Estamos há várias semanas testando a TCL C645, uma das TVs QLED mais baratas do mercado! Nas especificações da caixa, ela diz ser um painel 4K com 120Hz na taxa de atualização, mas como a TCL conseguiu fazer uma TV 4K 120 Hz que custa menos da metade que a concorrência? Acontece que as especificações da caixa e também do próprio site da TCL são falsas. É isso mesmo, vem comigo e vamos desvendar essa história.
Jogando na TCL C645 - 4K 60Hz ou QUAD HD 120Hz?
Antes da C645 chegar, eu assisti várias análises e pesquisei bastante, me preparando para os testes. Todas as reviews que eu li e também da versão anterior a essa aqui, a C635, as pessoas estavam comentando que elas não tem um painel 120Hz nativo, mas sim, um 120Hz simulado através do DLG.
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Mas o que é esse tal de DLG? O significado é "Dual Line Gate", uma tecnologia da TCL. Não tem muita informação sobre ela na internet, mas a TCL promete que é através desse sistema que vamos conseguir alcançar os 120Hz em jogos, ou seja, uma gameplay com o dobro de frames que numa TV convencional de 60Hz.
Assim que a TV chegou aqui no estúdio, eu conectei meu PC gamer numa das conexões HDMI e fui logo testar esse DLG. Acontece que a opção de 120Hz não estava liberada, e eu não conseguia de jeito nenhum fazer com que os jogos rodassem acima dos 60 frames.
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Depois de fuçar um tempão nas configurações e procurar sobre isso na internet, eu finalmente consegui encontrar o modo "Game Master", mas ao acessar esse menu, o sistema inteiro trava e eu precisei reiniciar a TV. Muito frustrante.
Acontece que o Modo PC não é correto para se usar no computador. É isso mesmo, eu devia estar usando esse tempo todo a pré-definição de imagem "Jogo". O que ninguém explica direito é que essa TV tem dois modos nativos, um deles é em resolução 4K 60Hz, e o outro QUAD HD 120Hz. A gente perde metade da resolução da tela, em troca do dobro da taxa de atualização.
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Com esse modo jogo ativado eu consegui ligar o DLG e jogar de boa em 120Hz. Até mesmo no próprio Windows a opção de 120Hz ficou liberada, mas é claro, temos que ficar com a resolução máxima em QUAD HD. No momento que você troca para 4K, a TV te chuta de volta para os 60 Hz.
Eu testei vários títulos que ficam melhores com altas taxas de atualização, como Doom Eternal e Dirt Rally 2. Jogar nessa TV, apesar de não ser a experiência mais nítida do mundo, ainda assim é divertido, já que temos toda a suavidade do 120Hz nativo. Diferente do que muitos falam, essa TV não tem um 120 Hz "simulado": no QUAD HD, o 120 Hz é de verdade, e a gente pode provar isso tanto no teste UFO quanto nas próprias configurações do Windows.
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No final, cabe a você decidir se prefere jogar com uma resolução alta, em 4K 60Hz, ou jogar em QUAD HD, mas com 120Hz. Como eu escrevi antes, Doom e Dirt Rally ficam ótimos com altas taxas de atualização, já que são jogos com muito movimento na tela, mas em jogos com a tela mais estática, como Diablo 2 e Crash, eu prefero a nitidez dos 4K, sacrificando a fluidez. Jogos de história então, como Last of Us, Alan Wake 2 - nem é possível rodar em 4K 120Hz, então faz muito mais sentido manter a TV em 4K 60Hz nessas situações. No final, você é quem escolhe.
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Eu não tenho nada contra lançar a TV com dois modos diferentes, mas a TCL precisa ser transparente e deixar explícito essa característica na página do produto.
Design e construção externa
Agora falando sobre a parte externa da TV, ela é feita em plástico, como todas as outras TVs intermediárias, mas notamos que a TCL continua deixando de investir na aparência e design do produto. Quando a gente compara com a principal concorrente dela, a Q60C da Samsung, é perceptível que a sul-coreana se esforça para deixar até suas TVs LCD com um aspecto mais premium.
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Não que o design da TCL seja feio, só tem uma pegada mais "raiz" que os outros lançamentos.
Mas é a frente da TV que importa, e felizmente, as bordas da C645 são extremamente finas. Aquele espaço preto que fica entre o frame e os pixels é mínimo, passando um visual premium que geralmente só encontramos em modelos mais caros.
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Pés e Montagem
Os pés também são simples, duas hastes de alumínio parafusadas na estrutura. É interessante que temos duas furações diferentes para instalação dos pés, caso você queira deixar o suporte mais próximo ou mais longe do centro. Se for montar ela na parede, vai precisar de um suporte VESA 300 por 300.
Entradas
Nas conexões, a C645 tem uma entrada USB 3.0, uma rede RJ-45, três HDMI 2.1, sendo uma delas eARC, entrada para antena e saída de áudio digital óptica.
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Um conjunto de entrada bem padrão, mas com dois detalhes importantes: primeiro, a existência de apenas uma entrada USB. Isso não é suficiente, pelo menos não para o meu uso. Já o lado positivo é que temos 3 entradas HDMI na versão 2.1. Isso significa que, se você quiser jogar com o DLG ligado, pode usar qualquer entrada que todas vão pegar o 120Hz.
Qualidade de Imagem - Teste em ambiente claro
No quesito qualidade de imagem, nas análises a gente testa primeiro num ambiente claro e depois num quarto escuro. Aqui na sala eu gravei de manhã, momento do dia quando o sol bate direto nas cortinas da janela da sala. Mesmo assim, eu consegui assistir os conteúdos na C645 sem problema algum. O brilho é mais que suficiente.
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Na tecnologia, estamos tratando de um painel do tipo LCD VA, que é a categoria mais comum de tela em Smart TVs hoje em dia. A carta na manga dessa tv da TCL é o fato dela ter uma fina camada de pontos quânticos no painel. O resultado disso é um boost nas cores, aumentando e muito o contraste que o painel consegue transmitir. É aí que vêm o nome "QLED" no anúncio das TVs - uma tela QLED é uma TV LCD com cores mais precisas e vibrantes.
No quesito reflexos, esse painel não faz nenhum milagre. Parece estar de acordo com os reflexos de outras TVs dessa faixa de preço. Aqui vale a pena tentar controlar o ambiente, abaixando cortinas e diminuindo as luzes.
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O brilho da TV pode até ser intenso demais, então se você quiser, é só ir nas opções e diminuir um pouco a intensidade da luz de fundo. Durante os testes eu deixei no máximo, mas isso não é recomendado, já que o painel LCD esquenta muito e a vida útil diminui com altas temperaturas.
Problemas com nitidez de movimento
Essa TV vem com a interpolação de frames ativada, é nomeada como "Nitidez de movimento" nos menus. Olhem só esse trecho lado a lado que eu gravei com a câmera lenta do celular:
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Do lado esquerdo da tela, temos o filme normal, em 24 frames. No lado direito, a nitidez de movimento está ligada e a TV tenta desesperadamente deixar o conteúdo em 60 frames. Isso atrapalha muito na hora de assistir, a imagem fica cheia de artefatos e parece que os atores são feitos de gelatina. Então eu recomendo deixar essa opção desligada.
Qualidade de Imagem - Teste em ambiente escuro
No teste escuro a gente examina algo que preocupa bastante gente que compra Smart TVs LCD - o vazamento de luz. Ninguém merece estar lá, completamente imerso num filme ou série, e ser puxado de volta para a vida real ao perceber o backlight iluminando os cantos da tela. Felizmente, o vazamento de luz da C645 é bem mínimo, principalmente se você estiver assistindo reto para a tela.
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Conteúdos em HDR
Um dos maiores pontos fortes da C645, e também de outras TVs da TCL, é o fato dela ter suporte para os dois maiores padrões de alcance dinâmico, o Dolby Vision e HDR10+.
Para quem não sabe, HDR está relacionado às informações que a TV recebe de plataformas de streaming, como Netflix, Prime, mas também de mídia física, como Blu-Ray ou HD Externo. Se a TV tiver suporte, vai receber mais informações no sinal e transmitir o conteúdo com maior profundidade de cores.
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Nas TVs da LG, temos apenas o Dolby Vision, considerado como o melhor dos padrões, mas com poucos filmes disponíveis. Já o HDR10+, utilizado pela Samsung, pode até ser considerado inferior ao Dolby Vision, mas, em compensação, é muito mais fácil encontrar filmes neste padrão.
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No caso da TCL C645 eu testei e não é necessário escolher entre esses dois, já que a TV tem suporte a ambos. Como por exemplo, o Senhor dos Anéis. No Prime Video, esse filme está disponível em 4K e HDR10. A TV consegue aplicar o HDR muito bem, transmitindo cenas com partes escuras e partes brilhantes ao mesmo tempo, sem nenhum vazamento de luz anormal. Claro que não chega a ser o mesmo efeito que temos em telas OLED ou Mini LED, mas mesmo assim, a qualidade de imagem me surpreendeu bastante.
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Já no filme Batman, também no Prime, mas em Dolby Vision, essa cena da cidade na chuva, ficou com um efeito acizentado característico da tela LCD, mas não é algo que atrapalhe. Foi um dos poucos cenários onde ficou perceptível. Para remover completamente esse efeito, é como eu escrevi antes, só Mini LED e OLED, mas aí temos um enorme salto de preço.
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Já que essa TV não tem o Filmmaker Mode, eu gravei toda essa parte da análise no modo Cinema, que foi o preset que mais me agradou, mas vale mencionar que você pode configurar as cores, saturação, balanço de branco e tudo mais. O Google TV te dá várias opções de customização de imagem.
Mas o que acontece quando a gente tenta assistir a TV num ângulo? Todos os elogios à qualidade de imagem vão por água abaixo. A C645 vai perdendo o contraste conforme mais longe do meio da TV assistimos. Esse efeito com certeza vai atrapalhar aquele amigo que teve o azar de sentar no canto da sala.
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Para assistir filmes e séries, eu recomendo sim a TCL C645. Para uma TV QLED sem local dimming, ela apresentou um dos melhores resultados que já vimos no quesito cor e tons de preto. É igual ou melhor que a Q60C da Samsung que testamos no ano passado.
Sistema operacional e performance
O sistema operacional é o Google TV, atualização que veio para substituir aos poucos o Android TV. Ainda é um sistema baseado em Android, mas sofreu uma repaginada visual.
Quem acompanha as análises de TV aqui no site sabe que eu simpatizo bastante com o Google TV, que apesar de ser um sistema simples, não perde em nada contra o Tizen da Samsung ou o WebOS da LG. Mas essa TV aqui sofre sim com travamentos e lentidão. Teve vários momentos durante os testes que eu me questionava se tinha ou não pressionado o botão no controle, só para a TV finalmente executar o comando segundos depois.
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Investigando isso, eu baixei o Aida64 na PlayStore. Aqui a gente pode consultar especificações dos componentes internos da TV. Nessa lista, eu encontrei duas coisas que eu não gostei. A primeira é o processador com apenas quatro núcleos, e são Cortex-A55, processador lá de 2017. Outro problema é a quantidade de memória RAM, apenas dois gigabytes. Uma TV QLED intermediária precisa de mais performance que isso, e a TCL infelizmente economizou nessa parte.
Controle
O controle é aquele mesmo que vem em todas as TVs da TCL, desde as mais baratas até as topo de linha. Não temos aqui um sistema de carregamento a luz solar igual ao controle da Samsung e muito menos navegação por ponteiro do controle Smart Magic da LG. É um controle simples que utiliza duas pilhas palito. Tem umas coisas legais, tipo comando por voz e botão do YouTube, mas acho que já passou da hora da TCL nesse quesito.
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Som
Eu leio comentários de pessoas reclamando que falamos pouco sobre o som da TV em nossas análises. A realidade é que, as próprias fabricantes deixam o som da TV de lado, então acaba que a gente não tem muito o que falar nessa parte da análise. É sempre a mesma coisa, 20W separados em 2 canais, um som, básico, funciona, mas nada mais que isso.
Conclusão
Vocês podem ter percebido que eu acabei focando praticamente toda a análise da TV em qualidade de imagem e nos jogos. Acontece que essas são as únicas áreas onde vale a pena falar dessa TV. De resto, é extremamente básica, podendo até ser considerada como uma versão piorada do modelo anterior, a C635 de 2022.
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A TCL até tentou oferecer algo diferente com esse sistema de 120Hz em QUAD HD, mas não é algo que eu me vejo usando, já que a nitidez da imagem fica muito prejudicada quando estamos abaixo do 4K nesses painéis maiores.
Se você está procurando uma TV gamer de verdade, dê uma olhada na TCL C845 e C835 e também na Samsung QN90C. São TVs muito melhores que essa aqui e conseguem atingir altas taxas de atualização sem perder resolução
Mas é claro, elas são mais caras, então se você não quer ultrapassar o orçamento de 3000 mil reais, eu recomendo comprar a Samsung QN60C ou QN65C. Elas também são QLEDs, mas não apresentam travamentos durante a navegação do sistema operacional.
- Bom contraste e nitidez;
- Bordas finas;
- Dolby Vision e HDR10+;
- Modo Jogo em 120Hz QUAD HD pode ser interessante;
- Marketing enganoso (não consegue atingir 120 Hz em 4K)
- Performance abaixo da média;
- Som poderia ser melhor;