Este é meu primeiro post aqui no Oficina da Net, e o faço com muita satisfação. Acompanho o site há um bom tempo e ele sempre esteve entre minhas referências de conteúdo confiável. Falando um pouco sobre mim, alguns devem me conhecer através do YouTube, tenho um canal em que falo sobre smartphones, notebooks e gadgets em geral. O que nem todos sabem é que não sou formado nessa área: sou psicólogo. Ainda assim, tecnologia sempre foi um dos assuntos mais presentes em minha vida. Essas duas coisas, apesar de não parecer, podem se conectar, já que o comportamento humano está no centro do interesse e da atuação de empresas na área de TI, e a popularização das redes sociais tornou tudo isso ainda mais forte. É um tipo de assunto que deve aparecer em alguns de meus textos e espero que curtam.
Para quem lê sobre ou assiste a conteúdo tech, não deve ser incomum encontrar, nos espaços para comentários, pessoas brigando por conta de um smartphone. Tirando os nomes, um observador ingênuo poderia achar que o tema da confusão seria uma pessoa especial ou um assunto nobre, e não um objeto eletrônico. Por que situações assim acontecem?
Por que amamos smartphones?
É algo que, para começo de conversa, pode ser entendido de forma muito mais abrangente: seres humanos enchem de valor, afeto e significados coisas que, por si, são bem mais simples e/ou não têm essas propriedades. Não ocorre só com objetos. Por exemplo, quem não já ouviu alguém dizer, de forma irônica, que futebol é sem graça e se resume a jogadores correndo atrás de uma bola? Apesar de essa ser uma boa descrição do esporte, sabemos o quanto ele se torna importante na vida de uma multidão que sequer joga, "apenas" torce para seus times.
O que determina se daremos ou não todo esse valor a um esporte ou a um objeto são fatores como história de vida, os ambientes em que estamos inseridos, entre outros. Agora vamos pensar nos smartphones: são aparelhos que evoluíram de meros dispositivos de comunicação para, nos dias de hoje, atuarem como verdadeiros mediadores entre todos nós e a vida cotidiana. Poucos objetos têm tanto impacto ou presença em nosso dia a dia como nossos celulares. Isso os torna importantíssimos para todos, e também fortes candidatos a virarem algo maior, digno de muita afeição.
Um estudo já mostrou que o smartphone está entre os principais pontos que as pessoas pensam que serão notados nelas em um encontro. Nesse sentido, propor que eles funcionam como um grande símbolo de status ou estilo não vai soar como surpresa. Mais do que isso: a depender do perfil e dos gostos pessoais, um smartphone pode ser um verdadeiro componente da identidade de um indivíduo. E a Psicologia mostra que, para defender sua própria identidade e autoestima, esse indivíduo não deve medir forças para proteger os elementos que formam o todo. Talvez soe engraçado ou um exagero, mas para algumas pessoas, defender seus smartphones é defender a si mesmas.
- Veja também: Conhece nomofobia? O chamado vício em smartphones?
Como criador de conteúdo no YouTube, noto que uma situação bastante comum é a de usuários que já compraram um determinado aparelho entrando em análises para saber o que se fala sobre o dito cujo. E uma grande parcela desses fica verdadeiramente chateada quando ouve críticas que julga serem injustas, produzindo comentários com grandes defesas ou mesmo insultos ao criador do conteúdo. Ora, pensem vocês, qual é a importância de uma videoanálise para alguém que já comprou um telefone? Além de entretenimento ou eventual necessidade de tirar dúvidas, essas visitas ocorrem por uma busca de validação da escolha já feita, com grande expectativa por elogios. Elogios esses que, para além de enaltecer o smartphone, massageariam principalmente quem o comprou, sua autoestima e sua identidade.
É evidente que o comportamento humano não se resume a causas simples, existem diferentes níveis de explicação e este texto é apenas um recorte. Ainda é possível pensar, por exemplo, que possuir determinado smartphone atende a uma das principais necessidades do ser humano: a de pertencimento. Possuir um mero Moto G pode significar, para alguns, a entrada em um grupo, a inserção em ambientes vistos como privilegiados. A existência de tantas comunidades virtuais sobre certos modelos ou marcas estão dentro desse entendimento: elas não servem apenas para tirar dúvidas ou debater questões objetivas, mas simbolizam o estabelecimento de "tribos" que se relacionam e transferem todo esse valor afetivo ao seu ícone central: um telefone. Sob esse ponto de vista, não é difícil entender porque ele se torna mais que um eletrônico.
Vistos sob ótica adequada, comportamentos pitorescos tornam-se compreensíveis, e este certamente é o caso quando pensamos na relação que muitos têm com seus smartphones. É claro que algo compreensível ainda pode ser problemático para um indivíduo ou para outros que estão a sua volta, e isso deve ser analisado caso a caso. De modo geral, é curioso notar como todos nós podemos ser o foco de uma abordagem como esta por conta de um tema que valorizamos em especial. Aliás, dada a sua quase onipresença, é bem possível que smartphones ou conteúdo acessado por eles se relacionem com esse tema de alguma maneira. Eles são, mesmo, importantes, mas... O quanto são para você?