Imagine um mundo silencioso. Sem nenhum tipo de ruído. Considere acordar pela manhã e não ouvir o barulho dos carros, o som das buzinas. Mas, fantasie também não escutar o cantar dos pássaros, o barulho da chuva, a música que toca no rádio, a conversa no bar com os amigos. Imagine acordar pela manhã e não ouvir a voz dos familiares, o tilintar das xícaras com café. Fantasie um mundo sem escutar som algum. Em um primeiro momento pode parecer tranquilo e passar uma sensação de descanso, afinal, tem dias que o que mais queremos é ficar em silêncio. Agora, considere que absolutamente todos os dias de sua vida sejam assim. Quietos.
Desconcertante, não é? Esta é a realidade de mais de 360 milhões de pessoas ao redor do mundo, que possuem deficiência auditiva, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. No Brasil, este número é de quase 10 milhões de pessoas, o que corresponde a cerca de 5% da população brasileira, conforme o Censo 2010 do IBGE.
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A vida para quem possui qualquer tipo de deficiência não é fácil. Mas, não significa que não possa ser boa. Para isso é preciso apoio dos familiares e amigos que, ao invés de privar quem possui deficiência de realizar atividades comuns do dia a dia, devem incentivar os mesmos a levar uma vida como qualquer outra pessoa.
Neste sentido, a tecnologia vem se revelando forte aliada na busca por uma melhor qualidade de vida das pessoas que possuem deficiência, seja ela auditiva, física, intelectual ou visual. Chamada de tecnologia assistiva, o ramo traz soluções para problemas que antes pareciam insuperáveis, tudo ao alcance da ponta dos dedos.
Um exemplo disto é o aplicativo Hand Talk. Criado por três brasileiros, o app é gratuito e está disponível para Sistemas Operacionais Android e iOS. Ele serve como um tradutor de texto e áudio para Libras, linguagem utilizada pelos surdos e mudos como forma de comunicação. Sua utilização é bem simples. Ao digitar ou falar um texto, o app traduz a mensagem para a linguagem de sinais, por meio do Hugo, um simpático intérprete 3D. O aplicativo realiza a tradução por intermédio de um sistema de tradução em Libras por estatística que analisa cada palavra, frase e contexto antes da tradução.
A ideia da ferramenta é funcionar como um tradutor de bolso, visto que o smartphone costuma ser nosso companheiro do dia a dia. Além de facilitar a comunicação entre surdos e pessoas que não conhecem a linguagem de sinais, o app também possui uma área denominada Hugo Ensina. Neste espaço há uma série de vídeos que ensinam a crianças e adultos expressões e sinais em Libras.
O aplicativo, premiado no WSA-Mobile, maior prêmio de tecnologias móveis no mundo, em fevereiro de 2013, é utilizado em vários ambientes como forma de aproximação de pessoas por meio da tecnologia, como por exemplo, em salas de aula, como recurso complementar de educação. Em casa, entre pais, filhos e familiares, e por estudantes de Libras, que querem reforçar o seu vocabulário com a ajuda do Hugo.
Outra possibilidade bem bacana do Hand Talk é sua utilização para tradução de conteúdos de sites para a linguagem de sinais. Ao selecionar o texto, o Hugo realiza a tradução automática. Além disso, caso a pessoa queira traduzir uma reportagem de jornal, por exemplo, basta tirar uma foto da página e acionar o app que ele realiza a tradução.
Outra ferramenta bem bacana é um bracelete criado por desenvolvedores de Manaus e que funciona como um tradutor da linguagem de Libras para o Português no projeto Giullia. Com componentes como giroscópio, acelerômetro e um magnetrômetro de três eixos, o acessório é capaz de identificar pequenos movimentos e combinar com o impulso elétrico dos músculos do braço para traduzir o gesto em voz. Os dados captados são transmitidos para um smartphone por Bluetooth em tempo real.
Bracelete traduz Libras para o Português (Imgem: Reprodução G1)
Deficiência Física
A falta de acessibilidade é um dos problemas enfrentados pelos deficientes físicos. Ausência de rampas e locais adequados para o deslocamento, além da dificuldade de, por exemplo, fazer uso do transporte público são percalços encontrados pelo caminho. Mas, a tecnologia está aí para "dar uma maõzinha" e deixar a vida de quem passa por estas dificuldades, um pouco mais fácil.
Imagem: Reprodução Internet
Exemplo disso é o aplicativo Busalert, criado pelo Grupo Criar, empresa brasileira com mais de 24 anos de experiência em sistemas para a área de trânsito. O app é gratuito e tem como objetivo auxiliar o passageiro a monitorar as distâncias e/ou tempo de chegada entre o ônibus mais próximo e o ponto de encontro onde ele se encontra. Além disso ele permite que o motorista saiba quando há um passageiro com deficiência em um ponto próximo e se preparar para recebê-lo.
Outra ferramenta que tem como objetivo o auxílio a deficientes físicos é o aplicativo guiaderodas, que mapeia estabelecimentos comerciais com acessibilidade para cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida. O app conta com a colaboração dos próprios usuários para identificar se um local pode ou não receber um cadeirante ou alguém com necessidades especiais.
Esta identificação é feita respondendo um questionário que leva cerca de 30 segundos para ser respondido, com questões do tipo: o local possui rampa de acesso? A largura da porta é suficiente para passagem de um cadeirante? Qual a altura das mesas e balcões? Existe banheiros adaptados? A locomoção é possível?
Desta forma o app utiliza dados do aplicativo Foursquare e exibe a nota de cada estabelecimento, segundo avaliação de visitantes. O guiaderodas é gratuito e a empresa desenvolvedora busca lucrar por meio de produção de conteúdo e parcerias.
Veja também:
- Deficientes visuais terão imagens descritas pelo Facebook
- The Dot: o relógio inteligente desenvolvido para deficientes visuais
Deficientes visuais
Da mesma forma que a tecnologia assistiva tem auxiliado quem possui deficiência física ou auditiva, ela também tem sido de grande valia para quem possui problemas ou ausência de visão. Como o aplicativo ViaOptaDaily, que age como um companheiro para as tarefas do dia a dia. Ele possui acesso a câmera do celular e, desta forma, oferece uma descrição do clima para o usuário. Além disso, o app também disponibiliza uma lupa virtual que detecta e reconhece objetos que estão no caminho do usuário.
Outra funcionalidade do aplicativo é, por meio de comandos de voz, notificações sonoras e vibrações, descrever para um deficiente visual qual a cor de uma peça de roupa. Já o ViaOpta Nav funciona como um GPS. Ele indica para o usuário, por meio de tecnologias como geolocalização do smartphone, se a pessoa está em uma calçada onde existe pavimentação tátil, dá coordenadas de como chegar ao destino desejado, além de identificar pontos de referência próximos.
Ambos apps são da empresa Novartis, especializada em tecnologia da área de saúde. Eles são gratuitos e estão disponíveis em Português para usuários Android e iOS.
Deficientes Intelectuais
Já o Que-fala! É um aplicativo destinado a auxiliar pessoas que tem dificuldades com a fala, como autistas, a desenvolverem a capacidade de comunicação. O app oferece uma série de ilustrações identificadas por palavras escritas e áudios. Desta forma o usuário seleciona figuras que correspondam ao que ele quer dizer. É possível montar pequenas frases. O aplicativo está disponível de forma gratuita para usuários Android.
Outro exemplo é o software Hércules e Jiló, desenvolvido pela Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília). Ele é composto por uma série de jogos que ajudam as crianças com necessidades educativas especiais a aprender Ciência Naturais. O programa é gratuito.
É muito bom ver que a tecnologia está sendo usada para melhor a vida das pessoas e é bem bacana observar que muitos destes projetos na área de tecnologia assistiva são desenvolvidos por brasileiros. Que iniciativas assim se multipliquem na velocidade da luz!