figura na 88ª posição no ranking mundial de internet, segundo relatório divulgado pela empresa Akamai, em março de 2016. O relatório aponta que a velocidade de conexão no país verde e amarelo teve um aumento de 38% comparando dados de 2016 com números de 2015. Mas, ainda assim, o desempenho da internet brasileira fica atrás da média global.
Conforme a análise, o Brasil possui cerca de 39% de seus usuários com internet banda larga. Houve um aumento de 49% em relação a 2014, mas ainda assim o país está abaixo da média global que é de 69%. Em relação a velocidade de conexão, apenas 2,9% dos usuários brasileiros possuem internet com velocidade acima dos 10Mbps e 0,8% estão acima dos 15Mbps.
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Com estes dados já é possível concluir que a internet brasileira ainda tem muito que melhorar para que no futuro a Internet das Coisas possa ser aderida em massa. Se as perspectivas futuras são de que as casas poderão estar totalmente conectadas, com todos seus equipamentos interligados, inclusive com os automóveis, a limitação de dados nos moldes brasileiros parece ser um passo para trás no caminho em direção a este futuro nem tão distante assim.
Segurança
Também temos que levar em conta fatores como a segurança. A internet é um campo aberto e não é raro encontrar casos de hackers que invadem contas, sistemas e assim obtém diversos dados de usuários. Em um artigo publicado pelo New York Times, especialistas dialogaram sobre o perigo que representa termos os aparelhos de dentro de casa ou automóveis, conectados à internet. Profissionais especializados em segurança ao redor do mundo já entendem que daqui há algum tempo será inevitável que hackers consigam invadir a rede de uma empresa, através de um objeto conectado à ela.
Zachary Peterson, um especialista em segurança que leciona na California Polytechnic State University, disse ao site Motherboard, "que a vasta maioria dos hardwares produzidos hoje em dia - CPUs, placas-mãe, memória, etc - está apta a executar o que chamamos de "código arbitrário", ou seja; praticamente qualquer código. A flexibilidade dos hardwares na programação é algo excelente quando você precisa desenvolver um sistema que conecte múltiplos objetos à web. Por exemplo; uma máquina de refrigerante e uma de doces apresentam conectividade semelhante em termos de hardware, mas são diferentes o suficiente para demandarem software próprios. No caso desta conexão via hardwares "compartilhados", o processo em uma está ligado à outra de alguma maneira.
O problema em relação à Internet das Coisas é que a execução de códigos arbitrários permite que hackers instalem seus próprios programas, podendo infectar diversos hardwares interligados. Se o hardware em questão estiver conectado à internet, torna-se ainda mais vulnerável a ataques. O problema de segurança da Internet das Coisas está justamente no fato de ela se basear em hardwares com vulnerabilidades técnicas semelhantes às de PCs.
Além do mais, enquanto há um vasto conhecimento no mercado sobre como proteger hardwares "tradicionais", a falta de conhecimento sobre como fazer o mesmo com aparelhos eletrodomésticos e outros dispositivos conectados à internet ainda é um problema. Estamos avançando neste sentido, mas não é algo que acontece do dia para a noite.
É importante que as empresas dispostas a investir em dispositivos inteligentes se preocupem também com a arquitetura dos mesmos. Priorizando a segurança. Afinal, a Internet das Coisas visa dar mais comodidade às pessoas e auxiliar na segurança, como por exemplo, com câmeras de vigilância inteligentes (com reconhecimento facial, avisando o proprietário quando alguém entra em sua casa momentaneamente). Na contrapartida, se um hacker conseguir invadir a rede, ele poderá entrar em seu lar por meio de um eletrodoméstico, imagina só a quantidade de informações e dados que ele irá conseguir?
Conclusão
Diante de fatores como a fragilidade da internet por aqui e as brechas na segurança (que não é algo exclusivo no Brasil) pode-se concluir que ainda temos alguns aspectos a ser melhorados para que estejamos de fato preparados para a era da Internet das Coisas. Isto não quer dizer que não apoio a evolução, nem que este conceito se popularize por estas terras Tupiniquins. Pelo contrário, acredito que pontos como estes devem ser pensados e bem trabalhados para que algo voltado a melhorar o cotidiano, não acabe nos trazendo problemas. Ainda sim, esta é uma realidade atual. Não significa que não possa mudar.
A tecnologia evolui de forma muito rápida, todos os dias novas soluções são criadas. Então, dar um veredicto é complicado. Hoje não estamos, mas e amanhã, quem sabe?