A edição de 2019 da Mobile World Congress (MWC) ocorreu no começo do ano em Barcelona, ​​e será lembrada como a conferência que deu início à conectividade 5G. Embora essa tecnologia venha sendo falada há vários anos, é agora que a maioria dos fabricantes está lançando suas primeiras propostas equipadas com essa inovação.

Samsung, LG, Huawei, OPPO, ZTE, OnePlus, Motorola e Xiaomi são algumas das marcas que estão ou devem entrar em breve nesta corrida, com pelo menos um smartphone com conectividade 5G. Mas há algo que os usuários não devem esquecer: O smartphone é apenas um dos ingredientes da receita. E apesar de você poder ter um smartphone 5G, de nada adianta se as operadoras de celular não oferecerem o serviço.  

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Esse é o impacto que a conectividade 5G terá no nosso dia a dia

Antes de investigarmos o estado em que a implantação da tecnologia 5G está, é bom avaliarmos as melhorias que ela introduzirá nas comunicações em relação à 4G, que usamos atualmente, e também quais serviços novos serão possíveis. O órgão responsável pela regulamentação das telecomunicações no contexto global é a União Internacional de Telecomunicações (UIT), que também atua como moderadora entre os operadoras e agências reguladoras (como a Anatel) de cada país.

REC M.2083 da ITU

REC M.2083 da ITU pode nos ajudar a identificar claramente o escopo da conectividade 5G quando ela é implantada e os usuários podem acessá-la. Essa norma gera três cenários de uso diferentes, que refletem claramente a importância da alta velocidade de transferência de dados e a latência mínima das comunicações 5G em aplicativos críticos.

  • O primeiro é possivelmente aquele que é mais tangível para os usuários, pois visa resolver o aumento no volume de dados que cada um de nós gera. Para atingir este objetivo, estipula que a rede deve ser capaz de assumir uma densidade muito maior de usuários e tráfego do que a possibilitada pela infraestrutura de comunicações do 4G que usamos atualmente.
  • O segundo cenário é muito diferente do primeiro, porque estipula que a infraestrutura 5G, e também deve tornar possível um ecossistema de IoT (Internet das Coisas) no qual uma enorme quantidade de dispositivos podem se comunicar através de links que não exigem a transferência de grandes volumes de dados, a fim de resolver suas necessidades de comunicação. E tudo deve ser feito com um consumo de energia mínimo.
  • O último cenário proposto pela Recomendação ITU-R M.2083 também é muito importante porque aumenta a necessidade de links de latência muito baixa, que podem ser usados ​​em aplicações críticas. Latência é o tempo que leva para a transferência de um pacote de dados dentro da rede, e quanto mais reduzido esse atraso, melhor. 

As especificações definidas nos padrões 5G, em que as organizações envolvidas na definição da norma estão trabalhando, propõem uma latência média de aproximadamente 1 ms, valor ainda mais baixo que o atualmente oferecido pela maioria das conexões de fibra ótica.

No papel, em circunstâncias desfavoráveis, a latência nunca deve exceder 10 ms. A melhoria se nos ativermos a esse parâmetro em comparação com as atuais comunicações 4G é enorme, o que deve ter um impacto muito positivo, por exemplo, em carros autônomos, que pode enviar e receber dados quase instantaneamente. 

Neste contexto, esta disposição é crucial porque permite que cada veículo saiba, em tempo real, qual o estado do tráfego das estradas, bem como interagir com outros carros de uma forma completamente automatizada para coordenar a condução com segurança.

A latência média dos links 5G será de 1 ms, e eles atingirão uma velocidade máxima teórica de 20 Gbps

Em qualquer caso, o escopo das comunicações 5G vai muito além do carro autônomo e da Internet das Coisas (IoT). Uma provisão desta tecnologia que deveria ter um impacto direto em nossa experiência como usuários é a velocidade de transferência que a tornará possível, que atingirá picos de 20 Gbps. Este valor é muito superior ao Gbps que suporta o padrão 4G em condições ideais e com baixa mobilidade, de acordo com as especificações do ITU. Mas o que é mais relevante é o fato de que sua velocidade média de transferência não será inferior a 100 Mbps, um desempenho mais atraente do que muitas pessoas atualmente desfrutam em casa com conexões de fibra ótica.

A latência mínima e a alta velocidade de transferência das comunicações 5G também devem ter um impacto positivo nos aplicativos de realidade virtual e realidade aumentada, que podem atingir muito mais dispositivos. Até mesmo a inteligência artificial deve ser reforçada, porque essa conectividade imediata nos permitirá coletar muito mais dados, capazes de descrever nosso comportamento e o ambiente em que nos movemos. No entanto, para aproveitar o enorme volume de dados que a infraestrutura 5G poderá assumir, precisamos ter grandes sistemas de dados, capazes de processar e extrair informações úteis desses dados massivos.

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Desafios que ainda estão por vir

O recurso mais valioso no qual a tecnologia 5G se baseia, como as outras infraestruturas de comunicações sem fio, é o espectro de rádio. As ondas de rádio não entendem nem nações nem fronteiras, por isso é essencial regular o uso do espectro de radiofreqüências tanto no contexto nacional quanto internacional. Este é o desafio mais importante ainda enfrentado pelas comunicações 5G.

O órgão responsável por arbitrar a negociação entre as partes envolvidas e por propor soluções é a Seção de Radiocomunicações da UIT, da qual falamos várias vezes ao longo do artigo. Sua missão é garantir o uso racional, equitativo, eficiente e econômico do espectro de radiofrequências por todos os serviços de radiocomunicações, evitando, ao mesmo tempo, a ocorrência de interferências prejudiciais. E aqui também os serviços de satélite estão incluídos. Para possibilitar os benefícios acima mencionados, a UIT propõe utilizar as bandas de frequências acima de 24 GHz, e esta medida coloca vários desafios, como explicamos melhor neste artigo.

O maior desafio que ainda tem a tecnologia 5G à frente deriva da regulação do espectro radioelétrico

Além do trabalho pendente em termos de regulação do espectro de rádio, também é necessário definir os padrões de certificação dos dispositivos 5G. Já existem rascunhos, que são os documentos que os fabricantes de modem e smartphone estão trabalhando atualmente, mas em 22 de fevereiro deste ano, o Global Certification Forum (GCF), que é o órgão que estipula quais requisitos devem ser atendidos para cumprir com os dispositivos, anunciou que terá pronto o pacote completo de testes de certificação de chipsets, módulos e modems 5G até o final de 2019.

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Esses testes de certificação são essenciais para garantir que os dispositivos envolvidos nas comunicações 5G atendam os requisitos e sejam confiáveis. E, como podemos imaginar, essa confiabilidade é fundamental nos cenários de uso apresentados pelo carro autônomo, fabricação industrial automatizada, realidade aumentada e realidade virtual, entre outras possíveis aplicações da tecnologia 5G.

Implantação em grande escala começará em 2020

Sim, os primeiros smartphones 5G já estão sendo lançados, mas tudo parece indicar que os usuários ainda terão que esperar para ter acesso a internet 5G de fato. Os testes de infraestrutura estão em andamento há vários anos no Japão, na China, nos Estados Unidos, na União Européia e na Coréia do Sul, entre outros países. 

As principais operadoras de telefonia móvel também vêm testando, incluindo uma chamada de vídeo 5G, feita com um Huawei móvel em uma rede 5G da Vodafone da Espanha, entre Barcelona e Madrid, e realizada na freqüência de banda de 3,7 GHz de graças à aquisição dos 90 MHz contíguos que a Vodafone tornou oficial no ano passado. 

Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 darão o pontapé inicial definitivo às comunicações 5G

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É possível que, durante todo o ano de 2019, algumas operadoras de telefonia móvel tomem a iniciativa e lance, um pacote 5G, à qual os usuários podem se associar, mas isso deve ocorrer primeiramente em países como Estados Unidos, Espanha e Coreia do Sul. Se isso acontecer de fato, é provável que essas redes terão áreas de cobertura limitadas, como áreas mais centrais de algumas grandes cidades, onde as operadoras estão atualmente instalando seus nós de 5G para testar suas infra-estrutura. Ainda não será um serviço disponível em grande escala.

A previsão de algumas das empresas envolvidas na implantação de redes 5G, como Huawei, Intel, Samsung, Qualcomm ou NTT Docomo, entre outras, parece mais realista. E de acordo com eles, a decolagem definitiva do 5G acontecerá durante os próximos Jogos Olímpicos em Tóquio, em 2020, um evento que atrairá a atenção da mídia de todo o planeta, bem como de milhões de pessoas que amam esportes. Será, sem dúvida, uma vitrine fantástica para a conectividade 5G, e as empresas envolvidas aproveitarão essa tremenda visibilidade.

Um documento publicado pela GSMA (GSM Association), que é a associação que reúne operadoras de telefonia e grandes empresas de telecomunicações, revela com precisão quais países vão assumir a liderança, colocando no mercado os primeiros serviços 5G. De acordo com este documento, o primeiro de todos será a Coréia do Sul. Lá, a operadora KT Corporation anunciou que lançará seu primeiro pacote comercial de 5G em 2019.

A NTT Docomo e a China Mobile farão o mesmo no Japão e na China, mas em 2020. Nos Estados Unidos, de acordo com este documento, a tecnologia 5G chegará ainda em 2019, embora não precise qual operadora. E na Europa a situação não é muito diferente. Na verdade, as principais operadoras européias publicaram um manifesto em que anunciam que pretendem comercializar serviços 5G em pelo menos uma cidade em cada país até 2020. Então, como estamos vendo, a data mais plausível em que o as comunicações 5G começarão a estar disponíveis é entre 2019 e 2020. E para o Brasil ainda não há nenhuma previsão.

Vale a pena comprar um smartphone 5G em 2019?

A resposta a essa pergunta não pode ser categórica. Como acabamos de ver, é mais razoável aceitar que as primeiras tarifas comerciais 5G começarão a chegar em 2020  nos países que lideram a corrida, ou até mesmo em 2019. Mesmo assim, esta tecnologia, como é lógico, ainda não estará disponível de forma massiva. Muito provavelmente, sua expansão em larga escala ocorrerá entre 2021 e 2022, portanto, a priori, podemos considerar que a decolagem definitiva de 5G ocorrerá durante esses dois anos.

Em relação aos smartphones com modems 5G, veremos que em 2019 a maioria das marcas lançará pelo menos um ou dois modelos equipados com essa conectividade e, a partir de 2020, a maioria delas irá incorporá-lo. Com tudo isso em mente, o que seria possível fazer com um smartphone 5G agora? Para responder a essa pergunta, é essencial que, além de ter em mente tudo o que falamos até agora, analisar com que frequência você troca de smartphone.

Para usuários que mudam de smartphone todos os anos, e geralmente apostam em modelos top de linha, é razoável admitir que a incorporação no terminal de conectividade 5G não é uma característica que mereça decantar a compra. Muito provavelmente você não vai tirar proveito desse serviço, dada a falta de serviços comerciais de 5G.

No entanto, para uma pessoa que troque de smartphone numa frequência superior a dois anos, pode ser interessante obter um smartphone 5G agora. Claro, contanto que você já tenha decidido mudar seu smartphone atual. É provável que durante 2019 você não consiga acessar serviços 5G, a não ser que você more fora do Brasil, em algum dos locais citados anteriormente. Para além disso, não há motivos para você se preocupar com esta tecnologia agora.