A confusão envolvendo a Huawei e o governo norte-americano causou prejuízos incalculáveis à imagem da gigante chinesa. Como se sabe, devido a suspeitas sobre espionagem, o presidente Trump colocou aquela fabricante numa lista negra que a impediria de trabalhar com empresas americanas - isso inclui o Google e seu sistema Android, largamente utilizado nos smartphones dos asiáticos.
Atualmente, existe uma trégua de alguns meses para esse embargo, situação transitória que, nem de longe, resolve os problemas da Huawei. Foi difícil convencer consumidores ocidentais de que aparelhos já lançados, como o poderoso Huawei P30 Pro, continuariam com seus sistemas funcionando normalmente, com perspectiva de atualizações comuns a médio prazo. Mas o real desafio tocaria os próximos lançamentos, totalmente suscetíveis às sanções, e eles chegaram: os tops de linha Mate 30 e Mate 30 Pro.
Havia grande expectativa sobre o que a Huawei faria na nova iteração da linha Mate, posicionada como a mais premium em seu portfolio. Eles trariam um sistema operacional próprio? Mergulhariam na incerteza do Android? Na prática, optaram pela segunda alternativa, mas não totalmente. Mate 30 e Mate 30 Pro chegarão à China com a versão de código aberto do Android, que foge de maiores problemas por dispensar as propriedades do Google. Em termos mais simples, esses smartphones rodam uma versão base do Android, mas sem partes importantíssimas como a Play Store (isso mesmo) e famosos aplicativos do Google. Como é possível sobreviver assim?
O site Android Authority conversou com Richard Yu, um importante executivo da Huawei, que explicou um pouco da situação. Segundo Yu, a companhia lançará os Mate 30 apostando em sua própria loja de aplicativos, chamada de App Gallery. Ela roda em cima dos chamados Huawei Mobile Services (HMS), que substituem os conhecidos Google Mobile Services (GMS), a base de códigos que permite a linha de apps do Google funcionar (Gmail, Google Search, Chrome e outros).
É importante salientar que apps populares como Instagram, Facebook e Whatsapp não precisam dos GMS para rodarem, e poderão ser baixados na loja da Huawei. Até mesmo alguns apps do Google poderão ser encontrados nessa loja, já que, como explicou Yu, nem todos eles são dependentes dos GMS, e disponibilizá-los num local próprio não infringiria as imposições do banimento. Para as aplicações Google que não funcionarem, a Huawei pretende criar versões baseadas na web (web apps), no padrão HTML5. Ainda não parece haver uma definição do que, exatamente, rodaria de um jeito ou do outro.
Além de sua própria App Gallery, a Huawei também tem planos de disponibilizar outras lojas, gerenciadas por terceiros, para engrossar o caldo de apps disponíveis. Isso poderia ser introduzido diretamente nos aparelhos, ou através de downloads dentro da Gallery. Por fim, os chineses esperam que operadoras possam oferecer alguns apps por conta própria, o que eximiria a fabricante de responsabilidades.
Como se vê, a situação está longe do ideal. Experiências com sistemas menos populares, como os finados Windows Phone e Firefox OS, já mostraram que web apps não oferecem a melhor das experiências num tempo em que apps dedicados estão no centro da utilização de smartphones. Além disso, a centralização e a praticidade de lojas como a App Store da Apple e a Play Store do Google já são um padrão na cabeça dos usuários, sobretudo os ocidentais, que não estão habituados às variantes obscuras a operar na China.
Sempre haverá a chance de comunidades criarem adaptações dos serviços Google para quaisquer aparelhos que não os incluam. E aconteceu. Não demorou para que surgissem os primeiros tutoriais sobre como instalar os Google Services de forma não oficial nos novos Huawei. É, de fato, um processo simples para quem tem algum conhecimento, mas não parece algo em que se possa confiar para uma adoção em massa desses produtos - ora, a grande base de usuários não compraria um smartphone que precisa de alterações caseiras para funcionar direito.
O lançamento da dupla Mate 30 e Mate 30 Pro fora da China está previsto para outubro, e será um outro momento decisivo para a Huawei, que certamente trabalha nos bastidores para resolver seu problema da forma que todos esperam: revertendo o banimento e possibilitando a readoção plena do Android. Em outra ocasião, perguntou-se a Richard Yu se eles poderiam restabelecer os apps do Google através de atualização de software, se estivessem livres novamente. A resposta: "em uma noite". Espero que essa noite chegue sem demora.
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