Talvez muitos nem saibam, mas estamos neste momento prestes a passar por mais uma revolução nos meios de transporte, tal qual aconteceu com a roda, com o navio, com o trem, com o avião, com o carro particular e, com o carro elétrico e, agora, com o Hyperloop.
Caso você nunca tenha ouvido falar, o Hyperloop é um meio de transporte bolado há alguns anos por Elon Musk e que já está em fase avançada de pesquisas e testes. Olhando de longe ele se parece com um trem convencional, mas possui um detalhe que faz toda a diferença: O Hyperloop se desloca em um túnel a vácuo!!
Mas e por que isso poderia fazer toda a diferença você me pergunta. Bom, por estar em um ambiente a vácuo, logo, sem qualquer tipo de atrito - inclusive atrito com o ar - este veículo consegue deslocar-se a uma velocidade incrível, ao mesmo tempo que necessita de pouquíssimo combustível.
Parece loucura? Parece arriscado? Parece tão caro que vai inviabilizar o projeto? Antes de responder, uma coisa: Todos essaes temores eram aplicados, também, às outras empresas de Musk, tais quais Tesla e SpaceX. Você já viu o cara errar em alguma coisa? Pois é.
Que tal ir de Porto Alegre a São Paulo em menos de 1 hora? Então prepare-se, pois, o sucesso da empreitada é inevitável. Mas antes, uma informação muito útil: Esse post faz parte de um especial sobre Elon Musk e está dividido nas seguintes partes:
- Como Elon Musk se tornou Elon Musk
- Como Musk foi ao espaço
- Como Musk mudou a forma de pensar em automóveis
- O Hyperloop, a The Boring Company e como ele encurtará distâncias
- Os projetos "pequenos" de Musk: SolarCity, Neuralink e OpenAI
O conceito
Antes de tudo precisamos entender como irá funcionar a tecnologia dos tais trens a vácuo, afinal não é algo que se vê todos os dias.
Bom, você já viu algum daqueles tubos em hotéis e empresas que aparecem em alguns filmes americanos mais antigos? Aqueles tubos serviam para despachar correspondências, comunicados, documentos e tudo mais que precisasse de velocidade e praticidade antes do aparecimento da internet e do e-mail.
Caso você nunca tenha visto, funciona assim: você abria a portinha, colocava o papel lá dentro e em frações de segundo ele era sugado pela tubulação indo parar somente ao chegar na central de distribuição ou no seu destino. Muito utilizados no final do século XIX e início do século XX os tubos transportavam tudo o que era sólido e que coubesse na tubulação.
Cidades como Paris, Londres e Nova Iorque tinham quilômetros de tubulações sob a terra, indo para todos os cantos e, inclusive, cidades vizinhas. Estas cidades tinham centrais de recebimento e distribuição dos pacotes, algo como um correio voltado só a esse tipo de encomendas. Lá os trabalhadores chegavam a cuidar de centenas de canos.
Achou complexo e tecnológico? Pois o conceito empregado neste processo é o do ar comprimido, que data Grécia antiga e é da autoria de Heron de Alexandria. A ideia, que pode ser considerada o embrião do Hyperloop, consiste em um "ventilador" que fica no final do trajeto. Quando alguma coisa é colocada em uma ponta do tubo esse ventilador é ativado e passa a sugar todo o ar do encanamento, trazendo junto o que mais estivesse pelo caminho. Com a força da sucção alguns canos podiam alcançar a velocidade de até 10 metros por segundo de velocidade. Em outras palavras, este é o mesmo princípio de canudinho de refri.
Pronto, você entendeu a ideia básica imaginada por Musk para seu trem. A cápsula com os passageiros irá deslocar-se por um tubo a vácuo (os mais literais irão dizer que não é um vácuo propriamente dito, mas sim um ambiente de baixíssima pressão, já que ele opera a 1 milibar de pressão, o que não faz muita diferença para nós) onde não encontrará nenhum obstáculo à sua velocidade, nem mesmo o ar e os trilhos. A força de movimentação será gerada por um potente motor elétrico e por painéis solares dispostos ao longo do túnel.
para deslocar-se sem obstáculos a cápsula irá flutuar sobre os trilhos, seja através de levitação magnética ou até mesmo de um "colchão de ar". Até mesmo Arx Pax, o criador da Magnetic Field Architecture (algo como arquitetura do campo de levitação), criador da tecnologia que foi usada no primeiro Hoverboard funcional, está trabalhando para adaptar sua invenção ao uso no Hyperloop.
Os testes já estão acontecendo:
E caso você esteja pensando nesse momento: "Ah, mas os trens que viajam sem contato com os trilhos já existem". Sim, os Maglev’s já estão aí e passam facilmente dos 400 km/h. Mas você não tá entendendo o quão rápido pode ser um Hyperloop. Sem o atrito do ar (presente nos Maglev’s) o comboio que está sendo desenvolvido poderá atingir mais de 1200 km/h - o mesmo que a velocidade do som -, o que o colocará na categoria de um veículo transônico e, em questão de tempo com as prováveis evoluções, um veículo supersônico (aqueles que passam dos 1470 km/h).
Em tese o Hyperloop poderá acabar com os trajetos curtos e demorados de aviação doméstica. Os Estados Unidos, por exemplo, possuem o espaço aéreo mais movimentado do planeta. Mesmo que uma aeronave vá fazer um percurso de 100 km, o passageiro terá de aguardar os procedimentos de bagagem, segurança, embarque, depois o avião entrará na fila de aeronaves que esperam permissão para decolar. Após chegar no destino tem os procedimentos de pouso da aeronave, desembarque e, se houver, o de bagagem. Só o taxiamento aéreo (processo de decolagem e aterrissagem) costuma ser, muitas vezes, mais demorado do que as próprias viagens de tiro-curto e isso que nem estamos considerando os habituais e frequentes atrasos.
Veja estes números: uma viagem de Nova Iorque à capital Washington (cerca de 350 km) demora algo como 4 horas de carro, 3 horas em um trem expresso e cerca de 1 hora via avião (somente o tempo de voo). Na tecnologia pensada por Musk o mesmo trajeto demoraria menos de 30 minutos (que seria o equivalente ao tempo de preparo para pouso e decolagem de um avião, até então o transporte mais rápido).
O princípio de tudo
A ideia nasceu na cabeça de Musk após ele analisar o projeto de trem de alta velocidade que está sendo construído na Califórnia. O trem-bala terá uma extensão de 840 quilômetros em sua primeira fase e irá custar cerca de 98 bilhões de dólares para ser executado (com muita dificuldade) em um terreno montanhoso e de difícil trabalho. As obras, que se iniciaram em 2015, tem previsão de serem concluídas somente em 2033, quando, segundo Musk, a tecnologia dos trens de hoje já estará velha e ultrapassada há tempos. Ahh, e outra: O trem-bala da Califórnia alcançará, no máximo dos máximos, 350 km/h.
Por essas e outras que o Hyperloop apareceu na mente de Musk como o meio de transporte mais vantajoso do que qualquer outro já inventado. Alguma das razões descritas por Elon incluem:
- Rapidez na construção: Pois os "canos" por onde passarão os comboios com as pessoas podem ser fabricados em qualquer lugar e em várias fábricas ao mesmo tempo; sendo o único trabalho depois apenas montar as grandes peças de lego;
- Espaço: A estrutura que irá acomodar o Hyperloop (os trilhos serão suspensos no ar) é fina o suficiente para ser colocada em uma faixa de uma autoestrada, por exemplo. Sendo assim o governo não precisa comprar terras para escavar túneis ou construir espaçosas e pesadas estruturas;
- Segurança: Totalmente controlado por sistemas computadorizados e sem qualquer tipo de obstáculos, as chances de um acidente dentro dos túneis são praticamente impossíveis. Até mesmo em um ataque terrorista o Hyperloop se sairia bem melhor do que um metrô ou trem comum (e nem vamos citar os aviões). Caso uma bomba estoure em algum dos comboios, além do sistema daqueles que vem atrás identificar automaticamente e frear os veículos, o próprio buraco causado no túnel resultaria na entrada de ar, acabaria com o sistema de vácuo e eles freariam automaticamente.
- Previsão do tempo: Já perdeu um avião por mau tempo? Ou pior, já teve que retornar para o aeroporto de origem após chegar no destino e o piloto constatar que não poderia aterrissar? Eu já e foi - muito - chato. Por esse tipo de problema o viajante que optar pelo Hyperloop não irá passar já que influências exteriores como um mau tempo não afetam os veículos isolados dentro dos tubos.
- Sustentável: Segundo os cálculos do idealizador, o veículo deve ser acelerado no início do percurso por um motor elétrico e então sairá deslizando/flutuando a altíssima velocidade e totalmente livre de atrito. Sem perda significativa de energia e velocidade, somente precisará de um novo "aceleramento" a cada 112 km percorridos. Ou seja, em uma viagem de Porto Alegre para São Paulo ele somente será impulsionado, mais ou menos, 10 vezes - sendo que o consumo é todo feito por energia verde;
- Terremotos: Como se sabe, terremotos são um dos maiores medos dos trens, principalmente dos subterrâneos, mas não no Hyperloop. Segundo Elon, os túneis serão construídos sob pilares, mas não ficarão fixos neles, podendo assim "dançar" conforme os tremores de terra, permitindo que a estrutura e passageiros saiam ilesos ou com o menor dano possível na grande maioria dos terremotos.
As vantagens do sistema se estendem até mesmo para o transporte de cargas, como pontuou Elon.
O porto de Los Angeles, por exemplo, é um dos mais movimentados dos EUA e um dos principais locais de entrada de contêineres, principalmente por conta do Vale do Silício. Após chegarem no porto eles são despachados em caminhões fazendo do trânsito da região um dos piores do país. Musk disse que o Hyperloop pode ser adaptado ao transporte de contêineres e, ao mesmo tempo em que deixaria as mercadorias mais em conta ao baratear o valor de seu frete, diminuiria o tempo de fornecimento da cadeia de produtos e melhoraria o tráfego das rodovias, eliminando os milhares de caminhões que partem dali diariamente.
Além disso, as empresas de Hyperloop (conheceremos elas abaixo) apostam em um sistema on demand onde as cápsulas sairão das estações a cada 10 ou 30 segundos, acabando com as filas e atrasos, tão comuns em qualquer outro meio de transporte conhecido (exceto a linda bicicleta).
Com tudo isso em mente Musk abriu suas ideias ao público em julho de 2012 nesta entrevista:
A partir da entrevista, que veio do nada e largou bombas como "3 ou 4 vezes mais rápido do que um trem-bala" e "funcionar por 24 horas por dia e 7 dias por semana sem usar baterias", as pessoas começaram a reagir com desconfiança às ideias de Elon.
A história do Hyperloop só começou a ser crível com este pdf publicado no ano seguinte no qual, além de explicar em detalhes as possibilidades físicas e de engenharia de todas aquelas "loucuras" que ele havia falado, o documento deixava claro que, todos que quisessem e tivessem condições, poderiam começar a pesquisar e trabalhar em sua própria versão do novo meio de transporte.
Sim, Musk deixou bem claro que não pretendia explorar o Hyperloop (você fica meio que sem tempo quando tem que administrar uma empresa de exploração espacial e uma montadora de carros elétricos simultaneamente), tampouco patentear sua ideia. O Hyperloop estava ali para quem quisesse.
Rapidamente, diversas personagens surgiram tentando ser o nome responsável por desenvolver o transporte do futuro, mas focaremos, inicialmente em duas delas: A Hyperloop Transportation Technologies (HTT) e a Hyperloop Technologies (HT) que agiram como precursoras.
E não esqueça de Elon Musk, ele já volta pra nossa história.
Hyperloop Transportation Technologies
Iniciativa liderada pelo alemão Dirk Ahlborn, o HTT trata-se de um projeto de engenharia financiado em modo crowdfunding, mas, diferentemente dos demais, esse daqui não pede que você invista dinheiro, mas sim algo mais valioso e precioso: Seu tempo e ideias. Após o apelo de Dirk, cientistas e engenheiros do mundo todo passaram a doar seus conhecimentos e colaborarem através de discussões online para aprimorar cada vez mais a tecnologia do Hyperloop.
Caso você ache que possa contribuir, clique aqui "para investir". O tempo mínimo de dedicação semanal é de 10 horinhas.
E caso você pense que esses trabalhos gratuitos e caritativos não atraem nada além amadores, você está bastante errado. Dirk disse que conta com pessoas da NASA, Tesla, Boeing e SpaceX entre seus colaboradores. Já são mais de 800 entusiastas, fora as universidades e empresas parceiras.
O trabalho, hoje, é de graça, mas futuramente todos que contribuíram terão direito a receber uma parte das ações das empresas que serão formadas a partir da HTT. O alemão, no entanto, acredita que as pessoas fazem o que fazem por amor à ciência, assim como a comunidade que leva o navegador Firefox adiante, por exemplo. Mas, além destes que querem contribuir intelectualmente, ele disse já ter sido procurado por mais de 600 pessoas querendo colocar dinheiro neste negócio que promete ser bastante rentável.
Segundo ele, a HTT está trabalhando, atualmente, em uma cápsula de pouco menos de 3 metros de largura que poderá acomodar até 40 pessoas em uma viagem de classe econômica. Mas se você prefere conforto, há um mesmo tipo de vagão que poderá comportar até 28 passageiros na classe executiva.
O projeto de Dirk já conta até com algumas previsões de custos das passagens. Em uma viagem entre São Francisco e Los Angeles (cerca de 559 quilômetros em linha reta) custará mais ou menos 30 dólares na classe econômica e levará meia hora. A título de comparação, trens convencionais demoram mais de 8 horas, hoje em dia, e custam mais do que o dobro.
Para garantir o preço baixo das passagens (20x mais barato do que o avião) ele disse em entrevista que as cápsulas terão propagandas sendo exibidas, seja em telas ou outdoors. Dirk diz que sem o subsídio do governo é muito raro que um transporte público seja lucrativo. Sendo assim, as anunciantes poderiam ajudar a pagar as contas. Uma outra saída que ele não descartou é fazer preços variados em horários de pico e horários de baixa lotação.
Resta lembrar que no início da empresa - ainda em 2015 - ele disse que as viagens poderiam até mesmo serem gratuitas, pelo menos aquelas fora do horário de pico. As passagens seriam pagas por outros meios, assim como os jogos para smartphone de hoje em dia, por exemplo, os conhecidos freemiums.
A iniciativa já chamou a atenção de diversas cidades que desejam ter entre elas uma rota de Hyperloop, mas, ao que tudo indica, devido a razões políticas e econômicas o primeiro trajeto comercial aberto ao público não será nem na Europa nem nos Estados Unidos (eles já anunciaram quem não seguiram a rota inicial de Musk entre São Francisco e Los Angeles).
Após diversos estudos de viabilidade que, ainda, não deram em nada na Europa, em possíveis rotas entre Viena (Áustria) a Bratislava (Eslováquia) e, Budapeste (Hungria) e Brno (República Tcheca), a Hyperloop Transportation Technologies assinou alguns "acordos de verdade". Para citar apenas três:
- Com o governo da Índia, para construir uma pista entre as cidades de Amaravathi e Vijayawada em uma parceria público-privada e fazer com que a viagem de mais de uma hora seja reduzida para 5 minuto, em setembro de 2017;
- Com o governo da China para construir o sistema na cidade de Tongren, em julho de 2018;
- Com a Aldar Properties - uma construtora sediada nos Emirados Árabes - para o primeiro sistema comercial de Hyperloop na região, entre Abu Dhabi e Dubai com 10km de extensão.
Mas o mais interessante não são os contratos de construção de trechos, mas sim de uma fábrica. Em 2017 a HTT celebrou um acordo com a cidade de Toulouse, na França, não para criar um sistema para a cidade, mas sim criar o sistema NA cidade. O município francês, que é conhecido como a capital europeia da engenharia espacial e aeronáutica, fez questão de sediar as instalações da Hyperloop Transportation Technologies, que servirão tanto para construção de infraestrutura como pesquisa. O local tem mais de 3 mil metros quadrados.
E é de lá que vai partir o primeiro teste funcional da empresa. Até o final de 2018 estará operando em Toulouse o seu primeiro sistema fechado de 320 metros, com tubos de 4 metros de diâmetro, adaptados tanto para passageiros como contêineres. O próximo passo será segundo sistema, de 1.000 metros de extensão, elevado por postes a uma altura de 5,8 metros, que será concluído em 2019.
A primeira cápsula de transporte de passageiros ocorreu nesta semana (no momento em que escrevo este texto. Segundo Bibop Gresta, presidente e co-fundador da HTT, "Em 2019, esta cápsula estará totalmente otimizada e pronta para passageiros".
Confira o vídeo divulgado para celebrar o acordo entre a cidade e a companhia:
A HTT também já demonstrou a vontade de criar uma versão adaptada a pequenas distâncias, em outras palavras: uma versão de Hyperloop que funcionará dentro das cidades. Atingindo menores velocidades, ela seria usada para conectar pontos da cidade à estação central do Hyperloop, de onde poderia, então, ir para outas partes da cidade, estado, país, continente. Quem sabe tenhamos também algumas paradas no meio deste caminho? A empresa diz que essa será a evolução do atual sistema de metrôs.
Se você quiser ver uma explicação completinha de Dirk Ahlborn, é só clicar aqui.
Virgin Hyperloop One
E se de um lado temos a HTT correndo por fora, no centro dos holofotes temos a Virgin Hyperloop One (anteriormente chamada apenas de Hyperloop One), amparada por grandes investidores, por um time de peso à frente da iniciativa, 280 colaboradores e mais de 300 milhões de dólares captados de investidores.
Seus co-fundadores, que descrevem o Hyperloop como a "banda larga dos transportes", são Shervin Pishevar e Kevin Brogan, nomes que, talvez, não lhe sejam familiares, portanto cabe aqui uma explicação: O primeiro deles é um investidor anjo certeiro que já colocou grana em empresas como Uber e Airbnb. Como ele e Elon Musk são amigos pessoais, Pishevar foi uma das primeiras pessoas as quais Musk contou sobre o Hyperloop. Ao perguntar se ele podia também investir na ideia Musk disse que sim, afinal já estava ocupado o bastante com seus outros negócios. Isso ocorreu antes mesmo de Musk tornar pública a ideia do novo meio de transporte.
Já o outro - que também foi o chefe de engenharia da VHO - ficou famoso ao ser um dos principais nomes da SpaceX e responsável pelo design do Falcon 1 e da cápsula Dragon. Foi na garagem de Brogan que a Virgin Hyperloop One oficialmente deu início aos trabalhos.
Hoje a empresa conta com Rob Lloyd, ex-presidente da Cisco (uma das maiores empresas de tecnologia do mundo) como CEO, Richard Brenson (multibilionário e dono do conglomerado Virgin) que se tornou presidente após investir 50 milhões na empresa (por isso ela acrescentou o Virgin ao seu nome) e nada mais nada menos do que um SULTÃO como conselheiro. E não é qualquer sultão, é o Sultão Ahmed Bin Sulayen, que ninguém conhece de nome, é claro, mas que foi o responsável por encabeçar a expansão infraestrutural ocorrida em Dubai nos últimos anos, contribuindo - e muito - para o seu crescimento e por aquelas comparações muito legais entre dos "antes" - um deserto - e "depois" - uma megacidade desenvolvida.
Fundada em 2014, o local que a VHO escolheu para seus testes é o complexo do Apex Industrial Park na cidade de North Las Vegas, estado de Nevada. Lá mesmo o motor desenvolvido foi testado e aprovado publicamente em maio de 2016 (na ocasião 187 km/h foram alcançados em 1.9 segundo).
Após os bem-sucedidos testes iniciais, foi a vez de fazer o primeiro teste real; com um comboio em tamanho real; testando todos os elementos reais (propulsão, vácuo, frenagem, levitação, estrutura, etc.). Já nesta ocasião novo recorde foi alcançado: 385 km por hora.
A VHO mudou muitos dos conceitos iniciais propostos por Musk, desde o sistema de propulsão à rota inicial, por exemplo. Ao invés do trajeto proposto a empresa desenvolve estudos de viabilidade em vários países diferentes, além de, também, possuir os seus contratos garantidos. Alguns deles incluem:
- Um acordo, firmado em agosto de 2016, com a terceira maior operadora de portos do mundo, a DP World, para desenvolver um sistema de descarregamento de carga no seu principal porto: Jebel Ali, em Dubai;
- Um acordo, anunciado em fevereiro de 2018, celebrado com o estado indiano de Maharastra, que vai ligar as cidades de Pune e Mumbai.
A previsão de início dos transportes abertos ao público é 2021, porém, a rota inicial não é certa. Inúmeros casos de viabilidade estão sendo estudados, nos mais variados cantos do planeta como Holanda, Finlândia, Rússia, Austrália e diversas rotas dentro dos Estados Unidos.
Até mesmo uma competição foi criada pela VHO para encontrar os melhores trajetos possíveis. Os vencedores irão trabalhar de perto com o pessoal da companhia para desenvolver estudos de viabilidade e desenvolver seu Hyperloop. São eles: Reino Unido (2 trechos), Canadá (1 trecho), México (1 trecho), Índia (2 trechos) e Estados Unidos (4 trechos).
Mas e cadê Elon Musk nessa história toda?
Ok, antes falamos que iríamos dar um tempo em Elon para falar sobre as empresas que estavam encabeçando o desenvolvimento do Hyperloop, certo? Pois é, por muito tempo Musk esteve afastado do HL.
Desde seu anúncio, em 2013, Elon se manteve à parte, mas nem tanto. Isso porque o nome Hyperloop foi registrado como propriedade privada da SpaceX em diversos países. A sua empresa de exploração espacial, aliás, se envolveu em pontos chave para o aprimoramento da tecnologia.
Foi essa empresa que resolveu financiar eventos de incentivo ao estudo do Hyperloop e competições entre alunos de diversas universidades do mundo em busca da criação da cápsula perfeita para o transporte de pessoas. A primeira edição ocorreu em janeiro de 2016 e vem se repetindo regularmente desde então. Eles, inclusive, construíram um túnel de cerca de 1.5 km de comprimento em sua sede para que as equipes pudessem colocar suas cápsulas para competir.
Na época eles disseram que "Nem a SpaceX nem Elon Musk estão ligados a qualquer empresa de Hyperloop. Embora não estejamos desenvolvendo um Hyperloop comercial, estamos interessados em ajudar a acelerar o desenvolvimento de um protótipo funcional do mesmo."
Após 3 edições os grandes campeões seguem sendo os estudantes da Universidade de Munique, a WARR Hyperloop, que na competição de 2018 bateram o próprio recorde atingindo uma velocidade de mais de 460 km/h.
Legal, mas sabe aquele lance de Elon Musk não se envolver com o Hyperloop? Pois é, ele repensou.
The Boring Company
Assim, em um belo dia, Musk se cansou do trânsito de Los Angeles e decidiu que deveria fazer algo ao invés de apenas se lamentar. Assim ele fundou a The Boring Company (A Companhia Entediante), nome apropriado para sua nova empresa de cavar túneis.
Fundada em dezembro de 2016, a empresa começou a operar em fevereiro de 2017 ao cavar seu primeiro túnel. Nesta ocasião, inclusive, criou-se mais um daqueles episódios que se não tivessem Elon Musk como personagem principal iriam parecer mentira: Quando Musk disse que desejaria começar a cavar em uma bela sexta-feira, disseram a ele que isso só poderia ser feito dali, pelo menos, duas semanas, pois precisariam mover os carros do pessoal e isso precisaria de uma grande logística. Musk agiu como Musk e disse: "Vamos começar hoje e ver qual é o maior buraco que conseguimos cavar até domingo à tarde, funcionando 24 horas por dia". Mais tarde naquele mesmo dia, os carros já não estavam lá e havia um buraco no chão.
Com apenas 1 ano e meio de atividade era de se esperar que a companhia não tivesse muitos contatos e coisas reais para mostrar, certo? Porém, não podemos esquecer que a empresa é de Elon Musk e 1 ano e meio equivale a uns 5 anos para nós humanos normais.
Dessa forma, a The Boring Company já tem tantos contratos e permissões quanto as suas concorrentes mais antigas. Alguns deles:
- Permissão de construir um trecho entre o aeroporto de Los Angeles e Westwood;
- Permissão de construir um trecho entre Nova Iorque e a capital Washington;
- Venceram o concurso para construir um trecho entre o aeroporto de Chicago e o centro da cidade.
Na entrevista abaixo, concedida para o TED 2017, Musk fala sobre os planos e objetivos da The Boring Company.
A próxima ideia de marketing é vender "Tijolos que se ligam, semelhantes a LEGO, feitos de rocha de tunelamento que você pode usar para criar esculturas e prédios". Segundo Musk o primeiro set será sobre Egito, com pirâmides, esfinge, etc.
Atualiação importante
No dia anterior a esta atualização que escrevo, Musk deixou os entusiastas ainda mais ansiosos. Isso porque ele cravou uma data de abertura para o primeiro túnel cavado pela TBC: 10 de dezembro de 2018 (o anúncio ocorreu em 21 de outubro do mesmo ano).
O CEO ainda disse que no dia seguinte à inauguração haverá viagens gratuitas para o público. O trajeto deste túnel de testes terá pouco mais de 3 km de comprimento e partirá do estacionamento da SpaceX; velocidade máxima no trajeto será de 250 km/h.
Hyperloop no Brasil
Olha, eu não quero ignorar o fato de que as obras da Copa de 2014 ainda não estão prontas, e que o trem-bala que foi anunciado há mais de 10 anos para o evento ainda nem começou a ser construído, mas trago boas notícias para nós brasileiros. Isso porque a Hyperloop Transportation Technologies anunciou no início de abril, que o Brasil será sede do primeiro Centro Global de Inovação em Logística de Hyperloop, com uma estrutura de 4.000 metros quadrados na Cidade de Contagem, em Minas Gerais.
Com operações previstas para iniciarem ainda em 2018, o centro global abrigará uma divisão de pesquisas da empresa, um laboratório de fabricação e todo um ecossistema de empresas, startups, universidades, incubadora tecnológica, cientistas e pesquisadores que irão pensar como fazer o Hyperloop acontecer.
"O Brasil é um dos principais mercados de inovação no mundo, abrigando startups e mentes inovadoras que já exportam suas ideias globalmente. Acreditamos que a HTT se beneficiará dessa evolução que ocorre na indústria brasileira para desenvolver novas soluções para a mobilidade humana e para o transporte sustentável de cargas pelo país, que apresenta extensões continentais", afirma o brasileiro Rodrigo Sá, diretor global de desenvolvimento de negócios da Hyperloop Transportation Technologies.
Com isso o estado de Minas Gerais dá mais um passo para se tornar a referência em polo tecnológico brasileiro. Segundo o prefeito de Contagem, a administração pública tem trabalhado para atrair inovação e vai investir de mais de R$ 1 bilhão em mobilidade urbana nos próximos três anos. "Contagem é conhecida como o berço da indústria do estado e estamos apostando em uma nova revolução industrial na região metropolitana de Belo Horizonte. Os efeitos disso serão muito positivos no sentido de gerar riqueza e conhecimento e na autoestima da população ", disse Alexis de Freitas, prefeito de Contagem.
Além disso a HTT também está em fase de negociações para iniciar uma série de estudos de viabilidade para diferentes rotas no Brasil, tanto para cargas como para passageiros. Estes estudos visam o apoio técnico, financeiro e regulatório necessário para a implementação de um sistema Hyperloop no país. Será que agora vai?
Abaixo uma entrevista do presidente e co-fundador da HTT em uma de suas passagens pelo Brasil.
Críticas ao Hyperloop
Mas claro que se há os prós, certamente há de existir os contras.
Um deles diz respeito a tal segurança que Elon Musk apontou como um dos maiores pontos positivos do seu novo sistema de transportes. Segundo os críticos um tubo ao ar livre que cruza desertos e áreas remotas está totalmente vulnerável a ataques externos, podendo ser um excelente alvo para ataques terroristas, por exemplo.
Outra questão levantada foi o real custo para construção do sistema. Michael Anderson, professor de economia da Universidade de Berkeley fez uma conta e disse que os custos de um sistema de Hyperloop não seriam inferiores a 100 bilhões de dólares. Segundo ele a estrutura que elevaria os túneis acima das rodovias tem seu preço bem mais elevado do que foi considerado em apontamentos iniciais. Ele disse ainda que se o projeto fosse levado adiante, mesmo com esse custo excessivo, para ser viável as passagens teriam de custar cerca de mil dólares cada.
Por fim há também aqueles que temem pelo próprio desconforto do passageiro. Segundo alguns médicos haverá a inevitável sensação de pânico ao estar locomovendo-se a mais de mil km por hora em uma cápsula sem janelas em um túnel totalmente vedado. Além disso o barulho do ar sendo comprimido em torno da cápsula em velocidades quase sônicas, a vibração e até mesmo o "empurrão" inicial seriam um grande incômodo. Segundo os que defendem esta teoria, quando estamos a uma velocidade tão alta, qualquer leve oscilação já é suficiente para causar uma grande movimentação no interior da cápsula. A HTT já imagina algumas possíveis soluções para estes problemas, como a colocação de janelas nas cápsulas e projeção de paisagens nos túneis ou até óculos de realidade virtual para simular situações mais agradáveis.
Aponta-se ainda que mesmo que o Hyperloop opere em capacidade máxima ele não será tão eficiente como imaginado. Os críticos calculam que o Hyperloop possa carregar, no máximo, 3360 pessoas por hora em cada túnel (a Virgin Hyperloop One diz que são 8.640 no vídeo que você confere no final deste texto), ficando abaixo dos 12 mil passageiros transportados pelos trens de alta velocidade.
Mas vamos focar na parte boa e deixar as críticas para um momento futuro. Veja abaixo como serão os transportes através do Hyperloop no futuro próximo; depois já deixe o seu comentário. Você está ansioso? Gostaria de experimentar o transporte do futuro? Acha que o Brasil vai conseguir essa daí ou vai frustrar mais um punhado de investidores estrangeiros que não sabem onde estão se metendo?
Mais algumas fontes: ZME Science; Tech Crunch; Hyperloop Transport Technologies; Hyperloop One; Business Insider; Geek Wire; Engadget; Nanalyze